E UMA DAS DATAS MAIS SIGNIFICATIVAS PODE SER
COMEMORADA HOJE. 118 ANOS DEPOIS DE 1898. PRÉ-HISTÓRIA PARA LÁ DA HISTÓRIA
GLORIOSA.
NOTA INICIAL: Como segmentos de assuntos que vão ser
descritos já foram abordados neste blogue, vou deixando “clicagens” para quem
quiser saber mais.
Em 1898, o dia 22 de Janeiro foi um “dia perfeito” para o
futebol português no século XIX (talvez seja melhor escrever, futebol disputado
em Portugal).
Feriado Municipal
Era o dia de São Vicente e foi a um sábado, dia de trabalho
do nascer ao pôr-do-sol durante centenas de anos. Ou seja, como era feriado municipal em Lisboa não foi dia de trabalho, permitindo jogar frente aos ingleses que – mesmo em Portugal - aos sábados só trabalhavam
de manhã (a chamada “semana inglesa” que quando eu era criança significava para
um português, ter um bom emprego. Ou dito "à portuguesa", um emprego em vez de um trabalho). Os ingleses reservavam a tarde de sábado
para actividades lúdicas e recreativas que antecediam o dia do Senhor, com a
reflexão religiosa de Domingo.
Os ingleses de Carcavelos
Em Portugal jogava-se futebol, entre portugueses, “quando
calhava” em meia dúzia dos 52 domingos do ano, excepto em Carcavelos onde se
praticava com regularidade, mas pelos ingleses, desde que estes tiveram a
concessão para instalarem o Cabo Submarino, em 1870, escolhendo Carcavelos
(Quinta Nova) para estabelecerem a ligação entre Malta e Londres, mais tarde
para Nova Iorque com passagem pelo Faial. Para saber mais clicar.
O “Campeonato” improvisado
A fama da qualidade do jogo praticado pelos ingleses depressa
fez furor entre os poucos portugueses interessados pelo futebol. Começaram a
formar-se grupos de portugueses (ou mistos de portugueses com estrangeiros) que
se defrontavam, primeiro do Campo Pequeno, depois da construção da Praça de
Touros, nas Terras do Desembargador, às Salésias, em Belém para “se afamarem” e
ser-lhes concedida a honra de jogarem em Carcavelos. Ou seja, desafiarem os
ingleses e estes aceitarem o desafio, pois preferiam jogar entre eles a ter de
defrontar grupos que não lhes oferecessem resistência. Para saber mais clicar
Casapianos bons de bola
Nos anos 90 do século XIX formou-se um bom grupo de jogadores
na Real Casa Pia de Lisboa, atrás do Mosteiro dos Jerónimos. A fama que
granjearam permitiu-lhes deslocarem-se à Quinta Nova, em Carcavelos, passam
hoje 118 anos, defrontar os ingleses e aplicar-lhes uma derrota que foi
histórica. Um grupo só de portugueses, casapianos, provava em pleno campo
inglês que era possível derrotar os “inventores” do Foot-Ball. Para saber mais clicar
O Benfica e os ingleses
O “Glorioso” teve origem no bom desempenho dos miúdos do
Belém Foot-Ball Club (ou Grupo dos Catataus) reforçados com casapianos
experientes que no final de 1903 mostraram ter muita qualidade. O que os
tornava semelhantes aos “Heróis do 22 de Janeiro de 1898”? Serem só
portugueses. Entre muitas decisões que levaram à fundação do nosso clube uma
foi, sem dúvida, permitir criar um clube que conseguisse singrar no futebol.
Que formasse equipas que pudessem, um dia, num futuro próximo, derrotar os
ingleses. E assim foi. Em 10 de Fevereiro de 1907, mais de nove anos depois da
proeza dos casapianos seria o Sport Lisboa a infligir nova derrota aos
ingleses, precisamente no mesmo local, em Carcavelos. Que estavam invencíveis
desde esse tal dia que assinalamos hoje: 22 de Janeiro de 1898. Honra ao Glorioso! O clube que passou, em Portugal, o Foot-Ball a Futebol.
