E A UM NOVO RELVADO...
O nono desde a inauguração do estádio, em 25 de Outubro de 2003.
O anterior relvado (n.º 8) datava de 30 de Novembro de 2019
Estreado na recepção ao CS Marítimo, numa vitória por 4-0, na 12.ª jornada do campeonato nacional. O relvado anterior a esse, ou seja, agora o penúltimo ou sétimo relvado teve vida breve, pois tinha sido estreado no início da temporada de 2019/2020 depois de um concerto do músico Ed Sheeran, nesse Verão de 2019. Durou, apenas, nove jogos.
O relvado anterior (n.º 8) teve vida longa: 2019/20 (desde 30 de Novembro de 2019)
Mais as temporadas seguintes: 2020/2021, 2021/2022, 2022/2023 e 2023/2024. Foram quatro temporadas e meia, por isso, toda esta terceira década do século XXI. E consta que ainda podia durar mais uma ou duas épocas, mas o «Glorioso» optou por "fazer uns cobres" com a espalha-brasas (esta sim verdadeira) Taylor Swift, já que Swift em inglês tem o significado de veloz.
Curiosidade futebolística ou futeboleira
Os dois jogos, em final de Novembro (dia 29) e meados de Dezembro (13) de 1903, respectivamente, repto (do Grupo dos Catataus ou Belém FC) e desforra, que deram origem ao nosso clube... depois em 28 de Fevereiro de 1904, foram com o Football-Club Swifts que era o novo nome do então vulgarizado Grupo dos Pinto Basto (até 1 de Dezembro de 1902). Entre esta data e 1 de Dezembro de 1904 seriam conhecidos pelo tal nome de FC Swifts. E que depois, em 1 de Dezembro de 1904, passaria a Clube Internacional de Futebol, popularmente "Internacional". Quando o seu futebol passou a amador, caindo no "esquecimento", manteve-se noutras modalidades, com destaque para o Atletismo, mas já como CIF. Ainda na actualidade é conhecido como CIF mas durante três décadas - desde 1 de Dezembro de 1904 a meados dos Anos 20 - foi denominado "Internacional". Ainda uma referência - importante para o que será escrito mais abaixo - é que o FC Swifts ainda tinha alguns dos pioneiros portugueses do futebol, quer portugueses, quer estrangeiros, pois na última década do século XIX, quando em Lisboa ainda se jogava futebol no Campo Pequeno, antes da construção da Praça de Touros, tinham feito parte de um clube célebre, por ter qualidade acima da média, o FC Lisbonense, que chegou a jogar na Quinta Nova, em Carcavelos, defrontando os ingleses do Cabo Submarino. A construção da Praça de Touros tornou proibido jogar nesse terreiro passando o futebol para Belém, nas Terras do Desembargador, às Salésias. Até esta transferência de local foi importante na fundação do «Glorioso» pois os miúdos de Belém passaram a ser priviligiados, podendo ver jogar futebol, ao contrário da restante miudagem da cidade de Lisboa. Por isso cresciam, em Belém, os melhores fuebolistas, entre os últimos anos do século XIX e os Anos 20 do século XX. Mesmo os casapianos eram "bons de bola" porque tendo as suas instalações no Restelo - atrás do Mosteiro dos Jerónimos - deslocavam-se às Terras do Desembargador, a cerca de 600 metros, para ver os jogos de futebol podendo depois imitar os jogadores dentro da Casa Pia, no pátio, onde exercitavam um jogo que sendo novidade era, também, atractivo.
NOTA: vou passar a contar uma história como me foi contada, entre a Pastelaria Versailles (Lisboa) e a sua residência na rua Casal Ribeiro (também, em Lisboa) por Luís Filipe Rosa Rodrigues, filho de Cândido Rosa Rodrigues e sobrinho de José Rosa Rodrigues e António Rosa Rodrigues, três irmãos que jogaram os dois jogos, em 29 de Novembro e 13 de Dezembro de 1903.
