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24 dezembro 2015

Raul Júlio Empis: Fundador

24 dezembro 2015 12 Comentários
ELE É UM DOS 24 CO-PAIS DO GRUPO SPORT LISBOA. E TAMBÉM UM DOS MAIS NOVOS EM 1904. FEZ 17 ANOS NESSE DIA!


Nasceu em 28 de  Fevereiro de 1887, ou seja, 17 anos antes do 28 de Fevereiro de 1904. Pois é! Fez 17 anos nesse dia! E circunstâncias várias – como ocorrem com cada um de nós seres humanos – a vida colocou-o próximo de Belém onde se iria fundar um Clube que ainda hoje é afamado em todo o Mundo. Raul José Empis um dos 24 que nos legaram uma Maravilha!


O "nosso" Empis em 1912. Da página 34 de "Doze com Quatro"
Pai
No final do século XIX e início do século passado, Raul Empis não vivia em Belém, mas morava perto. E em adolescente andava por perto. O pai do “nosso” Empis, Ernest Laurent Empis nasceu em Antuérpia, na Bélgica, em 13 de Julho de 1842, no seio de uma família em fuga de França (Lille). Apesar de nobre, a Revolução Francesa fez com que isso tivesse pouco significado. Certo dia a empresa onde trabalhava encarregou-o de uma deslocação a Portugal para tratar de negócios com um reputado banqueiro português, embora de origem belga…Henry de Burnay. O que começou como um encontro de trabalho terminou em profunda amizade. Mas quando o emprego é trabalho este é que comanda o rumo da vida. Ernest regressou à Bélgica. Não muito tempo depois, padecendo de doença pulmonar, o médico aconselha-o a procurar viver num país com clima menos agreste, mais seco e quente! Certamente lembrou-se do Sol e da luz de Lisboa, bem como do amigo Burnay e eis que viaja, em 1867, para Portugal. Para sempre!  


O "nosso" Empis em 1914. Da página 67 de "Doze com Quatro"
Mãe
Pelos seus 25 anos, a viver no Palácio da Junqueira, junto de Henry e da família deste, casa com uma das irmãs, Julie Burnay. Mas…nesses tempos os nascimentos eram problemáticos. Após cinco anos de casamento a esposa morre durante o parto do quarto filho. Ernest com 30 anos está viúvo a cuidar de quatro bebés. Sem condições acorda com os seus dois irmãos integrar os seus quatro filhos nas famílias destes deixando-os em Antuérpia. Continua a viver no Palácio Burnay e em breve está noivo de uma viúva plebeia, Ludgera da Conceição Martins, abandonada na roda de num convento, entretanto casada com um rústico e abastado agricultor de Torres Vedras, o senhor Martins, que morre cedo e a deixa ainda jovem enviuvada. Será do casamento de dois jovens viúvos, em 1885, de classes sociais completamente opostas que nascerá o “nosso” Empis. Até nesta união interclassista já há Benfica! Começam a nascer os filhos ao ritmo de um por ano, em breve, 1887 nasce o segundo, o “nosso” Empis. Em 28 de Fevereiro. Que só ficaria “duplo” aniversário 17 anos depois!


Os seis filhos (com respectivos cônjuges e primeiros filhos) netos de Ernest Laurent Empis, pai do "nosso" Raul José Empis, o segundo filho a nascer. Se a ordem for a cronológica, dos mais novos para os mais velhos temos, da esquerda para a direita: Maria Empis, Alberto Frederico Empis, Ernesto Augusto Empis, Carlos Empis, Raul José Empis (1887-1960) e Júlia das Graças Empis. O "nosso" Empis com a sua lindíssima esposa D. Luísa Burnay de Sousa Coutinho (1891-1974) com o decano dos seus doze filhos, José Luís Ernesto (1915-1989) ao colo. Colo de mãe, mãos de Deus

Infância
A viver no Palácio Burnay, presume-se com várias famílias (mas se é palácio é grande…) Raul Empis passa a infância e início da adolescência por aquelas redondezas. Isto enquanto o seu pai e mãe vão fazendo crescer a família até…seis filhos (quatro rapazes e duas raparigas) e fazendo também crescer a necessidade de ter uma casa própria que será construída num dos lotes de numa gigantesca propriedade agrícola, para lá de Arroios (actual praça do Chile) até Palhavã (actual praça de Espanha), a Quinta de Santa Maria, comprada pela Casa Burnay (que detinha o Banco Burnay) ao Marquês de Borba para urbanizar e “fazer” dinheiro. Não é para isso que existem banqueiros?  

