PASSAM HOJE 111 ANOS EM QUE COSME DAMIÃO “APARECE” PELA PRIMEIRA VEZ PUBLICAMENTE. ESCRUPULOSAMENTE ÀS 16 HORAS, NA CRUZ QUEBRADA.
Foi em 17 de Março de 1906 em que sendo futebolista na
segunda categoria (reserva da primeira categoria) foi escolhido, tudo indica
por Manuel Gourlade, para substituir, o faltoso, defesa à direita: José da Cruz Viegas. É que Cosme Damião era médio-centro na segunda categoria daí que fazer
parte do “Glorioso Onze” foi uma espécie de duas novidades numa.
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Cosme Damião: 28 de Fevereiro de 1904 (até antes) até 17 de Março de 1906
Após deixar a Real Casa Pia de Lisboa, Cosme Damião foi viver
– tudo leva a crer – para junto da mãe que devia continuar a passar
dificuldades económicas lá para o Lumiar, na travessa do Alqueidão. Vivendo tão
longe de Belém – onde estava centrada a actividade do que seria o Clube – não consta
da lista dos futebolistas que treinaram durante 1904, tal como quem vivia longe
de Belém e só tinha o domingo como dia de descanso. Além de não ter de “mostrar”
a Manuel Gourlade como jogava. Mas acompanhou o desenvolvimento embrionário do
Clube entre final de 1903 e 28 de Fevereiro de 1904 como mostrou na entrevista
a Mário de Oliveira (publicada na integra no friso inicial desde blogue: clicar) e como
refere outro dos 24 fundadores, balconista na Farmácia Franco, que esteve no
treino ao final da manhã desse histórico dia 28 de Fevereiro de 1904, escolhido
como secretário da Comissão Administrativa: Daniel dos Santos Brito.
Apesar de não colocar o seu nome na listagem do documento que se ajusta
a uma Acta de Fundação
A letra é dele como pode ser comparada com outros documentos
de épocas próximas de 1904, como já se mostrou neste blogue (clicar) em 29 de
Janeiro de 2016.
Os fundadores e primeiros aderentes ao Clube
Foram divididos em duas categorias durante 1904/05 e 1905/06
(até se conseguiu em 1905/06 criar mesmo um terceiro grupo) com Cosme Damião a
fazer parte do segundo grupo que era geralmente composto por:
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O Futebol em Portugal até 1905/06
Durante décadas o futebol em Portugal vivia ao ritmo
esporádico do lançamento de desafios tendo o vencido direito a desforra para “validar”
o resultado. Tanto podiam realizar-se três jogos num fim-de-semana como estar
dois meses sem se jogar publicamente. O grande objectivo era conseguir “fama” de
excelente equipa para poder ser recebido em Carcavelos, no campo da Quinta Nova,
onde os ingleses do Cabo Submarino, tendo o sábado à tarde livre de trabalho
(ao contrário dos portugueses) treinavam futebol (e outros desportos) nas suas
instalações.
O Torneio em 1906
Em vez de fazer um texto que seria sempre o resultado da leitura
de quatro textos/jornais prefiro homenagear um historiador contemporâneo do
início do Futebol em Portugal que também foi presidente do Conselho Directivo
do Sporting CP: Júlio de Araújo. Podia fazer umas digitalizações e despachar a
homenagem. Faço questão de copiar letra-a-letra o que ele escreveu. Eis entre
aspas (posso é subdividir em capítulos cujos títulos são da minha
responsabilidade) e sempre que eu decidir “meter o bedelho” será a vermelho, mas eis o texto e opiniões de Júlio Araújo.
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«Fevereiro
de 1906 encontrou em Lisboa, devidamente organizados, cinco agrupamentos de
futebol: O Carcavelos Sports Club, o Lisbon Cricket Club, o Club Internacional
de Football, o Sport Lisboa e o Grupo de Football Cruz Negra.
Jogando entre si repetidas vezes, sem qualquer orientação de
apuramento acerca do melhor, nasceu de natural raciocínio a ideia de organizar
uma prova que apurasse um vencedor.
Tal ideia partiu da casa vendedora de artigos de desporto, a
Casa da Viúva José Alexandre Sena, casa essa que por compreensível interesse em
criar compradores para os seus artigos, procurava despertar entre todos o gosto
pelos exercícios desportivos.