É assim o Benfica. Mesmo que na
“Pré-História”…
Alberto Miguéns
NOTAS FINAIS:
1. O feriado municipal de 22 de Janeiro foi abolido com a implantação da República, bem como todos os feriados religiosos, nacionais ou municipais. Como os portugueses têm a "pancada" dos feriados, logo em 12 de Outubro (sete dias depois do 5 de Outubro) passaram a vigorar apenas cinco feriados. Os municípios teriam de escolher um dia que tivesse a ver com o município mas que não fosse religioso. Lisboa passou a ter o dia 10 de Junho. Dia de Camões. Evocando o dia em 1880 quando os Republicanos fazem a primeira grande demonstração de força perante a Monarquia durante as comemorações do Tricentenário da morte do Poeta dos Poetas (clicar para saber mais). Quando a revolução do 28 de Maio de 1926 triunfa, repõe os feriados religiosos, o 31 de Janeiro é abolido (substituído algum tempo pelo 28 de Maio) e altera os nomes para os que existem actualmente. E cria um novo feriado nacional, o 10 de Junho, Dia de Camões, da Raça e do Império. Os lisboetas reclamaram que todos os municípios tinham um feriado "só deles" e Lisboa não! Depois de umas "conversas" chegou-se à conclusão que regressar ao 22 de Janeiro não era boa ideia. Era preferível escolher um dia de Verão. Optou-se pelo 13 de Junho. Três dias depois do 10 de Junho. No entanto São Vicente (22 de Janeiro) continua padroeiro de Lisboa embora esta comemore o Santo António! Feriados Municipais no Inverno não era boa ideia! Antes no Verão! E assim ficou. Esta história pode estar mal contada - e não está - mas também mesmo que estivesse, não é para isto que este blogue serve! O que é certo é que o Feriado em Lisboa que começou em 22 de Janeiro acabou em 13 de Junho!
2. No jogo em
10 de Fevereiro de 1907 jogaram, pelo "Glorioso" quatro casapianos que já tinham jogado, em 22 de Janeiro de 1898, há 118 anos, pela Real Casa Pia de Lisboa: Emílio de Carvalho, António Couto, Daniel Queirós dos Santos e David José da Fonseca. Ambos os jogos na Quinta Nova, em Carcavelos, frente ao Carcavellos Foot-Ball and Cricket Club e com duas vitórias, separadas por nove anos e quase um mês. À Benfica!
A nossa estreia no futebol (1 de Janeiro de 1905) foi com uma equipa que contava com Pedro Guedes, António Couto, Emílio Carvalho e Silvestre Silva, ou seja, quatro casapianos de 22 de Janeiro de 1898.
Composição elaborada com base nas notícias acima publicadas e na entrevista de Silvestre Silva |
Para terminar em beleza, eis a equipa-tipo de 1904/05.
A Quinta Nova é um local de passado mágico. Aquelas escadarias têm uma carga. Os miúdos que por lá andam provavelmente não fazem ideia.
ResponderEliminarA nossa equipa era só craques e só isso explica que tenha derrotado os crónicos vencedores (e goleadores). Só os Ingleses do Oporto Cricket é que rivalizavam com estes Ingleses da linha. Os Casapianos tinham fogo na alma e talento nos pés!
Belo artigo! Obrigado.
Obrigado por estes artigos Alberto!
ResponderEliminarSaudações
ResponderEliminarMais um grande trabalho.
Num dos jornais originais também se pode ler o artigo descritivo de todas as medidas e forma de implementação das mesmas na divulgação e evolução da natação nacional.
Excelente.
ResponderEliminarHistória. Do Benfica e de Portugal.
É sempre bom aprender.
PS: Pensava que a fotografia que tem como texto de apoio o seguinte texto "Legendagem feita com a ajuda do inexcedível Victor João Carocha..." seria de 1904. Mas pelos visto estava equivocado e é de 1907, correcto Alberto?
Sim. Em 1904 não houve jogos, não houve fotografias.
EliminarAM
Artigo delicioso, como de costume.
ResponderEliminarObrigado.
EliminarEmbora sabendo que estes textos têm menos visitas (às 22:35) tem 598 visitas, apesar de dar mais trabalho e despesa, são estes os que eu gosto mais de fazer. Defender o Benfica com a sua grandeza em vez de enxovalhar adversários transformando-os em inimigos. Mesmo que às vezes mereçam. Mas a Cultura do Benfica está acima de tudo e todos.
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Gostei imenso. Muito grata por poder disfrutar.
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