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05 janeiro 2022

Eusébio: Oito Anos Depois

05 janeiro 2022 4 Comentários

HÁ OITO ANOS, EM 5 DE JANEIRO DE 2014, FALECEU EUSÉBIO.


Confesso que prémios individuais num desporto colectivo como é o Futebol, diria até "tão colectivo, dos mais colectivos, até talvez mais que o Rugby" são-me indiferentes. 


Em 1965, com 67 pontos provenientes de 16 votantes: um quinto lugar (um ponto), três terceiros (três pontos), três segundos (quatro pontos) e nove primeiros (cinco pontos): 1 + 9 + 12 + 45 = 67 pontos


Mas numa sociedade americanizada em que se conseguem estabelecer "top ten e etc" (melhores dez e etc) a propósito de nada e de tudo como se nada pudesse ser igual apreciado de modo diferente os prémios individuais tendem a sobrepor-se aos colectivos...mesmo num desporto como o Futebol.


Por isso é moda andarem sempre a fazer contabilidades, agora até ao jogo (um tal de mvp) ao mês, à época e até por ano civil, em golos marcados e tudo! O primeiro prémio a dar destaque "à americana" aos futebolistas foi a «Bola de Ouro» com início em 1956, para premiar o melhor futebolista com nacionalidade de um país europeu, a jogar nos campeonatos de países europeus, sendo o futebolista escolhido no final de cada ano civil após votação de jornalistas, um por cada país. O prémio já deu "muitas" voltas e reviravoltas e na ânsia de ter notícias para dar - por vezes rebuscadas e repetitivas - lá se fala da «Bola de Ouro» de Eusébio referente a 1965. Só é de lastimar é que os entendidos em prémios individuais que actualmente descrevem os 100, 50, 25, 10, 3 e melhor a cada ano não se lembrem que Eusébio esteve em dez listas da «Bola de Ouro» num período de doze anos, "falhando" 1969 e 1971, anos complicados em lesões. 


E nunca se pode ignorar que jogava num clube português (SL BENFICA) num campeonato que não era noticiado para lá da fronteira com Espanha enquanto em Inglaterra, Países Baixos, Bélgica, Itália, Alemanha (RFA), França ou Espanha, por exemplo, além da imprensa escrita, até as televisões mostravam imagens (resumos) dos principais campeonatos desses cinco países. Eusébio fora de Portugal só era noticiado quando o Benfica ou a Selecção Nacional jogavam jogos internacionais (no caso do Benfica) pois os jogos da selecção são sempre internacionais. Às vezes pensa-se em fazer comparações entre tempos históricos diferenciados. Uma dessas situações que tinha curiosidade em ver era os jogos do Benfica (com Eusébio) serem todos transmitidos para que em todo o Mundo se pudesse ver uma ou duas vezes por semana, 90 ou 180 minutos de Eusébio! Quantas «Bolas de Ouro» não conquistaria? Que fez parte de 10 listas em 12...fez. No tempo em que quase ninguém o via. Só lia e via de tempos a tempos, sempre a elogiar. Olhem se o vissem mesmo como os portugueses e os adeptos/sócios do Benfica o viam? Se era o ídolo de muitos e em particular dos miúdos que queriam ser como ele, o que aconteceria se o vissem mesmo e muitas vezes?



É que Eusébio nem era goleador. Era um futebolista que marcava muitos golos pelas enormes qualidades que possuía. Possante, rápido, imprevisível, chutador com uma mestria insuperável. O primeiro objectivo dele era assistir os avançados-centro (José Águas, José Torres, Pedras, Iaúca, Serafim, Nelson, Camolas, Raul Águas, Abel, Praia; uns aproveitaram melhor que outros e jogaram mais minutos e épocas, mas todos podem dizer que marcaram golos após passes de Eusébio) e depois os ponta-de-lança do Benfica (Artur Jorge, Victor Batista, Jordão, Moinhos, Móia e até Néné; uns aproveitaram melhor que outros e jogaram mais minutos e épocas, mas todos podem dizer que marcaram golos após passes de Eusébio). A sua capacidade é que permitia não só assistir os futebolistas mais avançados no terreno como alvejar a baliza, quer rematando de longe, quer tabelando com os extremos, quer driblando e/ou fintando ficando com a baliza contrária pela frente. Diz-se muitas vezes que não era bom cabeceador. Pois...mas tal nunca podia ser testado pois Eusébio raramente estava junto da baliza. Era ele que marcava os pontapés-de-canto, os livres e até fazia lançamentos laterais longos junto da grande-área contrária como podia cabecear? Aliás cabeceou tão poucas vezes que os 61 golos que marcou de cabeça até devem ser uma percentagem bem elevada. Pela estatística em aproveitamento de oportunidades de cabeça até deve ser de excelência.



