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26 março 2019

Benficambique

26 março 2019 3 Comentários
A TRAGÉDIA QUE SE VIVE NA CIDADE DA BEIRA E PROVÍNCIAS DE SOFALA E MANICA TEM CONTORNOS DE DESGRAÇA MUNDIAL.


Devido à devastação provocada pelo ciclone tropical "Idai" e nada podendo fazer para mitigar o sofrimento de muitos moçambicanos, em particular, dos habitantes da cidade da Beira e da respectiva província de Sofala há sempre o pretexto de evocar o secular Benfiquismo - pelo menos desde 1916 - nesta região do Hemisfério Sul.



O Benfica universalista e integrador
Permitiu desde muito cedo estimular os contactos com clubes de outros países e expandir o Ideal Benfiquista pelo Mundo com destaque para o então Império Colonial português, da África a Timor, mas sempre com forte e antiga implantação - pela dimensão física e demográfica - em Angola e Moçambique. Isto para um clube que tinha por tradição só utilizar futebolistas portugueses mas que era sempre o mais solicitado a defrontar estrangeiros, quer os clubes exclusivos de ingleses existentes em Portugal, quer os que chegavam em digressão da Europa Central. 




Tradição é tradição
O Benfica não fazia questão de só utilizar portugueses por fobia para com os estrangeiros. Antes pelo contrário... O Clube decidiu que - ao contrário do que se pensava na primeira década do século XX - mesmo só com portugueses era possível obter excelentes resultados e conquistar competições até enfrentando os ingleses invencíveis". E foi...


Em homenagem ao martirizado Moçambique
Vejamos o Benfiquismo moçambicano a cinco níveis:

1. Sport Lisboa e Beira;
2. Carlos Alberto Faria; 
3. Carlos Brito;
4. Digressão a África (1950);
5. Costa Pereira, Coluna, Eusébio e companhia.


Sport Lisboa e Beira
A primeira filial ultramarina do clube, fundada em 8 de Dezembro de 1916, tinha curiosamente a mesma sigla - SLB - e assim era conhecida em Moçambique. Ainda não há muito tempo Sheu Han confirmou que se dizia, quando vivia na cidade da Beira/Moçambique: «jogo ou jogas no SLB!» ou «Vamos ver o SLB-Ferroviário?». Sem preconceitos o SLB/Moçambique depressa se tornou ma potência desportiva pois tanto jogavam brancos como negros o que era algo pouco usual entre os outros clubes que só tinham colonos ou só jogavam indígenas. A filial depois entrou em declínio no período conturbado da Segunda Guerra Mundial mas voltou a ser um clube de grande poderio a partir dos Anos 60.


Em destaque Carlos Alberto Faria

Carlos Alberto Faria
Foi o primeiro associado a ser agraciado com a distinção suprema do Clube, a «Águia de Ouro». Na assembleia geral do SLB, em 4 de Fevereiro de 1923, os associados presentes votaram para que lhe fosse concedida a distinção máxima do Benfiquismo pelo «dinamismo e dedicação colocada em divulgar o Clube, bem como os seus Ideais bem longe de Portugal (Continental) fazendo do Sport Lisboa e Beira um clube modelar que além de ser o orgulho do Sport Lisboa e Benfica, permitiu contagiar outros Benfiquistas no sentido de irem criando filiais em todo o território colonial português». é de facto notável que a primeira entrega da «Águia de Ouro» não tenha sido a um presidente da Direcção, um dirigente, até um Benfiquista notável que vivesse em Lisboa mas a um que fez a sua vida a milhares de quilómetros da Sede e do Estádio com tanto fervor e capacidade organizativa que fez de uma filial um clube modelo que muitos procuraram seguir. 


Legendada com a fundamental ajuda do dedicado leitor deste blogue, Victor João Carocha


Carlos Brito
O moçambicano Carlos Correia de Brito nascido, em 1 de Dezembro de 1919 (há quase cem anos) em Lourenço Marques, foi o primeiro natural de Moçambique a envergar o «Manto Sagrado». Estreou-se, como avançado-centro, em 15 de Novembro de 1942, aos 22 anos, marcando um golo, completando quatro temporadas, até 4 de Novembro de 1945, quando jogou como interior-esquerdo. Pelo Benfica conquistou dois campeonatos nacionais, em 1942/43 e 1944/45. No total de onze golos em 27 jogos correspondentes a 2 029 minutos. O seu ingresso no «Glorioso» foi amplamente divulgado. 