Manda a verdade que se reconheça que a essa legítima
aspiração correspondia também um são desejo de realizações e sem dúvida que o
grande incremento do desporto nesse tempo – base do que hoje existe – resultava
da acção dessa firma, verdadeiro foco irradiador do desporto e que foi sem
dúvida uma segura orientadora.
Publicava-se então, por iniciativa da mesma firma, uma
revista desportiva, “Tiro e Sport”, bem feita, em belíssimo papel couché
e superiormente orientada. A tal revista ofereceu a Casa Sena um bronze afim de
que constituísse o prémio para o vencedor de um torneio de futebol a realizar
entre todos os clubes do País.
“Tiro e Sport”, aceitando a oferta, encarregou Carlos Vilar
de organizar tal prova e pela Imprensa foi dirigido convite a todos os clubes
do País para que se inscrevessem (clicar)(clicar).
No entanto somente se inscreveram os quatro clubes de Lisboa,
faltando, por motivos ignorados, o Carcavellos SC (clicar).
Em reunião dos delegados dos clubes foi resolvido que a prova
se considerasse Campeonato de Lisboa referente à época de 1905/1906, resolução
esta absolutamente legítima e digna de ser respeitada, visto que assim resolvia
quem de direito podia resolver. Embora tenhamos que admitir que os organismos
depois criados tenham tido o direito de realizar o seu campeonato número UM, a
nenhum cabe o direito de considerar o seu campeonato como o PRIMEIRO visto que
o lugar já estava tomado.
Entretanto, e como não nos demos a este trabalho para
embirrar com o próximo, e como o vulgo aceitou que quando se fala do 10.º
campeonato (Júlio de Araújo estaria a escrever este texto em 1919/20 quando a AFL - fundada em 23 de Setembro de 1910 - organizava o "seu" 10.º campeonato) esse seja o da Associação de Football de Lisboa, respeitemos o
vulgo, mas insistimos em que este foi o primeiro.
Porque se trata da primeira crítica do primeiro jogo do
primeiro campeonato cabe bem a transcrição total da notícia Do original da revista: (clicar)(clicar), referente ao jogo
Lisbon Cricket-Sport Lisboa, realizado em 17 de Março:
Aquele muro de pedra não engana ninguém. Nos anos 80 e 90 com a Lusalite a fabricar chapas onduladas não se conseguia tirar uma fotografia sabendo que por baixo dessas chapas ele continuava por lá. Agora que tudo faliu ou foi abandonado eis uma dádiva do processo de desindustrialização português. Libertaram-nos (e deixaram crescer a erva) o sítio que Cosme Damião pisou pela primeira vez como futebolista da primeira categoria do "Glorioso", o local onde honrou na estreia a "flanela vermelha" da primeira categoria. Há 111 anos a completarem-se hoje, 17 de Março de 2017, precisamente às quatro da tarde! Ele que também nasceu às quatro da tarde, em 2 de Novembro de 1885! 16 horas! Hora de futebolista. Logo eu tive que nascer pela meia-noite e picos...
SEGUNDO JOGO
Em 24 de Março jogaram o Football Cruz Negra e o Club
Internacional de Football. O cronista estava convencido de que tal grupo virá a
ser um forte competidor se souber conservar os jogadores com que se apresentou
e se arranjar um capitão bastante conhecedor do jogo, que faça combinar bem os
esforços de todos eles.
JOGO DECISIVO
A final (clicar) (clicar) (clicar) realizou-se em 31 de Março e, caso interessante,
alguns sócios DE VÁRIOS CLUBES faziam a polícia do campo de jogos, o que tudo
deu o melhor resultado, não tendo havido o mais pequeno transtorno provocado
pelos espectadores que, de resto, eram em número elevado.
Na primeira parte o Lisbon Cricket marcou duas bolas a zero e
a primeira foi em resultado de um longo kick em balão, dado pelo centro forward
Rankin, vindo atravessado e batendo na trave do goal (baliza), aqui tomou efeito e entrou. A propósito deste goal
ouvimos a um antigo goal-keeper que presenciava o jogo, que aquela bola devia ser
defendida antes de tocar na travessa e quer-nos parecer que só assim ele se
poderia evitar.
Na segunda parte cada um dos adversários marcou um ponto, e
assim terminou o primeiro campeonato de Futebol de Lisboa. »
O troféu
Já não existindo o Lisbon Cricket Club que o conquistou que será feito dele?
