Telma e Vanessa

MAIS UM PRETEXTO PARA ESCREVER ACERCA DE DUAS ATLETAS QUE REPRESENTAM O BENFICA.

Pois as conquistas não me interessam praticamente nada pois são em representação de entidades que não é o Benfica, ou seja, não são do Benfica. Mas, Telma Monteiro é uma das melhores atletas (feminino e masculino) do Desporto em Portugal e Vanessa Fernandes podia ser a melhor de sempre. A medalha de prata conquistada por Telma Monteiro, em 19 de Novembro, no "Campeonato da Europa de Judo" pela selecção nacional da FPJ, é o pretexto para o texto de hoje.

DECLARAÇÃO DE INTERESSES:

1. Considero o "Projecto Olímpico" do Benfica uma aberração desportiva. Não tem sentido nenhum. Surge para tentar ombrear com o Sporting CP que contabiliza as conquistas dos seus atletas ao serviço do Portugal - Federações e Comité Olímpico - como suas, apropriando-se dessas conquistas que não são em representação do Sporting CP. A falta de Cultura Benfiquista dos Órgãos Sociais, com destaque para o presidente da Direcção, faz com que se copie no Benfica a cultura provinciana do Sporting CP. Vai ser uma questão de tempo esta aberração desportiva terminar;

2. E é uma aberração desportiva pois para copiar o Sporting CP prejudica-se a Cultura Benfiquista. Deixa-se na penúria modalidades históricas como o Râguebi (completará 100 anos de prática ininterrupta em 26 de Dezembro de 2024, completando o 96.º aniversário no próximo mês caminhando, em 2020/21, pela 96.ª temporada consecutiva a jogar Rugby), o Ténis de Mesa (completará 100 anos de prática ininterrupta em 29 de Janeiro de 2028, assinalando o 93.º aniversário no início de 2019, nesta 93.ª época consecutiva) e o Bilhar (completará 90 anos de prática ininterrupta em 2 de Novembro de 2028, completou-se no início deste mês o 82.º aniversário e esta é a 83.ª temporada consecutiva). O objectivo é tentar que aqueles que transportem a "Chama Imensa" honrando os ases que nos honraram o passado se desinteressem, fiquem extenuados com a indiferença a que são remetidos e abandonem a prática das modalidades como ocorreu com o Hóquei em Campo, em 1997. As verbas do "Projecto Olímpico" dotariam estas três modalidades (talvez no Rugby não fosse possível) o Clube de plantéis campeões nacionais e com valorização nas competições europeias. Um dia voltará a ser assim;

3. Há a questão pessoal de não ter orgulho nestas conquistas a não ser em gostar de ter atletas do Clube campeões europeus, mundiais e olímpicos. Mas isso já tinha quando hoquistas do Benfica se sagravam campeões europeus e mundiais pela selecção nacional. Para mim tenho tanto interesse na medalha de ouro olímpica de Nélson Évora como na de Di María. Gosto de ver atletas do Benfica brilharem em qualquer competição, mas orgulho só tenho quando é com o «Manto Sagrado». Aliás, só em Portugal é que existe este provincianismo. Não tenho conhecimento que em qualquer outra parte do Mundo haja clubes a despejar dinheiro em atletas quando se apercebem que está ali um potencial campeão olímpico. O Real Madrid CF, o FC Barcelona, mais uma catrefada de clubes, até emblemas californianos devem estar atarefados em adquirir atletas, em avulso, para contabilizar medalhas olímpicas;

4. Os governos dos países que usam os atletas como propaganda política e para se comparar uns com os outros é que devem fomentar o Desporto, pagar aos seus atletas, dar-lhes condições e criar infra-estruturas, fomentar a prática desportiva e fazer prospecção para canalizar aptidões para as várias modalidades. Isso não compete ao Benfica. Aliás o Benfica nem o faz. Contrata atletas acerca dos quais já se sabe que têm potencial para conquistarem medalhas. Já o que o Sporting CP faz é para o lado que durmo melhor;