Do Palácio Burnay na Junqueira a Belém era um «pulinho». Muitos «pulinhos» deve ter dado Raul José Empis enquanto habitou na Junqueira e se habituou a "jogar à bola" em Belém! Encontros na Farmácia Franco. Treinos (até 21 de Abril de 1904) a sul da casa do Duque de Loulé (actual Centro Cultural de Belém) e jogos nas Terras do Desembargador. Depois de 21 de Abril de 1904 também passaram para aí os treinos por ultimato da CP que não queria jogos de bola junto aos carris da linha Cais do Sodré-Cascais! (clicar em cima da imagem para ampliar)

Belém
Enquanto não é construído o Palacete na nova avenida Duque de Loulé (rasgada nos terrenos dessa quinta como todas as outras avenidas e ruas adjacentes) o “nosso” Empis vai vagueando pela Junqueira e arredores. Ora, arredores do Palácio Burnay significa, entre outros bairros e terrenos, Belém, as Terras do Desembargador, Farmácia Franco, Pátio interior no prédio da farmácia, Café do Gonçalves, António das Caldeiradas, terrenos a sul da casa do Duque de Loulé, ou seja, por onde andavam aqueles 24 magníficos que um dia se lembraram de fundar o Clube que, mais ano menos ano, haveria de ser Gloriosíssimo. E é o nosso! E o deles!

Os locais predilectos dos pioneiros que transformaram um Clube em Glorioso. Farmácia Franco (local de encontro, de fundação e primeira Sede); António das Caldeiradas ("restaurante" onde geralmente almoçavam os pioneiros depois dos treinos matinais ao domingo); Café do Gonçalves (actual Pastelaria "Nau de Belém") local "alternativo" ao António das Caldeiradas. Mas foi no Café do Gonçalves que num domingo de Dezembro de 1903 alguém, ao almoço, na euforia de uma vitória acabada de acontecer frente a um grupo misto de jogadores portugueses e ingleses, alvitrou: «Com estes futebolistas, só portugueses, fazia-se um grande "team"». E não é que foi assim! Em 28 de Fevereiro de 1904 e dias seguintes........................24 de Dezembro de 2015..............................

“Glorioso”
Raul José Empis não esteve presente no primeiro treino (manhã de 28 de Fevereiro de 1904) mas esteve na Farmácia Franco pois o nome consta da lista feita por Cosme Damião. Esteve no segundo treino, precisamente no local onde foi o primeiro. E esteve em mais 16 até final da temporada de 1903/04. Em 17 dos 24 que se realizaram. E esteve (como avançado-centro) no primeiro encontro disputado pelo Clube (a caminho de ser gloriosíssimo) em 1 de Janeiro de 1905. Seria o único jogo. Depois o inquestionável Cândido Rosa Rodrigues ocuparia o lugar que já era dele no tempo do “Grupo dos Catataus” que esteve na origem (com os casapianos da Associação do Bem) do “Glorioso”. Raul Empis foi jogar na 2.ª categoria. Caramba! Éramos 24 e uma equipa de futebol são onze. Com 24 formam-se duas equipas. Até dava para fazer treinos-jogados! O “nosso” Empis foi para a 2.ª categoria. E que equipa! A equipa dos “espertos”: Félix Bermudes (escritor), Cosme Damião (tudo), Manuel Gourlade (contabilista na Farmácia Franco, tesoureiro do Clube e “treinador” até da 1.ª categoria), José Neto (escultor), Francisco Santos (escultor), Daniel Brito (balconista na Farmácia Franco e Secretário do Clube). Depois ainda recebeu “reforços” por veterania ("descoberta” de 1904/05 para 1905/06): José Rosa Rodrigues (presidente do Clube). E é bem provável que por lá tenham passado: Azevedo Meireles (médico), Januário Barreto (médico e muito mais…), Pedro Guedes (pintor), entre outros! Era ou não a equipa dos “espertos” em oposição à equipa “dos bons” (1.ª categoria)? 

