Há milhares de histórias interessantes acerca de tudo no Benfica: símbolos (emblema, nome e equipamentos), jogos de Futebol e das outras Modalidades, atletas (futebolistas e das modalidades), associativismo, assembleias gerais, eleições, dirigentes eleitos e não eleitos, comportamentos e atitudes, etecetra mais etecetra.
Da esquerda para a direita: Simões (capitão), Eusébio, Malta da Silva, Victor Batista, Adolfo, Messias, Artur Jorge (9) e Rui Rodrigues (4). Entre eles os olhos de Jaime Graça |
Perguntou há três dias um leitor
«Qual a razão do Benfica jogar com o Arsenal de meias amarelas?» E enviou três fotografias, embora só em duas se vejam «as célebres meias amarelas». A outra é a troca de galhardetes entre os dois capitães: o Glorioso Campeão Europeu Simões e McLintock.
Além de responder à questão
Além de responder à questão
Surgiu outra memória relacionada com esta questão dos equipamentos de reserva que ilustra como para o Benfica os pormenores eram porMaiores. Tudo tendo em vista honrar o jogo e o passado, minimizando os problemas para maximizar o sucesso.
PARTE I: O «caso das meias amarelas» à queque
Monumental despedida a José Torres
A temporada de 1971/72 iniciou-se com a Festa de Homenagem a José Torres. Em Lisboa o Benfica derrotou, por 2-0, o Arsenal FC. Um dia histórico com a estreia com o "Mato Sagrado" de Rui Rodrigues, Victor Batista (também a marcar golos) e Artur (Correia). Uma semana depois, no actual complexo habitacional de Highbury, aguentou-se até aos 70 minutos (2-3). Depois foram mais... três! Em 20 minutos! Mas isso merece um capítulo à parte até pela «questão das meias amarelas»!
Depois em Londres é que "foram elas"
Tudo começou com o Benfica a não ter as meias pois estas tinham ficado em Portugal. Depois foi o árbitro que teve pouco de inglês e muito de latino (caseiro). E ainda os Gloriosos Futebolistas que não gostavam de perder «nem a feijões». Pudera! Eram ganhadores por excelência e de excelência.
As meias para 16 futebolistas
O Benfica quando se vai equipar, no estádio do Arsenal FC, apercebe-se que o caixote onde iam as meias tinha sido trocado por outro. Estava o caixote com as 32 camisolas, o caixote com os 32 calções e o caixote com "tralha" em vez de 32 pares de meias. Não havia alternativa. O adversário iria jogar de meias vermelhas e o Benfica não tinha nenhumas seja de que cor fosse. O Arsenal FC tinha no equipamento alternativo meias amarelas, daquele amarelo "torrado" em vez de amarelo "periquito" e cedeu ao Benfica as meias...novas! E meias novas (não lavadas) e jogo a sério não "casa". Começavam os problemas embora Simões com aquela postura À Benfica diga. Depois de levar 2-6 nem falar disso é bom...
Há crónicas excelentes acerca do jogo mas nesta época do ano - Agosto quente - terei de recorrer a uma crónica fraquinha, mas disponível na internet, a do Diário de Lisboa.
Há crónicas excelentes acerca do jogo mas nesta época do ano - Agosto quente - terei de recorrer a uma crónica fraquinha, mas disponível na internet, a do Diário de Lisboa.
A crónica do Diário de Lisboa pode ser lida (clicar) sem estar compactado como no blogue
PARTE II: O equipamento e os números dele
Nos anos 70
O Benfica tinha
sempre dois equipamentos - o que ia utilizar e outro exactamente igual que ficava
de reserva - disponíveis não fosse o caso de haver algum acidente que
inutilizasse alguma peça (camisola e/ou calções e/ou meias). Mas nem sempre foi
assim!
Durante décadas
Podia-se jogar com
a camisola ou outra peça danificada. Depois não. Estavam disponíveis durante os
jogos, duas ou três camisolas (vários tamanhos) tal como calções e meias. Não
havia números nas camisolas até 1947/48. Davam para todos conforme os tamanhos.
Mais encorpados atrás (backs ou defesas) até aos mais pequeninos e magrinhos (forwards ou avançados:
os dois pontas e os dois meia-pontas, depois interiores na táctica do WM).
De quase nada a quase tudo
Com o advento dos
números estes complicaram a logística dos equipamentos reserva, mas não havia
condições - durante algum tempo/épocas - para ter duas colecções completas e
transportá-las. Assim o que ocorria - e ocorria muitas vezes em relação à actualidade
pois os terrenos eram pelados e às vezes empedrados - era o
"roupeiro" (actual técnico de equipamentos) cuidar de quatro
camisolas, outros tantos calções e meias. O que dificultava eram as camisolas
numeradas. Ninguém adivinhava as que sofreriam danos, por isso as camisolas reserva não tinham números
- só no início da década de 50 o Benfica passou a transportar duas colecções. O
único Glorioso Futebolista, que felizmente ainda está entre nós, que "assistiu"
a estas duas mudanças - sem número, com número mas peças de reserva reduzidas e
dois equipamentos por futebolista - é o Rogério Lantres de Carvalho que jogou
no Glorioso, entre 1942/43 e 1953/54, com passagem pelo Botafogo FR em 1947.