Infelizmente há poucas imagens dele sem ser a marcar golos. Eusébio era o futebolista do «Glorioso» que durante um jogo tinha mais posse de bola sendo o Benfica em 95 por cento dos jogos numa época o clube que mais tinha bola para poder vencer. Felizmente há um resumo filmado de jogo que é paradigma do que foi Eusébio e ficou disponível. Eusébio está nos três golos ao FC Porto. Marca um através de um pontapé-de-canto directo com o pé esquerdo. Assiste num pontapé-de-canto, com o pé direito, numa bola centrada por alto para o cabeceamento de José Augusto. Dribla e finta, desde 30 metros até ficar na frente do guarda-redes contrário e marcar golo. Eusébio nem era isto. Era muito mais que isto. Muitíssimo mais. Assim existissem imagens das suas jogadas que foram muito mais que os seus 638 golos.


NOTA: Entre a programação deste texto, há uma semana, e ontem, as imagens desse jogo de 27 de Dezembro de 1966 foram retiradas... Pode ser que renasçam, até lá... A crónica do jogo no jornal «Diário de Lisboa» (clicar)(clicar).

Não havendo muitas imagens e quase só de golos - há um filme - embora já nos anos 70, próximo do final da carreira, com excertos de jogos que mostram bem o que foi Eusébio até que as operações aos joelhos impossibilitaram que fosse um futebolista completo, jogando em todo o campo, indo buscar jogo aos defesas, solicitando a bola no meio-campo do Benfica e lançando o ataque, bem urdido à baliza contrária. No final da carreira jogou já a ponta-de-lança (para ser mais servido do que servir os avançados) até no meio-campo aproveitando a sua percepção do jogo e precisão com potência no passe. Voltando às imagens, eis um exemplo entre centenas.


Compilação do vídeo por Master Groove. Obrigado, MG!

O que é estranho é que num país com tantos "teóricos da bola" não perceberem que Eusébio não é comparável pois não há quem se assemelhe visto ele ser um misto de vários tipos de futebolista: Cruyff, Best, Di Stefano, Pelé. Não era tão bom no que cada um destes fazia de melhor mas conseguia ter o melhor de cada um reunido num só futebolista...ele. Ainda admito ler e ouvir alarvidades em quem é muito novo preferindo falar em vez de pesquisar bem, porque pesquisar mal é mais rápido e não pesquisar nada nem rápido consegue ser. Já quem é da minha idade devia saber como jogava Eusébio. Não sabendo, em vez de "emprenhar pelos ouvidos", era ir ler as crónicas dos jogos e perceber na análise que os jornalistas faziam a nível individual, entender o modo como Eusébio jogava. Aos mais velhos é incompreensível que o tenham visto jogar tantas vezes e não se lembrem. A menos que comam muito queijo, pois segundo se diz "atraiçoa" a memória!


Grande, grande, grandíssimo Eusébio!
I-N-C-O-M-P-A-R-Á-V-E-L !


Alberto Miguéns


NOTA: Com a sua simplicidade e destreza habitual Béla Guttmann foi quem melhor simplificou jogar com ele, que no início da carreira jogou com o n.º 8. Ao perguntarem-lhe a táctica ele disse: Sem Eusébio é uma, com ele é jogar com doze, pois é mais um centrocampista quando é necessário e é mais um avançando quando faz falta ter mais um... 

4 comentários
  1. António Lobo Antunes, regular assistente de jogos do Benfica na década de 60, disse uma vez que Eusébio não era um jogador. Eusébio era um milagre.

    Felizmente, há alguns - poucos - vídeos na internet que mostram a sua capacidade superior de posse e progressão de bola. A sua capacidade de recuperação defensiva (até um carrinho eu vi Eusébio fazer...), do drible desconcertante, da capacidade de remate espontâneo, e da velocidade em progressão útil que o fez merecer o carinhoso nome de "pantera negra". Era um jogador de equipa. Humilde mas consciente do que a equipa esperava e precisava dele. Eusébio delicia-nos ainda hoje quando vemos essas imagens antigas que nos atestam como ele foi admirado e amado por esse mundo fora. No Mundial de 66, um locutor inglês dizia "Have you ever seen anything like that". Eu não tive a oportunidade de ver ao vivo mas graças a Deus essas imagens foram captadas e podem ser vistas por quem as procurar.

    Eusébio esteve ao nível do milagre. Comparar? Não se comparam génios porque pela sua definição são únicos e a sua existência é uma bênção para quem gosta da Arte que é o futebol jogado ao nível superior. Onde só os milagres podem chegar.

    Eusébio foi um milagre. Sim. Pelo dom especial que tinha e que com tanta generosidade e sacrifício, colocou ao serviço do Clube. Eusébio, pelo contexto único que viveu e que se vivia, jogou essencialmente no Benfica. No Sport Lisboa e Benfica! Eusébio somo todos nós, Benfiquistas, que amamos o Clube acima de qualquer pequenez transitória. Eusébio é Benfica, todos somos Eusébio. Imortal. Inesquecível. Milagre.