"Vale sempre a pena" aproveitar estes pretextos (meados de Novembro de 1903)
Para homenagear os que nos fizeram tão grandes por tomarem boas decisões. Entre os pioneiros destaque para Manuel Gourlade. O futebol no tempo em que não havia competições regia-se por códigos de honra, simples, mas elegantes e eficazes além de eficientes. Quando um "Grupo" ou "Clube" de futebolistas desafiava outro havia sempre (ou quase sempre...) direito a um jogo de desforra. Se o desafiado vencesse tinha direito a recusar o jogo de desforra. Se empatasse ou perdesse tinha direito a desforra. Se o desafiador recusasse a desforra - depois de vitória ou empate - o desafio era anulado. Se o desafiador perdesse, o desafiado, como atrás se escreveu, só aceitava segundo jogo se quisesse, mas em regra aceitavam pois queriam era jogar e poucos jogos se faziam nesse tempo de antanho. O certo é que, em Novembro de 1903, o Grupo dos Catataus (Belém Football Club ou simplesmente Football Club) perante os elogios que jogavam bem decidiu desafiar o FC Swifts (Grupo dos Pinto Basto), então, clube mais afamado de Lisboa e Portugal, o único que os ingleses aceitavam receber na Quinta Nova, em Carcavelos, nas instalações do Cabo Submarino. O FC Swifts era um grupo de futebol poderoso com elementos da família Pinto Basto (que estudando em Inglaterra tinham "introduzido" o futebol entre os portugueses - e não o futebol, em Portugal, pois os ingleses do Cabo Submarino foram os pioneiros do "football" em Portugal - só que jogavam entre eles, na Quinta Nova e os portugueses não viam os jogos, a não ser que trabalhassem com eles, no Cabo Submarino. Os Pinto Basto tinham no seu grupo, amigos ingleses, sendo considerado um grupo misto (portugueses e estrangeiros) assim passariam a "Internacional" por isso mesmo. Havia os clubes ou grupos dos ingleses, os mistos e os de portugueses. Em meados de Novembro de 1903 o Belém FC (só portugueses) decidiu desafiar o FC Swifts aprazando-se o jogo (ou desafio, por isso em Portugal desafio e jogo são sinónimos) para o último domingo de Novembro, dia 29.
Um jogo entre o Sport Lisboa (Glorioso) e o Internacional ou FC Swifts, no campo das Terras do Desembargador, às Salésias |
"Vale sempre a pena" aproveitar estes pretextos (29 de Novembro de 1903)
Nas Terras do Desembargador, às Salésias, jogou-se esse encontro (desafio) que ficou favorável ao grupo desafiado, com resultado desconhecido, mas pela margem mínima, talvez 2-1 ou 1-0, mas em que o grupo desafiador deu excelente réplica. No final a cerimónia da praxe. O capitão do Belém FC, José Rosa Rodrigues, solicitou a desforra. O capitão do FC Swifs (Guilherme Pinto Basto) como não era obrigado, pois foi o grupo desafiado e vencera, não quis tomar a decisão em solitário - se tivesse perdido ou empatado poderia ter decidido em solitário lançar o repto ou se fosse o capitão do grupo desafiador aceitar o repto - reunindo com os dez futebolistas para tomarem a decisão. Enquanto eles se reuniam, Manuel Gourlade (jogou nesse encontro como defesa à esquerda) chegou junto do capitão (José Rosa Rodrigues) e pediu-lhe, que se o FC Swifts, aceitasse a desforra que a marcasse para desse domingo a 15 dias, ou seja, para 13 de Dezembro, e não para daí a uma semana, que seria 6 de dezembro, também domingo como era evidente, pois sábado era dia de trabalho (excepto para os ingleses que só trabalhavam, aos sábados, de manhã, podendo jogar nos sábados à tarde) quando o hábito, entre os clubes portugueses, era jogar a desforra no domingo seguinte ao repto. José Rosa Rodrigues ficou perplexo com a sugestão de Manuel Gourlade, mas confiando nas aptidões deste para organizar e tentar perceber o jogo (era melhor a fazer isto que a jogar) quanto confrontado com a decisão do adversário em fazer a desforra pediu "para daqui a quinze dias e não no próximo domingo"! Foi aceite. Depois questionou Manuel Gourlade acerca da data. Este foi metódico, coerente e prático no sentido de tomar as melhores decisões. Explicou. Durante o desafio percebi onde estão os nossos pontos fracos que devemos reforçar para fazermos uma desforra ainda melhor. Pelo menos tentar! Tenho visto alguns treinos, a cada domingo de manhã, dos ex-alunos da Casa Pia, da «Associação do Bem» - Pedro Guedes, Januário Barreto, Silvestre da Silva, António do Couto, Emílio de Carvalho, Daniel Queirós dos Santos, José Neto e Francisco dos Santos - por isso, no próximo domingo vou falar com eles, onde treinam, junto da "Cerca da Casa Pia" (atual Planetário de Lisboa e Museu da Marinha). E assim foi. Não se sabe (ou ainda não se sabe) quem aceitou, mas sabe-se que alguns aceitaram, incluindo Emílio de Carvalho que reforçaria o Belém FC substituindo, como defesa à esquerda, o próprio Manuel Gourlade. Ou seja, Manuel Gourlade para melhorar a equipa onde jogava decidiu "sacrificar" o seu próprio lugar, não jogando e passando a espectador. ISTO É TÃO BENFICA OU ERA! Não interessa nada mais que colocar a jogar quem melhor nos serve os interesses que são únicos ou apenas existe uma finalidade: vencer para conquistar! Uma nota para dizer que o que Manuel Gourlade fez era completamente legal naquele tempo, pois não havia clubes formalizados. Vivia-se do improviso e da atração de futebolistas que queriam jogar no melhor grupo possível. Já atrair futebolistas aos adversários era uma desonra, mas não foi isso que se fez, como é evidente. Os futebolistas casapianos da «Associação do Bem» não formavam um grupo de futebol, por escassez de elementos presentes nos treinos dominicais, mas entravam, sim, noutros grupos. Desta vez entraram, alguns, para o Grupo dos Catataus (Belém FC ou Foootball Club).
