O futebol lusitano era à base de passe curto, em habilidade, triangulações, marca-e-desmarca,
muitas vezes inconsequente face ao futebol linear e fácil suportado no poder
físico de grande parte dos países europeus. América do Sul era mundo à parte.
A chegada de
um treinador com “a idade dos jogadores”
Gerou desconfiança. O sueco nasceu em 5 de Fevereiro de 1948.
Bento nasceu em 25 de Junho de 1948, Néné em 20 de Novembro de 1949 e Humberto
Coelho em 20 de Abril de 1950, ou seja, Bento era cinco meses mais novo, Néné
era um ano e nove meses mais novo e Humberto Coelho era dois anos e dois meses
mais novo. E depois outros (Alves, Filipovic, Sheu e António Bastos Lopes)
eram de 1952 (Alves) e 1953. A avolumar a desconfiança a atitude do
Departamento de Futebol com apenas duas novidades para “reforçar” o plantel: o
regresso de Diamantino (depois de empréstimos ao Amora FC (1980/81) e Boavista
FC, em 1981/82) e a aquisição do guarda-redes Delgado (do Portimonense SC).
Stromberg (do IFK Gotemburgo) apenas seria transferido depois de terminar o
campeonato da Suécia, em Dezembro de 1982. O treinador apresentava, no entanto,
uma “credencial de peso”: a conquista da Taça UEFA, pelo IFK Gotemburgo, em
1981/82.
Chalana
Com 53 jogos, apenas não esteve presente em quatro encontros
dos 57 jogados pelo «Glorioso». Foi titular em 52 (38 completos) e apenas
suplente utilizado num jogo. Eis Chalana! Ser Chalana é ser pilar do Benfica
conquistador! Dos 5 130 minutos disputados pelo Benfica, Chalana
participou em 4 383 minutos, marcando oito golos, ou seja, participou em 85 por
cento do tempo jogado pelo Clube.
TITULARES NAS 30 JORNADAS DO CAMPEONATO NACIONAL
Campeonato
nacional
O Benfica liderou da primeira à última jornada, conseguindo
onze vitórias consecutivas (27/4 em golos) colocando o segundo classificado a
cinco pontos. Na primeira volta a vantagem era de quatro pontos depois da
derrota no terreno do Sporting CP. O treinador foi-se apercebendo das
vicissitudes do futebol português contando com um esclarecido (e leal) Toni
como adjunto. O onze tipo foi praticamente sempre o mesmo havendo duas
particularidades. O defesa-esquerdo titular na primeira volta foi Veloso (14
jogos com mais um de Frederico), com Álvaro a assumir essa posição na segunda
volta, em onze jogos, com os restantes quatro repartidos por Carlos Pereira
(ex-júnior) com três e Veloso (27.ª jornada). No meio-campo, sempre o sector
com mais mudanças, a principal foi a necessidade de ter um “médio de cobertura” para
permitir aproveitar a capacidade táctica e técnica de Alves sem desequilibrar a equipa deixando-a
vulnerável frente ao contra-ataque dos adversários, que foi o grande problema da
temporada anterior. Sheu revelou-se eficaz, principalmente quando regressou da
lesão contraída na 7.ª jornada, com Eriksson a experimentar colocar nessa
posição jogadores mais possantes, como Alberto Bastos Lopes e Veloso.
A segunda volta ficou marcada pela invencibilidade, apesar de
seis empates em três ciclos de dois empates consecutivos intervalados por vitórias. O Benfica sagrou-se
campeão na 28.ª (e antepenúltima) jornada (Portimão) numa edição que dominou sem mácula, com
22 vitórias (mais duas que o FC Porto) e o mesmo número de empates (sete). A
diferença reflectiu-se nas derrotas: uma (SLB) e três (FCP). Chalana foi
extraordinário com quatro golos e 29 assistências para os 67 golos, na realidade 65 pois dois foram obtidos por intervenções infelizes de adversários. O FC Porto
(segundo classificado) marcou mais seis golos (73) mas também sofreu mais cinco
(13/18). Não tendo as imagens de todos os 30 jogos resta recorrer a alguns
números, como os jogos a titular e quantos foram os completos. Apenas o
guarda-redes (Bento), os dois defesas-centrais (Humberto Coelho e António
Bastos Lopes) e Carlos Manuel, superaram os 23 jogos completos em 29 a titular
de Chalana, com seis substituições: 86, 58, 82, 65, 70 e 59 minutos.