Excerto de uma entrevista de Daniel Santos Brito (Secretário do Sport Lisboa) em 1950. NOTA: Pelo rol de nomes Raul Empis foi dos primeiros a "futebolar" ainda quando jogavam no pátio interior do prédio da Farmácia Franco daí essa referência aos vidros partidos das janelas da farmácia que davam para o pátio


Documento primacial formal em forma de acta de fundação com os nomes listados por ordem alfabética por Cosme Damião
Documento com o registo das presenças no segundo treino (13 de Março de 1904), depois da fundação, com anotações de Manuel Gourlade. Com a indicação que foi no mesmo local do primeiro, ou seja, entre a linha férrea Cais do Sodré-Cascais e as traseiras da casa do Senhor Duque de Loulé
Os futebolistas que estrearam o "Manto Sagrado" em 1 de Janeiro de 1905 inscritos, em 2015, tendo por base uma ilustração da época com as respectivas designações conforme as posições em campo

Entretanto…"coincidências"
Vamos primeiro aos “entretantos”. Em 1905 o arquitecto António Couto (esse mesmo o capitão no jogo de estreia do “Glorioso”) planeia o Palacete Empis para acolher a numerosa família Empis (casal, seis filhos e criadagem) para um dos lotes dos terrenos das novas  avenidas para lá da fantástica avenida da Liberdade planeada para fazer crescer a cidade para norte.
Agora as “coincidências”.
1.     Onde fez o “nosso” Empis o primeiro treino em 1904? Nos terrenos a sul da casa do senhor Duque de Loulé. Para onde foi viver em 1906 ou 1907? Para a avenida Duque de Loulé!
2.   Quem jogou, em 1 de Janeiro de 1905, na mesma equipa, a médio-esquerdo e a avançado-centro? Respectivamente, António Couto e Raul Empis!;
3.    Quem foi o arquitecto do Palacete Empis, prémio de arquitectura Valmor? António Couto. O capitão do primeiro jogo e médio-esquerdo e depois médio-centro da 1.ª categoria até partir uma perna em 3 de Março de 1907!

Como evoluiu uma cidade, Lisboa, esbracejando-se a partir do rio Tejo colinas e planaltos acima. Em cima (à esquerda): A área a Este da actual praça Marquês de Pombal em 1857 (ainda estava Ernest Empis, com 15 anos, em Antuérpia) com o local do Palacete Empis inscrito a vermelho. Em cima (à direita): A mesma área em 1911 já com as anteriores quintas agrícolas urbanizadas - ruas rasgadas a régua e esquadro excepto as já existentes que davam acesso às quintas agrícolas e a outras localidades nos arredores de Lisboa - e primeiras casas construídas, incluindo o Palacete Empis (em baixo) com a sua localização tendo como referência a praça Marquês de Pombal

Da Junqueira para a Rotunda: as camisolas suadas
A família de Ernest Empis passou para a avenida Duque de Loulé, com Raul Empis a acompanhá-los. Deixava a Junqueira e Belém. Assim, os treinos e jogos foram ficando para trás, cada vez mais distantes. Mas com perspicácia para ter na memória como era complicado a 1.ª e a 2.ª categoria jogarem no mesmo dia quando apenas existiam 12 camisolas compradas por 24 (meia camisola para cada um).

Duas equipas. Duas categorias. 11 jogadores em cada uma. 22 futebolistas. 24 fundadores e mais uns quantos aderentes de "primeira hora". Doze camisolas de flanela. Uma para dois!
Passar camisolas
Em 1904/05 ou 1905/06, nos poucos dias em que houve dois jogos, a 2.ª categoria jogava primeiro. O “Cartaz do Dia” era a dos “bons” (1.ª categoria) não a dos “espertos” (2.ª categoria). Nas Terras do Desembargador, às Salésias, terminava o jogo das “segundas” iniciava-se o das “primeiras”. Havia necessidade de passar as camisolas vermelhas de flanela dos futebolistas da 2.ª para a 1.ª! Consta que uma vez (talvez até mais por depois passar a ser graçola) um dos “bons” queixou-se que vinha tão suada do jogo anterior da 2.ª categoria que iria pesar mais durante o próximo jogo na 1.ª categoria! Ao que um dos “espertos” respondeu: Pesar mais? Então não jogas no primeiro "team"? Se jogas é porque és melhor que eu! A camisola suada vai pesar menos em ti do que pesou “limpa” em mim!


