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09 abril 2014

O Triunfo de Álvaro Gaspar

09 abril 2014 4 Comentários
OPINIÃO

Estamos quase a ganhar mais um, Chacha!

ÁLVARO GASPAR
Nascimento: 10 de Maio de 1889
Primeiro jogo: Desconhecido (por enquanto)
Primeiro jogo referenciado (3.ª categoria): 20 de Dezembro de 1908 (19 anos)
Primeiro jogo na 2.ª categoria: 24 de Outubro de 1909 (20 anos)
Estreia na 1.ª categoria: 25 de Setembro de 1910 (21 anos)
Último jogo na 1.ª categoria: 1 de Março de 1914 (24 anos)
Último jogo com o "Manto Sagrado": 11 de Abril de 1915 (25 anos)
Falecimento: 3 de Setembro de 1915 (26 anos)
Funeral: 5 de Setembro de 1915 (para o Cemitério da Ajuda)

Tal como referi em 1 e 5 de Março as informações acerca do futebolista Álvaro Gaspar concentram-se entre 1910/11 e 1913/14.

1908/1909 (19 anos)

Extracto da ficha de Cosme Damião. Com 27 anos, feitos em 2 de Novembro de 1912, sempre um associado e futebolista consciente das suas limitações: Em que categoria entende dever jogar? Segunda. Enorme Cosme. E sem falsas modéstia. Ou não andasse ele sempre à procura de um bom médio-centro para a 1.ª categoria. Não havendo, desenrascava ele. Quando teve um, Artur José Pereira, este decidiu ir para o Sporting CP. Só Cândido de Oliveira iria repor a "normalidade"! 
Extracto da ficha de Álvaro Gaspar. Com 23 anos, feitos em 10 de Maio de 1912, uma grande dedicação ao Clube: Em que Clubs ou grupos? S.L.B & chega. Em que categoria entende dever jogar? A escolhida do capitão. Qual a posição que mais prefere? A que o capitão entender. Confessa pelo Club a sua dedicação e compromete-se a prestar-lhe o seu concurso incondicional? Até à morte. E foi! Três anos depois! Infortunado Chacha.

Em que época começou a jogar?
Pela Ficha de Inscrição que deve ter sido preenchida no início de 1912/13, quando Álvaro Gaspar tinha 23 anos, ele escreveu que jogava há sete anos sempre no SL Bemfica (ainda e até 1945 com mê) sem interrupções. Deve ter sido preenchida antes do início da época, pois segundo Rogério Jonet essa era a prática no Clube. Todos a preenchiam até o Capitão-Geral (treinador e organizador das equipas) Cosme Damião. Se jogava há sete anos e ininterruptamente, começou em 1905/06 ou 1906/07.

A estrutura do futebol gloriosíssimo
Para além das três categorias com futebolistas escolhidos em função das suas capacidades sem preocupação da idade o Sport Lisboa criou uma equipa de Infantis, que naquele tempo significava futebolistas "exclusivamente jovens", ou seja, sem veteranos. E deviam de ser além de muito novos, atletas franzinos com pouca capacidade física. Pois se a tivessem integravam uma das três categorias. O Benfica só criou uma 4.ª categoria (ou seja com futebolistas escolhidos em função das suas capacidades e não da idade) em 1909/10, com estreia em 14 de Novembro de 1909.

Estreias das categorias
Categoria
1.ª
2.ª
3.ª
4.ª
Época
1904/05
1904/05
1906/07
1909/10
Data
1
Janeiro
19 Fevereiro
3
Fevereiro
14
Novembro
Resultado
V 1-0
V 1-0
V 3-0
V 1-0
Adversário
Grupo do Campo de Ourique
Grupo do Campo de Ourique
Internacional (CIF)
Sport Grupo Palhavã
(1.ª categoria)

