DEPOIS DA VITÓRIA OCIDENTAL, NA AMOREIRA, ESPERA-SE OUTRA MAIS A ORIENTE.
Depois de três pontos na 1.ª jornada frente ao CD Nacional seguem-se duas jornadas em terreno alheio. Para começar, hoje, no recinto do Clube Oriental de Lisboa e terminar, quase de certeza, a definir a presença na meia-final, na última jornada, em Moreira de Cónegos.
NOTA INICIAL (DE AGRADECIMENTO PÚBLICO): Ao futebolista Leitão (GD "Os Fósforos" e Clube Oriental de Lisboa) - falecido em 11 de Outubro de 2009 - que não sendo Benfiquista teve a paciência de me acompanhar (melhor e com mais rigor: indicar e levar-me) aos locais de interesse para conhecer a história esquecida dos três emblemas (três campos, três sedes, Companhia dos Fósforos e principais locais das três tertúlias) em meados dos anos 80.
Era uma
vez…
Três clubes, Chelas FC, Marvilense FC e GD "Os Fósforos" que em 8 de Agosto de 1946 acabaram apenas num: Clube Oriental de Lisboa (COL). Três clubes que ocupavam a mesma área da cidade mas com realidades sociológicas completamente diferenciadas mas também com semelhanças a nível desportivo. Sem grandes proezas desportivas, geralmente competiam nas divisões secundárias da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) poucas vezes foram adversários do "Glorioso" (o Marvilense FC nunca o foi) a não ser nas categorias inferiores à equipa principal. Sem pretensões (até porque seria impossível em espaço tão reduzido) de fazer a história do COL apenas algumas linhas em homenagem ao adversário do "Glorioso". O Benfica fez-se Glorioso porque teve adversários para se afirmar. Sem adversários não haveria Benfica. Sem adversários para vencer com regularidade e expressão não haveria Glorioso.
O Chelas FC era o mais antigo (25 de Dezembro de 1911) mas apenas em 1917/18 começa a competir oficialmente no "Campeonato de Promoção" (3.º escalão) da AFL. Sem grandes proezas ficaria "famoso" por ter sido promovido sem necessitar de fazer o jogo frente ao último classificado da II Divisão, o Internacional/CIF um dos clubes mais importantes na história do futebol português até ao início dos anos 20 do século passado. Em 1923/24 conquistou o 3.º escalão ascendendo à II Divisão pela desistência do histórico Internacional que depois de ficar em último lugar na II Divisão desistiu do futebol a nível oficial. O Chelas FC com campo no Alto dos Toucinheiros apenas competiu entre 1929/30 e 1933/34, durante cinco temporadas, na principal divisão sendo por isso adversário do Benfica. Depois perdeu poder desportivo e passou a competir nas divisões secundárias.
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Meio século de futebol em Portugal (1888-1938); Júlio de Araújo; 1939; edição de autor; Lisboa |
O Marvilense FC e o GD "Os Fósforos" foram fundados no mesmo ano, em 1920, respectivamente, em 7 de Fevereiro e 1 de Setembro. Eram ambos clubes de Marvila, mas com características distintas, pois o GD "Os Fósforos" começou por se designar Grupo Desportivo do Pessoal da Companhia dos Fósforos, cuja fábrica se localizava na rua do Açúcar, n.ºs 195-197, precisamente o local da Sede. A Sede do Marvilense FC era no rés-do-chão do n.º 131 da rua de Marvila. Estes eram clubes rivais. Mais do que o Chelas FC. É fácil de perceber porquê. O GD "Os Fósforos" em breve não servia "apenas" para permitir aos seus funcionários jogar futebol, também oferecia emprego a bons futebolistas dos clubes vizinhos. Houve alguns que começaram no Marvilense FC e terminaram como empregados na Companhia dos Fósforos. Além disso tinham os seus campos de jogos no mesmo espaço - Quinta dos Alfinetes - paralelos separados por um tabique (estrutura de madeira com tábuas emparelhadas). Mais poderoso o GD "Os Fósforos" tinha campo com uma das bancadas laterais em alvenaria numa intervenção do engenheiro-chefe Carlos Salema alto quadro da Companhia dos Fósforos com responsabilidade na gerência do seu grupo desportivo. Fundados no mesmo ano (1920) mas a suficiente distância no tempo para o Marvilense FC estrear-se na época de 1920/21 e o, ainda, GDP Companhia dos Fósforos em 1921/22. Emparceiraram os três no "Campeonato de Promoção" até 1923/24 quando o Chelas FC ascendeu à II Divisão. O Marvilense FC nunca chegou a competir na I Divisão. O GD "Os Fósforos" foi adversário do "Glorioso" durante três épocas, entre 1941/42 e 1943/44, na I Divisão dos campeonatos regionais, como é óbvio.