Casamento
Em Outubro de 1914, o “nosso” Empis decide fazer o que os seus antepassados (e os nossos) fizeram…casar e ter filhos. Para isso encontrou a belíssima (clicar que vale apena ver) D. Luísa Burnay de Sousa Coutinho. De novo uma Burnay no caminho dos Empis embora já de linhagem distante, mais Sousa Coutinho que Burnay. Agora ao contrário do pai (nobre) e mãe (plebeia), juntava-se um burguês (ainda que rico) com uma senhora nobre. Embora em 1914, já contasse pouco, mas em Portugal “conta sempre alguma coisa”! Não por causa da Revolução Francesa (14 de Julho de 1789) mas devido ao 5 de Outubro de 1910 (Queda da Monarquia).



… E depois
O casal foi viver para a rua da Procissão (actual rua Cecílio de Sousa, junto do Príncipe Real) numa casa-mansão actualmente ocupada pelo British Council e Instituto Britânico, para no início da década de 30 do século passado fazerem a mudança definitiva para a esplendorosa Quinta do Bonjardim, para lá de Belas.

O "nosso" Empis e a esposa (D. Luísa) com os seus doze filhos. Doze com Quatro! Da página 41 de "Doze com Quatro"

Vida preenchida
E os filhos foram nascendo, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12, entre 1915 e 1936, ou seja, entre o “nosso” Empis ter 28 e 48 anos, quase a fazer 49! Associado do Sporting CP, clube que o encantou, tal como a muitos dos “Gloriosos” de 1904 a 1907, em 1910 tinha o número 46. Quando faleceu, em 1960, era dos sócios mais antigos do clube pensado em 1906 por José de Alvalade. Pela lista que se publica, dos associados do SCP em 1910, encontram-se ainda alguns dos mais de vinte (oito eram futebolistas) que abandonaram o Sport Lisboa no Verão de 1907. Ele seguiu com António Couto, Francisco Santos, Cruz Viegas, entre outros, o caminho do Lumiar. Os que ficaram resistiram e deram seguimento ao sonho de jovem, com 17 anos, do “nosso” Empis. Em doze filhos, todos com apenas quatro letras no nome próprio (clicar para o penúltimo texto publicado sendo este o último) seis rapazes e seis raparigas houve um, UM, que foi Benfiquista toda a sua longa e proveitosa vida. Um em Doze! Ou seis, talvez as raparigas nesses anos do século XX não optassem por um clube com o fervor dos rapazes! Mas UM que foi precioso para saber “novidades” arrancadas a 1904, 1905, 1906 e metade de 1907. Até um pouco mais! E que merecerá neste blogue destaque especial quando for oportuno.

Com círculo vermelho: fundadores do "Glorioso"
Final feliz
Depois de uma vida cheia, com um passado importante no futebol (Benfica e Sporting CP), nos negócios (Banco e Tabacos) e, principalmente, familiar deixando frutificar gerações de Empis que se podem orgulhar de ter por gerador um Empis, tão robusto e de excelência, como Raul Júlio Empis, faleceu em 1 de Março de 1960, aos 73 anos, já com netos. É a vida. Como se dizia na minha aldeia quando nascia uma criança. Que chegues a velho, porque daí não passarás! O "nosso" Empis não passou, como ninguém ainda passou! Mas a sua importância foi tão grande, que mais de 55 anos depois de falecer e quase a 129 anos de ter nascido estamos a "falar: escrever e ler" acerca dele!  


Obrigado, Raul Empis. Por em 2015 (quase 2016) ter orgulho em saber que ajudaste a fundar (em 1904) e agigantar (até 1907) o nosso “Glorioso”!