1908/09 - Uma época de afirmação
Depois da junção entre o Sport Lisboa e o Sport Benfica os clubes mantiveram a sua individualidade, como ficara definido na acta de junção. Não houve eleições. Os dirigentes do SLB continuaram os mesmos do Sport Benfica (eleitos em 28 de Junho e com tomada de posse em 3 de Julho de 1908) tendo já a preocupação - pois as "negociações" para a junção em 13 de Setembro de 1908, estavam em curso - de preencher o lugar da vice-presidência da Direcção com Alfredo Alexandre Luís da Silva, um dos principais sócios do Sport Benfica mentores da necessidade de junção para permitir ter uma grande equipa de futebol a jogar na Quinta da Feiteira, em Benfica. Bom interlocutor e com fortes relações de amizade com muitos dos futebolistas do Sport Lisboa, Alfredo Silva era o elo de ligação entre os dirigentes do Clube e os dirigentes do Futebol (que funcionava com autonomia): Cosme Damião e Manuel Gourlade, este cada vez com mais dificuldades em manter-se como "técnico" por ter a sua actividade profissional nas docas de Lisboa onde, por falar fluentemente francês e inglês (pelo menos) era intérprete dos navios que aportavam a Lisboa.


A Primeira Categoria em 1908/09. De cima para baixo. Da esquerda para a direita. Eduardo Corga, Luís Vieira, Henrique Costa, Cosme Damião, António Meireles e Artur José Pereira; António Bernardino Costa, Alberto Alves, João Persónio, Leopoldo Mocho e Carlos França. Félix Bermudes está "equipado" à ciclista. Não podendo jogar estava presente. Artur José Pereira, mais novo em idade (seis meses) e no Clube que Álvaro Gaspar era um portento físico e técnico, titular na 1.ª categoria. Equipa que derrotou, por 4-0, para o campeonato regional, o SU Belenense, no campo do Sítio das Mouras (Lumiar), do Sporting CP, em 6 de Dezembro de 1908, na 4.ª jornada. Imagem retirada do jornal "Os Sports Ilustrados" n.º 34.
Os futebolistas do Sport Lisboa e Benfica mantinham-se os do Sport Lisboa
As três equipas que o SLB mantinha em actividade movimentaram quatro dezenas de futebolistas. Apenas um (Germano de Vasconcelos) não tinha a proveniência de Belém ou da Casa Pia. Mas tinha experiência como futebolista em grupos que se organizavam em Lisboa. Depois de 13 de Setembro de 1908 integrou o futebol no clube, mas teve de iniciar-se na 3.ª categoria. A sua qualidade em breve abria-lhe a titularidade na 1.ª categoria. A autonomia do futebol era total, mas para ter "voz activa" na Direcção do Clube, nas primeiras eleições em que votaram os elementos do Sport Lisboa (em 26 de Fevereiro de 1909, a dois dias do Clube completar cinco anos) foram eleitos como vogais da Direcção... Cosme Damião e Félix Bermudes, mantendo-se Alfredo Silva na vice-presidência de João José Pires. Nestas eleições há ainda uma curiosidade: a Mesa da Assembleia Geral (presidida pelo "Águia de Ouro", dr. Mascarenhas de Melo, ilustre médico de Lisboa/ Benfica) era totalmente constituída por elementos provenientes do Sport Benfica e o Conselho Fiscal por elementos do Sport Lisboa: Conde do Restelo, ou seja Inácio José Franco, proprietário da Farmácia Franco como presidente; António da Costa Alves (secretário) e Manuel Gourlade (relator). A autonomia entre os dois clubes levada ao extremo!


A Segunda Categoria em 1908/09. De cima para baixo. Da esquerda para a direita. Adelino Fontes, Constantino Encarnação, David Fonseca, Domingos Simões, Alfredo Machado e Alberto Alves; Virgílio Paula, Álvaro Corga, João Matos, Francisco França e Carlos Monteiro. Equipa que empatou, a dois golos, para o campeonato regional, na 1.ª jornada, no campo da Feiteira (Benfica), em 25 de Outubro de 1908. Imagem retirada da página 93, no volume I, da História do SL Benfica 1904/1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva.
Campeonatos regionais para duas categorias
Em 1908/09 a Liga Portuguesa de Futebol decidiu organizar, pela primeira vez, dois campeonatos, para 1.ªs e 2.ªs categorias. Para a 1.ª categoria foi o 3.º Regional e para a 2.ª categoria foi o primeiro. Inscreveram-se oito clubes (seis com 1.ª categoria e sete com 2.ª categoria), mas apenas cinco formaram equipas para disputarem as duas categorias (entre parêntesis as respectivas classificações): Carcavellos C&F Club (1.º e 4.º), SL Benfica (2.º e 3.º), Internacional/CIF (3.º e 1.º), S. União Belenense (4.º e 5.º) e Sporting CP (6.º e 6.º). O Ajudense FC apenas disputou a 1.ª categoria (5.º classificado) e o SC Estephania competiu na 2.ª categoria (7.º lugar).