Ódio à derrota
Ora com os números
começaram os "problemas" para os roupeiros. Quando uma camisola se
rasgava/inutilizava durante o jogo o futebolista tinha de usar outra. O
roupeiro descosia o número da camisola estragada e depois cosia-o na camisola
de reserva. Geralmente não havia problema. Os futebolistas tinham de ser
assistidos pois também havia danos físicos. Mas nem sempre era assim. Por vezes
só havia «danos materiais». E a equipa ficava a jogar reduzida a dez enquanto o
futebolista esperava que o roupeiro fosse diligente com a agulha, dedal e linha
a descoser e coser números passando-os de uma para outra camisola. Contam os
antigos futebolistas - alguns é mais contaram - Macarrão, Julinho, Rosário,
Corona, Guilherme Espírito Santo e Mário Rui, pelo menos, além do Rogério (que
continua a contar) - que um dia Bogalho (presidente da secção de futebol) ou
Ribeiro dos Reis (dirigente e treinador), um deles ou os dois, ficaram
impacientes num jogo. O Benfica estava reduzido a dez por causa de um bocado de
pano (embora sagrado, digo eu!). Então "inventaram" uma solução
barata. O roupeiro levava três camisolas reserva (além de outra para o
guarda-redes) mas também dez números - de 2 a 11. E quando se pressentia «perigo
de camisola rasgada» o roupeiro pegava numa camisola reserva e no
correspondente número. Quando o futebolista vinha à linha lateral despir a
camisola inutilizada já o roupeiro - certamente com destreza na agulha, linha e dedal - estava com a da reserva na mão devidamente
numerada! Era só vesti-la e regressar para que o Benfica não estivesse a jogar
em inferioridade numérica. Ou seja, por dois ou três minutos o Benfica mudara a
logística da troca de camisolas. Porquê? Por que no Benfica sempre houve a
preocupação em só aceitar desportivamente as vitórias. Os empates e as derrotas
ficavam para aprendizagem e felicitar o adversário. É que mesmo que seja por
poucos segundos a jogar com dez nunca se sabe! Então frente a adversários poderosos...
O Benfica sempre odiou as derrotas!
É assim o Benfica!
Alberto Miguéns
NOTA FINAL (QUE PODIA SER INICIAL)
1. Agradecimento aos leitores deste blogue Victor
João Carocha por ter enviado, anotado e ajudado a legendar mais umas quantas
fotografias e a Mário Pais por termos "discutido e analisado" o
jogo realizado em 4 de Agosto de 1971;
2. Agradecimento a Rogério "Pipi" (extensível a
todos os Gloriosos Futebolistas) que num dos muitos convívios comuns - talvez
num 5 de Outubro, aniversário do SL Saudade - em que se contam muitas histórias
contaram essa do roupeiro e dos «números soltos», do antes e depois de se usarem
números no "Manto Sagrado»;
3. Agradecimento ao Glorioso Futebolista Simões
por termos dialogado acerca desse jogo e das "meias amarelas". E como
quando Benficamos atrás de Gloriosas Estórias, Gloriosas Histórias se
recordam fica prometido escrever, em breve, acerca do porquê de Eusébio que no
Benfica e na Selecção Nacional era "8" até 1967 (o "1o" só
foi herdado de Coluna quando este foi para médio e ficou com o "seis") mas
no Mundial de Inglaterra (1966) foi 13...mas não foi o 13 que lhe coube em
sorteio...
Aprender com o Mestre!
ResponderEliminarAlgumas notas:
- Uma notável aula de aspectos curiosos, pouco habitualmente disponíveis para conhecimento dos adeptos. A história do SL Benfica faz-se de vitórias (muitas), derrotas (poucas), muitos Benfiquistas bons, alguns Benfiquistos e também desses saborosos episódios.
- Roupeiros e costureiros. A importância da polivalência também fora do campo!
- O génio de Bogalho até a esses detalhes chegou. Presidente de uma cêpa inigualável!
- Ainda bem que as meias alternativas do Arsenal não eram verdes ou azuis. Nem mesmo de "azul à Benfica" seriam toleráveis!
- Pelo que sei, o árbitro dessa partida, o Sr. Burtenshaw ainda ameaçou (não sei se cumpriu) reportar os incidentes às Federações competentes (não sei se também à UEFA)! Era cá um bicho... Já não bastava a roubalheira que até foi mencionada por Ingleses...
Magnífico texto! Obrigado.
Ufa, de repente fiquei com medo que a ideia tivesse sido de dirigentes... lol
ResponderEliminarMais um belo pedaço de História do nosso Glorioso, contada pelo maior Historiador que o Benfica já teve, tem e terá!!!
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