MAS CONTEM A HISTÓRIA SEM SER TRANSFORMADA EM
ANEDOTA!
Anteontem fui solicitado por um Benfiquista, pelo telefone,
para me pronunciar acerca de um texto publicado em “A Bola” envolvendo a
Gloriosa História. Habitual. Não sabendo do que se tratava e pedindo que
enviasse o texto por correio electrónico disse que sim mas que tinha urgência
em saber se era verdade. Pedi-lhe que a lesse. Então leu o seguinte texto segundo ele da autoria de Delgado (por isso deve datar de segunda-feira; 14 de Novembro de 2016):
Ah! Que bom…
Quando terminou disse-lhe que em meio minuto contou-me meia dúzia de mentiras. Questionou: «Mas não tem um “fundo” de verdade?». Respondi: «Tem. Um “fundo da verdade” a metade. Um "meio-fundo de verdade". Cinquenta por cento. Passou-se com Guilherme Espírito Santo e Melão. Mas muito depois dos anos 30, quase em 50 (1949). E com meio-fundo de verdade: GES. O resto da verdade, tirando o "meio-fundo" da dita – “lados e cimo” – são mentiras descaradas».
«Se tem um “fundo de verdade” chega-me». Respondeu. Fiquei estupefacto!
Alarme
Onde isto chegou. O leitor aldrabado desculpa o autor trapalhão. Que em três frases mentiu seis vezes! Não interessa a honestidade e rigor ao utilizar “terceiros” respeitando-os, contando a verdade. Inventa-se um mini-texto,
divulgam-se mentiras "em barda" e quem é enganado (presumo que duplamente – compra do
jornal e historieta aldrabada) ainda “desculpa” o trapalhão que vai fazer
passar por verdades, puras mentiras. O caminho para uma sociedade acéfala. Que
não quer saber da verdade absoluta (tanto quanto possível). Apenas do “fundo da
verdade”. Que neste caso até é "meio-fundo". Depois queixem-se…
Mentiras
1. O
Benfica deslocou-se “à Madeira” em 1936 (Julho) mas Guilherme Espírito Santo
(GES) chegou ao Benfica em Setembro de 1936. Por isso das duas uma. Ou a
história não envolve GES ou se envolve não foi “na década de trinta do século
passado”. Já se escreveu acerca dessas viagens neste blogue (clicar);
2. Guilherme
Espírito Santo não foi o terceiro, muito menos o segundo, quanto mais “o primeiro negro a vestir a
camisola das águias”. Foi para aí o vigésimo. Só em 1906/07 houve dois, um na
1.ª categoria, desde 1904/05, Fortunato Levy (caboverdiano) (clicar) e outro na 2.ª
categoria, desde 1905/06, depois na 1.ª, a partir de 1907/08, Marcolino Bragança
(sãotomense) (clicar). E depois muitos outros, em várias modalidades, até Guilherme Espírito Santo;
3. Não "foi dito que um", mas que dois (Guilherme Espírito Santo e Melão) teriam de ficar no anexo;
4. Os
restantes jogadores não se pronunciaram. Os restantes eram 15 ou 14 se Melão
não contar. Tantos a pronunciarem-se era manifestação! Nem o capitão Francisco Ferreira! Quem se pronunciou foi o
responsável do Clube na digressão, ou seja, um dirigente;
5. "Sem
sucesso" não…com sucesso. Não os futebolistas, mas sim o dirigente;
6. Ora essa! Brincadeira! Não
aconteceu nada disso! Todos no anexo? Dezasseis jogadores mais três dirigentes num
anexo? Dez dias! A terem de estar preparados para três jogos! É não ter a noção! Não ficou foi nenhum! Parvoíce!
A história foi-me contada por Joaquim Macarrão
E corroborada por Rogério Carvalho, mas Guilherme Espírito
Santo nunca quis tocar no assunto, das três ou quatro vezes que “em conversa”
houve essa possibilidade (em mais de duas dezenas de conversas com ele! Que
saudade!) E deu sempre a entender que houve algum pormenor (“foi assim MAIS OU
MENOS” sempre disse ele!) que pode ser um porMaior mas nunca consegui saber!
