QUAL A IMPORTÂNCIA DO FC PORTO NO DESFAZER DOS CINCO TETRAS DO "GLORIOSO"?
É INTERESSANTE PERCEBER SE HOUVE UM PADRÃO, ENTRE O
CLÁSSICO E O DÉRBI PARA NÃO PERMITIR A CONQUISTA DO QUARTO CAMPEONATO
CONSECUTIVO NOS CINCO PERÍODOS EM QUE ISSO FOI POSSÍVEL.
Em semana de Clássico de Portugal é interessante ver que tipo
de interferência teve este jogo nas decisões dos “não-Tetra”.
Em cinco deles só num houve uma deslocação do Benfica ao terreno portista na primeira volta (situação idêntica à época actual). Nas outras quatro o primeiro Clássico foi no terreno do Benfica. Interessa recuar a esse jogo na 3.ª jornada de 1965/66 que terminou com a derrota do Benfica, por 0-2, mas a temporada não tinha começado bem apesar do regresso de Béla Guttmann. Antes disso há que perceber o enquadramento do que se vivia no futebol português. E era euforia. A mais-de-meio do apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo a realizar em Inglaterra, no Verão de 1966, Portugal seguia isolado tendo feito um jogo épico, talvez o melhor de sempre (em termos relativos) da Selecção Nacional, quando foi vencer a poderosa Checoslováquia, em Bratislava, estando em inferioridade numérica desde os..três minutos, após lesão de Fernando Mendes (SCP) num tempo em que não havia substituições. Eusébio (n.º 8) marcou, aos 20 minutos, um dos melhores golos de toda a sua enorme carreira.
25 de Abril de 1965: o dia da emancipação do Futebol Português
O palmarés entre selecções não tinha qualquer comparação. Portugal falhara sempre os apuramentos para as fases finais dos campeonatos do Mundo (desde 1934) e Europeus (desde 1960). Nos Jogos Olímpicos - apenas uma participação, em 1928 - foi capaz do melhor (V 4-2; Chile e V 2-1; Jugoslávia) e do pior (D 1-2; Egipto). A Checoslováquia era uma potência olímpica, além de ser finalista (D 1-3, frente ao Brasil no último Mundial, no Chile, em 1962) apesar de ter realizado um mau Europeu em 1964 (eliminada pela RDA ou Alemanha Oriental/Economia socialista pró-soviética, antes da reunificação) que também era uma selecção forte. Azar no sorteio! A vitória no lado eslovaco da Checoslováquia transportou o futebol português para uma dimensão nunca vista desde a participação nos Jogos Olímpicos de 1928. Mas nesse tempo (Anos 20) não havia envolvimento nacionalista massificado como nos Anos 60 devido à televisão.
Época marcada pelo apuramento para o Mundial de Inglaterra
A temporada de 1965/66, em que o Benfica tentava o quarto campeonato nacional consecutivo, mesmo no futebol a nível interno, foi de expectactiva acrescida. A presença no Mundial, ainda por cima na "Pátria do Futebol" (como se escrevia em Portugal) fez de 1965/66 uma época especial. Após os seis jogos iniciais - quatro com intervenção de Portugal - do grupo 4/Europa de apuramento, que decorreram em 1964/65 (época do TRicampeonato) a selecção nacional garantira o apuramento, pois fizera o pleno e já ultrapassara, com distinção, a prova mais complexa - ir vencer na Checoslováquia. Só uma catástrofe - ainda que apenas o vencedor do grupo era apurado - permitiria a eliminação de Portugal do Mundial a realizar em Inglaterra. O "jogo chave" seria realizado na cidade do Porto, frente à Checoslováquia, em 31 de Outubro de 1965. A Checoslováquia o máximo que poderia conseguir era ganhar os quatro jogos (oito pontos) tal como a Roménia com três jogos (poderia fazer dez pontos). Portugal poderia fazer 12 pontos (dois jogos). Depois de 19 de Setembro - vitória da Checoslováquia sobre a Roménia - e de 24 de Outubro (escandalosa derrota da Roménia em Ancara) - tudo ficou mais clarificado. Portugal estava a um ponto (9) de conseguir o apuramento.
