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18 fevereiro 2015

Mundo pequeno Benfica Grande

18 fevereiro 2015 4 Comentários
FALAR DE VIEIRINHA, PASSAR POR MACARRÃO, EUSÉBIO E TERMINAR EM MANUEL VIEIRA.


Só muitos anos depois de saber o que fez (enquanto futebolista) Manuel Vieira no Benfica descobri que Vieirinha, o "mediático" treinador de adversários do Benfica, era o mesmo! Vieirinha = Manuel Vieira. Vamos por partes.

Notícias do falecimento
Manuel Alberto Vieira mais conhecido por Vieirinha faleceu na passada sexta-feira (13 de Fevereiro de 2015) sendo sepultado no dia seguinte no cemitério de São Martinho do Porto, localidade onde viveu os últimos anos de uma vida cheia de futebol. Até determinado momento tão mediática e depois tão ignorada. Não sendo um dos futebolistas mais conhecidos e reconhecidos do "Glorioso" não deixou de jogar no Clube e ter feito parte (e jogado bem) numa das melhores finais disputadas pelo Benfica, em 1952/53. Mas isso fica para daqui a bocadinho!

Vieirinha = Manuel Vieira
Antes da ordem do dia aproveito para descrever resumidamente como dois ficaram um. Durante muitos anos Manuel Vieira e Vieirinha para mim eram duas pessoas diferentes. Até "conheci" (melhor, tomei conhecimento) primeiro de Vieirinha. Nos anos 70. Era um desses treinadores portugueses que estava sempre a mudar de clube (nem sei se isto corresponde à verdade, mas era o que "sentia") e todas as épocas - se estivesse a treinar um clube do primeiro escalão - tentava "entalar" o Benfica! Causava-me pouca simpatia. Depois conheci (melhor, percebi) que nos anos 50 houve um Manuel Vieira a jogar no "Glorioso". Anos 80. Fui escrevendo o seu nome, relacionando-o com os jogos e apontando (e somando) os seus golos. Nunca imaginei que fosse o Vieirinha que nesses anos 80 continuava, de vez em quando, a ser adversário do "Glorioso" treinando clubes antagonistas. Até que um dia... em final dos anos 90, numa conversa a propósito desse assunto (Ehpá! O Vieirinha está sempre a tentar entalar-nos!) com o inatingível funcionário do Benfica Joaquim José Macarrão este me disse (E foi nosso jogador!) Espanto! Foi! O Benfica teve um jogador chamado Vieirinha? Teve! É o Manuel Vieira! Devo ter feito uma expressão esquisita! O excelso Macarrão foi buscar um dos cinco ou seis calhamaços do Futebol (cada um deve pesar 10 quilogramas) virou as folhas, chegou ao currículo de Manuel Alberto Vieira, pegou numa esferográfica e acrescentou Vieirinha. Já passaram duas décadas, Macarrão faleceu há uma, as instalações dele desapareceram com o fim da Saudosa Catedral, mas estou a vê-lo a acrescentar Vieirinha a Manuel Vieira como se fosse hoje. Acrescentar para a eternidade. E é! Para não haver dúvidas. E não há! Macarrão nunca deixava nada ser obra do acaso.


Antes do Benfica
Manuel Vieira nasceu em Lisboa a 1 de Outubro de 1924. Faleceu aos 90 anos. Em 1940/41 e 1941/42 jogou no GDS Cascais. Entre 1942/43 (reserva), 1944/45 (titularidade na Honra) e 1951/52 jogou no GD Estoril Praia. Um dos melhores tecnicistas do futebol português atingiu a internacionalização pela selecção B frente à Espanha, em 1949, na Corunha (D 2-5). Em 1951/52 reforçou o SC Covilhã numa digressão deste clube serrano ao Funchal, na Páscoa de 1952. No final de 1951/52 o Benfica contratou-o ao GD Estoril Praia.

No histórico campo funchalense dos Barreiros, na Páscoa, em 1951/52, na digressão do clube da Covilhã à Ilha da Madeira. Nos Barreiros - que talvez poucos saibam - foi construído pelo clube da capital da "Pérola do Atlântico", o CD Nacional. Em baixo, o segundo a contar da direita (interior-esquerdo) Agradecimento ao leitor deste blogue, "nacionalista" esclarecido e conhecedor Gary Quintal na definição do local exacto onde foi tirada esta fotografia

No Benfica
Foram três temporadas, como interior-esquerdo ou direito, numa fase do Glorioso Futebol que esta posição (dez ou oito, respectivamente, nas costas) estava a passar de avançado (2.3.5) para médio (WM ou 3.4.3).

