NOVE JOGOS PARA ARREBATAR A PRIMEIRA. SETE
ENCONTROS PARA SER BICAMPEÃO EUROPEU.
Muitas mudanças existiram nos regulamentos na Taça dos Clubes
Campeões Europeus (TCCE). Durante uma década os segundos classificados do país
em que um clube fosse, na mesma temporada, Campeão Nacional e Campeão Europeu
podiam participar na época seguinte na TCCE. Houve três situações dessas!
Bem as mereceu. Duas gémeas com quase um ano de diferença, ambas de Maio, 31 e 2, para quem nunca teve filhos! |
As particularidades das primeiras Taças dos Clubes Campeões Europeus
O Benfica para conquistar a “Primeira” realizou nove jogos (quatro
na “Saudosa Luz”, quatro em terreno alheio (Edimburgo, Budapeste, Aarhus e
Viena) e a final em campo neutro (Berna/Suíça). O Campeão Europeu ficava isento
da primeira eliminatória (correspondente a uma espécie “encurtada de
16-avos-de-final - 13 jogos/26 clubes em vez de 16 jogos/32 clubes) daí fazer
sete jogos para conseguir revalidar o título, com a “Segunda”: três na “Saudosa
Catedral”, três “fora” (Viena, Nuremberga e Londres) e um em país neutro
(Holanda/Amesterdão). Além disso o regulamento da competição permitia que se
houvesse simultaneidade – Campeão Europeu e Campeão Nacional - o segundo
classificado deste campeonato nacional pudesse participar na TCCE. No início, tal como na actualidade (embora agora em maior número) como se percebe, havia clubes
que não eram campeões nacionais a participarem na competição reservada aos campeões de cada país! De outro modo. O
país que tivesse o Campeão Europeu tinha direito a dois clubes na edição
seguinte da competição. Era a essência de ser um título. O titular mesmo que
não fosse campeão nacional defenderia o título conseguido na temporada
anterior. O regulamento – que permitia a participação na TCCE do 2.º
classificado de um campeonato nacional que tivesse como campeão nacional, o Campeão Europeu foi alterado no início dos anos 60. A Espanha durante cinco
edições, entre a 2.ª e a 6.ª (esta última conquistada pelo “Glorioso”) teve sempre dois
representantes. Em 1965/66 já não vigorava. Nesta temporada o FC Inter Milão
foi o único representante de Itália, apesar de ser Campeão Europeu e nacional,
em 1964/65. Apenas três clubes beneficiaram durante, pelo menos uma década,
dessa prerrogativa: Sevilha FC e Clube Atlético Madrid, de Espanha; e Sporting
CP, de Portugal. Foram segundos classificados (vice-campeões como "título" para o nosso Sporting CP) mas participaram numa competição designada «Coupe des clubs champions européens». Em francês, pois a Taça dos Clubes Campeões Europeus foi uma ideia de um jornalista francês (Gabriel Hanot do jornal L'Équipe).