Portugal: Ataque do Benfica, defesa e meio-campo contra o Benfica
Ao contrário
do que se dá muitas vezes a entender, não foi só na fase final do Mundial que
se colocou em campo, a jogar pela selecção nacional, o ataque do Benfica e o
sector defensivo dos que nos seus clubes defrontavam o ataque do Benfica nas competições portuguesas. Basta
ver a constituição da célebre equipa que venceu na Checoslováquia (25 de Abril
de 1965):
José Pereira (CF "Os Belenenses");
Festa (FCP), Germano (SLB;
capitão), José Carlos (SCP) e Hilário (SCP);
Eusébio (SLB), Fernando Mendes (SCP) e Coluna (SLB);
José Augusto (SLB), José Torres (SLB) e Simões (SLB).
Se compararmos com a equipa que defrontou a
Inglaterra, em 26 de Julho de 1966, um ano e três meses depois da memorável
jornada de Bratislava, nesse jogo das meias-finais do Mundial:
José Pereira (CF "Os Belenenses");
Festa (FCP), Alexandre Baptista (SCP), José Carlos (SCP) e Hilário (SCP);
Eusébio (SLB), Jaime Graça (Vitória FC Setúbal; já contratado pelo Benfica) e
Coluna (SLB;
capitão);
José Augusto (SLB), José Torres (SLB) e Simões (SLB).
Apenas
duas alterações: uma por necessidade (Fernando Mendes lesionara-se gravemente
em Bratislava) e outra por teimosia que houve quem dissesse custou a conquista
do Mundial. Alexandre Baptista por Germano. A defesa perdia qualidade futebolística,
ganhava "músculo". Mas o certo é que no Mundial o ataque cumpriu
(marcou 17 golos em seis jogos). A defesa é que foi um descalabro (sofreu oito
golos nesses seis jogos). O capitão Germano (ainda o foi no único jogo em que
Portugal não sofreu golos: 0-3 frente à Bulgária; segundo jogo do grupo) fez
muita falta! E ele ainda quando falei com Germano, no estádio da Tapadinha, do
Atlético CP, falava disso! Nos anos 80!
OS CLÁSSICOS DE PORTUGAL NAS TEMPORADAS APÓS OS TRICAMPEONATOS
1935/36
1936/37
1937/38
|
1962/63
1963/64
1964/65
|
1966/67
1967/68
1968/69
|
1970/71
1971/72
1972/73
|
1974/75
1975/76
1976/77
|
2013/14
2014/45
2015/16
| |||||||||
Jor
|
14
|
26
|
26
|
30
|
30
|
34
| ||||||||
SLB
|
3.º
|
- 2
|
2.º
|
41*
|
2.º
|
38
|
2.º
|
47
|
2.º
|
=
| ||||
FCP
|
1.º
|
23
|
3.º
|
- 7
|
9.º
|
-16
|
4.º
|
- 4
|
1.º
|
51
| ||||
1.ª
|
7.ª
|
C
|
3.ª
|
F
|
12.ª
|
C
|
8.ª
|
C
|
13.ª
|
C
|
10.ª
|
F
| ||
D
|
0-2
| |||||||||||||
0-1
|
32’
| |||||||||||||
0-2
|
73’
| |||||||||||||
2.ª
|
14.ª
|
F
|
16.ª
|
C
|
25.ª
|
F
|
23.ª
|
F
|
28.ª
|
F
|
27.ª
|
C
| ||
O Sorteio do 32.º campeonato nacional reservou para a 3.ª jornada uma deslocação ao recinto do FC Porto
Após a conquista dos cinco "TRIS" até à actualidade foi a primeira vez (em 2016/17 será a segunda) que o "Glorioso" defronta primeiro o FCP no seu terreno e só na segunda volta numa das "Catedrais". O jogo disputou-se em 26 de Setembro (já se sabia que a Checoslováquia vencera a Roménia considerada a maior rival devido ao facto de Portugal ter de se deslocar a Bucareste). O jogo no estádio do FC Porto foi uma desilusão pois o Benfica contratara Béla Guttmann para não só dominar o campeonato nacional como fazer aquilo que Elek Schwartz não conseguira na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus na temporada anterior: vencer a "Terceira"! O Campeonato começou com desilusão (empate a dois golos em Coimbra, frente à equipa da Associação Académica de Coimbra) e continuou no estádio das Antas (derrota por 0-2, num jogo muito fraco da base da selecção nacional). Não foi só o Benfica que fez um "Nacional" irregular, o Sporting CP também. O campeonato parecia perdido para o "Glorioso" logo à primeira volta (menos quatro pontos e derrota, na "Saudosa Luz" frente ao SCP por...2-4! Com 13 jornadas (primeira volta concluída) o Sporting CP comandava invicto com 23 pontos (três empates) com o "Glorioso" a quatro pontos (três empates e duas derrotas: FCP e SCP).