Digressão a África
Depois da conquista da Taça Latina o Benfica acedeu, finalmente, aos pedidos dos Benfiquistas de África e deslocou-se de avião. A primeira vez que se fez uma viagem de avião e que já mereceu destaque neste blogue (clicar). O Benfica fez quatro jogos em Moçambique com três em Lourenço Marques e um na cidade da Beira, em 30 de Julho de 1950. Digressão apoteótica, desportiva e socialmente, que está documentada em filme (clicar)


30 de Julho de 1950
Selecção da Beira
Estádio da Cidade
V 5-0
Jogo com 90 minutos

Contreiras;
Jacinto e Fernandes;
Clemente, Félix (63’/António Manuel) e Francisco Ferreira (cap) (27’/Calado);
Corona (45’/Pascoal), Arsénio (45’/Gil), Julinho (45’/António Teixeira), Rogério e Rosário.

NOTA1: Ao intervalo Ted Smith fez uma alteração táctica colocando Rosário na ponta direita e Pascoal na ponta esquerda;
NOTA2: Aos 82’, Contreiras defendeu uma grande penalidade que mandada repetir voltou a defender.

         1-0          (24’) Rogério (de grande penalidade)
         2-0        (27’) Arsénio
         3-0        (29’) Corona
         4-0        (30’) Julinho
5-0         (53’) Gil 


O Sport Lisboa e Lourenço Marques depois (com golpada governamental) alterado para Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Na década de 60 foi possível reconverter em Sport Lourenço Marques e Benfica


Campeões Europeus: Costa Pereira, Coluna, Eusébio e dezenas de outros
Só a partir de 1954/55, com Otto Glória, o Benfica iria valorizar o "filão" africano com destaque para o de Moçambique, geralmente de clubes de Lourenço Marques. Nem todos moçambicanos. Entre outros, eis 15 craques:
Coluna (Grupo Desportivo de Lourenço Marques);
Costa Pereira (Clube Ferroviário de Lourenço Marques);
Naldo (Clube Ferroviário de Lourenço Marques);
Pegado (Sporting Clube de Lourenço Marques);
Garrido (Grupo Desportivo de Lourenço Marques);
Eusébio (Sporting Clube de Lourenço Marques);
Jorge Calado (Atlético Clube de Lourenço Marques);
Perides (Clube Ferroviário de Tete via Sporting CP);
Matine (Clube Central de Lourenço Marques);
Zeca (Clube Ferroviário de Lourenço Marques);
Néné (Clube Ferroviário da Manga/Beira);
Abel (Clube Ferroviário de Lourenço Marques);
Rui Rodrigues (do Clube Desportivo 1.º Maio via Associação Académica de Coimbra);
Sheu (Sport Lisboa e Beira);
Messias (Sport Lourenço Marques e Benfica).

Que o Futuro da Beira seja risonho...

Alberto Miguéns


NOTA: Como é habitual gosto sempre de comparar as biografias/estatísticas de futebolistas com outros suportes até porque entre tantos números é sempre possível, ao transcrever informação, acrescentar erros. Mais uma vez o portal www.zero.zero.pt e o Almanaque Oficial Rui Miguel Tovar «asneiram» à grande viciando o Glorioso Futebol. Já tinham transformado três futebolistas Mendes só num António Mendes aquando do falecimento deste. Desta vez juntam dois Brito (o Alexandre e o Carlos) como se fossem só um, o Carlos! Mas este assunto (até por que a propósito de Mendes) leitores já me questionaram quando esclareço o tema, fica para um dia destes, quem sabe amanhã!

Se no zerozero.pt inventam, Rui Tovar não lhe fica atrás. Ou vice-versa...




3 comentários
  1. Vivem-se dias terríveis em várias regiões de Moçambique.

    O Alberto expõe de forma excelente a importância da contribuição Moçambicana para o futebol Benfiquista. Nenhuma outra nação Africana contribuiu tanto e tão bem para o Benfiquismo.
    É uma lástima que ainda hoje aquele País não volte a produzir os talentos que já teve.
    A FPF devia preocupar-se mais nos apoios ao fomento do futebol nas antigas colónias Portugueses, estabelecendo protocolos de cooperação efectiva.

    Espero que o SLB possa contribuir de forma visível e generosa na ajuda internacional que tenta minorar os impactos da tragédia.

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  2. Muito obrigado. Gostei imenso de ler a informação sobre o Sport Lisboa e Beira.

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  3. História pura e da boa que infelizmente vem a propósito de uma tragédia.
    Obrigado Miguéns por mais esta Cátedra!

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