Vejam esta imagem:
Não tinha previsto
qualquer texto antes da meia-noite de 1 para 2 de Novembro de 2013, ou seja após
o jogo entre a equipa do Organismo Autónomo de Futebol da Associação Académica
de Coimbra. Mas... a insistência de alguns leitores do EDB "obriga" a
elaborar um texto, até porque no EDB justifica-se, sempre, as afirmações que são
feitas.
Pergunta: Qual
é a publicação fidedigna para confiar nas estatísticas?
Tem sido esta a
insistência, penso que a propósito da passagem do 10.ª aniversário do Estádio e
do facto de Cardozo ter igualado Nuno Gomes em número de golos marcados em
jogos para competições oficiais.
Resposta:
Nenhuma!
Não há publicações -
em papel ou na internet - com estatísticas credíveis em Portugal. É tudo fraco,
trapalhão, sem credibilidade por isso não são fidedignas. Exemplos:
Comecemos
pelo Caos
Se no futebol as
estatísticas são muito fracas, nas outras modalidades atingem proporções a
nível do inimaginável. É que estamos a falar de publicações que são vendidas,
feitas por centenas de pessoas que se arrogam como arautos da verdade e do
rigor. Nem a fazer quadros básicos conseguem, quanto mais quando se aumenta o
grau de dificuldade. Há exemplos atrás de exemplos, que dariam para fazer um
blogue só para desmentir e rectificar essas informações. Atentemos num exemplo
- são tão fáceis de encontrar diariamente - que saiu nos três jornais
desportivos diários de domingo (27 de Outubro de 2013), referente ao jogo de
hóquei em patins entre o ÓC Barcelos e o SL Benfica.
O que se
passou no jogo
O Benfica iniciou o
jogo com os seguintes hoquistas:
N.º 10 Guillem Trabal
N.º 2 Valter Neves (capitão)
N.º 6 Esteban Abalos
N.º 9 João Rodrigues
N.º 18 Carlos López
O treinador Pedro
Nunes utilizou depois os seguintes suplentes, aos 20 minutos - na realidade
deve ter sido aos 15 minutos - na transmissão de A Bola TV:
N.º 4 Diogo Rafael
N.º 8 Marc
Coy
N.º 44 Miguel Rocha
Eis a
"ficha" do jornal Record
Conseguiram ver Diogo
Rafael no cinco inicial e não ver lá João Rodrigues. Nem nos titulares nem nos
suplentes nem João Rodrigues (que saiu aos 20 minutos da 1.ª parte). João Rodrigues
que esteve no rinque 42 minutos (20 na 1.ª parte e 22 na 2.ª parte) não jogou
no ÓCB vs SLB para o Record. Só emoções.
Eis a
"ficha" do jornal O Jogo
O que no "Record"
não conseguiram ver (João Rodrigues no rinque), em "O Jogo" viram a
dobrar (como titular - e está certo - e como suplente utilizado!)
Eis a
"ficha" do jornal A Bola
Estes vêem Marc Coy
na equipa titular em vez de Carlos López. E para eles jogaram todos, mesmo
Tiago Jorge (n.º 5) e Pedro Henriques (n.º 1) que, durante o jogo, não entraram
no rinque.
"A
Bola" tem a agravante de ser num jornal que transmitiu o jogo!
Nem assim. Nem com as
imagens e a transmissão conseguem acertar. Têm como vocação a falta de rigor. O
engano.
Eis uma
imagem do início do jogo. Pelas 21:00 horas do passado sábado. Quem está preparado para sair com a bola?
Carlos López. O tal
que não jogou no cinco inicial...
Nenhuma está
certa!
Três jornais desportivos
diários. Três fichas. Nenhuma está correcta. Que classe! Que rigor! De
confiança!
Se não
conseguem acertar
Deixem da fazer as
fichas do jogo. Comentem apenas. Assim evitam enganar os leitores. Pelo menos
aqueles que se deixam enganar. Há quem já não lhes dê crédito! Dêem apenas as
opiniões que tanto gastam de "vender". As opiniões pelo menos não têm
erros, a não ser gramaticais. Respeitem os leitores e compradores!
E agora o Borrão
Se nas modalidades, a
informação - que devia ser rigorosa - é o caos (porque os erros são a regra e
não excepção) no futebol são mais criteriosos, mas a falta de aptidão,
trabalho, desleixo e copianço leva a que haja muitos erros, que se repitam e
que depois, aquando de elaborações estatísticas em sequência ou somatório
acumulem mentiras. São dezenas (quanto a resultados), centenas (nas pontuações
e goleadores) e milhares (em presenças e jogos realizados).
O Benfica
até nem é dos clubes "mais prejudicados"... em quantidade
Como clube com mais
visibilidade o "Glorioso" nem é o que acumula mais erros, apesar de
haver muitos, nas várias publicações, desde o papel ao mundo virtual.
Onde é que
eles foram buscar este resultado?
Não sendo o EDB
errata de nada nem ninguém, deixamos um exemplo, até por que não é difícil
encontrar resultados errados referentes ao Benfica. Há dezenas. Fica este.
A verdadeira Bíblia do Clube: Jornal O Benfica; primeira página; 30 de Dezembro de 1980 |
Jornal O Benfica; página 6; 30 de Dezembro de 1980 |
Almanaque do Benfica 1904-2004; página 373; Rui Tovar; 2004; Almanaxi |
Copianço:
esta "mania" portuguesa de aligeirar o trabalho dá nisto...