Futebolistas
(Treze com mais jogos a titular)
|
JOGOS NO CAMPEONATO NACIONAL
|
|||
Completos
|
Titular
|
Totais
|
Minutos
|
|
Humberto Coelho
|
28
|
29
|
29
|
2 587 (1.º)
|
Bento
|
27
|
27
|
27
|
2 430 (5.º)
|
António Bastos Lopes
|
26
|
29
|
29
|
2 486 (4.º)
|
Carlos Manuel
|
26
|
28
|
29
|
2 549 (2.º)
|
CHALANA
|
23
|
29
|
29
|
2 490 (3.º)
|
Pietra
|
23
|
26
|
26
|
2 197 (7.º)
|
Filipovic
|
22
|
26
|
26
|
2 269 (6.º)
|
Néné
|
20
|
24
|
28
|
2 157 (8.º)
|
Alves
|
17
|
25
|
27
|
2 056 (9.º)
|
Veloso
|
16
|
17
|
17
|
1 453 (12.º)
|
Diamantino
|
15
|
19
|
30
|
1 901 (10.º)
|
Álvaro
|
11
|
11
|
16
|
1 220 (13.º)
|
Sheu
|
9
|
20
|
23
|
1 507 (11.º)
|
NOTA: foram utilizados mais seis futebolistas como titulares:
Alberto Bastos Lopes (5, com 4 completos), Carlos Pereira (4), Delgado (3),
Stromberg (3), Frederico (3) e José Luís (2). Padinha e César nunca foram
titulares, mas jogaram como suplentes utilizados.
A realização da final da Taça UEFA a duas mãos e o apuramento
para a final da Taça de Portugal que só se iria realizar na temporada seguinte.
Com situações caricatas, no modo como o processo foi gerido e na utilização de
futebolistas. Por exemplo Oliveira jogou toda a temporada de 1982/83 no CS
Marítimo mas tem averbado no seu currículo a conquista da Taça de Portugal de
1982/83! Porque jogou na final, em 1983/84, quando já fazia parte do plantel do
Benfica. Chalana foi fundamental nas duas competições, embora como a final da
Taça de Portugal se realizou em Agosto de 1983 não a conseguiu jogar pois
lesionou-se nos treinos de início de temporada (1983/84).
GOLO DO BENFICA (CHALANA) AO SPORTING CP NA 29.ª JORNADA (FESTA DO TÍTULO). UM-A-ZERO QUE FOI RESULTADO FINAL
GOLO DO BENFICA (CHALANA) AO SPORTING CP NA 29.ª JORNADA (FESTA DO TÍTULO). UM-A-ZERO QUE FOI RESULTADO FINAL
Começar com
Eriksson terminar com Eriksson
Foi um treinador brilhante mas mais do que isso tinha uma personalidade «À Borges Coutinho». Por isso soube lidar muito bem, com as alarvidades da parelha Pinto da Costa/José Maria Pedroto. Para Eriksson o que se passava no treino e nos jogos é que contava. O jogo da Imprensa era secundário. Ele apreciava o Futebol e o Benfica como Borges Coutinho. Durante a semana os futebolistas tinham de treinar com profissionalismo para quando chegasse o jogo fazerem deste um tempo de vitória. Era chegar ao jogo, respeitar o adversário cumprimentando o antagonista (futebolistas, dirigentes e simpatizantes presentes no campo), jogar bem para vencer melhor, derrotá-los, voltar a saudar o adversário e regressar de consciência tranquila com a satisfação de dever cumprido. À Benfica! Sem falatórios, nem a criar polémica. Eriksson era o oposto de Pedroto e uma espécie de Anti-Mourinho! Por isso é um «Senhor do Futebol» e não um oportunista! Não no sentido mais pejorativo, mas na necessidade de criar oportunidades através de polémicas. Mas há oportunistas que também são bons treinadores. «Feitios...», como se diz à portuguesa!
