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05 abril 2017

Um Adeus Glorioso a Levy e Móra

05 abril 2017 2 Comentários
HÁ 110 ANOS DEPOIS DE UMA ÉPOCA (1906/07) DE CONSAGRAÇÃO, O JOVEM CLUBE COM TRÊS ANOS - 1904 A 1907 - ERA JÁ UMA REALIDADE CONSISTENTE.


Como facto mais significativo a espectacular vitória quebrando a invencibilidade de nove anos - desde 1898 - dos ingleses, esse inolvidável 10 de Fevereiro de 1907 (já descrito neste blogue - (clicar)(clicar) e o segundo lugar atrás do Bicampeão Regional, precisamente os ingleses do Carcavellos Sports Club



No final da temporada, o último jogo foi em 25 de Março de 1907, um marco - mais um - do Benfiquismo a deixar marca na Gloriosa História e na História do Futebol em Portugal, em 5 de Abril. Há precisamente 110 anos. Depois o "Gloriosíssimo" iria entrar em convulsão por não ter condições para potenciar as excelentes equipas que formava, como Cosme Damião reconheceu na entrevista que concedeu a Mário de Oliveira, em "A Bola", que se encontra no friso deste blogue. Seria um "Verão Quente" agitado com futebolistas (oito) e associados (nove) a desertarem do Clube para procurarem melhores condições no Sporting CP. Como o Sport Lisboa parecia condenado a uma morte prematura, outros futebolistas, mesmo não saindo para o SCP trataram de arranjar clube, como David José Fonseca que foi jogar para o Foot-Ball Cruz Negra. 

O "ovo de colombo" vermelho-e-branco
Antes de toda esta convulsão, em Maio, a efeméride que se assinala hoje (5 de Abril), depois debelada com uma ideia simples - que às vezes são as mais difíceis de conseguir - Marcolino Bragança não se deu por convencido (clicar) e o Clube sobreviveu cada vez mais pujante até ser naquilo que se tornou no tempo de Borges Coutinho, sem dúvida, a época com mais classe que o Clube alguma vez teve (clicar). Aquela personalidade até presidente da República podia ser...se Portugal fosse uma Democracia! Um Senhor em comportamento cívico, com vida social e criminal imaculada. O Orgulho num Benfica centenário.



Para o final o que devia ser  o início
Pouco mais de dez dias depois do último encontro em 1906/07, sabendo-se que estavam de partida de Portugal dois dos principais obreiros dessa excelente temporada conseguida com mestria, o Clube organizou um jantar de despedida para o guarda-redes Manuel Móra (que rumava à Argentina) mas seria figura de destaque no Brasil (clicar) e de Fortunato Levy que faria vida em Cabo Verde e sobre o qual já se escreveu neste blogue (clicar). 

A prova que uma imagem vale mais que mil palavras
Eis o Sporting em 1906/07 antes de receber reforços "Gloriosos"
O SCP em 1906. Para evitar legendar todos os 21 nomes segue-se uma grelha com os principais destaques.
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3



1.      António Stromp; 2. Francisco Stromp; 3. José Stromp; 4.José Gavazzo; 5. José Alvalade; 6. Francisco Gavazzo. Qualquer semelhança com uma equipa de futebol “a sério” é pura coincidência.

Nem a debandada de uma dezena e a despedida de Móra e Levy nos derrotaram
E extinguiram. A maior parte foi para o Sporting CP (que de uma "cambada carinhosa de coxos" que nem se atreveram a participar no campeonato de 1906/07 receberam, no Verão, oito dos onze que vergaram, em 10 de Fevereiro, os ingleses), David José Fonseca para o Foot-Ball Cruz Negra e outros tiveram tentações bem reais. Marcolino Bragança, Cosme Damião, Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Carlos França, por exemplo, resistiram. Carlos França foi o único futebolista da primeira categoria a continuar. Henrique Costa e David José da Fonseca regressariam na temporada seguinte. António Rosa Rodrigues (Neco dos Catataus) regressou em 1909/10 e voltou ao Sporting CP! Vamos às contas:


4. Marcial Costa foi para Moçambique onde fundou o CD Ferroviário de Lourenço Marques; 5. Carlos França que já jogava, em 1903, com os Catataus (Zé, Candinho e Neco) não foi com eles para o SCP mantendo-se no "Glorioso";  6. Fortunato Levy (capitão com 18 anos) foi para Cabo Verde; 7. Manuel Móra foi para a Argentina (foi o que constou no Clube) e depois rumou ao Brasil (aparecem registos dele no país da Ordem e Progresso);  12. Manuel Gourlade (o "treinador") que era uma espécie de 12.º jogador (não fosse algum ter um  torci-colo de última hora) manteve-se solidário no Clube. De um momento para outro desaparecia uma grande equipa/um plantel de excelência.