As "borlas" e o Futebol
Antigas como o Mundo. Eis o "livre trânsito" de um Glorioso Futebolista: David José da Fonseca.
Cosme Damião tantos anos depois (por ordem cronológica)
Tem uma Praça, galardões atribuídos anualmente (ou quase), nome no Museu do Benfica, uma “estátua” e uma Rotunda. E o que mais virá por aí…
O culto da personalidade que ele sempre detestou enquanto viveu
Alberto Miguéns
NOTA1: Um historiador que em 1938 fez uma obra única (mesmo no sentido literal pois só há um exemplar) na posse da Associação de Futebol de Lisboa;
NOTA2: O enigma. Porque não participaria o favorito Carcavellos Club neste torneio? O clube mais poderoso, invencível desde 22 de Janeiro de 1898. Sabe-se que não gostavam de jogar fora da sua Quinta Nova. Raramente o faziam, pois o piso do campo de jogos em Carcavelos era óptimo - relvado e completamente plano - visto ser também utilizado para jogar críquete e ténis de campo. Mas chegaram a fazer jogos em Lisboa e na Cruz Quebrada! O que se teria passado. Teriam futebolistas influentes impossibilitados e temeram sair derrotados? Pode ser que um dia se saiba o porquê dos "super-favoritos" não passarem de prováveis espectadores do torneio!
NOTA3: O que resta da famosa Casa Senna. Ainda lá comprei umas chuteiras e um bola de cautchú. Pelo menos. Aí pelos anos 80. Vai-se a História do Futebol, fica a Gloriosa História a dar significado ao que foi importante e deixou de o ser!
NOTA1: Um historiador que em 1938 fez uma obra única (mesmo no sentido literal pois só há um exemplar) na posse da Associação de Futebol de Lisboa;
NOTA2: O enigma. Porque não participaria o favorito Carcavellos Club neste torneio? O clube mais poderoso, invencível desde 22 de Janeiro de 1898. Sabe-se que não gostavam de jogar fora da sua Quinta Nova. Raramente o faziam, pois o piso do campo de jogos em Carcavelos era óptimo - relvado e completamente plano - visto ser também utilizado para jogar críquete e ténis de campo. Mas chegaram a fazer jogos em Lisboa e na Cruz Quebrada! O que se teria passado. Teriam futebolistas influentes impossibilitados e temeram sair derrotados? Pode ser que um dia se saiba o porquê dos "super-favoritos" não passarem de prováveis espectadores do torneio!
NOTA3: O que resta da famosa Casa Senna. Ainda lá comprei umas chuteiras e um bola de cautchú. Pelo menos. Aí pelos anos 80. Vai-se a História do Futebol, fica a Gloriosa História a dar significado ao que foi importante e deixou de o ser!
Como está esse campo histórico...
ResponderEliminarFaz sentido a sua teoria sobre o critério de Gourlade em adaptar Cosme Damião a defesa à direita. Comse era um homem alto e nos seus 20-21 anos devia estar em grande condição atlética.
Bela e detalhada descrição do famoso campeonato Viúva Senna de 1906.
Também eu quando era jovem me lembro de ir à Casa Senna. Posso estar a fazer confusão mas tenho ideia que no final da década de 80 havia duas lojas uma na Rua Nova do Almada e a outra ou na Rua da Madalena ou na Rua dos Douradores. Talvez em relação a esta última esteja a fazer confusão.
A obra de Júlio Araújo é uma obra que tem muito interesse. É pena que não esteja acessível ao público. Seja em versão digital grátis ou caso seja preferível que seja editada em livro para que os interessados a possam adquirir. Assim como está é lamentável.
Caro Victor Carocha,
EliminarTambém eu era frequentador dessas casas da baixa!...
Um pouco acima da Casa Senna, do outro lado da rua, havia outra loja que, se não me engano, se chamava Sepordagio (ou sportdagio?). Havia ainda a outra que refere, na Rua da Vitoria ou de São Nicolau (lembro-me apenas que era numa perpendicular à do Ouro/Augusta/Prata). Creio que era tb uma Sepordagio... Ainda na baixa, na Rua da Prata, havia a Casa dos Pneus!
Do outro lado da rua Nova do Almada, mais acima, em frente ao tribunal da Boa Hora, havia a Socidel
EliminarSaudações Gloriosas
Alberto Miguéns