As listas de Cosme Damião
Há duas listas manuscritas pelo punho de Cosme Damião, dividindo os futebolistas pelas duas categorias, para a temporada de 1908/09. Em 1 de Maio de 1909 foi nomeado capitão-geral, para superar o afastamento de Manuel Gourlade e consolidar o poderio futebolístico do SLB.

Em relação à equipa da fotografia, jogou Alberto Alves no lugar de Henrique Teixeira. Félix Bermudes com afazeres profissionais e familiares estava "fora de forma". Não jogaria em 1908/09 na 1.ª categoria, mas sim na 2.ª equipa. E depois apenas nas categorias inferiores, até na 4.ª, para dar "Banho de Benfiquismo "aos novatos no "Glorioso"!

Em relação à equipa da fotografia, jogou Alberto Alves (não está na lista) no lugar de António Marques. Para quem diz que a acta de fundação do Clube (em 28 de Fevereiro de 1904) não foi da autoria de Cosme Damião ou foi feita décadas depois, é só comparar a caligrafia, até porque há nomes que constam das duas: Henrique Teixeira e Carlos França, além de nomes comuns! É preciso querer ter protagonismo à custa do "Glorioso"!

A primeira referência a Álvaro Gaspar, enquanto futebolista, como "meio-avançado-esquerdo"!
Em 20 de Dezembro de 1908, na Quinta da Feiteira, em Benfica, estreia na época de 1908/09 do 3.º grupo do SL Benfica, com vitória sobre o SG Império
À margem dos campeonatos da Liga, o Sport Grupo Império, que se constituíra em 11 de Novembro de 1908, com jogadores do Futebol Grupo de Campo de Ourique e do Football Cruz Negra (que se extinguiu), organizou um torneio de terceiras categorias. A iniciativa teve depois certo carácter oficial e a sua direcção foi entregue a uma comissão, composta por Félix Bermudes, Raul Nunes e Franco de Araújo.


Uma das primeiras equipas do SG Império fotografada no campo da Feiteira, arrendado ao SL Benfica, junto com o árbitro Cândido Rosa Rodrigues, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. É bom recordar que o SC Império inaugurou depois, em 29 de Outubro de 1911, um bom campo em Palhavã. Foi neste campo que o Benfica, em 12 de Janeiro de 1924 se deparou com o insólito. O adversário dessa tarde, AC Sparta de Praga equipava "À Benfica"! Sem equipamentos alternativos houve que puxar os que estavam "mais à mão". Os do clube da casa. E assim os "vermelhos" jogaram às riscas verticais, pretas e amarelas. Ao que consta, houve "lágrimas no canto do olho" em quem presenciava de fora esse jogo "esquisito"!

No jogo de estreia o Benfica venceu o SG Império (depois SC Império), que apresentava um conjunto de jogadores de nome firmado em “onzes” de maior plano. O Império não concorreu em primeiras categorias, não obstante contar com elementos de boa classe, tendo por isso os melhores atletas na segunda categoria. A terceira reunia o segundo conjunto de jogadores, suplentes à segunda.
Como era apanágio do Benfica a constituição de três grupos para actividade normal da época, escalonando criteriosamente os futebolistas, confirmou a utilidade do trabalho em profundidade. O objectivo era o habitual – escolher os melhores para jogar bem tentando conseguir o melhor resultado! O Clube voltou a revelar a consistência do nosso “viveiro” de alguns anos, com jogadores novos em todas as temporadas.