ÉPOCAS COM PAÍSES COM DOIS PARTICIPANTES ENTRE
1956/67 E 1964/65
Época
|
Campeão
Europeu
|
Segundo
classificado no CN*
|
||||
Clube
|
Cl**
|
País
|
Clube
|
País
|
Cl
|
|
1955/56
|
Real Madrid CF
|
3.º
|
ESP
|
-----
|
---
|
--
|
1956/57
|
Real Madrid CF
|
CN
|
ESP
|
Athletic C. Bilbau
|
ESP
|
CN
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
CE
|
||||
1957/58
|
Real Madrid CF
|
CN
|
ESP
|
Sevilha FC
|
ESP
|
2.º
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
CE
|
||||
1958/59
|
Real Madrid CF
|
2.º
|
ESP
|
C. Atlético Madrid
|
ESP
|
2.º
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
CE
|
||||
1959/60
|
Real Madrid CF
|
2.º
|
ESP
|
FC Barcelona
|
ESP
|
CN
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
CE
|
||||
1960/61
|
SL BENFICA
|
CN
|
POR
|
FC Barcelona
|
ESP
|
CN
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
CE
|
||||
1961/62
|
SL BENFICA
|
3.º
|
POR
|
Sporting CP
|
POR
|
2.º
|
SL BENFICA
|
POR
|
CE
|
||||
1962/63
|
AC Milan
|
3.º
|
ITÁ
|
Sporting CP
|
POR
|
CN
|
SL BENFICA
|
POR
|
CE
|
||||
1963/64
|
FC Inter Milão
|
2.º
|
ITÁ
|
FC Inter Milão
|
ITÁ
|
CN
|
AC Milan
|
ITÁ
|
CE
|
||||
1964/65
|
FC Inter Milão
|
CN
|
ITÁ
|
Bolonha FC 1909
|
ITÁ
|
CN
|
FC Inter Milão
|
ITÁ
|
CE
|
||||
1965/66
|
Real Madrid CF
|
2.º
|
ESP
|
AC Milan (2.º) NP
***
|
NOTA: * Temporada anterior; ** Classificação no campeonato
nacional da mesma época; *** O AC Milan foi 2.º classificado no campeonato
italiano, em 1964/65, com o FC Inter Milão a sagrar-se, em simultâneo, campeão
europeu e nacional. O AC Milan em 1965/66 não teve direito a participar na TCCE
competindo na Taça das Cidades Com Feiras reservada aos clubes melhor
classificados nos respectivos campeonatos sem vaga na TCCE e na Taça dos Clubes
Vencedores das Taças (Nacionais), extinta em 1998/1999
Heróis de Amesterdão. De cima para baixo. Da esquerda para a direita: Ângelo, Cruz, Mário João, Cavém, Germano e Costa Pereira; José Augusto, Eusébio, José Águas (capitão), Coluna e Simões |
Amesterdão (1962)
Na 7.ª edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em
1961/62, a Espanha voltou a ter apenas um representante. Facto inédito desde a
primeira edição (1955/56). Em cinco, entre 1956/57 e 1960/61, contara sempre
com dois. Em 1960/61 o Real Madrid CF foi “obrigado” a sagrar-se campeão
nacional para poder participar na edição de 1961/62 da TCCE. O finalista
vencido (pelo SLB) da TCCE, em 1960/61, FC Barcelona classificou-se em 4.º lugar no campeonato
de Espanha… a 20 pontos do Real Madrid CF. Até isto serviu na imprensa de
Espanha, em Madrid, para justificar que a edição da TCCE em 1961/62 retomaria a
“normalidade”.
O bilhete para ver um dos melhores jogos de sempre na principal competição da UEFA |
O Real Madrid CF foi categórico
A
ansiedade foi a nota dominante na Imprensa, particularmente a de Espanha e de
Madrid, durante a competição de 1961/62. «Nunca mais chega a final para saber
qual o clube que o Real Madrid CF vai derrotar»! Apesar de algum respeito pelo
Benfica, “temido mas acessível” desejado nas três eliminatórias a duas mãos
(“oitavos”, “quartos” e meias”). Com o “Glorioso” isento da primeira
eliminatória, coube ao Real Madrid CF começar a “vindima”. Vasas SC arrumado
com 5-1: 2-0 em Budapeste e 3-1 em Madrid. “Oitavos”: 12-0 ao BK 1913 com 3-0
em Odense (Dinamarca) e 9-0 em Madrid (recorde de diferença de golos marcados
num jogo pelo clube a apenas um golo dos 10-0, em 1956/67, do Manchester United
FC ao RSC Anderlecht). E que melhorava o 8-0 ao Sevilha FC, em 1957/58, que
eliminara o SLB na sua primeira participação. Nos quartos-de-final a caminhada
foi mais complicada frente à Juventus FC. Em Itália os clubes tentavam acabar
com a “malapata” na principal competição europeia. À vez, todos queriam ser “os
primeiros” a chegar ao título de Campeão Europeu.
