Com inflexões, desvios próprios de organizações humanas geridas por seres humanos mas enquanto houver eleições cíclicas há a garantia da responsabilidade do rumo do Clube ser de todos.
Quem é eleito tem legitimidade democrática
Quem elege tem responsabilidade em escolher os melhores. Se os sócios considerarem que os dirigentes não correspondem ao que esperavam ou que executam mal o que diziam ir fazer bem é mudar. Desde 1904 que é assim. E enquanto o Benfica existir - e será eterno - acredito que será sempre assim.
Um Clube com tantos simpatizantes (milhões)
E tantos associados (milhares) nunca tará dificuldade em encontrar quem o dirija nem faltarão votantes para lhes dar legitimidade. Se é assim em entidades mais pequenas que o «Glorioso» menos sentido fará no Benfica. A menos que se considere que o Clube consegue ser grande mas reúne seres humanos pouco qualificados. Isso não existe. Agora também é um facto, que desde os Anos 10 (até antes) para dirigir uma Nau Gigante terá de haver um bom piloto e um conjunto de bons marinheiros. Há clubes tipo barco a remos. O Benfica é a maior Nau Desportiva portuguesa. Terminando esta espécie de preâmbulo (por 2020 ser Ano Eleitoral Benfiquista) vamos ao essencial. Escrever acerca da História das Eleições que é dos meus temas preferidos - excluindo as conquistas desportivas - para Benficar.
Nada impede os associados de votarem. Um dos momentos mais belos e significativos nas últimas eleições |
É um orgulho saber que o Benfica é um exemplo para o País.
Desde a sua fundação (28 de Fevereiro de 1904) passou por Monarquia, Ditadura e actual Regime mantendo sempre uma coerência notável: realizar eleições para escolher os seus dirigentes. Quando se realiza uma eleição já se sabe quando será a próxima, ainda nem os dirigentes estão eleitos ou tomaram posse. Mantendo-se em vigor os actuais Estatutos (mandatos quadrienais, eleitos entre 24 e 31 de Outubro) e o hábito (ser a uma sexta-feira), a próxima eleição será a 30 de Outubro deste ano. E a seguinte será em 25 de Outubro de 2024. Como não ter orgulho!
As eleições mantêm-se, mas tem havido mudanças
Pois o País tem mudado, a todos os níveis e a sociedade portuguesa é que se reflecte na organização do Benfica e não o contrário. Os mandatos já foram anuais (1904 a 1966), bienais (1967 a 1989), trienais (1992 a 2009) e quadrienais (desde 2012). Já se votou nominalmente (podendo riscar nomes nos cartões eleitorais, por isso cada dirigente era eleito com números de votos diferenciado, havendo até dirigentes que tendo a maioria de votos por serem "muito riscados" decidiram não tomar posse, por se sentirem pouco legitimados!) Já se votou por Órgão (nunca aconteceu mas podia ter ocorrido ter-se eleito um ou dois dos três órgãos de uma Lista e outro ou dois de outra Lista). Agora é por Lista. Ao escolher uma, escolhem-se os três Órgãos que a integram.
Listas "únicas"
Na maior parte das Eleições até 1963 (mandatos anuais) apresentava-se uma lista a sufrágio. Há três excepções: 1926, 1932 e 1946. Mas isso está longe de significar unanimismo. O que se procurava eram listas de consenso que reunissem várias sensibilidades no modo como entendiam ser o Futuro do Benfica. Para conseguir isso, sem rupturas - embora apenas um ano permitisse que tudo passasse depressa se houvesse conflitos - foram necessários Benfiquistas de grande estaleca que ao colocarem o Benfica sempre acima dos seus interesses pessoais permitiam encontrar, por acordo, as melhores soluções para o Clube. Mesmo depois de 1963, o presidente Borges Coutinho conseguiu fazer isso com mestria, nos mandatos em que concorreu com lista única: 1971, 1973 e 1975. Foi integrando elementos que em 1969 até foram seus opositores.
Neste blogue já se escreveu acerca de dois momentos de ruptura
Em que foi impossível apresentar lista única devido ao extremar de posições: 1926 (implicando o afastamento, voluntário, de Cosme Damião) e 1946 (o presidente da Direcção não conseguiu ser reeleito). Há a eleição de 1932 que serve, para mostrar como eram as eleições, no Clube. Geralmente só havia uma assembleia geral ordinária anual, a menos que houvesse necessidade de rever Estatutos, Regulamento Geral ou tomar posições importantes que os Órgãos Sociais considerassem ter necessidade de convocar os associados para tomarem as decisões. Nessa assembleia geral anual discutia-se e votava-se o Relatório fazendo depois a eleição dos novos Corpos Gerentes para o mandato anual seguinte. Geralmente a lista já ia previamente definida, mas durante a discussão, podia acontecer surgirem propostas de outros nomes para cargos, uns recusarem continuar por variados motivos até se constituírem listas e entretanto desistirem antes do momento da votação. Tudo era discutido durante a assembleia geral e depois sujeito a votação final. Nessa assembleia geral, em 7 de Agosto de 1932, chegaram a apresentar-se três listas para a Direcção (os Órgãos eram independentes, por isso não era necessário uma "Lista" apresentar nomes para os três órgãos como na actualidade). E a Direcção, por ser o poder executivo, é sempre o Órgão que pode gerar mais controvérsia. O presidente em exercício, Manuel da Conceição Afonso propôs-se à reeleição. Alexandre Ferreira encabeçou uma Direcção alternativa. Um grupo de associados avançou com outra Direcção liderada pelo dr. Adeodato de Carvalho que fez chegar, durante a assembleia geral, uma carta afirmando não ser possível assumir o cargo. Os sete dirigentes efectivos da Direcção eleitos tiveram sempre número de votos superior a 500, com alguns a ultrapassar os 600 votos. A chamada "Lista da Oposição" reuniu pouco mais de uma centena de votos. Assim se fazia o Benfica, assim se foi construído a maior e melhor instituição portuguesa.
