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10 junho 2016

Clube do Anti-Regime (seja ele qual for)

10 junho 2016 3 Comentários

ERA UMA VEZ UMA SELECÇÃO QUE EVITAVA O BENFICA (APESAR DE ESTAR ATESTADA DE GLORIOSOS FUTEBOLISTAS).



A selecção nacional é do mais caricato que existe no Futebol Português. Pelo menos nos primeiros anos. Agora menos, mas de início abusava! Se há Clube do Regime é a selecção nacional. Se há Clube Anti-Regime é o Benfica. Basta comparar onde o tal Clube do Regime jogou durante os primeiros 50 anos (1921 – 1970).

A SN 1

Apesar de tudo. Primeira vitória ao quinto jogo
Conheci vários Benfiquistas – de dirigentes a antigos futebolistas – nos anos 10 que insultavam a selecção nacional. Por respeito à memória deles não os vou nomear publicamente, mas a nível particular digo sempre quem são. Eles diziam-me que sempre falaram assim da selecção. Até com dirigentes da mesma! Além disso um Benfiquista está sempre à vontade em matéria de selecção nacional. O marcador do primeiro golo foi Alberto Augusto do...Benfica (na fotografia o primeiro a contar da direita). O primeiro capitão foi Cândido de Oliveira (do Benfica até ao Verão de 1920) e o segundo Vítor Gonçalves do...Benfica toda a vida (na fotografia, respectivamente, o sexto e o quarto a contar da direita). A primeira vitória da selecção foi conseguida com um treinador impoluto em equidade, mas com uma Vida Benfiquista a cem por cento. E gigante: António Ribeiro dos Reis. Em 1925. Que foi o avançado-centro da primeira selecção em 1921 (na fotografia o quinto a contar da esquerda).

Os Benfiquistas homenagearam o seleccionador nacional (que ainda jogava na 2.ª categoria do Clube! a pedido de Cosme Damião para "ensinar Benfiquismo aos novatos") após a vitória, por 1-0, sobre a selecção italiana, em 18 de Junho de 1925, no estádio do Lumiar com dois Gloriosos:  Francisco Vieira "Chiquinho"(guarda-redes) e Mário de Carvalho "Caixinha" (avançado meia-direita ou interior-direito) Digitalização da página 509 da História do SL Benfica (1904-1954); volume I; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; edição dos autores; Lisboa; 1954 - 1956

Os nossos antigos tinham-lhe aversão
Dos outros Benfiquistas faço deles as minhas palavras. SN? É uma vendida! Embora use este eufemismo pois o blogue é para todas as idades! Talvez os mais novos não saibam. O termo exacto usado por eles: É uma meretriz! Segundo eles a FPF  - em 31 de Março de 1914 - foi fundada para organizar uma selecção que fosse nacional (reconhecida pela FIFA). Pois quando é que entrou em campo a primeira selecção? Em 18 de Dezembro de 1921. Quase oito anos depois! Como é possível?! Segundo “eles” a FPF não quis organizar a selecção nacional enquanto o SLB dominou o futebol nacional (pelo menos em Lisboa oficialmente no Regional) e por todo o país pois goleava o FC Porto com frequência, mesmo na cidade do Porto! Entre 1914 e 1920 o “Glorioso” conquistou cinco dos sete campeonatos regionais. SN? Nem vê-la. Os Gloriosos Futebolistas dos anos 10 nem queriam ouvir falar dessa…gerinçonça para utilizar português suave e um termo actual!

    A SN 36

Fartava-me de rir
Eu desde os anos 80 que vou actualizando um quadro com os internacionais do "Glorioso" – jogos, golos e capitães, por jogo – especificando os minutos jogados, a posição, o número total de Gloriosos utilizados em cada jogo, os locais, etecetra-e-tal. Nos anos noventa fartava-me de rir com o quadro de jogos por estádio (o que está em baixo) pois o FC Porto aproveitou ser o Clube do Regime da Democracia-a-caminho-de-estado-avançado-de-corrupção para mostrar o seu poderio. “Papou” onze jogos em dez anos. É obra! Querem melhor exemplo do que é um Clube do Regime? Da podridão! Manda quem pode, obedece quem deve! Durante alguns anos (desde o Euro’2004) abandonei este quadro. Na quarta-feira para me entreter enquanto ouvia a selecção – nem olhei com medo de ver algum marmanjo sabe-se lá de que clube na “minha cadeira” que tenho de “desinfectar” para 2016/17 – fui actualizar o quadro, mas só terminei ontem. Daí o tal adiamento que serviu para fazer as duas NOTAS no texto de quinta-feira!