Decisão no tempo certo (como se soubessem...)
No Verão de 1946 decidiu-se o que estava latente desde a fundação, em 18 de Setembro de 1942, do Atlético CP (fusão do Carcavelinhos FC com o União Futebol de Lisboa). A criação de um clube com características semelhantes, unir em vez de dividir os adeptos entre Xabregas, Chelas, Beato e Marvila. E tudo correu de feição. Entre 1934/35 e 1946/47 os clubes eram apurados para os campeonatos I Liga/ I Divisão e II Liga/ II Divisão através dos campeonatos regionais que iniciavam as temporadas. Em 1944/45 e 1945/46 os três clubes iniciaram as épocas a competir na II Divisão da AFL (Regional) e, depois, terminaram essas duas temporadas a jogar na II Divisão da FPF (Nacional). Em 1945/46, o Benfica ao classificar-se em 4.º lugar na I Divisão Regional conseguiu ser apurado para a I Divisão Nacional no limite (eram os quatro primeiros). O 5.º e 6.º classificados na I Divisão Regional bem como os clubes da II Divisão da AFL competiam na II Divisão Nacional após definidas as classificações nos respectivos campeonatos regionais. Em Lisboa e por todo o País. Havia ainda uma particularidade no campeonato regional de Lisboa. As promoções/despromoções não eram directas. Havia que provar "em campo" (a duas mãos) que o primeiro classificado da II Divisão Regional era superior ao último classificado na I Divisão Regional. E assim foi em 1945/46. Mesmo sendo necessário recorrer a terceiro jogo, o GD "Os Fósforos" afastou o GD Estoril Praia. Estavam reunidas as condições para realizar a fusão. O COL herdou a posição do GD "Os Fósforos" (tal como o número 80 de filiação na AFL) e iniciaria a sua história a disputar a I Divisão Regional/Distrital tentando o apuramento para a I Divisão Nacional que falhou por pouco: cinco pontos. Coube ao Atlético CP a última vaga de Lisboa para disputar o campeonato nacional da I Divisão, em 1946/47. O primeiro que foi disputado com promoções e despromoções. O Clube Oriental de Lisboa manteve-se na II Divisão Nacional até 1949/50. Ou seja, o COL teve de conseguir, em 1949/50 - época da Gloriosa Taça Latina - o apuramento para a I Divisão através da II Divisão Nacional, estreando-se no primeiro escalão do futebol português em 1950/51.
Uma História Inacreditável: De três, Um
Um clube que resultou da fusão de três outros clubes rivais, com muitos jogos disputados entre eles, sempre a nível regional, quer no "Campeonato de Promoção" quer na II Divisão da AFL durante duas décadas e meia! E mais alguns na II Liga/ II Divisão quando conseguiam o apuramento, entre 1934/35 e 1945/46. Em 1946/47 já foi como COL que disputou a II Divisão Nacional. Consta que escolheram o equipamento aproveitando o facto do Carcavelinhos FC ter deixado de usar o "grená" pois da fusão com o União Futebol de Lisboa resultaram outras cores para o equipamento do Atlético CP. O equipamento do Carcavelinhos FC foi sempre muito elogiado por não ser uma cor vulgar, nem uma composição às riscas. A camisola do COL tem precisamente a mesma tonalidade que tinha a camisola do Carcavelinhos FC. Os calções é que não são os azuis do antigo clube de Alcântara, mas brancos pois brancos eram os calções dos três clubes que deram origem ao Clube Oriental de Lisboa.
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Colecção de Cromos "Clubes da AFL" no Euro 2004. Gentilmente cedidos pela AFL |
Um novo emblema com base nos três emblemas
O escudo foi copiado da forma do escudo do Marvilense FC. A bola com o listão e sigla veio do emblema do Chelas FC. A águia sobre o escudo foi adaptado do anterior emblema do GD "Os Fósforos".
E depois…
O emblema inicial até nem era assim. Consistiu numa forma simples apenas com as iniciais CL dentro do O, de C.O.L. mas não agradou por ser demasiado simplista e não respeitar a tradição dos clubes que estiveram na origem do Clube Oriental de Lisboa.