O "primeiro onze" conhecido de Álvaro Gaspar
Nesse dia 20 de Dezembro de 1908, o Benfica alinhou com: Custódio Xavier; António Marques e Carlos Homem de Figueiredo; Germano de Vasconcelos, Marcial Costa e Álvaro Vivaldo; Raimundo Moraes, Júlio Castro, Alfredo Vivaldo, Álvaro Gaspar e Alberto Rio.
Neste grupo de jogadores, apenas um, Germano de Vasconcelos pertencera ao Sport Clube de Benfica. “A excepção que confirma a regra!” Embora fosse um desportista que já se notabilizara no ciclismo e tivera participações em atletismo, os responsáveis pelo futebol não tiveram problemas em integrá-lo na equipa de terceiras categorias.
Em relação à lista das inscrições, neste primeiro “onze” da época na 3.ª categoria, estavam seis futebolistas dados como suplentes à 2.ª categoria: Custódio Xavier, Germano de Vasconcelos, Marcial Costa, Álvaro Vivaldo, Júlio Castro e Alberto Rio; e um (António Marques) que integrava a lista dos elementos do 2.º grupo, e por ele jogando em 25 de Outubro e 15 de Novembro. Restavam quatro “novos”, mas três já com alguma experiência em “teams” infantis do Sport Lisboa: Álvaro Gaspar, Alfredo Vivaldo, Raimundo de Moraes; o outro, Carlos Homem de Figueiredo, casapiano, um novo elemento que entrou para o clube, já depois da junção, em 13 de Setembro.

Mais duas referências a Álvaro Gaspar sem certezas de jogos
Há na imprensa da época referência à convocatória de Álvaro Gaspar para dois jogos da 3.ª categoria, um em 24 de Janeiro de 1909 e outro em 5 de Março de 1909, mas não há notícia de adversários e resultados, nem se de facto esses jogos se realizaram.
No jogo de Janeiro, em princípio frente ao Sporting CP, estavam convocados:
Custodio Xavier;
António Marques e Carlos Homem de Figueiredo;
Germano Vasconcelos, Marcial Costa e Álvaro Vivaldo;
Raimundo Moraes, Júlio Castro, Alfredo Vivaldo, Álvaro Gaspar e Alberto Rio.
No jogo referente a Março, estavam convocados:
Custódio Xavier;
Arnaldo Sobral e Romualdo Bogalho;
Marcial da Costa, Álvaro Vivaldo e Lucas;
Júlio Castro, Barreiros, Vítor Jardim, Álvaro Gaspar e Alberto Alves;
Suplentes: Oliveira, Mário Costa e Jerónimo.

A junção dos dois clubes, em 13 de Setembro de 1908, deu uma nova dimensão ao futebol do Sport Lisboa. Finalmente os grandes futebolistas e as equipas de excelência da "camisola rubra da águia altiva" tinham uma estrutura dirigente compatível com a sua grandeza. A vertente social tornou o SLB imparável. Até hoje. Até sempre...


Depois da junção a Sede manteve-se a do Sport Clube Benfica, na actual travessa do Rio

A Sede que serviu o Clube até final de 1910 sendo depois transferida como comprova o recibo data de 1 de Janeiro de 1910. Imagens retiradas da página 112 (em cima) e 126 (em baixo) do Volume I da História do Benfica, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva



O que diz Mário de Oliveira de Álvaro Gaspar na temporada de 1908/09?
Muito pouco, mas na página 101 (integrada no capítulo III, subcapítulo 7 - Um título de honra na Imprensa) refere o seguinte: A equipa vencedora (a 1.ª categoria sobre o Sporting CP, em 24 de Janeiro de 1909, com vitória por 2-1) deve ter alinhado como segue: João Carvalho Persónio; Henrique Costa e Leopoldo Mocho; Luís Vieira, Cosme Damião e Artur José Pereira; António Costa, Eduardo Corga, Constantino Encarnação, António Meireles e Carlos França. E já que indicámos a provável constituição da primeira categoria julgamos interessante juntar os nomes dos jogadores convocados para os desafios de segunda e terceiras categorias que se realizaram no mesmo dia. Segunda Categoria: João Matos; Alfredo Machado e Carlos Homem de Figueiredo; Alberto Alves, Domingos Simões e Germano Vasconcelos; Francisco França, Carlos Monteiro, David Fonseca, Álvaro Corga e Félix Bermudes. Suplentes - Henrique Teixeira, Álvaro Vivaldo, Romualdo Bogalho e Marcial Costa. Terceira Categoria: Custódio Xavier; António Marques e Carlos Homem de Figueiredo; Germano Vasconcelos, Marcial Costa e Álvaro Vivaldo; Raimundo Moraes, Castro, Alfredo Vivaldo, Álvaro Gaspar e Alberto Rio.
Aparecem aqui nomes de jogadores que estavam no começo de uma carreira que pôde ser brilhante e que, para alguns, se prolongou bastante, um deles, Alberto Rio, chegando, até, a envergar a camisola de internacional (em 1922 e 1923, mais de uma década depois!). E um outro, Álvaro Gaspar, não esqueceu ainda como símbolo de dedicação ao único Clube da sua vida de jogador excepcional para a época em que brilhou. Álvaro Gaspar, que teve uma carreira fulgurante, é uma saudade sempre viva na memória da gente antiga do Clube. Carlos Homem de Figueiredo, vindo da Casa Pia, foi defesa e médio notável, sobretudo pelo jogo de cabeça. Germano de Vasconcelos, avançado veloz e atleta ecléctico, brilhou também no BENFICA. E Álvaro Vivaldo, médio excelente, foi sacrificado no posto de médio-centro da segunda categoria, em épocas sucessivas.

Álvaro Gaspar continuava a ascensão dentro do "Glorioso Futebol". E a História do Benfica dava um filme. Um grande filme, com amor, ódio, traição, coragem, ideal, paixão e resistência. Não acreditam?!

Alberto Miguéns

NOTA (À MARGEM): DIA HISTÓRICO PARA O BENFICA E PARA O FUTEBOL PORTUGUÊS


14 de Fevereiro de 1909. Na Quinta da Feiteira, em Benfica, para o Regional de 1.ª categoria da Liga, perante 5 mil espectadores, o SL Benfica perdeu por 0-4 com o Carcavellos Club. O Benfica discutiu até à 3.ª jornada da 2.ª volta a posse do título. Quem vencesse o jogo seria o provável campeão – o SLB tinha mais um ponto que o bicampeão Carcavellos Club, já que apenas registara um empate, enquanto o clube dos “mestres ingleses” haviam empatado por duas vezes. Eram os dois únicos clubes que ainda estavam invictos! Para o SLB até o empate poderia dar o título, daí a grande assistência presente. Afinal o Carcavellos Club venceu...e foi campeão pela 3.ª vez consecutiva! «Assistiram ao jogo cerca de 5 000 pessoas. É a primeira vez que a um certame deste género concorre, em Portugal, tão grande influência de público, prova indiscutível de que no espírito popular se vai radicando o apreço e o gosto por tão interessante e educativo exercício». Assim se escreveu e perpetuou, na revista quinzenal Tiro e Sport, esta jornada memorável. Sem bancadas, em pé (como se pode ver na fotografia), os mais pequenos à frente e os maiores atrás, resistentes, impacientes e ruidosos, a multidão acotovelava-se à espera da vitória do Gloriosíssimo! Não foi neste dia! Ficou para outra tarde de glória! Não consta que alguém tivesse desistido de acreditar... Ainda cá andamos... mais de um século depois. Afinal somos "filhos" - porque continuadores - daquela multidão de cinco mil pessoas. De pé!