Na época de estreia, em 1952/53 
Fez 37 jogos com destaque para 19 (em 26 jornadas) com dois golos no campeonato nacional e sete encontros (dois golos) na Taça de Portugal. Começou a jogar com o "Manto Sagrado" na sua histórica posição (camisola dez), a interior-esquerdo, sob a orientação do treinador Zozaya. Quando este foi dispensado, Manuel Vieira passou a jogar a interior-direito (número oito) sendo uma das alterações mais visíveis sob a nova orientação da "Comissão Técnica" (Ribeiro dos Reis e José Simões). Na Taça de Portugal, regressou a interior-esquerdo, fazendo a totalidade dos sete encontros do Benfica, incluindo a final, nessa espectacular vitória, por 5-0, sobre o FC Porto treinado por Cândido Oliveira. O "Glorioso" teve orientação de António Ribeiro dos Reis.


A equipa que venceu, por 5-0, o FC Porto, na final da Taça de Portugal, em 28 de Junho de 1953. Da esquerda para a direita. De cima para baixo. Bastos, Artur Santos, Moreira, Félix, Fernandes e Ângelo; Rosário, Arsénio (três golos: 2-0, 4-0 e 5-0, respectivamente, aos 38, 67 e 89 minutos), José Águas (um golo: 3-0, 40 minutos), Manuel Vieira e Rogério Carvalho (1 golo: 1-0, 35 minutos). Felizmente continuam entre nós cinco Gloriosos. Seis no "Quarto Anel". Foto gentilmente cedida por Roland Oliveira, há mais de 15 anos! Roland & Macarrão que falta fazem cá por baixo do "Quarto Anel"! 

Na segunda época (1953/54)
Perdeu a titularidade, fazendo 20 jogos (quatro golos), com catorze (três golos) no campeonato nacional. Após a 22.ª jornada (com 14 presenças e oito ausências) perdeu o lugar na equipa de Honra e passou a jogar na Reserva. Com a Taça de Portugal jogada integralmente após o final do campeonato nacional (modelo que vinha do início da competição nos anos 20 ainda com o nome de Campeonato de Portugal) não fez qualquer jogo.

Manuel Vieira do Benfica. Um ídolo de infância para Mário Rui Pais (que deu informações preciosas para completar, à posteriori, as informações da actividade futebolística de Vieirinha antes e após sair do "Glorioso"

Na derradeira época (1954/55)
Jogou essencialmente na categoria Reserva, com apenas cinco jogos na equipa de Honra, todos encontros particulares, não obtendo qualquer tento. Mas esteve em três jogos importantes na história do "Glorioso": A abrir a primeira temporada de Otto Glória (1954/55) inaugurou o estádio do Casa Pia AC (V 1-0 frente ao CF "Os Belenenses"); uma semana depois jogou na Festa de despedida de Rogério que também foi a estreia de Costa Pereira e Coluna (E 1-1 frente ao FC Porto) entrando ao intervalo para o lugar de... Coluna; e em 1 de Dezembro de 1954, entrou aos 54 minutos, para o lugar de Ângelo, na Festa de Inauguração da Saudosa Catedral (D 1-3 com o FC Porto). 

MANUEL VIEIRA NO "GLORIOSO" : EQUIPA DE HONRA
Informação da minha responsabilidade
ÉPOCA
Total
CN
TP
Torn
Part
J
G
J
G
J
G
J
G
J
G
TOTAL
62
8
33
5
7
2
7
-
15
1
1952/53
37
4
19
2
7
2
4
-
7
-
1953/54
20
4
14
3
-
-
2
-
4
1
1954/55
5
-
-
-
-
-
1
-
4
-
NOTA: Dois Torneios "Quatro Grandes" (1952.53); Torneio Relâmpago (1952.53); Torneio Quadrangular Luso-Argentino (1953.54)


MANUEL VIEIRA NO "GLORIOSO" : EQUIPA DE RESERVA
Informação curricular do SL Benfica
ÉPOCA
Total
CD AFL
Taça AFL
Part
J
G
J
G
J
G
J
G
TOTAL
24
4
16
3
7
1
1
-
1952/53
1
-
1
-
-
-
-
-
1953/54
7
3
7
3
-
-
-
-
1954/55
16
1
8
-
7
1
1
-
NOTA: CD - Campeonato distrital; Taça Frederico Ulrich

Depois do Benfica
Apesar do Benfica querer continuar a dispor do seu contributo decidiu rumar, em 1955/56, a Évora, para jogar no Lusitano GC.