"Vale sempre a pena" aproveitar estes pretextos (13 de Dezembro de 1903)
Novamente, nas Terras do Desembargador, às Salésias, jogou-se a desforra do repto em 29 de Novembro. De facto, Manuel Gourlade tinha razão. Reforçou-se mesmo a equipa (e não se enfraqueceu...) conseguindo uma missão quase impossível. Derrotar o Grupo dos Pinto Basto (FC Swifts) que eram invencíveis por clubes portugueses ou mistos. Só os clubes, exclusivamente, de ingleses os venciam. Não se sabe (ainda não se sabe...) o resultado, a não ser que foi pela margem mínima, como no jogo do desafio, mas diferente, talvez 1-0 ou 2-1. A mesma diferença de golos, mas resultado diferente. Agora quais foram os dois resultados, ninguém com quem falei - Luís Filipe Rosa Rodrigues (filho e sobrinho de três dos 24 fundadores) ou Hugo Empis, filho do fundador Raúl Empis (que me explicou a evolução do emblema, entre 1904 e 1912) - sabiam. Luís Filipe disse que o pai e os tios diziam que ambos foram pela margem mínima, mas diferente. Cá está: 1-0 ou 2-1, dando a ideia que 1-0 foi o da desforra, mas sem certezas, muito menos absolutas. O certo é que tal resultado, conseguido no jogo de desforra disputado ao final da manhã desse domingo, provocou enorme euforia em Belém. Nunca visto em 1903. Um grupo só com portugueses, ainda com escassez de historial, derrotar um clube misto (portugueses e ingleses, talvez ainda um alemão) com muito mais experiência, vinda do início da última década do século XIX. Foram almoçar ao Café do Gonçalves - que ficava em frente da Farmácia Franco (onde Manuel Gourlade era contabilista e Daniel dos Santos Brito (também futebolista no Belém FC, embora não saiba - ainda não saiba... - se jogou os dois, um deles e qual ou não jogou nesses dois encontros) era balconista - num prédio onde viviam, embora no primeiro andar do lado contrário ao da Farmácia Franco (esta à direita) e eles do lado esquerdo do prédio, os irmãos Rosa Rodrigues (José, Cândido, António e Jorge). Jorge Rosa Rodrigues, aquando da fundação, ainda muito novo, mas seria, mais tarde guarda-redes do «Glorioso» já no campo da Quinta da Feiteira, em Benfica. Nesse almoço de euforia, na presença dos miúdos do bairro de Belém do «Football Club» e homens casapianos da «Associação do Bem», alguém alvitrou: «Com estes elementos, e só portugueses, fazia-se um grande "team"». Estava dado o mote para a fundação do «Glorioso». A ideia era que seria possível, apenas com futebolistas portugueses, vencer o Carcavellos Club e outros grupos de estrangeiros. E foi. Tradição, mas nunca norma estatutária, que duraria até 1 de Julho de 1978, quando em Assembleia Geral, os associados decidiram "quebrar essa nobre tradição" permitindo a contratação de estrangeiros, "mas só avançados" como se adiantou, só que depois seriam para qualquer posição. Regressando a 13 de Dezembro de 1903 e depois a 28 de Fevereiro de 1904. Em 10 de Fevereiro de 1907, menos de três anos depois da fundação, o Clube foi à Quinta Nova, vencer por 2-1, os "mestres ingleses do Cabo Submarino", como os designava, o nosso Pai do Benfiquismo, Cosme Damião! Espantoso! Como disse Félix Bermudes, quando soube, segundo a filha (Cesina Bermudes) com quem falei, primeiro perante o espanto e depois com gargalhadas, ou não fosse Félix Bermudes um genial dramaturgo de comédia: «Isso não é uma vitória!» «O quê?», indignou-se alguém ou alguns. «Isso é uma vitória gloriosíssima! ou uma gloriosíssima vitória!», acrescentou com perspicácia Félix Bermudes. A dúvida está em saber se foi «vitória gloriosíssima! ou gloriosíssima vitória!» que Cesina Bermudes, com a passagem do tempo, perdera a frase certa. E assim se passou a designar, como sinónimo superlativo, o Clube, por «Glorioso»!
Não sendo eu, completamente nada, supersticioso
Não posso deixar de desejar que este nono relvado consiga ser o melhor de todos. O que permita mais golos, vitórias, pontos e títulos (conquistas).
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Alberto
Miguéns
Um gloriosíssimo obrigado!
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarTão bom recordar esses tempos da pureza inicial. Tempos e que o problema era ter um terreno adequado, e não propriamente um relvado. Mas se isso era um problema, o que sobrava era o amor ao jogo. “Veio primeiro a ideia do jogo pelo prazer de jogar. A ideia do clube seguiu-se ao prazer do triunfo. Houve desde logo, a certeza de que, pela união, nos podíamos tornar mais fortes.”
ResponderEliminarQue esta temporada seja plena de sucessos. Quem nos governa é o que é, mas o Clube será sempre um. Todos por um.