O Que Andámos Para Aqui Chegar

COMPLETARAM-SE 5 300 GLORIOSOS JOGOS NO DIA 29 DE JANEIRO DE 2019.

A curiosidade do primeiro documento de despesas do Clube - ainda conhecido por Belém FC e assinado pelo presidente José Rosa Rodrigues - ser a compra de uma bola. Usada mas era o que se podia comprar. E era mais fácil. Pouco tempo depois importavam-se bolas novas de Inglaterra. Que orgulho. A primeira despesa foi para comprar uma bola. Ou não fosse a bola a razão de ser do clube e consta do Glorioso Emblema!

Impressiona como aquele pequeno, mas valoroso grupo de 24 indomáveis, a partir de 28 de Fevereiro de 1904, num País onde para se jogar futebol tinham de comprar bolas usadas (em segundos pés) aos clubes de ingleses - pois não os sapateiros, em Portugal, não conseguiam impermeabilizar o couro - conseguiu singrar, agigantar-se e equiparar-se aos emblemas mais fortes do Mundo.

Não me interessa fazer divisões absurdas e ingratas dentro do Clube (ainda por cima cobardes pois já cá não estão, para se justificar das opções tomadas, a maior parte dos Benfiquistas que fizeram o Benfica naquilo que é) mas...

Se há uma década mais importante no Clube, se há um ano mais importante no Clube, se há um mês mais importante no Clube, se há uma semana mais importante no Clube, se há um dia mais importante no Clube. Se há uma data, seja dia, semana, mês, ano ou década considerada a melhor de sempre é a primeira década, o primeiro ano (1904), a primeira semana, o primeiro mês (Fevereiro) e o primeiro dia (28). Sem estes não haveria nenhum dos outros. Nunca chegaríamos aqui, a este dia 2 de Fevereiro de 2019 com a grandeza que todos conhecem. Com os números que conseguimos ir juntando!

O Benfica é o clube português com mais jogos

Tanto por ser o Clube que esteve sempre nas primeiras divisões, quer no tempo em que só havia campeonato regional de Lisboa (totalista nas 41 temporadas), quer quando só passou a haver Nacional (totalista em 85 edições) como nas competições a eliminar onde tem mais jogos por conseguir chegar mais à frente que os outros mais vezes, como na Taça de Portugal e nas competições europeias. Mas também tem muitos jogos resultantes de pedidos de todo o Mundo para que o Benfica lá fosse jogar. De há uns tempos para cá tenho recebido neste blogue pedidos de adeptos de vários países - Austrália, Japão, México, Argentina, Iraque, Zaire - que dizem ter visto o Benfica quando miúdos levados pelos pais e querem saber o porquê, quando e como? O Benfica não jogou só na Europa, na Ásia (Esmirna e Istambul oriental) e em duas cidades da América do Sul (Rio de Janeiro e Montevideu) como nos querem fazer crer, mesmo dentro do Benfica o que ainda é mais caricato. O chamar os bois pelos nomes - quem e porquê têm interesse em viciar os resultados do Clube - fica para Março!

NOTA INICIAL: A ideia era reunir tudo no texto de hoje. E tudo era ilustrar com um quadro resumo estatístico e uma fotografia cada um dos períodos de dez anos mas não foi possível por falta de tempo. Fica o quadro resumo aos 5 300 jogos bem como o que foi e como foi a primeira década, entre 1904/05 e 1913/14. Aquando da paragem das competições de clubes para jogarem as selecções nacionais (entre 18 e 28 de Março de 2019) há tempo para exemplificar como foi forte e sustentado no associativismo e Benfiquismo o crescimento do Glorioso Futebol.

