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01 setembro 2020

Bento 48

01 setembro 2020 6 Comentários
ESTREOU-SE, HÁ 48 ANOS, EM JACARTA, NA CAPITAL DA INDONÉSIA, UM GUARDA-REDES "FORA-DE-SÉRIE". DIA 1 DE SETEMBRO DE 1972.



Único. Inimitável. Corajoso. Eficaz. Inovador (lançar a bola com as mãos para lá do meio-campo, servindo um dos dois extremos). Não é apenas mais um. É Manuel Galrinho Bento.



Ainda me lembro!
Tinha pouco mais de 9 anos e um guarda-redes foi herói. Marcara um golo de baliza a baliza. Não era do Benfica, mas o nome ficou-me na memória até porque tinha um tio (por empréstimo de casamento um uma tia verdadeira) cujo nome era Bento, embora sportinguista ferrenho. Vi o golo no «Domingo Desportivo» apresentado por Alves dos Cantos, aliás Santos, pelas 23:25 que já devia estar na cama e não estava pois pelas oito horas da manhã do dia seguinte (segunda-feira) tinha de estar na Escola.



Bento foi a minha desgraça no dia seguinte
Nessa segunda-feira, no receio da Escola Primária, perante o espanto de todos disse que queria ir à baliza deixando de me chamar Artur Jorge (o meu herói de infância a partir de 1969/70 quando chegou ao «Glorioso») para passar a ser Bento! «Bento? Mas os guarda-redes do Benfica são o Zé Gato e o Nascimento, disseram os companheiros de peladinha»! «Não podes ver nada na televisão», acrescentou logo outro que percebeu. Passei o "jogo todo" a pontapear bolas para a baliza contrária perante o desespero da minha equipa. O "dono da bola" avisou-me: «Para a próxima nem penses ir à baliza. Vai o gordo do Zé Ferrão. Ou não jogas à baliza ou não jogas em lado nenhum!» Eis a minha passagem efémera por uma baliza! Fora dela ter dois tijolos nos pés, apesar de ser o mais alto da classe e dos mais magros também não ajudava fora dela!



Voltando a Bento
Quando foi contratado pelo Benfica "já era um meu velho conhecido". Não pelos remates que defendia (que desconhecia) mas pelo golo que marcara! Como treinador de rua - não ia ao estádio e não tinha (ainda) sofá - logo sentenciei. O Benfica vai ter o melhor guarda-redes português. Irritei todos. Os Benfiquistas eram negacionistas. Ninguém será superior ao José Henrique (Zé Gato). Os sportinguistas eram fundamentalistas. Damas é o melhor de sempre e não é um Bento que o vai ultrapassar. Fiquei isolado. Segue a bola.



No início de 1972/73 o Benfica foi para o extremo do Extremo Oriente
Logo ao terceiro jogo... eis Bento a estrear-se. Sendo na Indonésia levou tempo a saber-se. Uma temporada paradigma (existiu sempre no Benfica desde o seu início e a mudar...) de final dos Anos 60 e início de 70. Em 64 jogos apenas 38 para competições oficiais, com as competições a eliminar a pagarem a factura (dizia-se...): 30 jornadas de campeonato nacional (Tricampeonato), quatro na Taça dos Clubes Campeões Europeus, dois para a Taça de Portugal e dois na Taça de Honra de Lisboa (conquistada). Vinte e seis em digressões, particulares e torneios, com 23 fora de Portugal Continental. Começar em Cádis (dois jogos) seguir para a Indonésia (dois jogos), Angola (dois jogos no início de Outubro), uma saltada ao Extremo Oriente em Fevereiro (três jogos em Hong-Kong, um em Macau e de novo, mais um, na Indonésia), mais Extremo Oriente em Maio  (dois jogos em Hong-Kong)  e terminar a temporada em Espanha: Salamanca (dois jogos) e Badajoz (dois jogos). São 17 jogos, faltam seis: um em Offenbach (RFA) em 17 de Outubro, outro em Pádua/Itália (15 de Novembro), um em Madrid (10 de Janeiro), um na Madeira (16 de Maio), um em Nuremberga/RFA (22 de Maio) e outro em Reims/França (6 de Junho). Todo o "Mundo" queria ver, ao vivo e a cores, o Benfica e Eusébio.   