Alberto Miguéns

NOTAS FINAIS:


1. Agradecimento especial a oito pessoas. A Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Sem eles não saberia quantos treinos fez Raul Empis, nem as localizações e locais frequentados pelos pioneiros do “Glorioso”. A Daniel Santos Brito por confirmar a presença dele no grupo inicial. A Cosme Damião por ter feito a listagem dos 24 fundadores. A Manuel Gourlade por ser metódico e registar em postais da Farmácia Franco as presenças nos treinos. A Silvestre Silva por contar com pormenor como decorreu o primeiro jogo. A Sofia e Carlos Empis, primos, pelo livro “Doze com Quatro” e contactos amáveis que têm tido comigo.

2. Não resisto a publicar o texto que acompanha a base do campo que utilizei para colocar em campo os onze primeiros a entrar no terreno de jogo com o “Manto Sagrado”. Escrita deliciosa de quem escrevia acerca de Foot-Ball pelo que ouvia dizer. Quem ler descobrirá porquê! Entre vários, escrever goold (em vez de goal) e Bach em ver de Back (defesa) são pérolas do futebol de antanho!




3. Os últimos são os primeiros. A página 133 do livro de Cosme Damião “Apontamentos e Recortes Sobre Football Association”, publicado em 1925:




12 comentários
  1. Muito obrigado por partilhar detalhes e factos que os Benfiquistas não conhecem.

    Raúl Empis é um dos 24 magníficos. Todos eles têm o nome cravados a letras de ouro na galeria mais prestigiosa do nosso clube.
    Quem nos dera que tivessemos a mesma quantidade de informação para alguns dos outros. Aliás de quatro nem sequer conhecemos o rosto. Que maravilha essas três fotografias novas de Raúl Empis.

    Raúl nasceu 20 anos depois do pai chegar a Lisboa e por via da infelicidade de uma morte. As voltas que o destino prega...
    Fundador com 17 anos. Integrante da primeira equipa ainda sem ter completado os 18. E a avançado centro. Impressionante como esteve no lugar certo.

    Seria interessante tentar decifrar como da Junqueira acabou a frequentar os treinos da bola dos Catataus em Belém. Empis já integrava o (Belém) Football Club mas desgraçadamente na famosa e única fotografia que deles exista o seu rosot está esborratado.

    O Alberto aponta as diversas coincidências que indiciam uma amizade grande entre o Casapiano António do Couto e Raúl Empis. Tudo encaixa. Esteve nos três actos de maior importância desse anos iniciais: treinos em Belém, Fundação e primeiro jogo. Notável. As histórias que ele teria para contar.

    É pitoresca a história das camisolas. Imagine-se os craques de hoje a receber uma camisolinha suada para jogar logo de seguida... Já se preocupariam menos com os cabelinhos.

    Sobre as deserções para as Mouras. Não sabemos que tipo de abordagem José de Alvalade fez para recrutar os 8 que seguiram para as Mouras. Talvez António do Couto tenha sido uma peça chave para convencer os outros. Seria só o prestígio de pertencer a um clube ilitista? Seria pelas condições de treino e jogo nesse tempo sem paralelo em qualquer outro clube em Portugal? Terá havido dinheiro? Antes como agora os viscondes usaram o dinheiro para ir buscar o que não conseguem desenvolver dentro de portas.

    Raúl Empis terá ido atrás do seu amigo Couto embora ao que parece á não jogasse. Haverá registo de alguma vez ter jogado com a camisola do SCP? Nunca vi um registo que indicasse isso. Já não deveria estar activo. Ou seja treinou intensamente até aos 18-19 anos e depois nada. Talvez a família e os negócios se impussessem.

    Belo artigo!

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    1. Caro VictorJ

      Desde já obrigado.

      Penso que não jogou no SCP, embora o possa ter feito em categorias inferiores ao contrário de António Couto que mesmo veterano sabia muito da bola! Como sabe Couto é de 1874 (tal como Félix Bermudes) e Raul Empis de 1887. Mas a experiência no futebol vale muito. Ainda hoje. E naqueles tempos ainda mais. Antiguidade era um "posto".

      Raul Empis nunca teve muito jeito (ou vontade) para o futebol mais a sério.