JOGOS DA GLORIOSA EQUIPA DE FUTEBOL*

* 1.º team, 1.º grupo, 1.ª categoria, categoria de Honra ou Equipa "A" (para distinguir da "B")

NOTA: A Taça Ribeiro dos Reis FPF) foi organizada para plantéis da categoria de Honra e Reserva. O Benfica oficializou nos "Relatórios e Contas" que os jogos, resultados e conquistas (duas) são da Reserva. Da categoria Reserva ficarão pois há que respeitar as decisões que, nessas temporadas, os dirigentes (que inscreveram os futebolistas no torneio) e os associados (que votaram) tomaram. Outras ANOTAÇÕES no final do texto

NOTA INTERMÉDIA: Querer fazer uma recolha de tantos jogos ao longo de um período tão longo e com tantas alterações no modo como se organizavam os jogos e as competições de futebol, obedece a critérios que são sempre questionáveis. Por isso há que explicar para que cada um faça a sua avaliação. Depois há que definir, aquelas equipas, que os clubes designavam por Mistos (neste caso com futebolistas da categoria de Honra e Reserva ou 1.ª e 2.ª categoria) pertencem a que categoria. E por fim, e não menos importante, são as faltas de comparência e os jogos anulados ou com resultados anulados e substituídos na chamada "secretaria". Há alguns.  Mas para evitar mais "ruído" neste texto que se quer mais evocativo e menos explicativo deixo as considerações para uma NOTA FINAL.

O adversário que permitiu a enorme popularidade do «Glorioso» logo nos primeiros tempos. Vencer (2-1 em Carcavelos!) os invencíveis em 10 de Fevereiro de 1907. Estavam invictos, há nove anos,  desde 22 de Janeiro de 1898 quando foram derrotados por uma equipa escolar da Real Casa Pia de Lisboa. O Sport Lisboa depois desta vitória, em 1907, passou a ser designado por "Gloriosíssimo". Mas o Benfica voltaria a derrotar os "mestres ingleses do Cabo Submarino" em 23 de Janeiro de 1910 (1-0 na Feiteira), 19 de Fevereiro de 1911 (1-0 em Carcavelos), 31 de Dezembro de 1911 (1-0 em Carcavelos) e 15 de Dezembro de 1912 (2-0 em Palhavã, campo do SC Império). Cinco vitórias entre 1907 e 1912. O Sporting CP e o Internacional/CIF no mesmo período o melhor que conseguiram frente aos ingleses foram empates e apenas um para cada clube! 

1904/05 a 1913/14: Popularização

Em dez temporadas o «Glorioso» realizou 147 jogos (quase 15 por época quando o campeonato regional tinha seis ou oito jornadas) com vinte encontros frente a equipas de clubes estrangeiros, em Portugal e em Espanha. Como é evidente os clubes onde jogavam ingleses e alemães que viviam em Portugal são considerados clubes portugueses, aliás, o Carcavellos Cricket and Football Club até conquistaram os três campeonatos iniciais realizados em Lisboa. E foram as vitórias frente a este clube que eram considerados os "mestres do futebol" que popularizaram, em definitivo, o Benfica como melhor clube de Lisboa. Em breve também seria em Portugal e depois um dos melhores da Europa e do Mundo. Em 1913/14, o «Glorioso» já tinha realizado jogos frente ao FC Porto (o primeiro, em 28 de Abril de 1912, na vitória por 8-2, na cidade do Porto, no campo do adversário, na rua da Rainha) e em Espanha, com digressão à Corunha. A estreia internacional foi em 2 de Junho de 1912 (D 1-2) e a primeira vitória, por 1-0, em 6 de Junho de 1912. Numa década o Benfica conseguiu arrastar desde três centenas de pessoas para ver, nas Terras do Desembargador (Salésias/Belém/Lisboa), nos jogos com o Internacional (CIF) até assistências de oito mil pessoas, já na Quinta da Feiteira (Benfica/Lisboa) frente aos ingleses do Cabo Submarino, de Carcavelos, como em 23 de Janeiro de 1910. Quando se quer fazer crer que o Benfica só se tornou gigante nos Anos 60 isso é falsear a realidade. Em cinco temporadas, entre 1909/10 e 1913/14, depois do domínio dos ingleses, o Benfica conquistou quatro títulos (1 + 3) apenas cedendo, em segundo lugar, na temporada de 1910/11, o título de Campeão Regional, para o Internacional (CIF) um clube considerado misto: irmãos Pinto Basto com os seus amigos, entre os quais alguns ingleses. Nada parava o Benfica. A Imprensa no início dos Anos 10 do século XX já designava o Benfica pelo "popular clube de Benfica sem dúvida o que reúne maiores simpatias entre os sportsmen portugueses". Seria este o desígnio futuro. Sempre a rolar, sempre a ser cada vez maior. As estatísticas são como o algodão... não enganam. Vitórias? Mais de metade: 90 sucessos e 57 insucessos (16 empates e 41 derrotas) ou seja, 61 por cento de vitórias. A imagem de marca do «Glorioso» desde muito cedo. Quase mais de dois golos e meio marcados por jogo (2,4). O dobro dos golos marcados em relação aos sofridos (2,1). Eis o Glorioso Futebol logo quando ainda "gatinhava"!

