O JORNAL QUE ONTEM COMPLETOU 75 ANOS NÃO FOI O
PRIMEIRO DO CLUBE!
Antes, bem antes, nos anos 10 o SLB já fizera publicar um jornal
com o nome de "O Sport Lisboa".
Mas vamos aos acontecimentos de 1942 para recuar a 1913 e regressar a 1942. O Benfica
é assim. Para a frente, atrás e à frente. Muito à frente.
Que impacte causou o jornal em 1942?
Houve um misto de indiferença pública e preocupação privada. O SLB decidiu
publicar um jornal semanal da sua responsabilidade por entender que a grandeza
do clube - passado e actualidade - não estava devidamente divulgado no único
jornal publicado em Lisboa, "Os Sports".
Os responsáveis por este assim que souberam que o Benfica estava a organizar um
Semanário interessaram-se mais pelo Clube. A aposta num jornal propriedade do
SLB começava a resultar ainda antes de ser publicado. Além disso, havia um
"vazio" desde que cessara, em 1 de Julho de 1942, ao número 531, a
Revista "Stadium". Curiosamente a
publicação de "O Benfica" apressou os responsáveis pela "Stadium" a
voltar a interessar-se pela sua edição, embora com menos qualidade, saindo o
primeiro número em 9 de Dezembro de 1942. Quando o
Benfica se agita tudo treme!
O Benfica com o condão de ressuscitar a Stadium, onze dias depois de " Benfica" nascer. Mas há muito que se sabia que o SLB estava a preparar a edição de um jornal |
Pôr em sentido "Os Sports" e dar-lhes sentido. Em baixo Ribeiro dos Reis a escrever acerca do "seu desporto favorito"...o «Chacha" |
E vamos lá
a 1913! Com paragem em 1915
O "Glorioso" foi desde o seu início um clube vencedor,
daí que tivesse muitos adeptos interessados pelo Clube, quer na sua componente
desportiva, quer associativa.
Na fase de implementação do futebol em Portugal, na primeira década
do século XX, os jornais diários davam algum destaque ao Futebol. Aliás, antes
da organização do primeiro campeonato regional de Lisboa, em 1906/07, os reptos
- desafios ou desforras - eram feitos através de notícias publicadas nos
jornais da época: Diário de Notícias, O Século ou Jornal da Noite, que foram
progressivamente dedicando mais espaço (e interesse) ao fenómeno desportivo (e
em particular ao Futebol). Só que no início dos anos 10, começou a existir
alguma má vontade por parte das direcções desses jornais, para com o futebol,
isto numa época em que se começam a extremar posições em relação aos clubes,
aumentando as rivalidades que se farão sentir a todos os níveis, na década
seguinte. assim começa a circular nos jornais a ideia, um pouco como é hábito
nacional (e que ainda existe na actualidade!) de que «antigamente é que era bom».
Nesses tempos os jogadores só queriam jogar «à bola» (expressão que mais tarde,
nos anos 30 foi substituída por «amor à camisola»), «hoje só pensam é noutras
benesses e em provocar desacatos» (actualmente expressões substituídas por
«dinheiro» e «fazer-se à falta ou a mui-recente
"cavar" a falta! O nosso clube sentindo que o Futebol (e o
desporto em geral, e em particular o Benfica) não estavam a "ser bem
tratados", decidiu criar um jornal semanal denominado "O Sport
Lisboa", recuperando o primeiro nome do Clube e pelo qual começou a ser
conhecido, após a fundação, sendo ainda utilizado em finais da primeira década
do século XX e no nome inicial das Filiais: Sport Lisboa e .... (nome da
localidade). O número 1 saiu em 24 de Agosto de 1913 e nele escreveram
"impolutos Benfiquistas", de dirigentes a simples redactores (Alberto
Lima, Victor Gonçalves, Ribeiro dos Reis, Cosme Damião, Mário de Oliveira,
Félix Bermudes e Norberto de Araújo, por exemplo). O Benfica ainda não tinha
dimensão associativa e desportiva que permitisse exclusividade de notícias e
relatos de acontecimentos daí ser um jornal abrangente com notícias diversas em
temática e colectividades, mesmo rivais do Benfica.
De "O
Sport Lisboa" a "O Sport de Lisboa", em 1915! Com paragem em
1927
Após 81 números, em 6 de Março de 1915, decidiu uma fusão com
outra publicação, o "Jornal de Sport", resultando "O Sport de
Lisboa", com o n.º 82 a surgir em 13 de Março de 1915, que continuou
ligado ao Benfica, ainda que de um modo menos dependente e mais pluralista.
«O Sport Lisboa/O Sport de Lisboa» foi extremamente importante na
afirmação do Benfica como instituição porque permitiu "defender o futebol
e o Clube" e em simultâneo colocar
"pressão", quer nos jornais diários (obrigando-os a darem mais
atenção e espaço ao Desporto), quer nos jornais desportivos que entretanto
surgiram, como por exemplo "Os Sports", em 6 de Abril de 1919. Se
algum deles tivesse um comportamento pouco ético para com o Clube (e por vezes
isso ocorria, pois eram jornais onde dominavam outras cores que não a vermelha)
o nosso jornal defendia veementemente o Clube. Isto condicionava os outros
jornais, quer em termos de vendas, quer em polémicas.