Em homenagem a esse acto eleitoral
E a todos os que já estão no «Quarto Anel» aqui fica a convocatória e os dirigentes eleitos. Quando for possível serão colocados os que não foram eleitos, bem como quantos votos teve cada um, eleitos ou não eleitos, pois todos contribuíram para que o Benfica ficasse ainda mais forte em 1933 do que em 1932. E se já era forte em 1932! Mas os Benfiquistas queriam sempre mais e melhor! Insaciáveis e imparáveis.
RESUMO HISTÓRICO DAS ELEIÇÕES
Há ainda muito para saber acerca das Eleições no Benfica. Mas no «Glorioso» é assim. Há sempre muito mais para saber do que aquilo que já se sabe. Infindável.
Com a COVID-19
Só em Setembro se saberá que condições haverá para cumprir os Estatutos no seu artigo 55.º. Até as assembleias gerais de Junho (Orçamento) e Setembro (Relatório e Contas) estão em dúvida, pelo menos a de Junho, quanto mais saber o que estará a ocorrer, devido à pandemia, em Outubro. Para bem de todos, Mundo, Portugal e Benfica que em Outubro, a pandemia já pertença ao passado.
Que venham as Eleições...
Alberto
Miguéns
NOTA (por vezes esquecida): Só é possível publicar digitalizações, partilhando-as com os leitores, de Relatórios anteriores a 1978 (o primeiro que recebi como associado) por que o senhor Joaquim José Macarrão (20 de Maio de 1920/25 de Janeiro de 2008) pediu-me para ficar com o seu espólio quando foi afastado do Clube e obrigado a ir viver para Lagos onde faleceu. Apesar de me querer oferecer tudo apenas decidi ficar com a "papelada dele" pois tendo ele família não fazia sentido ficar com o restante espólio. Assim só é possível ter publicado neste texto, digitalizações dos «Relatórios e Contas» de 1932 e 1933, por "culpa dele". Eis o motivo pelo qual cada vez que publico digitalizações de documentos que foram dele devia fazer sempre referência a esse facto, mas desta vez houve tempo para me lembrar de que devia fazer.
Em tempos tinha comentado que um trabalho extenso sobre as eleições do Benfica seria uma excelente demonstração da excelsa diferença que temos para os outros que sempre coexistiram bem com as oligarquias e os tachinhos com o poder instalado.
ResponderEliminarA galeria de nomes é excepcional pela qualidade e pelo número. É bom ver que a maior parte dos presidentes não estiveram muito tempo no cargo.
Só mesmo o Alberto poderia fazer tão exaustivo e brilhante compilação. Para ler e guardar. Obrigado.
Antes de mais, um agradecimento ao Alberto Miguéns pela constante defesa que faz do nosso clube. MUITO OBRIGADO!
ResponderEliminarNão me recordo se o Alberto já abordou este tema anteriormente. Gostaria de saber a sua opinião em relação aos votos das casas do Benfica.
Sei que essa alteração foi feita em assembleia geral, logo foi aprovada pela maioria dos sócios presentes. Considera que é justo que as casas do Benfica tenham direito a votar (ainda para mais com 50 votos por casa), quando na realidade não representam um associado do Benfica?
Sempre considerei esta medida escabrosa/vergonhosa.
Na minha opinião as casas deveriam servir como bases para facilitar o voto dos associados, sem que necessitassem de se deslocar ao Estádio da Luz.
Saudações benfiquistas,
Miguel
Caro Benfiquista Miguel
EliminarJá abordei o assunto. Até me apeteceu fazer uma revisão dos estatutos.
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/12/revisao-dos-estatutos-parte-2.html
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/12/revisao-dos-estatutos-parte-i.html
Para mim não faz sentido haver votos colectivos que serão sempre suposição. Supõe-se que o presidente da «Casa» vota de acordo com o que foi decidido na «Casa».
Como as Filiais e Delegações também têm direito a voto o presidente do Gil Vicente FC e o do CD Santa Clara têm direito a 20 votos.
Incrível.
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns
Sr. Alberto Miguéns
ResponderEliminarPorque é que os mandatos, desde 2012, passaram a ser outra vez de quatro anos? Foi uma alteração da lei? Digo isto porque no FC Porto e no Sporting, os mandatos também são agora de 4 anos. Por outro lado, ouvi dizer que Pinto da Costa vai para o 15º mandato? É isto verdade?
Caro Benfiquista Claudio Filipe
Eliminar1. Em 2012, passaram a ser pela primeira vez de quatro anos com a revisão dos Estatutos em 2010. Antes eram de três anos;
2. Geralmente eles seguem o que o Benfica decide, mas não sei se nesta ideia dos 4 anos o Sporting CP não foi pioneiro;
3. Deve ser verdade. De memória foi eleito em 1982, 1984, 1986, 1988, 1990, 1992, 1995, 1998, 2001, 2004, 2007, 2010, 2013 e 2016. Em 2020 será o 15.º!
Gloriosas Saudações
Alberto Miguéns
Mais uma lição de História do nosso Glorioso, contada por quem sabe!
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