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Primeiro emblema |
Como era diferente o futebol em Portugal: entre 1949/50 e 1950/51
O Clube Oriental de Lisboa conseguiu a promoção, pela primeira vez, ao primeiro escalão do futebol português classificando-se em 2.º lugar na fase final da II Divisão, atrás do vencedor (Boavista FC). Mas não foi um apuramento directo. No final da temporada de 1949/50, teve que realizar um jogo frente ao 13.º classificado (e penúltimo) da I Divisão, o CAD - "O Elvas". Em Santarém (campo neutro), venceu por 4-3 e isso significou a conquista da passagem para defrontar, em 1950/51, os melhores clubes portugueses, a nível nacional.
O Benfica e o Oriental em 1950
Enquanto o COL/Oriental vencia o CAD - "O Elvas" para conseguir a promoção à I Divisão, o campeão nacional Benfica promovia a venda de bilhetes para a Taça Latina que conquistaria.
E seria erguida por uma Glória dos dois clubes (tal como do Chelas FC)... Rogério
Deve e Haver
Se,
historicamente, as diferenças são abissais não será hoje – num jogo que se quer
de caminhada para a conquista de mais um troféu – que o “Glorioso” vai ceder. Em
23 jogos, temos 19 vitórias (invictos) com quatro empates e 88 golos marcados
(mais 77 em relação aos onze sofridos).
QUADRO I
JOGOS TOTAIS POR COMPETIÇÃO frente ao COL COM O “GLORIOSO”
Competição
|
J
|
V
|
E
|
D
|
GM
|
GS
|
TOTAIS
|
23
|
19
|
4
|
-
|
88
|
13
|
Campeonato
Nacional (FPF)
|
14
|
10
|
4
|
-
|
46
|
7
|
Taça de
Portugal (FPF)
|
2
|
2
|
-
|
-
|
11
|
1
|
Taça da
Liga (LPFP)
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Campeonato
Regional (AFL)
|
2
|
2
|
-
|
-
|
14
|
4
|
Taça de
Honra de Lisboa AFL
|
4
|
4
|
-
|
-
|
15
|
1
|
Torneio
Preparação AFL
|
1
|
1
|
-
|
-
|
2
|
0
|
Quatro
empates
Nos sete
jogos disputados no estádio do adversário para o campeonato nacional (cinco nos
anos 50 e dois nos anos 70), tantos encontros quantas as presenças do emblema
de Marvila e arredores no primeiro escalão do futebol português registam-se em
quatro os únicos insucessos, sempre a empatar. Mesmo no estádio Engenheiro
Carlos Salema a diferença de golos é colossal: mais 15 (22 marcados e sete
sofridos).
QUADRO II
JOGOS TOTAIS POR COMPETIÇÃO frente ao COL COM O “GLORIOSO” COMO FORASTEIRO
Competição
|
J
|
V
|
E
|
D
|
GM
|
GS
|
TOTAIS
|
9
|
5
|
4
|
-
|
22
|
9
|
Campeonato
Nacional (FPF)
|
7
|
3
|
4
|
-
|
13
|
6
|
Taça da
Liga (LPFP)
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Campeonato
Regional (AFL)
|
1
|
1
|
-
|
-
|
6
|
3
|
Taça de
Honra de Lisboa AFL
|
1
|
1
|
-
|
-
|
3
|
0
|
Invictos em
23 jogos
Um
registo de grande classe. Defrontar o Clube Oriental de Lisboa em 23 encontros
e não perder nenhum. Quer em competições regionais (sete jogos) quer em
competições nacionais (16 jogos). É para
manter! Porque não?
QUADRO
III
OS 23 SL BENFICA – CLUBE
ORIENTAL DE LISBOA
N.º
|
Época
|
Comp
|
Sit
|
V
|
E
|
D
|
01
|
46/47
|
CR
|
C
|
8-1
|
||
02
|
CR
|
F
|
6-3
|
|||
03
|
47/48
|
TH
|
C
|
7-0
|
||
04
|
TH
|
F
|
3-0
|
|||
05
|
49/50
|
Torn
|
C
|
2-0
|
||
06
|
50/51
|
CN
|
C
|
9-0
|
||
07
|
CN
|
F
|
4-2
|
|||
08
|
51/52
|
CN
|
F
|
5-2
|
||
09
|
CN
|
C
|
3-1
|
|||
10
|
53/54
|
CN
|
F
|
0-0
|
||
11
|
CN
|
C
|
5-0
|
|||
12
|
56/57
|
CN
|
F
|
1-1
|
||
13
|
CN
|
C
|
3-0
|
|||
14
|
57/58
|
CN
|
C
|
7-0
|
||
15
|
CN
|
F
|
0-0
|
|||
16
|
73/74
|
CN
|
C
|
2-0
|
||
17
|
TH
|
C
|
3-1
|
|||
18
|
CN
|
F
|
3-1
|
|||
19
|
TP
|
C
|
8-0
|
|||
20
|
74/75
|
CN
|
F
|
0-0
|
||
21
|
CN
|
C
|
4-0
|
|||
22
|
87/88
|
TH
|
C
|
2-0
|
||
23
|
04/05
|
TP
|
C
|
3-1
|
||
24
|
15/16
|
TL
|
F
|
|||
TOTAIS
|
23 J –
19 – 4 – 0 (88/11)
|
Carrega
Benfica
Alberto
Miguéns
NOTA FINAL: Tem de haver rigor. O COL não conquistou o título de campeão da II Divisão em 1949/50 como o seu portal divulga (clicar). Ficou em 2.º lugar, atrás do Boavista FC. Foi promovido porque derrotou o penúltimo classificado da I Divisão.