Ao iniciar o segundo ano de existência a redacção reune-se para um momento único. O fotógrafo do Benfica e de "O Sport Lisboa", Arnaldo Garcêz passa de fotógrafo a fotografado! |
Entretanto, o panorama da Imprensa desportiva e generalista (que dava cada vez mais espaço ao desporto) foi-se alterando e "O Sport de Lisboa" deixou de ter a importância que lhe foi concedida aquando do seu surgimento, acabando por deixar de publicar-se em 27 de Maio de 1932, data em que saiu o último número, o 1137.
A necessidade de informar os associados e divulgar
os "Relatórios e Contas das Gerências", fez com que o Clube
publicasse o "Boletim Oficial do SLB", que saiu pela primeira vez, em
Março de 1927. seguiram-se mais 14 números, até à temporada de 1936/37, quando
o "Relatório e Contas" passou a ter publicação autónoma.
E agora
para 1942! Com paragem em 1941
Mas...apesar da história nunca se repetir, o certo é que por vezes
há semelhanças. Durante os anos 30 e início dos anos 40, o Benfica sem qualquer
tipo de publicação começou a ser ostracizado e mal divulgado (na opinião dos
dirigentes Benfiquistas), apesar dos inúmeros títulos que conquistava,
sobrevalorizando-se na Imprensa os feitos de outros clubes. Os Benfiquistas
sempre (nessas épocas...) ciosos do 2seu Benfica", decidiram criar um novo
jornal semanal. Na inauguração do novo estádio, no Campo Grande, em 5 de
Outubro de 1941, para divulgar e assinalar o acontecimento, saiu um jornal -
assim como se fosse um número 0/zero - do "Sport Lisboa e Benfica",
que pouco mais de um ano depois teve publicação regular - semanal ao sábado -
com o primeiro número a chegar às bancas para a "Cidade e o Mundo",
em 28 de Novembro de 1942, ao preço de cinco tostões ou cinquenta centavos ou quinhentos réis e com quatro páginas. E
bem medido com 42 centímetros de altura por 32 de largura. Comparando, o actual
tem 35 por 28. Menos sete e quatro centímetros, mas tal como as pessoas os jornais "não se medem aos palmos"! O jornal - o "nosso Semanário" como era conhecido
entre os Benfiquistas - foi muito importante e decisivo na informação e
afirmação do Clube durante os anos 40, mostrando que o Benfica era um clube
ganhador, pois as competições eram acompanhadas semanalmente e as vitórias em
jogos ou provas e conquistas de títulos ou recordes devidamente documentados em
textos e fotografias ou ilustrações.
Primeiro
director: José Magalhães Godinho
Os dirigentes do "Glorioso" colocaram a
"fasquia" demasiado alta para os directores que se seguiriam ao
primeiro. Foram logo escolher um dos mais brilhantes portugueses do seu tempo e
de sempre. Um anti-fascista, democrata, republicano, cidadão livre e de
causas. Por isso se dizia - espantados - que só o Benfica podia ter um
anti-salazarista como director de um "órgão de imprensa" pois o Estado
Novo controlava os jornais através da Censura mas também autorizando (ou não)
determinadas pessoas a ter poder de dirigir um jornal ou uma rádio. E depois a
televisão, embora esta fosse estatal. O Benfica só podia ter José Magalhães
Godinho, no início dos anos 40, como director do seu jornal porque nada queria
do Poder. É que só o nome JMG causava náuseas dentro do Antigo Regime. O
Benfica como «apenas e só» dependia da sua grandeza associativa podia dar-se "ao
luxo" de nomear quem entendia serem os melhores Benfiquistas para
determinados cargos. É o valor de ser independente. Pode-se dizer e fazer, com
responsabilidade, o que se quiser. E o SLB fez. Nomear director de um Semanário
em plenos anos 40 da Ditadura um cidadão com ficha de subversivo na PIDE?! Só o
Benfica! Só quem se estava "marimbando" para o Poder e os poderosos. Só
quem deles nada queria, nem pedia! Mas como este texto já vai longo, até
logo...Entretanto já por duas vezes, pelo menos, neste blogue se escreveu
acerca de José de Magalhães Godinho (clicar: Cândido, Ribeiro dos Reis, Godinho e o Tarrafal) (clicar: Magalhães Goleia Góis Mota)
Continua pelas dez da manhã...
Alberto Miguéns
O Jornal quando foi publicado sempre foi uma resposta competente ao anseio da massa associativa em ser informado sem a falsidade, manipulação e facciosismo dos media que existiam. E em 1942 só existia um periódico desportivo? Bonito...
ResponderEliminarAqui se pode ler de forma sintética, atraente e rigorosa a história dos nossos Jornais). De como e quando nasceram, como se justificaram e como foram encarados no universo Benfiquista. Tiveram e tem um papel relevante.
Antes e agora o Jornal. Agora também a Televisão. Agora tambéma Internet. Ao que se fala em breve a Rádio... É preciso que o SLB saiba sempre usar esses media de acordo com o seu Ideal.
Eles são e serão peças importantes no Benfiquismo. E esse propósito pensando em como desde sempre o SLB foi guerreado através de desinformações dos (outros) media, destaco uma passagem de um dos recortes com que nos brinda hoje: "Mesmo batido pelas vagas mais alterosas, o Bemfica nunca sossobra".
Obrigado por este texto extraodrinário e também pelos bónus que estão ali tão bem inseridos no texto.