Foi um treinador brilhante mas mais do que isso tinha uma personalidade «À Borges Coutinho». Por isso soube lidar muito bem, com as alarvidades da parelha Pinto da Costa/José Maria Pedroto. Para Eriksson o que se passava no treino e nos jogos é que contava. O jogo da Imprensa era secundário. Ele apreciava o Futebol e o Benfica como Borges Coutinho. Durante a semana os futebolistas tinham de treinar com profissionalismo para quando chegasse o jogo fazerem deste um tempo de vitória. Era chegar ao jogo, respeitar o adversário cumprimentando o antagonista (futebolistas, dirigentes e simpatizantes presentes no campo), jogar bem para vencer melhor, derrotá-los, voltar a saudar o adversário e regressar de consciência tranquila com a satisfação de dever cumprido. À Benfica! Sem falatórios, nem a criar polémica. Eriksson era o oposto de Pedroto e uma espécie de Anti-Mourinho! Por isso é um «Senhor do Futebol» e não um oportunista! Não no sentido mais pejorativo, mas na necessidade de criar oportunidades através de polémicas. Mas há oportunistas que também são bons treinadores. «Feitios...», como se diz à portuguesa!
Amanhã… com
a segunda parte... mais glória.
Alberto
Miguéns
Eriksson é sueco e Mourinho é português, não gostando de muita da postura do Mourinho, mas o tipo é um grande treinador, apesar de achar que já foi melhor que é actualmente
ResponderEliminarFoi um campeonato empolgante. Grande futebol, grandes jogadores, grande equipa e um treinador que marcou a diferença no futebol Português. Nem os adversários negaram isso.
ResponderEliminarEsta geração do final dos anos 70 e principio dos anos 80 era constituída por jogadores tecnicamente virtuosos mas que também tinham todos personalidade muito fortes. Deixaram uma marca tremenda na memória colectiva Benfiquista. Ainda hoje é um encanto ouvir os que se predispõem a falar e é um acto da mais elementar justiça lembrar aqueles que já partiram, particularmente Manuel Bento, o melhor guarda-redes que vi jogar.
Fernando Chalana era um caso aparte. Era maravilhoso ver a sua qualidade de condução de bola e de drible.
Este foi o campeonato que segui com mais intensidade e encanto. Amor de criança, amor para toda a vida.
Que saudades desses grandes jogadores.Quanto custariam hoje?
ResponderEliminarAinda era o tempo de ter magnificos jogadores a preços acessíveis, como o grande Filipovic.
Ao Erikson e ao SLB, faltou, o troféu da taça uefa.Bem mereciam os dois.
Tudo isto é ouro, nestes tempos que correm.
ResponderEliminarQuando temos mais tempo para ler (por um lado infelizmente, devido à situação), é um enorme prazer ir absorvendo estes pedaços da história do nosso clube.
O vídeo da festa do título, até fez arrepiar...
Quando sair o último artigo sobre Chalana (haverá mais, certamente) acrescentarei mais qualquer coisa nesta caixa de comentários.
Até lá, é ir desfrutando.
Obrigado.
Recordo desta grande época, entre outras (era um dos desconfiados porque vinha para treinador um jovem com a idade dos líderes de um balneário esfrangalhado na época anterior - foi exemplo.a acusão de Álvaro que havia jogadores com pretensas lesões o que mereceu uma admoestação também pública do Humberto):
ResponderEliminar1- Aos 5 min. do jogo de apresentação com o Ferencvaros, sócios ao meu lado dixiam "já se veem as diferenças";
2- O golo do Alcobaça no final que impediu a 12a vitória em 12 jogos do campeonato;
3- as gloriosas 3 jornadas fora na Taça Uefa (o grande contributo, senão o maior, de Erikson: nova mentalidade): 1- remontada no Benito Villamarin (Bétis) - ainda conservo a cassete com a gravação dos golos relatados na Cadena Ser; a grande exibição em Roma, depois de uma frouxa exibição com o Estoril na Luz, que levou os italianos a dizerem que seriam favas contados. Não esquecer que se defrontou um dos melhores meios campos de sempre, senão o melhor: Ancelloti; Falcão; Prohaska e Bruno Conti (2 da seleção campeã do mundo, 1 brasileiro que brilhou no mesmo mundial e um austríaco super craque). Falharam-se alguns golos fáceis...; 3- a boa exibição na final em Bruxelas (impedidos de ver na tv) com uma imerecidíssima derrota.