OS CAMPEÕES DE ITÁLIA NA TAÇA DOS CLUBES
CAMPEÕES EUROPEUS
Época
|
Clube
|
Elm
|
Adversário
|
Resultados
|
|||
Nome
|
País
|
1.ª m
|
2.ª m
|
Ac.
|
|||
1955/56
|
AC Milan
|
1/2
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
(F)
D 2-4
|
(C)
V 2-1
|
4-5
|
1956/57
|
ACF Fiorentina
|
FIN
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
Madrid/Espanha
|
D 0-2
|
|
1957/58
|
AC Milan
|
FIN
|
Real Madrid CF
|
ESP
|
Bruxelas/Bélgica
|
D 2-3
|
|
1958/59
|
Juventus FC
|
1/16
|
SK Rapid Viena
|
ÁUS
|
(C)
V 3-1
|
(F)
D 0-7
|
3-8
|
1959/60
|
AC Milan
|
1/8
|
FC Barcelona
|
ESP
|
(C)
D 0-2
|
(F)
D 1-5
|
1-7
|
1960/61
|
Juventus FC
|
1/16
|
PCF CSKA Sófia
|
BUL
|
(C)
V 2-0
|
(F)
D 1-4
|
3-4
|
A Juventus foi um “osso duro de roer”
Incentivada
pela Imprensa transalpina, o clube de Turim obrigou o Real Madrid CF a sofrer.
Mesmo perdendo em Itália, por 1-0, conseguiu ir fazer o impensável. Vencer pelo
mesmo resultado o adversário em Madrid. Terceiro jogo, em Paris, no Parque dos
Príncipes com vitória categórica, do Real Madrid CF, por 3-1. Nas meias-finais outro “passeio”: 6-0
ao Real Standard Liège, com 4-0 em Madrid e 2-0 em Liège. Estava feito o que se
previra desde que como campeão de Espanha assegurara a participação na TCCE em
1961/62 com nove jogos, oito vitórias e uma derrota e 27-3 em golos (diferença de
24 golos!). O outro finalista, campeão europeu em título, mostrava valores mais
modestos, mas também impressionantes: seis jogos, com três vitórias, um empate
(1-1, em Viena) e duas derrotas (1-3, em Nuremberga e 1-2, em Londres), mais
17-8 em golos, diferença de nove! Sem conseguir vencer qualquer jogo dos três
realizados em terreno alheio, o Benfica foi o primeiro clube a apurar-se para a
final (5 de Abril de 1962, em Londres). Seguiu-se o Real Madrid CF (12 de Abril
de 1962, em Liège) embora os 4-0 da primeira mão fossem “passaporte com
garantia” de passagem!
O enigma. Porque foi o guarda-redes Costa Pereira que recebeu o troféu se o capitão José Águas andava por perto e, por sinal, bem aprumado e equipado para a poder receber? |
Na final (2 de Maio) já tudo se sabe
O
que se dizia (escrevia) era que a eliminação do Real Madrid CF em 1960/61
resultara de um acidente, um “dia mau”. O FC Barcelona tivera sorte, sabendo
usar a rivalidade para se empolgar (o actual termo, motivar). Até ficara em 4.º lugar
no campeonato espanhol. Em 1961/62 seria reposta a normalidade que consagrava
os clubes europeus como campeões do “Velho Continente”. Béla Guttmann deve ter
ido a Madrid observar o adversário. Era “só” comprar bilhete de comboio entre
Lisboa e Madrid! Ou ter algum contacto em Madrid de alguém que enviasse
informações. Até nisto foi um inovador. Manuel da Luz Afonso (já falecido) que sucedeu, nas eleições em 31 de Março de 1962, a Gastão Silva (ainda entre nós, num Lar de Idosos, em Caldas da Rainha - clicar para ver em 1 de Abril de 2014: O Último dos Grandes - mas muito debilitado na memória) disse-me que Guttmann tinha muitos contactos "em todo o lado". O campeonato espanhol terminou em 1 de
Abril de 1962. A minúcia como descreveu cada jogador adversário e o modo como
jogavam em conjunto era muito superior ao que era publicado nos jornais a que “qualquer
mortal tinha acesso”. Apesar de muitos também serem conhecidos dos embates entre
selecções, Béla Guttmann não adivinhava. Sabia! Do que falava, mas fazia segredo. Era muito reservado, considerando que os seus segredos valiam "boa maquia". Permitiam-lhe fazer bons contratos como treinador. Passava por mago e feiticeiro. E isso no Futebol era importante. Impressionava