NOTA INTERCALAR (PARA RESPONDER A UM COMENTÁRIO DE UM LEITOR IDENTIFICADO E PODER AJUDAR EM FUTURAS PESQUISAS) Colocado em 15 de Abril de 2014 às 21.30 horas




Legenda digitalizada da página 95 do Volume I da História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva
NOTA FINAL: Por dificuldades técnicas - impossibilidade por excesso de informação - para que resulte com eficácia (publicar fotografias e documentos a ilustrar os textos) "A Vida Desportiva de Álvaro Gaspar Numa Dúzia de Datas" está programada para os seguintes dias (coincidindo com efemérides relativas à relação d Álvaro Gaspar com o Clube):

PUBLICADO
1.       01.Mar.2014       O Último Jogo;
2.      05.Mar.2014      O Debutante;
3.      16.Mar.2014       O Crescimento;
4.      30.Mar.2014      A Resistência;
5.      09.Abr.2014       O Triunfo;

A PUBLICAR
6.      10.Abr.2014       O Reservista;
7.      22.Abr.2014       A Titularidade;
8.      23.Abr.2014       A Ficha;
9.      05.Mai.2014       O Brasil;
10.    10.Mai.2014       A Derradeira Glória;
11.     03.Set.2014        A Última Época;
12.     05.Set.2014        O Legado  

Aquando do 100.º aniversário do seu falecimento, em 3 de Setembro de 2015, conto fazer um "Especial" que junte os 12 textos e mais algum ou alguns se entretanto os tiver feito!
4 comentários
  1. Um excelente artigo. Muito obrigado por continuar a dar-nos esta valiosa informação e as suas interpretações.

    1 - Os dados são compatíveis com a sua hipótese da questão física como factor inibitório para a estreia de Alvaro Gaspar pela 3ª categoria (tendo em conta a data declarada do seu início de actividade no clube). Aliás as fotografias denotam que atleticamente as equipas pareciam muito bem constituídas sugerindo que esse era um critério importante de seleção dos jogadores. Pelo que li, as crónicas reportavam o grande vigor - por vezes a violência - do jogo praticado. Por outro lado, presumo eu, as condições dos terrenos de jogo. Talvez os registos também sejam incompletos e mais importante não sabemos qual a frequência de comparência a treinos que Álvaro tinha. Vivendo na Graça e tendo de deslocar-se para Benfica talvez não lhe fosse fácil. Sabe-se que Cosme Damião - pelas metodologias, rigor e competitividade que tinha - defendia as virtudes do treino (veja-se a situação com Artur José Pereira).

    2 - Outro aspecto interessante do artigo é que o Alberto reporta-nos vários nomes pouco conhecidos para as categorias inferiores (a informação que circula na internet é raríssima). Eu pelo menos não conhecia alguns.

    2a - De entre os que conhecia, um interessou-me particularmente: Marcial Freitas Costa. Foi titular na primeira equipa e depois parecia ter desaparecido das listas. Pensei que era mais um dos que em Fevereiro de 1907 deixou o nosso clube para integrar outra equipa. Recentemente reencontrei o seu nome na lista de sócios que transitaram do Sport Lisboa aquando da fusão (na lista está também um Joel Freitas Costa, talvez seu irmão). Afinal passou a dar a sua contribuição à segunda categoria. Curioso pois era um titular regular das equipas de 1905-1906. Mostra a possibilidade de seleção que o nosso clube teve pouco tempo depois da crise de 1907 e mostra também a emergência de novos valores. Claro que nesse tempo de amadorismo, de ingenuidade, de fracas condições de treino e jogo, de incipientes tratamentos médicos, deveriam ser mais frequentes as inconstâncias de rendimento.

    2b - Na fotografia da 1ª categoria de 1908/09 estão, para além de Cosme Damião, outros dois jogadores-fundadores: Eduardo Corga e Carlos França. Considerando a sua actividade como jogadores, estes dois terão sido os de maior durabilidade - batidos apenas por Cosme Damião. Ainda na fotografia, Félix Bermudes mostra bem pela pose a proponderância que tinha no clube nesses tempos.

    3 - Como refere, as listas (fantásticas!) manuscritas de Cosme provam que a letra da acta de fundação é de facto da autoria de Cosme Damião. Alguma vez viu o original? O que está exposto no museu parece-me um fac-simile.

    4 - Acho o folheto do Sport Lisboa e Benfica é esteticamente tão simples e tão bonito. E mostra bem como o ciclismo era proponderante - sabemos que por via do Sport Benfica.