5. O desporto no século XX - as grandes competições, com destaque para os Jogos Olímpicos - teve dinheiro em quantidades absurdas, desenvolveu-se e ganhou visibilidade devido à "Guerra Fria" com a ideologia a servir-se do desporto, tentando o bloco capitalista e o bloco socialista usar como propaganda o medalheiro olímpico. É inacreditável pensar que depois de biliões de dólares/euros, modernizações das pistas e equipamentos dos atletas, batota, droga, mentiras, vigarices, espionagem, por exemplo, o recorde mundial nos 100 metros tenha passado de 10,6 (em 1912) para 9,58 (em 2009) Um segundo num século. E em 1912 o tempo era retirado manualmente o que quer dizer que podia ser menos de 10,60 - uns décimos de segundo - pois há que contar com o tempo de reação humana na cronometragem. Isto não invalida reconhecer mérito aos melhores atletas que fizeram na segunda metade do século XX o desporto substituir as guerras entre países ocidentais. Entretinham-se a rivalizar no desporto. Mas além disso, há que valorizar o mérito de cada um, os que o tiveram, em superar-se e serem os melhores provando-o nas grandes competições;

6. Para terminar este arrazoado até podia ter um discurso de "Miss". Realmente andar a gastar milhões para melhorar cifras muitas vezes insignificantes e fazer batota criando ídolos, muitas vezes, condenados ao ridículo e a uma morte precoce em vez de libertar milhões de seres humanos da sede, fome e da doença só mostra que não é a existência de países subdesenvolvidos que é preocupante. O Planeta Terra é que é subdesenvolvido.

Ainda uma nota de um adepto Benfiquista

Que os dirigentes e atletas das modalidades que são prejudicadas pela existência do «Projecto Olímpico» não esmoreçam e desistam, pois isso era fazer o jogo de quem quer que isso ocorra. Continuem a resistir pois um dia as modalidades que gostam e querem praticar pelo Benfica serão devidamente acarinhadas. Quando existirem Órgãos Sociais com Cultura Benfiquista isso voltará a ser realidade. Agora é necessário resistir. São estes os tempos. Resistir agora para vencer depois.

Vamos ao principal pois não havendo pretexto desportivo para escrever acerca delas este blogue só pode abordar (tentando honrar estes atletas do Benfica) mostrando as suas qualidades ou potencial para elas.

Telma Monteiro é uma atleta de grande craveira

Ela encarna na perfeição o propósito de quem idealizou os Jogos Olímpicos da Era Moderna, o barão Pierre de Coubertin. A superação. É isto que é Telma Monteiro. A capacidade de superação e vontade de ser sempre melhor amanhã do que foi hoje. Chegou ao Benfica, em finais de Julho de 2007, aos 22 anos, transferida do clube "Construções Norte/Sul" já como judoca consagrada com conquistas internacionais como a medalha (são sempre duas pois nunca há um combate entre as eliminadas nas meias-finais!) de bronze, nos Mundiais de 2005 e o Benfica (Ana Oliveira) sabia que tinha potencial para fazer melhor em Setembro, nos Mundiais de 2007. E foi, pois só perdeu na final. Pura contratação interesseira. Seguiu-se uma carreira notável que está longe de terminar devido ao modo como sabe conciliar as competições com a sua vida particular e profissional. Benfiquista de família é um modelo como atleta de alto gabarito a nível mundial. No Judo é a melhor de sempre em Portugal e quando terminar a carreira será das melhores de sempre a nível mundial. Embora devido às categorias de peso e número de competições sejam centenas as judocas consagradas. Mas Telma Monteiro é fantástica. Ainda há poucos dias, no  "Campeonato Europeu de Judo", em Praga, soube estar mais uma vez em pleno e só ceder na final. Este blogue gosta de honrar os ases que nos honraram o passado. Sublinha-se a sua personalidade, não o podendo fazer pela componente desportiva, pois não conquistou nenhuma competição importante, a não ser integrar as equipas que competiram em campeonatos nacionais de Judo (e já lá vai algum tempo). O título em 2018 nem contou com a sua participação mas ela não é judoca do Benfica para isso! É para conquistar medalhas pela selecção nacional e pelo comité olímpico. Como Benfiquista é um orgulho saber que o Clube conta com Telma Monteiro como fazendo parte dos seus atletas, pelo que ela representa em perseverança, dedicação à modalidade e superação como atleta nunca desistindo e saber como lidar com os imponderáveis da actividade desportiva. É a sua personalidade que a eleva a níveis difíceis de atingir numa modalidade onde uma portuguesa dificilmente poderá ser medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Obrigado, Telma Monteiro.