      António Couto e Daniel Queirós dos Santos tiveram grande destaque no SCP. Este último foi presidente do clube. Antóno Couto era muito importante no futebol desde a vitória do Casa Pia em Carcavelos (1898). Não foi por acaso que mesmo sem treinar no Sport Lisboa capitaneou o "Manto Sagrado" na sua estreia.

      Cosme Damião indica que havia já gente ilustre que não queria andar com as balizas às costas e a tomar banho depois dos jogos ao balde de água atirado por um colega da equipa. O SCP oferecia condições que o SL não tinha em 1907. Já se fosse em 1908 (depois da junção) a "cantiga" seria outra. A Feiteira não era inferior às Mouras. Antes pelo contrário. Não tinha bancadas (ao contrário das Mouras) mas também tinha "glamour" ou brilho-polido lusitano!

      Se foi ele dos primeiros a decidir desertar de certeza que convenceu muitos outros. Fala-se sempre em oito mas foram muito mais. Só contam oito por serem os futebolistas. Francisco Santos nem estava em Portugal, mas em Itália e quando chegou foi ter com os seus amigos que estavam no Lumiar. Foi assim. Os que ficaram souberam dar a volta por cima. Cosme Damião, Félix Bermudes e Marcolino Bragança não desarmaram. Resistir. Foi assim que um clube igual aos outros se guindou a ser primeiro.

      Espero que este texto (e outros acerca de alguns dos 24 que irei fazendo) possa chegar a outros descendentes dos 24 que depois contactem o blogue para dar referências. Acredito que um dia será possível ter mini-biografias de todos! Até porque se a Montanha não vier ter com Maomé será Maomé que irá ter com a Montanha! Só se não puder!

      Mais uma vez agradeço a atenção.

      Festas Felizes e um Santo Natal para si, para os seus e para todos os que lerem este comentário.

      Saudações Gloriosas

      Alberto Miguéns

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  2. Obrigado por nos mostrares o Benfiquismo mais puro, aquele que apesar de viver longe no Brasil faço por mostrar e ensinar ao meu filho!
    É por toda esta história que nos ensinas que o nosso Benfica é ENORME!

    VIVA O BENFICA! SEMPRE!

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    1. Caro Berkut

      é muito bom ter leitores exigentes e de qualidade neste blogue. Que dão Benfiquismo aos filhos. Mesmo longe, é o Benfica que nos une e faz estar juntos.

      Feliz Natal (e boas prendas do Pai Natal para o miúdo) que se é Benfiquista (então tem-se portado bem) merece!

      VIVA O BENFICA! SEMPRE!

      Alberto Miguéns

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  3. Raul Empis esteve no melhor e no pior na minha humilde opinião.

    Esteve ligado à fundação daquele que viria a ser o maior clube português, além de estar na origem da maior rivalidade desportiva de todos os tempos em Portugal.
    Não o posso ter em conta como outros que ficaram e lutaram pelo Sport Lisboa e mais tarde Sport Lisboa e Benfica. será que foi uma casualidade estar entre os fundadores?É fácil falar agora sabendo o que é o Glorioso, mas quem tem a mística do Benfica, que foi demonstrada por Cosme, Marcolino, Felix, etc e passada de geracao em geracao e que para sempre foi Benfiquista é que deve ser recordado. Adoro saber a história dos nossos fundadores, mas não posso deixar de estimar mais uns que outros.

    Só não entendi porque aparece na legenda da acta:
    "acta de fundação com os nomes listados por ordem alfabética por Cosme Damião" quando no Museu Cosme Damião me disseram que não foi ele que a escreveu. Não haverá um equívoco?
    E já agora eu no museu nem tinha reparado que a lista estava por ordem alfabética e só através da legenda é que reparei. É bem visto, no entanto não entendo porque há um único fundador cujo primeiro nome está entre parêntesis? Seria apenas tratado pelo seu apelido?

    Boas festas a todos os Benfiquistas,

    Bruno Paiva

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    Respostas
    1. Caro Bruno Paiva

      Primeiro.
      Tem a sua opinião. Em 28 de Fevereiro de 1904 foi tão importante como os outros 23. Houve clube porque esses 24 decidiram que houvesse. Depois cada um foi tendo a sua importância. Entre todos acabou por ser Cosme Damião a ser, com o tempo, o mais importante. Inigualável em importância.