      OS PRIMEIROS 147 JOGOS EM DEZ TEMPORADAS

NOTAS: R - Jogos para competições oficiais; O - Jogos para competições não oficiais ou particulares; %V - Percentagem de vitórias no total de encontros; G/J - Média de golos por jogo;  M/S - Golos marcados em relação aos sofridos ("goal average");  (1) Em 1906/07 organizado pela «Liga de Football Association» (LFA), entre 1907/08 e 1909/10 pela «Liga Portugueza de Futebol» (LPF) e depois de 1910/11 pela «Associação de Futebol de Lisboa» (AFL); (2) Jogo de final de temporada entre o Campeão Regional de Lisboa e o segundo classificado no campeonato regional de Lisboa

Não havendo tempo para fazer os textos, escolher as fotografias e completar os quadros de resultados parciais (por década e competição) resta deixar o que foi possível adiantar. Os subtítulos.

1914/15 a 1923/24: Afirmação em Lisboa

1924/25 a 1933/34: Expansão nacional

1934/35 a 1943/44: A primeira hegemonia

1944/45 a 1953/54: Campeões Latinos

1954/55 a 1963/64: Bicampeonato Europeu

1964/65 a 1973/74: Tris atrás de Tris

1974/75 a 1983/84: Reafirmação europeia

1984/85 a 1993/94: Bi-finalista Europeu

1994/95 a 2003/04: Crescimento associativo

2004/05 a 2013/14: Reafirmação futebolística

2014/15 a 2018/19*: Tetra e mais

* Até 2 de Fevereiro de 2019

Glória Ao Benfica

Alberto Miguéns

NOTA FINAL: 

1. Legenda do Quadro Global:

I - Jogos para competições oficiais internacionais;

N - Jogos para competições oficiais nacionais;

R - Jogos para competições oficiais regionais;

O - Jogos para competições não oficiais ou particulares;

%V - Percentagem de vitórias no total de encontros;

G/J - Média de golos por jogo; 

M/S - Golos marcados em relação aos sofridos ("goal average");  

(1) Taça dos Clubes Campeões Europeus/Liga dos Campeões. Inclui as pré-eliminatórias. Presenças: 38 épocas, com duas apenas com pré-eliminatórias;

(2) Taça das Cidades com Feiras/Taça UEFA/Liga Europa. Inclui as pré-eliminatórias. Apesar da UEFA actualmente não considerar a Taça das Cidades com Feiras como competição oficial não há onde a colocar a não ser junto da Taça UEFA pois esta sucedeu-lhe como foi amplamente noticiado na Imprensa da época de 1970/71 e 1971/72. Presenças: 20 épocas, com duas após ser eliminado na pré-eliminatória da Liga dos Campeões e cinco depois do Benfica se ter classificado em 3.º lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões;

(3) Taça das Clubes dos Vencedores das Taças extinta em 1998/99 tendo início em 1960/61 reservada aos clubes vencedores das respectivas Taças Nacionais ou aos finalistas vencidos pelo campeão nacional. Inclui a pré-eliminatória em 1980/81. Presenças: Sete épocas;

(4) Duas presenças. Esta competição foi à posteriori considerada pela FIFA, "Campeonato do Mundo". Mas nem sequer era obrigatório ser campeão europeu. O Clube Atlético de Madrid conquistou uma Taça Intercontinental e nunca foi Campeão Europeu;

(5) Nas quatro edições iniciais, entre 1934/35 e 1937/38, designado "Campeonato da I Liga". Presenças: 85;

(6) Nas 17 edições iniciais, entre 1921/22 e 1937/38, designada "Campeonato de Portugal". Presenças: 91;

(7) A primeira edição em 2007/08. Presenças:12;

(8) As duas primeiras edições foram organizadas pelos clubes. A FPF integra estas duas edições iniciais mas foram disputadas como uma competição não oficial pois permitiam mais que as duas substituições regulamentadas pela FIFA para competições oficiais. Presenças: 19;

