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27 junho 2015

Eles Não Percebem... Rogério

27 junho 2015 5 Comentários
NO PASSADO DIA 18 DE JUNHO - DIA DA TAÇA LATINA, EM 1950 E PARA SEMPRE - ESTIVE COM O ROGÉRIO. O PIPI.


Passámos umas "horas bem passadas" como é habitual todos os anos nesse dia, ainda mais em 2015 que passaram 65 anos após essa conquista única para o futebol português em oito edições (1949 - 1957).


Ano 65.º após 1950
Aproveitei para entregar ao nosso Rogério Lantres de Carvalho, o popular "Pipi" uma cópia de um bilhete da sua festa de despedida em 1954 (5 de Setembro) precisamente no mesmo jogo em que se estrearam com o "Manto Sagrado", entre outros, Costa Pereira e Coluna. Bilhete que tem estampadas duas fotografias: a dele e a de Feliciano do CF "Os Belenenses". O simpático e inigualável Campeão Latino puxou da sua prodigiosa memória, a caminho dos 93 anos (serão em 8 de Dezembro de 2015) e disparou:




Aquele jogo nas Salésias
Olha o Feliciano. Era um grande atleta, um fantástico futebolista e um grande Homem. Recordo um jogo para o campeonato nacional da I Divisão em casa dele, d'Os Belenenses, no estádio das Salésias. O jogo estava difícil, caminhava já na segunda parte, nos últimos minutos, e nós não conseguíamos arrumar com ele, assegurar a vitória. O Belenenses tinha muitos jogadores no meio-campo. O nosso treinador ao intervalo deu-me a indicação para ficar sempre como o futebolista mais adiantado para explorar a minha velocidade, técnica e precisão de remate. Mas o adversário percebeu e mandou o melhor defesa/centrocampista marcar-me em cima. Não conseguia espaço para progredir com bola. Numa paragem do jogo acerquei-me do capitão Francisco Ferreira (jogava a médio-esquerdo e Rogério a interior-esquerdo) e disse-lhe:
Chico! Eu não consigo safar-me do Feliciano. Ele está a jogar bem na marcação parecendo adivinhar os lances. Vamos enganá-lo. Quando tiveres a bola, com o Belenenses balanceado no nosso meio-campo, olhas para mim. Eu vou fazer que me desmarco para a linha lateral, mas tu vais colocar a bola para o meio, para uma zona central onde não esteja ninguém. Faz um passe longo e certeiro como costumas fazer mas sem ser para nenhum jogador. Fita a meia-lua do Belenenses!

Incompreensão e talvez não
E assim foi. Num dado momento Francisco Ferreira apossou-se da bola ainda no meio-campo do "Glorioso". Olhou em frente e viu o par Rogério/Feliciano. Rogério fez um gesto que se ia desequilibrar para a esquerda levando o seu marcador a querer antecipar-se correndo para a lateral para interceptar o passe. Só que Rogério correu para o lado contrário porque a bola fora endossada para o centro. Em esforço Feliciano (mais pesado embora resistente) correu desenfreado rumo à sua grande-área para tentar impedir Rogério de marcar golo. Rogério que o tinha driblado sem bola voltou, com facilidade, a driblar com bola um Feliciano no limite do esforço depois de recuperar tanto terreno. À saída do guarda-redes adversário Rogério disparou para o golo que garantiria os dois pontos correspondentes à vitória. Depois do golo Rogério é surpreendido por Feliciano que vem abraçá-lo dizendo: Que grande golo Rogério! Que grande golo! Enganaste-me bem! Que grande golo Rogério! Que grande golo! Mereceste!
Alguns minutos depois, quando o árbitro apitou para o final é que foi o bom e o bonito! Quando Feliciano se dirigiu para o balneário, os adeptos do CF "Os Belenenses" estavam possessos, invectivando com injúrias o seu médio internacional português. Tinha sido "comido" e ainda abraçara o causador de tamanho dano para a equipa! Inadmissível. Rogério assistiu, passou por Feliciano e este disse-lhe: «Eles não percebem Rogério!»

NOTA: Em minha casa confirmei a informação estatística desse jogo. Batia tudo certo! Que rigor e memória a de Rogério!