1965/66: Quase, quase...
Mas depois o Sporting CP começou a claudicar com empates inesperados, além de uma derrota em Guimarães e perder "em casa" frente ao Benfica por 0-2. Quando tudo parecia perdido a possibilidade do Benfica conquistar o TETRA reacendeu-se a quatro jornadas do final quando o Sporting CP foi empatar frente ao CF "Os Belenenses" e o Benfica chegou (finalmente...) à liderança. Faltavam quatro jogos, mas três eram em terreno alheio, com uma saída complexa (a Guimarães) e outras duas mais acessíveis (SC Braga e CF "Os Belenenses"). No final o SCP acabou o campeonato perdendo dez pontos e o "Glorioso" cedeu onze! Isto no tempo em que a vitória correspondia a dois pontos. Se fosse a três, como na actualidade, seriam 14 para o SLB e 12 para o SCP!
O campeonato dos pontos perdidos...
Foi uma temporada em que o ataque do Benfica parecia querer mostrar-se ao seleccionador nacional (Manuel da Luz Afonso) e ao treinador nacional (Otto Glória) marcando 73 golos em 26 jogos (mais três que os 70 do campeão Sporting CP e mais 22 que o 3.º classificado...FCP). O "pior" foram os 30 golos sofridos: mais nove que os 21 do SCP e mais cinco que os 25 do FC Porto. Justificação de Germano? Os nossos avançados só atacavam e depois «descansavam» para atacar outra vez! Quem "pagou as favas" foi Béla Guttmann afastado em 30 de Março de 1966 e o TETRA (provavelmente)!
Uma equipa partida em duas
Quem "pagou" foi Béla Guttmann e pagou bem a sua incompetência. Depois de eliminado, por 1-5, pelo Manchester United FC, na "Saudosa Catedral", para a Taça dos Clubes Campeões Europeus quando o Benfica a três jornadas do final do Campeonato Nacional se preparava para ultrapassar o último obstáculo (jogo em Guimarães frente ao 4.º classificado) eis que é derrotado, por 2-3 (já com 0-2 ao intervalo) perde a liderança e o "TETRA", na 23.ª jornada de uma edição com 26 jogos. O "Glorioso" com Béla Guttmann, em 1965/66, esteve a quatro jogos de conquistar o quarto título de campeão nacional consecutivo.
2016/17: De Olhos Bem Abertos...Benfica
Alberto Miguéns
NOTA: A elaboração deste texto foi mais um pretexto para telefonar para o Lar/Residencial de Idosos onde está a viver o nosso Gastão Silva. E onde já não vou há mais de dois anos (clicar). Ontem pela tarde estava bem. Bem tendo em conta as suas limitações de 93 anos e dificuldades com a doença que lhe tolhe os movimentos e conhecimento. Bons tempos que já não voltam as conversas com quem melhor sabia o que foram (como e porquê foram...) das duas Gloriosas Campanhas Europeias de 1960/61 e 1962/63. E eu que tantas vezes pedi para o Benfica gravar uma entrevista com ele, quando valia bem a pena fazê-lo. Nada. O que interessa é o "Agora"!
Nunca deixar esquecer quem honrou o manto sagrado!
ResponderEliminarObrigado Caro Alberto por mais este momento.
Abraço,
Jamsl