Uns copiam dos
outros. Em vez de terem o trabalho de consultar as publicações (três ou quatro)
no dia a seguir aos jogos preferem copiar de quem já fez esse trabalho. Claro
que copiam o que está certo e o que está errado.
Metodologia
e rigor: resultados e pontuações
Recuperar a
informação referente ao futebol não é difícil mas é complexa. E é sempre
necessário ver o maior número de publicações (jornais e revistas) possível. E
estamos a falar desde 1906/07 (primeiro campeonato em Lisboa) até à
actualidade. Temos quatro tipos de informação: resultados, pontuações,
jogadores e goleadores. Quanto a resultados há que estar atento. Nem sempre o
resultado que aparece em destaque tem correspondência com o relato da crónica.
Fazer apenas a recolha do mais fácil sem ler as crónicas pode dar mau "resultado".
Depois nas pontuações dos campeonatos há desfasamentos entre publicações,
porque fazer uma(s) gralha(s) - um engano por má recolha ou negligência do
tipógrafo - numa jornada intermédia mantém a(s) gralha (s) até final.
Metodologia
e rigor: jogadores - presenças e golos
Restam os jogadores
dificultados pela mania bem portuguesa" de ser pouco rigoroso. Entre
muitas "armadilhas" a pior é a de juntar nomes e números quando há
apelidos iguais na mesma equipa. Por exemplo há três Teixeiras: Joaquim, Manuel
e Artur. Que passam a Teixeira I, Teixeira II e Teixeira III. Mas quando joga
apenas um fica Teixeira. Mas quem é este Teixeira? O I, o II ou o III. Na época
sabiam. Mas passados n anos quem sabe?!
Com os marcadores de
golos o problema agrava-se. Estamos a falar - é bom recordar - do tempo em que
as condições nas bancadas eram sofríveis, não havia iluminação artificial e,
principalmente, os jogadores não tinham números nas camisolas. Só depois de
1947/48 (para o Clube Oriental de Lisboa desde 1946/47) é que essa pratica foi
obrigatória. Há jogos em que "cabeça sua sentença". E este adágio
popular agrava-se no Inverno (anoitece mais cedo, jogos com chuva e nevoeiro)
ou seja piores condições de visibilidade. E em situações de bola parada (pontapés
de canto ou livres indirectos) há sempre desfasamentos de publicação para publicação em
relação a quem marcou o golo, tanto que por vezes o repórter opta pelo mais
fácil - autogolo.
Estatísticas
à portuguesa
Fazer recolhas das
estatísticas do futebol em Portugal é moroso. Mas o que eu presenciava (quando
as fiz) é que o "pesquisador" assim que obtinha o que queria nem
sequer procurava confirmar se outra publicação aferia os mesmos dados. Está
quieto. E o tempo. Gastá-lo? Nem pensar. Eu levei pelo menos três vezes mais
tempo, porque confirmava sempre em três publicações independentes umas das
outras (por exemplo, às segundas-feiras, três jornais matutinos). Se não
coincidissem (resultados, pontuações, presenças e marcadores de golos) avançava
para outras, no sentido de reduzir as probabilidades (porque existem sempre) de
erro.
"Moral
da história"
Eu só confio nas
minhas estatísticas (pelos motivos atrás referidos). Ou em recolha de dados
directa com aferição por mais de uma publicação. Copiar de outros (recolha
indirecta) dos "Almanaques Tovarianos", "zeroszeros",
imprensa escrita (Recordes, Bolas e Jogos) é estar a copiar erros atrás de erros
e copiar de metodologias incorrectas, por que foram feitas do tipo "para despachar
isto que se faz tarde, estão ali uns tipos à minha espera e a telenovela vai
começar!"
No futuro...
Ainda vamos ilustrar,
num dia destes, a pouca vergonha dos erros por copianço, num triângulo que
envolve Henrique Parreirão (para a FPF), o Record, A Bola, o zerozero e os
Almanaques dos Tovares. Todos bem desenrascados, a "poupar horas de
aturada pesquisa", mas depois credibilidade absoluta igual a zero.
Quando mais significa menos
Depois a quantidade de canais televisivos relacionados com o
desporto, quer na integra quer dedicando largos períodos de programação, em vez
de elevar a qualidade, muito pelo contrário é refugo, atrás de refugo. As
pérolas são muitas, entre tantas possibilidades deixo esta fácil de
"localizar" na transmissão de A Bola TV, pois foi como comentário ao
1-0 de Marc Coy aos
17 minutos (24 minutos na transmissão trapalhona de A Bola TV):
«Barcelos que até agora tem tado (sic) a conseguir resistir conforme tem
conseguido a questão do ataque do Benfica».
Alberto Miguéns
NOTA: Aqui no EDB até
à meia-noite de 1 (sexta-feira) para 2 (sábado) de Novembro.
Luís Sobral está a escrever um artigo sobre os últimos dez anos do Benfica (e de Vieira) e gostava de ter a vossa opinião: datas, factos, sucessos, insucessos. Quem quiser contribuir só precisa de enviar um mail para lsobral@mediacapital.pt. O resultado sai na revista Maisfutebol Total de sábado. Obrigado, desde já.
ResponderEliminarSó mais uma nota: os contributos de qualidade para o artigo sobre a última década de Benfica verão os autores citados e, se tiverem blogues ou sites, um link para lá. É o mínimo, claro. Obrigado pela ajuda, desde já. Mail: lsobral@mediacapital.pt.