18 de Junho de 2015. Um dos dez melhores jogadores de sempre do Benfica e um dos 20 melhores de sempre do futebol português. Actual decano dos Internacionais por Portugal e dos Gloriosos Futebolistas. Com 92 anos. Glória Eterna


Aquele jogo no Jamor
Um dia, em Agosto de 1954, Rogério estava no local de trabalho como vendedor de automóveis e vê chegar Feliciano. Pensou que queria comprar um Ford! Mas não. Feliciano estava preocupado porque saíra a notícia nos jornais que a festa de homenagem e despedida de Rogério seria em 5 de Setembro com um SL Benfica frente ao FC Porto, no estádio Nacional (a Saudosa Catedral seria inaugurada em 1 de Dezembro). Precisamente o dia em que tinha pensado fazer a sua, no estádio das Salésias, com um CF "Os Belenenses" frente ao Atlético CP. Vinha saber se o Benfica não poderia jogar noutra data pois Os Belenenses apenas tinham disponível esse domingo até ao início do campeonato nacional. Rogério disse-lhe que não haveria problema. Em vez de uma faziam-se duas festas. Jogaria primeiro o Belenenses (frente ao Atlético CP) e depois o Benfica (frente ao FC Porto). Uma tarde de futebol de domingo. Feliciano nem cabia em si de contente. A sua Festa seria no Estádio Nacional. Agradeceu e quis saber quanto lhe tocaria na receita. 20 ou 30 por cento? Haveria 70 ou 80 por cento de Benfiquistas e público pagante apenas para querer ver o Clássico. Rogério disse-lhe que não iria andar a contar simpatias clubísticas. Seria 50/50! Feliciano ficou incrédulo. E timidamente (o contrário daquilo que era como futebolista) disse: «Rogério?! Ninguém vai compreender!» Rogério "lembrou-se" e respondeu:

Feliciano!? Eles Não Percebem...

Diário de Lisboa; página 7; 4 de Setembro de 1954


Adicionada às 12:30 de sábado (enviada pelo dedicado leitor deste blogue Victor João Carocha)

Travassos (Sporting CP) apareceu para engrandecer a Festa

Alberto Miguéns


5 comentários
  1. Maravilhosas histórias.
    Que fascinante deve ser conversar com o Senhor Rogério.
    Como devia ser fascinante vê-lo jogar.
    Rogério (a par de José Águas) terá sido o mais elegante dos jogadores que envergaram o manto sagrado.

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  2. Que história deliciosa!

    O Rogério é daqueles jogadores que me fascina desde criança, mesmo sem nunca o ter visto jogar. Lembro-me de ler uma entrevista dele num jornal (creio que no Record) no início da década de 90, desde aí que sou um admirador do Rogério. Tenho um recorte de um jornal, também dessa altura, com o Rogério a levantar a Taça Latina, era um dos meus tesourinhos.

    Adoraria conhecer este senhor.

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  3. Realmente, é uma honra falar com jogadores míticos do Benfica.

    Que inveja Alberto...

    Parabéns por mais um artigo absolutamente Benficástico!

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  4. ....SR DR ALBERTO....É COM LÁGRIMAS QUE LHE AGRADEÇO UMA VEZ MAIS.......COMO SABE A TAÇA LATINA É PARA MIM A MAIS IMPORTANTE CONQUISTA DO NOSSO GLORIOSO (daí andar triste porque não é reconhecida como trofeu oficial)...tenho 58 anos não era nascido quando O BENFICA CONQUISTOU FEITO TÃO GLORIOSO...era criança quando O BENFICA REFORÇOU A GLORIA VENCENDO A AS TAÇAS DOS CAMPEÕES....A TAÇA LATINA É PARA MIM A MAIS IMPORTANTE CONQUISTA PORQUE FOI A 1º PEDRA PARA A GRANDEZA QUE HOJE O NOSSO GLORIOSO REPRESENTA MAS TAMBEM PORQUE NAQUELA ÉPOCA REPRESENTOU GLORIA PARA UM PAÍS CHORADO E SEM ESPERANÇA....ESTE TRABALHO QUE MAIS UMA VEZ NOS APRESENTA PARA A NOSSA GERAÇÃO REPRESENTA O REVIVER VÁRIAS MEMÓRIAS......SR DR (desculpe-me alguma emoção)...MUITO OBRIGADO ....abraço

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  5. Visitando a blogosfera benfiquista chamou-me a atenção a frase:
    Eles não percebem...Rogério! Abri o blog e comprovei que se tratava mesmo do Pipi.
    Permitam-me que acrescente um pequeno testemunho fruto da admiração que por ele tenho.
    A solidariedade que ele teve para com o Feliciano tem sido uma constante ao longo da sua vida.
    Hoje, já com 92 anos feitos, o Rogério ainda se desloca até ao bairro onde nasceu, ajudando, como ele diz, umas velhotas que precisam.
    Muito mais do que ter sido um grande jogador o Rogério foi e é um grande Homem.
    Vai passar dos cem anos porque pessoas como ele merecem mesmo.
    Um abraço Pipi.

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