Em 1956/57 continuou a jogar no Lusitano GC Évora. 

No campo Estrela, em Évora, no Lusitano GC, em 1956/57. Em baixo, o segundo a contar da direita (interior-esquerdo)

Mais para Sul
Em 1957/58 a época é de transição, acumulando como jogador-treinador a responsabilidade de orientar o SC Farense. Depois perco-lhe o "rasto". Talvez tenha estado no final da década de 50 no Tramagal SU. Andou por lá! Em que época? Entre 1958/59 e início dos anos 60.

Um treinador à portuguesa: andar no sobe-e-desce
No início dos anos 60 aparece na zona Oeste a treinar o GD Peniche e o GD "Os Nazarenos" onde faz um trabalho de organização da formação, que nesses clubes menos mediáticos era muito descuidada feita de acordo com a vontade de treinadores e não com os interesses de cada clube. Amigo de José Maria Pedroto foi adjunto, a pedido deste, no FC Porto, em 1966/67. Depois andou por muitos clubes. Entre o primeiro e o segundo escalão de Portugal, que só uma pesquisa aturada e dispendiosa poderá revelar com rigor. A mim restam-me o que encontrei pela internet. Eu e um leitor deste blogue.

Em pé, segundo do lado direito. Treinador do plantel principal do FC Barreirense em 1967/68
Em pé, primeiro do lado direito. Treinador do plantel júnior do FC Porto em 1968/69. Em 1969/70 por doença do treinador principal - Elek Schwartz - do FCP orientou o clube portista em sete jornadas do campeonato nacional Foto enviada por Victor João Carocha

Um encontro: Eusébio/Simões com Vieirinha
Em 1977/78, Vieirinha era treinador do União de Futebol Comércio e Indústria de Tomar (União de Tomar)quando jogaram pelo clube nabantino duas Glórias do Benfica (e de Portugal): Simões a capitão e Eusébio como estrela mais brilhante e improvável. Um Glorioso Futebolista dos anos 50 a treinar duas Glórias dos anos 60/70... em Tomar. O Mundo dá muitas voltas. Mas até parece pequeno comparado com a grandeza do Benfica. Num qualquer lugar recôndito do Planeta haverá sempre algo do Benfica!

Em 1977/78, no União FCI Tomar. O reencontro entre o "Benfica de 50 e o Benfica de 60/70". Em cima, Eusébio (à esquerda) e o treinador Vieirinha (à direita). Em baixo, Simões, segundo a contar da direita, capitão da equipa.

Foi um treinador ao nível de muitos outros que ainda são falados na actualidade
Mas ele andou esquecido... até voltar a ser falado porque morreu!

As habituais idiossincrasias de Portugal e de ser português
Vale mais cair em graça que ser engraçado, podendo-se substituir em muitas situações o termo "engraçado" por

Competente

Alberto Miguéns

PLANO PARA AS EDIÇÕES DESTA SEMANA
(provisório como é evidente)
19 a 25 de Fevereiro de 2015 (Sempre à meia-noite)
Quinta-Feira (de 18 para 19): Se as fotografias falassem;
Sexta-Feira (de 19 para 20): Taça da Liga: melhor do que a pintam;
Sábado (de 20 para 21): E o Moreirense FC?;
Domingo (de 21 para 22): E Moreira de Cónegos?;
Segunda-feira (de 22 para 23): Pólo Aquático: Olímpico e nosso;
Terça-feira (de 23 para 24): O Mais Belo e Inigualável 138;
Quarta-feira (de 24 para 25): Mentiras Oficializadas by SLB
4 comentários
  1. Um caso curioso.
    Presumo que Vieirinha não terá sido adjunto de Elek Schwarz no Benfica. Acabou por o ser no FCP. Passou rapidamente pelo Benfica mas ainda deixou alguma marca. Depois viria um grupo de grandes talentos que brilharam intensamente no nosso ataque.
    Paz à sua Alma.

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    Respostas
    1. Caro VictorJ

      Ele deve ter sido adjunto de Elek Schwartz no FC Porto porque deve ter passado (promovido) dos juniores para os seniores para se encarregar da Reserva. Isto se a estrutura do futebol do FCP em final da década de 60 era igual à do Benfica.

      Alberto Miguéns

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  2. Esqueceram-se de referir a sua passagem pelo Tramagal Sport União, onde foi campeão distrital da A.F.Santarém, e também levou os júniores aos 1/4 final do Nacional.
    Tenho muitas fotos da sua passagem pelo Tramagal.

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