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  2. Caro Sr. Alberto Miguéns... Como o tempo passa!!!! Faz hoje 8 anos que desapareceu a verdadeira LENDA do Sport Lisboa e Benfica e do futebol português... Infelizmente não o vi jogar ao vivo, mas mais tarde tive acesso a alguns jogos que realizou e fiquei fascinado com as suas acelerações em drible, como uma verdadeira 'PANTERA' e a sua potência de remate, alem da sua estética como verdadeiro atleta de eleição de dimensão mundial... Quanto aos prémios que recebeu como melhor jogador europeu e mundial forão poucos!!!! Em 1962, Eusébio ficou em segundo, mas deveria ter ganho, pois ganhou a Taça dos Clubes Campeões Europeus, tendo sido considerado o melhor jogador em campo perante jogadores como Alfredo Di Stefano e Ferenc Puskas... Enquanto Masopust perdeu a final do Mundial para o Brasil de Garrincha e Amarildo... Em 1963, ficou em quinto lugar???? Quando esteve presente na final da Taça dos Campeões Europeus, até marcando o golo do Benfica nessa final... Em 1966, ficou em segundo, mas deveria ter sido primeiro, pois foi o goleador do Mundial com 9 golos e foi considerado o melhor jogador da prova e não Bobby Charlton e em 1968 ficou em oitavo lugar???? Deveria ter ficado melhor classificado, pois atingiu a final da Taça dos Campeões Europeus.. podendo ter resolvido aquele final nos últimos instantes com aquele pontapé fulminante que o guarda-redes do Manchester, Stephney, nem sabe até hoje como conseguiu defender... Em suma, pelo menos três Bolas de Ouro deveria ter ganho (1962, 1965 e 1966)... Pena foi as muitas lesões que teve, senão o Sport Lisboa e Benfica teria ido a mais finais da Taça dos Campeõrs Europeus e teria ganho mais Campeonatos e Taças de Portugal com a sua presença fisica decisiva... Mas fica eternamente na nossa memória o 'KING', como carinhosamente era conhecido pelos seus colegas de profissão e adeptos do BENFICA e não só... Um abraço GLORIOSO...

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  3. Caro Alberto Miguens,
    Tive a sorte e o privilegio de ter visto jogar muitas vezes o grande, enorme, unico, incomparavel Eusebio.
    Nao podemos comparar o que nao e comparavel. Comparar Eusebio e apenas uma tentativa de o minimizar, normalmente motivada por invejas e complexos de inferioridade.
    Eusebio foi unico, no seu imenso e inesgotavel talento, tal como na sua qualidade humana, na forma como teve a capacidade natural de tocar a alma e coracao de tanta gente no mundo inteiro.
    Ainda ha pouco tempo fui assistir a um jogo do Everton em Goodison Park, onde em 1966 Eusebio marcou quatro golos a Coreia e fez uma exibicao epica. E foi com muita emocao e orgulho que ouvi da boca de adeptos ingleses palavras de admiracao, diria mesmo veneracao, em relacao a Eusebio. Uma lenda para quem ama o futebol.
    Como tenho saudades do King. Como tenho saudades do Benfica. Das tardes e noites epicas no velhinho Estadio da Luz.
    Do Benfica a Benfica.
    Sera que ainda o poderemos recuperar? Talvez ingenuamente, ainda nao desisti de acreditar que sim.

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  4. King é um dos maiores de sempre, quando vejo essas listas a que o Alberto se refere e não vejo o Eusébio nos 10 e mesmo nos 20 primeiros e depois vejo lá Zidanes, Ronaldinhos, Ronaldos, Platini e Zico de quem gostava muito e mesmo Messi, e outros, penso mas será que esta gente viu jogar, sabem quem foi, a importância que teve, o que sofreu o Eusébio fisicamente?

    Eu não tenho memorias dele, sei que o vi jogar varias vezes mas era muito miúdo, 6/7/8 anos e era a fase final dele já com imensos problemas físicos, pudera 7 operações aos joelhos.

    Costumo a dizer com 7 operações ao joelho e foi o que foi o que não teria sido sem essas operações, talvez o ponto fraco do Eusébio se é que tinha algum ponto fraco, talvez com menos talento era o seu jogo de cabeça mas o Alberto explicou em parte os motivos, mas nenhum dos maiores jogadores de sempre eram fantásticos a jogar de cabeça, a excepção talvez tenha sido o Pele.

    Sem nenhuma ordem especifica os melhores jogadores que vi jogaram foram Eusébio, Cruyff, Beckenbauer, Platini, Zico, Van Basten, Maradona e dos que não vi mas que me falaram deles Di Stefano, Pele e Garrincha, mas isto tem muito a ver com que tipo de jogadores gostamos. Penso que o mais completo foi o Pelé, o mais talentoso foi o Maradona e o mais influente foi o Cruyff, este como jogador e depois como treinador.

    Mas o King não deve nada a ninguém, devia ter sido mais vezes campeão europeu, e ter participado em mais mundiais, mas por azar, por lesões e por compadrios tal não foi possível. Benfica tem azar contra o Milan, lesão Coluna, contra o Inter, lesão Costa Pereira e a final devia ter sido em Roma, contra o United Eusébio jogou lesionado a final, senão não sei se tinha falhado a bola no final. Em 66 Portugal não tinha que jogar em Wembley eram os ingleses que tinham que ir a Liverpool e isso não ajudou depois do esforço contra a Coreia, enfim

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