    5 - Percebo agora melhor a orgânica da nova estrutura criada pela fusão das duas colectividades. Mostra bem como havia inteligência e pragmatismo. À Benfica.


    Saudações Benfiquistas

    Victor João

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    Respostas
    1. Caro Victor João

      O "problema" da falta de forma dos jogadores eram as questões profissionais e familiares. Por vezes tinham empregos com trabalho de manhã até à noite e aos sábados. Não tinham tempo para treinar. E depois casavam tinham filhos. Era complicado. Poucos conseguiam "durar" muito tempo. Por isso as categorias "inferiores" eram muito importantes pois tinham um pouco de tudo, desde miúdos até veteranos. Menos exigentes possibilitavam aos destreinados e com falta de tempo poderem jogar. Porque os jogos eram ao domingo. E domingo era dia santo. Não se trabalhava. Aliás os ingleses como tinham o sábado à tarde praticavam desporto ao sábado à tarde. Por vezes era difícil haver jogos entre portugueses e ingleses devido a essa incompatibilidade.

      Nunca vi o original da acta. Mas muito do material reproduzido - fotografias e documentos - na História do SLB 1904-1954 deve ter-se perdido ou ficado esquecido na tipografia ou em casa de um deles. Tipicamente português esse desleixo. Amanhã faço... Há muita documentação - contratos de arrendamento e fichas de jogadores, por exemplo - que não devem ter voltado ao Clube!

      Álvaro Gaspar quando morreu não habitava na Graça. Pelo menos a certidão de óbito indica outra morada. Consegui há pouco tempo - talvez mês e meio - uma cópia, através do responsável pelos cemitérios de Lisboa. Vou publicá-la no último dia (5 de Setembro).

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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  2. Caro Alberto Miguéns,


    Tenho uma dúvida se me conseguir esclarecer:

    Diz que em 1909 a Liga organizou o 1º regional de 2ªs categorias.

    Mas Ricardo Ornelas no Nº e Nomes não lista nenhum campeonato dessas categorias em 1909.

    Lista apenas o 1º campeonato de 2ªs em 1910 e o 1º campeonato de 3ªs também em 1910 (aliás como se sabe a 1ª época gloriosa do SLB, depois das outras vitórias gloriosas do Sport Lisboa, o SLB faz a tripla em 1910).


    Qual a razão para este campeonato de 2ªs em 1909 não surgir na compilação?

    Cumprimentos e saudações benfiquistas,

    Miguel Pinto

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    Respostas
    1. Caro Miguel Pinto

      Coloquei uma nota intercalar no texto acima publicado pois não penso voltar em breve a escrever acerca da temporada de 1908/09. E certamente quando o voltar a fazer - numa data futura - poderei esquecer-me ou o leitor não ler o que depois for escrito. Por isso decidi "adulterar" o que já estava publicado fazendo esse acrescento.

      O livro de Ricardo Ornelas é muito bom mas também tem falhas.

      O que publico é uma digitalização retirada da História do SLB que a retirou de uma obra fundamental ler para quem quiser conhecer o início do futebol em Portugal e mesmo o início do "Glorioso".

      "Meio século de Futebol", por Júlio de Araújo, curioso e paciente trabalho dactilografado, embelezado com ilustrações de vários jornais e revistas, oferecido pelo autor à Associação de Futebol de Lisboa (AFL).

      Três notas finais:

      1. Vi e li esta obra magnífica no início dos anos 80 na sede da AFL. Num programa "Em Defesa do Benfica" na Benfica TV em que foi convidado o presidente da AFL para divulgar os 100 anos da AFL eu pedi-lhe e ele teve a gentileza de levar o Livrão (enorme, pesado, batido à máquina de escrever pelo autor e antiga). Ao que me lembro ele disse que actualmente está digitalizada para poder ser consultada na sede da AFL. Vale MESMO a pena!

      2. A AFL baseia-se nessa informação de Júlio de Araújo para saber a história inicial do futebol em Lisboa;

      3. Júlio Barreiros Cardoso de Araújo foi um pioneiro do futebol em Portugal. Mais tarde, entre 1922 e 1923 foi presidente da Direcção do Sporting CP.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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