A seguir foi «Lenda»
Durante 20 temporadas (1972/73 a 1991/92) até 30 de Julho de 1991. Gigante de borracha!



Depois daquela Gala, dos 103 anos. em que até estive com ele quase de madrugada
No "Casino Estoril" - ele conhecia esta estória - com Bento, alegre, divertido e ponderado, como sempre, quem diria que acordaria com a notícia da morte dele (1 de Março de 2007, clicar para jornal Expresso). Foi cedo de mais (58 anos, mais novo do que eu que tenho 59) para o «Quarto Anel».



Obrigado, meu "velho conhecido" Bento!

Alberto Miguéns

6 comentários
  1. Fantastica,actuacao aqui em Estugarda,contra a Alemanha.
    Era o maior.

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  2. Caro Sr. Alberto Miguéns,

    Muito Obrigado por este seu artigo sobre um dos meus heróis futebolísticos...O GRANDE Manuel Galrinho BENTO...Que dizer daquelas exibições que vi em direto pela TV...Glasgow, no 0-0 contra a Escócia...Os jornais britânicos chamaram-lhe "Homem de Borracha"...Marselha...no fatídico França-Portugal no Euro 84...Fez uma defesa na segunda parte todo em vôo, simplesmente espectacular...Lembra-se??? Além de outras defesas tremendas nesse memorável jogo (para mim, nesse jogo, o melhor em campo)....Estugarda 85...no tal "milagre futebolístico" português...defendeu tudo o que havia para defender...até os postes e trave estavam com ele nesse dia… E se não tivesse partido a perna no México num treino...mesmo naquela confusão de Saltillo...com ele em campo Portugal poderia ter ido longe nesse Mundial… E não poderia deixar de falar naquele Sporting-Benfica de 1982 (primeiro jogo que vi em direto a cores)...em que ele dá um autêntico soco no Manuel Fernandes...quando o jogo ainda estava em 2-1 para o adversário...Na altura pensei...O Bento ficou doido!!!!! Mas depois percebi que tinha sido atingido na cabeça pelo Manel de Sarilhos..Nunca mais esqueci a imagem dele a sair de campo, depois de ter sido expulso, a protestar com o sucedido por ter sido atingido, perante a resignação do saudoso Júlio Borges (Chefe do Departamento de Futebol), que o confortava pelo facto...Enfim!!!! O melhor Guarda Redes Português de Sempre...Qual Vitor Baía...Qual quê!!!!! Um Abraço Glorioso..

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    1. Desculpe-me Sr. Alberto Miguéns,

      Esqueci de assinar o artigo acima escrito….

      Ricardo Pereira.

      Um Abraço Glorioso.

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  3. (Houve um outro golo famoso de baliza a baliza: Acúrcio a José Pereira no Restelo).
    Salientaria outra característica decisiva no enorme Bento, para além daquela excelentemente lembrada pelo Alberto (a sua força de braços além daqueles lançamentos para além de meio campo com a mão permitia blocagem de remates fortes dos adversários).
    Refiro-me à sua velocidade de arranque (lembro-me de Mortimore divulgar que no teste de "velocidade a 10 metros Benro e Néné eram imbatíveis) que permitiam o asiantamento da defesa (vários jogadores referiam isso pela confiança em Bento). Saudadea dos tempos em que adveesários isolados quando preparavam o remate tinham o nosso guarda rwdes em cima.
    ("perdoei-lhe" aquele minuto 9 perante a cabeçada do Craig Johnston).

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  4. Há sempre coisas que não sabemos destes Ases do passado.

    Manuel Bento foi provavelmente o mais extraordinário guarda-redes da História do Benfica. Foi seguramente o mlhor que vi jogar. Tenho esse orgulho de o ter visto jogar sentado no peão - geralmente do lado norte do antigo Estádio.

    Não era só qualidade, elasticidade, concentração, exigência e percepção rara do jogo. Era tudo isso e carisma. Uma personalidade única. Um verdadeiro Ás que nos honrou o passado. Um ídolo da minha juventude.

    Obrigado Manuel Galrinho Bento!

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  5. Saudades do Saudoso e Eterno Homem de Borracha.

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