Na digressão, em Julho de 1949, à Ilha da Madeira, a convite do
CD Nacional, o dirigente do Benfica que liderava a comitiva foi confrontado por
um dos responsáveis do hotel com o seguinte. Conversa mais ou menos assim (que não há registo gravado):
Responsável pelo hotel: Neste hotel não podem entrar pretos. Muito menos
dormir. Os dois (Guilherme Espírito Santo
e Melão) terão de ficar instalados num anexo (que era utilizado para criados negros de patrões que se hospedavam no
hotel).
Dirigente do Benfica: E o anexo é muito grande?
Responsável pelo hotel: Para eles os dois é espaçoso!
Dirigente do Benfica: Mas tem espaço suficiente para nos instalarmos lá...todos?
E
assim ninguém se instalou no anexo, ficando todos no hotel.
Foi
isto o que me contou Joaquim Macarrão (para saber quem é clicar), embora segundo ele alguma Imprensa tenha
contado outra versão da história. Se foi publicado nunca descobri! Nunca encontrei para ler o(s) jornal/ais que a publicaram.
Como se percebe em “A Bola” transformaram uma boa história
Uma história com carisma, brilhante, numa anedota ou
caricatura sem nexo (embora fale de um anexo) com mentiras “ao quilo” pelo
meio. Em três frases o dobro das mentiras. É por isto – «se mentem
nas histórias que conheço, como hei-de acreditar que estão certas as que
desconheço?» – que não
compro jornais desportivos. São maus demais e de mais! E Portugal necessita tanto de um bom jornal desportivo para acabar com os três pasquins que ajudam a inquinar o desporto! Só sobrevivem à custa do sensacionalismo e parangonas a fazer propaganda, para criar ambiente junto dos adeptos - e prestar vassalagem aos clubes - para inflacionar vendas de futebolistas. Cada um para cada clube!
Em vez de “uma história” com conteúdo o que se tratou foi mesmo de criar uma “anedota”
Feita com desleixo. Os jornalistas servem para "propagandear" mentiras? Para contagiar leitores com trapalhada? Para aligeirar
histórias com conteúdo? Para que depois outros contem a mentira tantas vezes até que se torne verdade?
Porem moços de recados a contar “História”!
«Só de loucos», como diz o outro!
Alberto Miguéns
NOTA: Mentira (também tenho direito!) Comprei o jornal “A
Bola” de domingo para fazer digitalizações com qualidade para o texto de
segunda-feira, neste blogue!
Ignorância, desleixo, incompetência, indiferença, boçalidade, estupidez. É nessas "qualidades" que queremos basear a nossa vida e a nossa atitude enquanto cidadãos ou porque não dizê-lo consumidores?
ResponderEliminarÉ por causa desse tipo de coisas que cada vez mias sou selectivo e até já faço a minha própria pesquisa.
O jornal A Bola é uma desilusão constante. Dos outros jornais já não esperava nada uma vez que a sua clubite e comprometimento são de tal forma que nada de positivo se pode esperar. A Bola já foi um grande jornal desportivo. Agora de pouco serve. Aquela secção A Bola diamante deve ter pouca coisa trapalhona. Deve, deve.
Um texto que repõe a verdade histórica e que uma vez mais nos dá motivos de orgulho quando percebemos os grandes dirigentes que já tivemos. Aquele empregado de hotel recebeu uma resposta à Benfica!
Obrigado.
Como sempre um exelente trabalho!
ResponderEliminarParabéns, este blog é das melhores coisas que há pela Internet.
ResponderEliminarJoão Cunha
O jornal tem de competir com a concorrência que sabe o que é preciso para sobreviver aos novos tempos. E dizia-se que estavam em extinção. Ainda existirem é o espelho da sua triste realidade.
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