os futebolistas, dirigentes e adeptos nas declarações aos jornais. Como que
adivinhava. Todas as indicações que deu antes do jogo decisivo (o Real Madrid
ia entrar a resolver o jogo) e ao intervalo (o adversário iria cair a pique e
seria incapaz, emocionalmente, de recuperar de um resultado desfavorável
enquanto se esgotariam os minutos e as forças) revelaram-se certas. Os futebolistas acreditavam que ele
adivinhava. E de certo modo adivinhava. Nem todos os jogos corriam segundo
aquilo que dizia! Mas a grande parte deles eram jogados "tal e qual" como ele dizia. O que era um facto consumado – Real Madrid CF conquistar
o sexto troféu – esfumou-se perante um Benfica empolgado, assertivo, sem temor,
dotado de um colectivo que fazia sobressair as individualidades em vez de serem
estas a puxar pela equipa. De 0-2 a 2-2. De 2-3 (ao intervalo com três golos de Puskas: 18', 23' e 39') a 5-3 (25': Águas; 33': Cavém; 50': Coluna; 64' e 69': Eusébio). Eis como um David
Benfica derrotou, sem mácula, o Golias de Madrid!
E
provará sempre que por muito que haja favoritos (como o Real Madrid CF ou o FC
Bayern Munique), embora num jogo seja mais fácil que a duas mãos, haverá sempre
um SL Benfica
disposto a mostrar que o Futebol é mesmo assim…
As
semelhanças (e diferenças) entre o SL Benfica e a Juventus FC ficam para
amanhã!
Acredita Benfica!
Alberto Miguéns
que maravilha
ResponderEliminarCaro Dr Alberto,
ResponderEliminarNão se iluda, é verdade que o futebol é fertil em supresas mas as mesmas. sã0 invulgares com Alemães, e em duas mãos!
Com antecedencia antes do sorteio, aqui no seu blog, e de forma dupla afirmei que o Benfica iria se cruzar com o N Munique, e se observar os registos do Bayern de Guardiola na Champions: Arsenal 5-0, D Zagreg 5-0, Olimpyaços 4-0, Juventus 4-2, "só" 18 golos marcados em 4 partidas nesta edição Champions no Alianz Atena!
Um prognostico assertivo, tal como no sorteio? O Benfica encaixa 4/5 golos, e faz um golo de honra, os Alemães nos primeiros 20 minutos, decidem a eliminatória. Na Luz os Alemães em modo poupança, e empatam na Luz, num jogo cinzento!
Juventus e Benfica, não são semelhantes, quer em termos colectivos e individuais, a Juventus veio ao Porto resgatar Alex Sandro, um lateral (com Evra no plantel), por apenas 26 M€, só deixo esse exemplo para ilustrar a qualidade e o poderio financeiro da Juventus!
(Buffon, Lichtsteiner, Evra, Chiellini, Khedira, Pogba, Cuadrado, Marchisio, Hernanes, Morata, Mandžukić, não acrescento mais valores individuais, mas há mais, e falamos de orçamsntos e planteis incomparaveis. O Benfica superou a Juventus em 2014, mas a partida da 2ª mão foi preparada meticulosamente, sobretudo o processo defensivo, foi Jesus e Oblak que empataram em Turim com a Juventus, um Benfica de Catenaccio, empatou no País do Catenaccio, com o dedo de um extraordinário Treinador de Fitebol...
Saudações des_Portistas
Caro Paulo Teixeira,
EliminarO FC Baviera Munique não me parece assim tão forte. Tenho esperança que o Benfica até faça primeiro um golo. Depois é que vão ser elas! Vai depender da capacidade de transpiração do SLB e da inspiração do Baviera.
Eu gosto mais de começar a jogar em casa. Até o 0-0 não é mau. E os prolongamentos na 2.ª mão correm a favor dos visitantes.
Vamos esperar. O Benfica mesmo sem dominar os jogos tem vitórias significativas em Madrid e Sampetersburgo. Sonho com uma derrota por 1-2. Como pior resultado.
Saudações A Propósito
Alberto Miguéns