JOGOS DA SELECÇÃO NACIONAL EM PORTUGAL
Estádios por
Clubes
21-30
31-40
41-
50
51-
60
61-
70
71-
80
81-
90
91-
00
01-
10
11-
20
TOTAIS
12
11
15
20
24
23
37
38
61
29
Neutro /Jamor


13
15
14
1
4
1
1
1
Neutro/Lumiar
7
6








Neutro/Ameal
5









Neutro/Lima

2








CF “Os Belenenses”

3
2

1
1
2
1
2

Sporting CP



2
2
4
5
2
9
2
FC Porto



3
6
3
5
11
7
3
Lourenço Marques




1





SL BENFICA





10
9
9
9
7
Bonfim/Setúbal





2
1
2
1

Barreiros/Funchal





1
1

1

Faro (S. Luís)





1

2
1

Guimarães






1
1
3
1
Coimbra






2
1
4
1
Leiria






1
1
3
5
Portimão






1



Braga






2
2
4
2
Portalegre






1



Bessa/Porto






1
1
2

Maia






1



Torres Novas







1


Ponta Delgada







1
1

Chaves







1
1

Viseu (Fontelo)







1
1

Aveiro








3
2
Algarve








3
4
Águeda








1

Barcelos








1

Évora (Lusitano GC)








1

Covilhã








2

Estoril









1

Sem demagogia
Claro que se podia aproveitar o facto da selecção, entre 1925 e 1952, nunca ter jogado nas Amoreiras e no Campo Grande, enquanto por lá andou o Benfica, mas isso era estar a fazer demagogia, embora nestas questões que envolvem futebol eu vejo-a aos quilos, até toneladas, nos media. Percebe-se que a selecção jogasse, em Lisboa, no Lumiar (alugado à época até 1937) e na cidade do Porto, no Ameal (do SC Progresso). Eram os estádios com mais e melhores condições, por serem desafogados e terem capacidade para acomodar muitos espectadores e oferecer boas condições - as melhores nesses tempos - à imprensa e entidades oficiais. Depois com o arrelvamento de dois estádios passou para as Salésias (CF “Os Belenenses”) e para o Lima (Académico FC Porto).

A SN 88
Selecção na Luz? Nem “mortos”!
O que pode custar a perceber é o que se passou depois de 1 de Dezembro de 1954 até 21 de Abril de 1971 em que a selecção nacional nunca jogou no maior e melhor estádio português (mítico a nível europeu, o segundo com mais jogos na Taça dos Clubes Campeões Europeus nesse período) mas jogou nesse mesmo intervalo de tempo, oito jogos nas Antas (FC Porto), quatro jogos no José Alvalade (Sporting CP), um no Restelo (CF “Os Belenenses”) e um no estádio Salazar, em Lourenço Marques (Moçambique). Carregadinha de “Gloriosos Futebolistas”: 1962 - oito no José Alvalade (frente à congénere belga) e outros oito no Restelo (Bulgária); 1964 e 1965 – sete nas Antas (Espanha e Checoslováquia, respectivamente). Entre muitos outros com cinco ou seis futebolistas seleccionados enquanto jogadores do Benfica.

A SN 140

“Catedral”: De proscrita a talismã
Depois de se estrear passou a ser o estádio escolhido para os jogos decisivos quando a selecção estava “entre a espada e a parede” ou "encostada às cordas" por passar a ser considerado um estádio “que dava sorte”. Por campanha (Europeus e Mundiais com apuramentos muito mais restritos que na actualidade: apenas o primeiro do grupo e menos grupos) passou a ser o estádio mais utilizado. O Regime também já não durou muito. No início dos anos 70 (1971 – 1974) as entidades oficiais do Estado Novo (já estava Velho) que não perdiam um jogo da selecção nacional só por cinco vezes tiveram de se cruzar com dirigentes do Benfica que tinham pouca simpatia por eles, até antipatia.

A SN 323

Os poderezinhos do FCP (anos 90)
Nestas recolhas que tenho feito jogo-a-jogo depois dos anos 80 (antes foi por pesquisa total) tornou-se delicioso perceber, precisamente a cada jogo, como o FC Porto nos anos 90 tomou conta de tudo e todos, até da selecção que passou a ter no estádio das Antas o seu poiso predilecto. Finalmente «juntava-se a fome com a vontade de comer»!

A SN 471

Sporting CP “em bicos de pés”
Com o projecto Roquette que os sportinguistas dizem que os prejudicou, mas a opinião inicial não era essa pois generalizou-se a ideia que passariam a ser o Segundo Clube (atrás do FC Porto) houve mudanças. Apenas o ex-presidente João Rocha se insurgiu e até expulso foi de um conselho leonino. No início do século XXI até conseguiram superiorizar-se, ao FC Porto, em recepções à selecção nacional.


Toma lá, dá cá
Depois a selecção nacional, mais clube da FPF que outra coisa, passou a ser um vasto comboio de interesses, negócios e publicidade que vai rodando por aqui e ali como aliás deve ser. Até tinha sentido fazê-lo mais vezes. Ir a Freixo-de-Espada-à-Cinta ou ao Pulo do Lobo!


Boa Viagem!