O Ovo de Colombo do Benfiquismo
Entrevista de Mário de Oliveira com Cosme Damião; jornal "A Bola"; 5 de Março de 1945; página 5

O que não nos mata torna-nos mais fortes
Podia ter nascido no "Gloriosíssimo" esta frase-feita. Marcolino Bragança deu a Ideia da Resistência e depois o Ideal teria Cosme Damião como estratego. Havia que inscrever os futebolistas da segunda categoria no campeonato da primeira! E assim foi.


A 2.ª categoria em 1906/07. Uma equipa fortíssima. Foi fundamental para responder à deserção de uma dezena e abandono forçado de três "Gloriosos" em Maio (Verão) de 1907. Foi inscrita como 1.ª categoria em 1907/08. De cima para baixo. Da esquerda para a direita. Alinhados com a táctica do jogo. Em cima, os dois defesas e o guarda-redes: Henrique Teixeira, João Persónio e José Netto; Ao centro, os cinco avançados: Félix Bermudes (cap.), Eduardo Corga, Leopoldo Mocho, António Meireles e Carlos França; Na frente, os três meio-defesas ou médios: Luís Vieira, Cosme Damião e Marcolino Bragança. Fotografia digitalizada da página 51, do volume I, da História do SL Benfica 1904-1954, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; edição de autor; 1954
A 1.ª categoria em 1907/08. Jogo em frente ao Internacional/CIF, em 24 de Novembro de 1907, no Campo da Feiteira. Ver NOTA FINAL. De cima para baixo. Da esquerda para a direita. Alinhados com a táctica do jogo. De pé, os cinco avançados: Félix Bermudes (cap.), António Costa, António Alves, Eduardo Corga e António Meireles; Ao centro, os três meio-defesas ou médios: Luís Vieira, Cosme Damião e Marcolino Bragança; Em baixo, os dois defesas e o guarda-redes, no meio deles: Leopoldo Mocho, João Persónio e Alfredo Machado; Fotografia digitalizada da página 55, do volume I, da História do SL Benfica 1904-1954, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; edição de autor; 1954
Agora imaginem, no dia da inscrição no campeonato da 1.ª categoria para 1907/08 os delegados dos outros clubes - o do Sporting CP então devia estar em delírio por ter acabado connosco - a pensar que se tinham livrado da "praga" que eram os "flanelas vermelhas" terríveis pois nunca se davam por vencidos, pensando que estavam "mortos e enterrados" e eis que (deixemos Mário de Oliveira e Rebelo da Silva contar, na página 61 da Monumental História do Clube (1904-1954) que o fazem muito melhor que eu):



Com apenas três anos de existência, mas já um clube com capacidade de reconhecer os que o honravam 

Alberto Miguéns

NOTA: Apesar de apenas um ano depois haver formalmente a junção, os dois clubes - Sport Lisboa e Grupo Sport Benfica - tinham já laços de amizade. Eis um exemplo nestas actas do Grupo Sport Benfica

(clicar em cima da imagem para visualizar com melhor qualidade)


Digam lá que a Gloriosa História não é "linda de morrer"! Nem uma namorada angelical se compara!
2 comentários
  1. Essa almoçarada em Cabo Ruivo deve ter sido emotiva. Eram homens inteligentes e sabiam que essas partidas marcavam o fim de uma era. Talvez até os convites de José de Alvalade já tivessem sido feitos...

    Foi uma pena que essa maravilhosa primeira equipa apenas durasse pouco mais de 2 anos. Mas essas perdas foram também foi uma demonstração logo de início que o nosso Clube sempre se soube renovar e encontrar nas dificuldades o combustível para ir mais longe, competir melhor e conquistar mais!

    Talvez não seja possível saber detalhes de como se equilibrou no SL a acção de três figuras excepcionais, como foram Manuel Gourlade, Félix Bermudes e Cosme Damião. Coexistiram nesse período dramático após as deserções. Eram três cabeças pensantes, três verdadeiros líderes. Um que estava prestes a ver o seu tempo terminar (Manuel Gourlade), outro que pela inteligência e dinamismo aparecia nas dificuldades para com lucidez apontar caminhos de futuro e actuar para que isso acontecesse (Félix Bermudes) e outro que estava prestes a iniciar a obra mais espantosa que algum Benfiquista fez no nosso Clube, inovando, liderando, dando exemplo, competindo, treinando, inspirando (Cosme Damião). Período em que quase tudo se definiu no nosso Clube. Três homens de excepção que tiveram muitos mais a ajuda-los. Um clube que depois se tornou num colosso pelos seus Ideias, capacidade de renovação e com enorme e precoce adesão popular. Feliz o Clube que teve tão ilustres princípios.

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  2. Marcolino Bragança, também merece que o seu nome seja escrito com caneta de ouro!!!

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