Há 108 anos, em 15 de Julho de 1912 morreu, aos 31 anos e nove meses, em Estocolmo, Francisco Lázaro, pelas 6:20 horas, depois de ter corrido a Maratona Olímpica no dia anterior. O eléctrico é simbólico pois ele treinava tentando ultrapassar os eléctricos, sucessivamente procurando sempre o que ia mais à frente, de manhã entre Benfica (vivia no Casal do Tojal) e o Bairro Alto, onde trabalhava. Ao final do dia corria no sentido inverso. Era a carreira n.º 1.
Com a morte de um campeão, Portugal ficou traumatizado. Só voltariam a realizar-se maratonas nacionais 14 anos depois, em 1936.
A filha que nasceu órfã
Quatro meses depois de Lázaro falecer e dois meses depois dos restos mortais serem sepultados em Benfica, nasceu a sua filha, a que chamaram Francisca. Em 1968, com 56 anos, vivia desde 1956, com o marido e um filho (neto de Lázaro), bem como com a sua mãe Sofia, viúva de Lázaro, em Lourenço Marques (actual Maputo), capital da província ultramarina de Moçambique. D. Sofia se tivesse a idade do marido, em 1968, teria 79 anos. Em 9 de Setembro de 1968 deram uma entrevista, publicada no jornal “O Benfica” que interessa reproduzir um excerto.
D. Sofia pronuncia-se:
«O meu marido era operário. Treinava-se quando ia para o trabalho, correndo ao lado dos eléctricos, de Benfica ao Bairro Alto. À nossa despedida (26 de Junho de 1912) eu chorei muito, apesar de ele se mostrar muito animado e contente, garantindo-me que: venceria ou morreria. E dizia-me muitas vezes que gostaria que o filho que esperávamos fosse uma menina, pois, se saísse rapaz e não gostasse de desporto, seria um desgosto enorme e, no caso de vir uma menina, então levá-la-ia com ele para ficar a ver.»
ESTOCOLMO
Entre 01:01 e 01:06, as derradeiras imagens do malogrado Francisco Lázaro. A poucos minutos de falecer. A muitos dias - mais de dois meses - de chegar a Portugal. |
Os relógios suecos, em 14 de Julho de 1912, estavam nas 15 horas e 42 minutos quando, após cambalear, e algumas quedas, com o maratonista em evidente dificuldade, Lázaro caiu na estrada, próximo do quilómetro 32 (a oito da meta instalada na pista do estádio Olímpico). No relatório médico regista-se o seguinte: «pouco depois dos 30 quilómetros, na subida da colina de Ofver-Jarfva, o atleta português Francisco Lázaro começou a vacilar. Caía, levantava-se e corria mais um pouco, voltava a cair, tendo feito isto uma série de vezes, até que caiu e ficou estendido no chão inanimado. De imediato o médico, dr. Torell, que se encontrava no local, tomou conta dele. Uns minutos depois o dr. Lijenroth, que estava de serviço no posto médico de Silfverdal (aos 10 e 30 km), seguido pelo dr. Fries, tentaram reanimá-lo, mas sem sucesso e o caso foi imediatamente relatado telefonicamente para o Estádio. Uma vez que todos os esforços para o reanimar se mostraram infrutíferos, foi enviado para o Royal Seraphim Hospital acompanhado pelo dr. Fries. Chegou ainda inconsciente, cerca das 17.30 horas, e quase de imediato sofreu um violento ataque de cãibras e convulsões em todo o corpo, começando a delirar, com uma temperatura corporal de 41.2 graus C. Os sintomas apontavam para insolação.» À meia-noite reagiu ao tratamento com injecções de água salgada, mexendo as mãos quando pronunciavam o seu nome. Depois, com movimentos desconexos, entrou em delírio. Às 6 horas e 20 minutos foi dado como morto.
A última fotografia tirada a Francisco Lázaro (n.º 56), poucos minutos antes de desfalecer em Estocolmo, há 108 anos |
As causas do óbito
PORTUGAL
Foi difícil regressar de Estocolmo. Mais de dois meses. 24 de Setembro de 1912. "Não havia dinheiro". Portugal e as suas vicissitudes. Ainda é assim! Nunca há dinheiro para aquilo que devia de haver sempre dinheiro. Respeito!
O funeral em 24 de Setembro de 1912, à passagem pelo Rossio |
Foi difícil regressar de Estocolmo. Mais de dois meses. 24 de Setembro de 1912. "Não havia dinheiro". Portugal e as suas vicissitudes. Ainda é assim! Nunca há dinheiro para aquilo que devia de haver sempre dinheiro. Respeito!
Carta topográfica de Lisboa (1911): Casal do Tojal; Cemitério de Benfica; Curiosidade - 1: local onde o Benfica instalou o «Lar do Jogador» quando Otto Glória chegou ao Benfica (1954/55) |
Está sepultado (Mausoléu no cemitério de Benfica) a menos de 50 metros do local onde nasceu e viveu (Casal do Tojal). O Destino marcou-lhe a hora e o sítio.
Clubes
Velo Club de Lisboa (até 1910)
Sport Lisboa e Benfica (1911)
Lisboa Sporting Club (1912)
DATAS Acontecimentos
10.Out.1889 Nascimento em Lisboa
03.Mai.1908 Vitória na 2.ª Maratona Nacional
Junho 1910 Vitória na 4.ª Maratona Nacional
07.Mai.1911 Vitória no I Corta-Mato Nacional
18.Jun.1911 Vitória na 5.ª Maratona Nacional
09.Jul.1911 Vitória no Grande Prémio do Progresso
Ano de 1912 Vitória na 6.ª Maratona Nacional
14.Jul.1912 Maratona Olímpica em Estocolmo
15.Jul.1912 Falecimento na Suécia
23.Set.1912 Chegada a Portugal da urna
24.Set.1912 Funeral para o cemitério de Benfica
TRIUNFOS
Ano Prova Distância Tempo
1908 Maratona 24 km 1 h 39’
1910 Maratona 42,8 km 2 h 57’
1911 Corta-Mato 5 km 20’ 25’’
1911 Maratona 42,8 km 3 h 09’ 53’’
1911 GP Progresso 30 km 2 h 10’
1912 Maratona 42,2 km 2 h 52’ 08’’
MELHORES MARCAS
Prova Marca
Maratona (42,2 km) 2 h 52’ 08’’
Fundo (30 km) 2 h 10’
Corta-Mato (5 km) 20’ 25’’
Bom dia e obrigado mais uma vez por este testemunho
ResponderEliminarBom dia, Alberto.
ResponderEliminarNão mencionou que Francisco Lázaro jogou futebol no Futebol Benfica.
Caro Sérgio
EliminarNunca vi uma notícia escrita num jornal da época acerca disso e já procurei. Sabe onde encontrar?
Obrigado
Saudações Gloriosas
Alberto Miguéns
Nem por isso, Alberto...
EliminarCostumo ir tantas vezes jantar ao restaurante Fófó que me habituei a associar Francisco Lázaro ao Futebol Benfica: o estádio tem o nome dele e no restaurante têm fotos dele expostas.
Quando li este seu artigo, fiquei curioso pela omissão e por isso é que expus a dúvida.
Obrigado.
Memória de um grande desportista. Morreu vitimado pela reunião de infelizes circunstâncias.
ResponderEliminarPaz à sua alma. Honra à sua memória.