NOTA FINAL: Tem de haver rigor. O COL não conquistou o título de campeão da II Divisão em 1949/50 como o seu portal divulga (clicar). Ficou em 2.º lugar, atrás do Boavista FC. Foi promovido porque derrotou o penúltimo classificado da I Divisão.
Bela história essa a do Clube Oriental de Lisboa! Muito obrigado.
ResponderEliminarO acesso à primeira divisão tinha mesmo de ser ganho por mérito. Excepto em 1939 quando o campeonato teve de ser alargado para o FCP poder participar...
Essa última fotografia tem pelo menos duas Saudades Benfiquistas: Alfredo (três-pés), Alberto Augusto (Batatinha). Tem um outro que apesar de nunca ter jogado no Glorioso era um grande Benfiquista (isto nas palavras do seu irmão Rogério Pipi): França.
Um último detalhe que desconheço é saber ao certo quais foram as palavras que Rogério proferiu quando levantou a Taça Latina. O Alberto sabe?
Obrigado.
Caro VictorJ,
EliminarJá nem ele se lembra de tudo....
Diz que acabou a dizer «... esta já é nossa!»
Gloriosas Saudações Benfiquistas
Alberto Miguéns
Mais um excelente artigo.
ResponderEliminarA titulo de curiosidade, há alguns anos, não sei quantos, li/ouvi já não me lembro onde, que o C.O.L. foi o primeiro clube português a usar números nas camisolas. Será verdade? Sabe o caro Alberto alguma coisa sobre este assunto?
Saudações benfiquistas.
Caro Pedro,
EliminarObrigado.
Sem dúvida e logo na estreia frente ao CF "Os Belenenses". Pode ver uma fotografia num jogo entre o COL e o SLB. Eles com e o "Glorioso" sem:
28 de Outubro de 2015 em http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/10/o-oriental-foi-mesmo-o-primeiro.html
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns
de entre as vastas temáticas a que o Alberto alude neste blog benfiquista, uma das minhas preferidas é sem dúvida a do associativismo lisboeta nos princípios do século xx!
ResponderEliminarAbraço e obrigado
- Pedro
Caro Pedro,
EliminarDe facto isso dava para fazer um blogue só com essa temática. Seria fabuloso. Perceber época a época como evoluiu o futebol em Lisboa. Como foi crescendo em qualidade e popularidade. Chegaram a coexistir, só na cidade/concelho de Lisboa 42 clubes com equipas de futebol de 11 a jogar na AFL. Alguns com 4 categorias e ainda mais um Grupo Infantil, como foi o caso do SLB e do CIF!
Obrigado por ter o cuidado de ter feito esse comentário oportuno que permitiu "sonhar" que um dia (quando me Reformar) poderá acontecer... Material não falta. Notícias, fotografias, esquemas, entrevistas, depoimentos, etecetra.
Saudações
Alberto Miguéns
O meu avô era o Almeida, nunca o conheci nem sei se jogava bem ou não. Nem sei se chegou a jogar na equipa na 1a divisão mas gostava de saber
ResponderEliminarCaro
EliminarJogou pois. O Rogério Lantres de Carvalho falou-me dele.
Olhe aqui um jogo frente ao Benfica:
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06332.053.12722
Saudações
Alberto Miguéns
Sr.Alberto,o jogo para o campeonato 46/47 não ficou 6-3???
ResponderEliminarOBRIGADO!!!
SAUDAÇÕES GLORIOSAS!!
VIVA O BENFICA!!!
Caro Benfiquista Amaral
EliminarFicou
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05779.043.10954#!8
Obrigado
Alberto Miguéns