Um livro notável que simplifica o que é complexo. Imprescindível ler, mais do que o ter!

Como não tenho os registos de atletas do Benfica, sem ser a competir pelo Benfica, coloco uma digitalização do jornal «Record» que acredito estar correcta, na qual se pode comprovar a excelência, a nível mundial, de Telma Monteiro como judoca:

O "Projecto Olímpico" teve início com Nélson Évora e a contratação de Vanessa Fernandes. Nélson Évora formou-se no «Glorioso», logo em 1996 (com onze anos, pois nasceu em 20 de Abril de 1984) ingressou no FC Porto (2002 e 2003) regressando ao Benfica, em 2004. Vanessa Fernandes foi contratada em final de Abril de 2006. Telma Monteiro juntou-se em Julho de 2007 e depois centenas se seguiram, uns com mais sucesso, outros com menos, como ocorre sempre.

 

Vanessa Fernandes foi a melhor atleta portuguesa de nível internacional (a par de Nélson Évora)

Quando em 2007 e 2008 se sagrou campeã mundial e ficou em segundo lugar nos Jogos Olímpicos. Uma surpresa pois era a principal candidata a conquistar a medalha de ouro, mas ainda não se sabia o que se passava...pois esta foi a última grande competição em que brilhou. E foi apenas segunda classificada quando desde júnior que era, repetidamente, primeira. 

Como não tenho os registos de atletas do Benfica, sem ser a competir pelo Benfica, coloco as informações da revista «Atletismo» que acredito estarem correctas, na qual se pode comprovar a excelência, a nível mundial, de Vanessa Fernandes como triatleta, num espaço de tempo tão escasso (clicar):

Vanessa filha de Venceslau

O grande ciclista que fez as delícias da minha juventude enquanto atleta do «Glorioso» imperial na "Montanha/Rampa" e compondo com Fernando Mendes um par que fazia sonhar os Benfiquistas frente a Joaquim Agostinho. Vanessa Fernandes formou-se como triatleta no Clube de Triatlo de Perosinho e conquistou logo o respeito dos triatletas portugueses. Uma predestinada como iria provar a nível mundial. Depois de enormes conquistas, como esta em 2005 (clicar) sendo Benfiquista e com o clube a necessitar de atletas para integrar o «Projecto Olímpico» ingressou no Benfica, em final de Abril de 2006. Numa modalidade (Triatlo) em que tinha muita margem de progresso era a atleta da qual se esperava poder conquistar medalhas de ouro em dois ou três Jogos Olímpicos. Nunca conseguiu. Foi tão precoce a dominar o Triatlo mundial como terminou, demasiado cedo, a sua carreira. Ainda podia estar a competir (e vencer) e já não conquista uma competição de grande nível desde 2008. Ou seja, quando podia aproveitar a maturidade para prolongar a carreira duas décadas restringiu-a a menos de uma década. Tinha vencido menos em tão curto espaço de tempo mas muito mais se tem tido uma carreira "normal". A obsessão precoce pelo sucesso e não conseguir conciliar a componente desportiva com a vida pessoal e profissional limitou-lhe as conquistas. Tinha todas as condições para ser a melhor atleta portuguesa (incluindo homens) de sempre em Jogos Olímpicos e tudo se esfumou. Em 2008, 18 de Agosto, já estava - tudo indica - em declínio e mesmo assim conquistou a medalha de prata nos "Jogos Olímpicos". Obrigado, Vanessa Fernandes.  

 

Telma Monteiro e Vanessa Fernandes

Duas extraordinárias atletas, no Judo e no Triatlo, com pouco contributo para conquistas desportivas com o «Manto Sagrado» mas que são dois exemplos de como pode haver superação. Telma Monteiro continua. Vanessa há muito que terminou. Precocemente. 

Até amanhã, Benfica!

 

Alberto Miguéns