Alberto Miguéns


NOTA1: Os media excitam-se. Os portugueses transformam-se em eternos vencedores. Imparáveis como se não houvesse alternativa. Conseguem por os portugueses "contra o Mundo", ou seja, a serem adeptos das selecções mais fracas para que eliminem as mais fortes para Portugal depois despachar as "pêras doces"! Eh! Pá! Até ter uma final tipo Portugal - Gibraltar ou com a Grécia (2004)! Tanto também não! Lá vão os Heróis do Mar a caminho de mais uma epopeia cheia de glória que acaba geralmente por regressar tudo com o "rabinho entre as pernas". Em 1928 foi o Egipto! Em 1986 foi Marrocos! Em 2016 qual será? Se houver normalidade, ff de utilizar:

Pode ser que seja desta vez. Até eu - no meio de tanta euforia e foguetório - acredito. Mas também tem sido sempre assim! Desde 1984!

NOTA2: Como não tenho intenção de escrever mais acerca do Euro 2016 – seja Portugal campeão ou não - pois este blogue é para escrever acerca do “Glorioso” (ou de assuntos que se relacionem com o Benfica) este 15.º campeonato da Europa (ex-Taça das Nações da Europa) é um híbrido. Uma fase de grupos para fazer um pré-torneio de "aquecimento" e depois começará o campeonato com 16 selecções a eliminarem-se até apurar o vencedor. As únicas com capacidade para acrescentarem valor a uma competição num continente que pouco mais terá que uma dúzia de selecções (entre elas a portuguesa) com nível para entreter pessoas em mês de trabalho. Mas serão 24 a competir! Um grande negócio é o que é! Legitimado pelos espectadores e telespectadores, entenda-se!

FASES FINAIS DOS CAMPEONATOS DA EUROPA
Ed
Ano
País sede da
Fase Final
N.º Sel
N.º J
FF
Campeão
FQ
FF
01
1960
França
17
4
4
URSS
02
1964
Espanha
29
4
4
Espanha
03
1968
Itália
31
4
5
Itália (finalíssima)
04
1972
Bélgica
32
4
4
Alemanha (RFA)
05
1976
Jugoslávia
32
4
4
Checoslováquia
06
1980
Itália
31
8
14
Alemanha (RFA)
07
1984
França
32
8
15
França
08
1988
Alemanha
32
8
15
Holanda
09
1992
Suécia
33
8
15
Dinamarca
10
1996
Inglaterra
47
16
31
Alemanha
11
2000
Bélgica/Holanda
49
16
31
França
12
2004
Portugal
50
16
31
Grécia
13
2008
Áustria/Suíça
50
16
31
Espanha
14
2012
Polónia/Ucrânia
51
16
31
Espanha
15
2016
França
53*
24
51**
?
NOTAS: FQ – Fase Qualificação; FF – Fase Final; ** Previsão;

* Na próxima edição (Euro’2020) deverá haver pelo menos 54 selecções pois o Kosovo foi admitido como membro da UEFA. Eu estou à procura de voluntários para libertamos as Berlengas do jugo milenar de Portugal e torná-las na 55.ª federação nacional filiada na UEFA
3 comentários
  1. acho que ainda só li 1/10 do post e já tenho que dizer. ó se tenho.
    É arrepiante saber pelo Alberto que tenho sobre a selecção o mesmo sentimento desses Benfiquistas dos anos 10 e 20. Eu comecei a vê-la no mundial de Lisboa em 1991, e depois no apuramento do Queiroz. Vítor Vasques, 'a porcaria', Joaquim Oliveira a dominar.
    Aqui entre nós não é preciso dizer mais nada sobre a natureza do animal.
    Dá me a impressão que a cada evento da selecção se respira pelo país o oxigénio 'sadio' e 'impoluto' da Assembleia Nacional daqueles tempos.

    Obrigado Alberto, por pôr os nomes às coisas. A partir de hoje até sei falar melhor.
    PP

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  2. Enorme sentido de oportunidade neste post. A mim clarificou-me o vocabulário para sempre que tiver que falar deste símbolo vivo da União Nacional.
    Obrigado e um grande abraço.
    PP

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  3. Interessante saber que na opinião dos sapoides/androides o "Benfica era o clube do regime" e a selecção de tal regime só jogou no nosso Sagrado Templo, nas vésperas do regime cair. Mas isso a mim pouco importa porque me estou nas tintas para a selecção. A minha selecção é o GLORIOSO!!!

    Na minha opinião, a Federação Portuguesa de Futebol não passa de uma cambada de chulos que vive à grande e à Francesa, do esforço dos clubes. A dita selecção que compre jogadores e os alimente. Faça nas novas instalações da Cruz Quebrada uma academia porque tem espaço para tanto, e viva desses proveitos.
    Anti-patriota eu? Deixem-me rir, antes que me esqueça. Para esse peditório do "patriotismo" já dei durante 41 meses, e não foi a brincar à bola!!!

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