(9) Apenas uma edição em 1976/77;

(10) Em 1906/07 organizado pela «Liga de Football Association» (LFA), entre 1907/08 e 1909/10 pela «Liga Portugueza de Futebol» (LPF) e depois de 1910/11 pela «Associação de Futebol de Lisboa» (AFL). Presenças: 41; Um dos primeiros historiadores do futebol português, Júlio de Araújo considera o torneio Inter-clubes "Viúva Alexandre Sena" de 1905/06 como o primeiro campeonato regional mas não foi aceite pela AFL por se tratar de uma competição apenas com meias-finais e final (três jogos);

(11) Taça de Honra de Lisboa com vários formatos e interrupções, desde 1914/15 a 2014/15. O Benfica não participou na edição de 1993/94 em retaliação pela deserção de Paulo Sousa e Pacheco para o Sporting CP no Verão de 1993. Edições: 38. Presenças: 37;  

(12) Taça Associação Futebol de Lisboa. Três edições. Presenças: 2;

(13) Torneio Preparação da AFL. Quatro edições. Presenças 4;

(14) Torneio de Outono. Renomeação do Campeonato Regional (1.ª volta) em 1933/34 que foi interrompido para recomeçar integrando os clubes do Barreiro (Luso FC e FC Barreirense) que recusaram disputar o Campeonato Distrital de Setúbal;

2. Equipas de Mistos: Sempre que o Benfica indica que é um Misto que joga, ou seja com futebolistas da 1.ª categoria ou Honra e da 2.ª categoria ou Reserva, o critério é o seguinte. No Misto têm de jogar, pelo menos, seis futebolistas que tenham jogado ou venham a jogar em jogos para competições oficiais para ser considerado como da 1.ª categoria ou categoria de Honra. Se tiver cinco passa a ser considerado um jogo da 2.ª categoria;

3. Resultados alterados por decisão administrativa: Só são considerados os resultados obtidos em campo mesmo que modificados administrativamente e o Benfica tem nove jogos alterados, a nível Regional e Nacional, incluindo um que exemplifica na perfeição que não faz sentido outra opção. Em 31 de Maio de 1987, na 30.ª (e última) jornada do Campeonato Nacional de 1986/87, o Benfica empatou, a um golo, em Braga, com o SC Braga. Posteriormente o Conselho de Justiça da FPF penalizou os dois clubes com derrota por 0-3 por comportamento incorrecto dos adeptos: invasão de campo mas como os adeptos usam as mesmas cores - vermelho e branco - não foi possível identificar quem foi responsável. Resultado? Os dois clubes derrotados por 0-3. Um jogo com duas derrotas. Assim o quadro mantém o empate a um golo. Quando houver tabelas tridimensionais que permitam nem vencer, nem empatar, em perder logo se vê. Por isso só contam, nesses nove jogos, para competições da AFL e FPF, o que foi obtido em campo;

4. Faltas de comparência: Não estão contabilizadas como jogos. Nem as duas por derrota (motivo já abordado neste blogue) nem as onze por vitória;

5. Nota explicativa para o Quadro Global: O Benfica regista cifras notáveis. Em 5 300 jogos, mais 1 350 sucessos (3 325 vitórias) para 1 975 insucessos, com 1 032 derrotas e 943 empates, ou seja, 63 por cento de vitórias. Em média, o Clube marca 2,5 golos por jogo. O número de golos marcados é o dobro dos golos sofridos (2,2). Competição-a-competição o Benfica tem valores estatísticos... À Benfica. O quadro quantifica bem a força do Benfica, como se percebe em várias competições com destaque para o Campeonato Nacional e Taça de Portugal. Mesmo nas competições da UEFA com destaque na Taça dos Clubes Campeões Europeus/Liga dos Campeões embora com percentagem de vitórias abaixo de 50 por cento (44 %);

  

5. Previsão cronológica: Com o «Glorioso» a disputar, em média, 60 jogos por temporada o jogo 5 500 será na primeira metade de 2021/22 e o 6 mil talvez em 2030/31. Talvez já com todos eles - com treinadores, futebolistas, tipo de golos e assistências, espectadores e equipamentos, mais fotografias e vídeos - disponíveis numa plataforma na internet ou no que substituir esta!