      Segundo.
      Não ligue ao que lhe dizem no Museu. são funcionários. alguns nem do Benfica são! São até invejosos da grandeza do Benfica.

      Terceiro.
      Cosme Damião para o Museu até é Júlio. E Júlio é que Cosme Damião nunca foi. E viveu entre 2 de Novembro de 1885 e 12 de Julho de 1947. Se não a escreveu alguém imitou na perfeição a letra dele como já publiquei neste blogue. É a letra dele.

      Quarto.
      Devia ser conhecido por Teixeira. Mas Teixeiras há muitos. E assim ficou melhor identificado. Pode ter sido por isso

      Feliz Natal para todos os leitores deste blogue.

      Alberto Miguéns

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    2. Quinto.
      Pode comparar a letra de Cosme Damião em 1904 com a letra de Cosme Damião em 1908 em 9 de Abril de 2014:

      http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/o-triunfo-de-alvaro-gaspar.html

      Compare há nomes iguais. Depois diga de sua justiça.

      Alberto Miguéns

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    3. Confesso que não sou nenhum especialista, mas realmente a letra é muito semelhante. Só por curiosidade vi também a letra do Manuel Gourlade e essa sim é mesmo muito diferente.

      Essa do Julio já tinha lido aqui no blogue e realmente não vejo nenhuma razão para acreditar que ele se chamava Julio, portanto nunca liguei a isso. Em relação à acta é que só podia acreditar no que ouvia. Tendo agora um documento a comparar consigo ter uma opinião mais forte sobre quem escreveu a acta.

      Obrigado por me indicar o post sobre o triunfo de alvaro gaspar.
      Já agora ainda em relação ao documento sobre o 1º Grupo escrito por Cosme Damião aparece lá o nome Henrique Teixeira, e não simplesmente Teixeira e como tal eu gostaria de deixar a minha teoria sobre essa curiosidade.
      Parece-me é que na acta quiseram escrever por ordem alfabética e esqueceram-se do Henrique (talvez por ser o único com H e haver muitos "Jotas" ) e quando repararam nisso, decidiram metê-lo no final do documento como Teixeira com o primeiro nome entre parêntesis.

      Tenho pena que o nosso ilustre Cosme Damião não tenha tido a possibilidade de ver o Glorioso vencer uma competição Europeia. A Taça Latina estava tão perto...Seria um sentimento .. inimaginável para mim.


      Concordo com o patriarca. Continuação de um bom trabalho.

      Bom Natal e Feliz Ano Novo.

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    4. Caro Bruno Paiva

      Pode ter sido assim. Mas se foi assim então é porque a acta não foi "inventada". Foi escrita como documento final. Se ocorresse um erro faziam um documento "certinho" para ficar impecável. Tal não ocorreu. Até se percebe que mais tarde foi escrita uma espécie de adenda para localizar onde decorreu (Farmácia Franco) a reunião. Se fosse um documento inventado estava tudo certinho, alinhado, limpinho... E não é assim!

      Bom Natal e Feliz ano Novo

      Alberto Miguéns

      NOTA: Em 1954 (quando a acta foi publicada) havia mais de uma dúzia de fundadores vivos. Ninguém se queixou. Mário de Oliveira e Rebelo da Silva fizeram u trabalho criterioso a 50 anos de distância da fundação. A 100 anos da fundação inventar teorias, sem outros documentos, a não ser interpretar os que foram tornados públicos em 1954 é pura especulação. Querer protagonismo aproveitando-se da visibilidade do Clube.

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  4. Excelente texto, que reforça a minha opinião sobre a história do Benfica. Tudo o que há contar sobre os primeiros anos de existência já há muito que se encontra relatado por aqueles que foram os responsáveis pela criação do Nosso Clube. Crer acrescentar mais alguma coisa é pura especulação.
    Abraço Glorioso e votos de boas festas,
    Pedro Freire

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  5. patriarca disse:


    Mais um Excelente e douto trabalho.


    Bom NATAL Alberto Miguéns.

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  6. Belo artigo Alberto. Vou enviar a três bisnetos do Raul Empis. Abraço e bom ano!

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