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10 agosto 2022

Chalana 1982/83: um Tenor em Orquestra (Parte I)

10 agosto 2022 5 Comentários
COM ERIKSSON O FUTEBOL PORTUGUÊS NUNCA MAIS FOI O MESMO. 



O futebol lusitano era à base de passe curto, em habilidade, triangulações, marca-e-desmarca, muitas vezes inconsequente face ao futebol linear e fácil suportado no poder físico de grande parte dos países europeus. América do Sul era mundo à parte.


A chegada de um treinador com “a idade dos jogadores”
Gerou desconfiança. O sueco nasceu em 5 de Fevereiro de 1948. Bento nasceu em 25 de Junho de 1948, Néné em 20 de Novembro de 1949 e Humberto Coelho em 20 de Abril de 1950, ou seja, Bento era cinco meses mais novo, Néné era um ano e nove meses mais novo e Humberto Coelho era dois anos e dois meses mais novo. E depois outros (Alves, Filipovic, Sheu e António Bastos Lopes) eram de 1952 (Alves) e 1953. A avolumar a desconfiança a atitude do Departamento de Futebol com apenas duas novidades para “reforçar” o plantel: o regresso de Diamantino (depois de empréstimos ao Amora FC (1980/81) e Boavista FC, em 1981/82) e a aquisição do guarda-redes Delgado (do Portimonense SC). Stromberg (do IFK Gotemburgo) apenas seria transferido depois de terminar o campeonato da Suécia, em Dezembro de 1982. O treinador apresentava, no entanto, uma “credencial de peso”: a conquista da Taça UEFA, pelo IFK Gotemburgo, em 1981/82.



Chalana
Com 53 jogos, apenas não esteve presente em quatro encontros dos 57 jogados pelo «Glorioso». Foi titular em 52 (38 completos) e apenas suplente utilizado num jogo. Eis Chalana! Ser Chalana é ser pilar do Benfica conquistador! Dos 5 130 minutos disputados pelo Benfica, Chalana participou em 4 383 minutos, marcando oito golos, ou seja, participou em 85 por cento do tempo jogado pelo Clube.

   TITULARES NAS 30 JORNADAS DO CAMPEONATO NACIONAL

Campeonato nacional
O Benfica liderou da primeira à última jornada, conseguindo onze vitórias consecutivas (27/4 em golos) colocando o segundo classificado a cinco pontos. Na primeira volta a vantagem era de quatro pontos depois da derrota no terreno do Sporting CP. O treinador foi-se apercebendo das vicissitudes do futebol português contando com um esclarecido (e leal) Toni como adjunto. O onze tipo foi praticamente sempre o mesmo havendo duas particularidades. O defesa-esquerdo titular na primeira volta foi Veloso (14 jogos com mais um de Frederico), com Álvaro a assumir essa posição na segunda volta, em onze jogos, com os restantes quatro repartidos por Carlos Pereira (ex-júnior) com três e Veloso (27.ª jornada). No meio-campo, sempre o sector com mais mudanças, a principal foi a necessidade de ter um “médio de cobertura” para permitir aproveitar a capacidade táctica e técnica de Alves sem desequilibrar a equipa deixando-a vulnerável frente ao contra-ataque dos adversários, que foi o grande problema da temporada anterior. Sheu revelou-se eficaz, principalmente quando regressou da lesão contraída na 7.ª jornada, com Eriksson a experimentar colocar nessa posição jogadores mais possantes, como Alberto Bastos Lopes e Veloso.


A segunda volta ficou marcada pela invencibilidade, apesar de seis empates em três ciclos de dois empates consecutivos intervalados por vitórias. O Benfica sagrou-se campeão na 28.ª (e antepenúltima) jornada (Portimão) numa edição que dominou sem mácula, com 22 vitórias (mais duas que o FC Porto) e o mesmo número de empates (sete). A diferença reflectiu-se nas derrotas: uma (SLB) e três (FCP). Chalana foi extraordinário com quatro golos e 29 assistências para os 67 golos, na realidade 65 pois dois foram obtidos por intervenções infelizes de adversários. O FC Porto (segundo classificado) marcou mais seis golos (73) mas também sofreu mais cinco (13/18). Não tendo as imagens de todos os 30 jogos resta recorrer a alguns números, como os jogos a titular e quantos foram os completos. Apenas o guarda-redes (Bento), os dois defesas-centrais (Humberto Coelho e António Bastos Lopes) e Carlos Manuel, superaram os 23 jogos completos em 29 a titular de Chalana, com seis substituições: 86, 58, 82, 65, 70 e 59 minutos.

Futebolistas
(Treze com mais jogos a titular)
JOGOS NO CAMPEONATO NACIONAL

Completos
Titular
Totais
Minutos
Humberto Coelho
28
29
29
2 587 (1.º)
Bento
27
27
27
2 430 (5.º)
António Bastos Lopes
26
29
29
2 486 (4.º)
Carlos Manuel
26
28
29
2 549 (2.º)
CHALANA
23
29
29
2 490 (3.º)
Pietra
23
26
26
2 197 (7.º)
Filipovic
22
26
26
2 269 (6.º)
Néné
20
24
28
2 157 (8.º)
Alves
17
25
27
2 056 (9.º)
Veloso
16
17
17
1 453 (12.º)
Diamantino
15
19
30
1 901 (10.º)
Álvaro
11
11
16
1 220 (13.º)
Sheu
9
20
23
1 507 (11.º)
NOTA: foram utilizados mais seis futebolistas como titulares: Alberto Bastos Lopes (5, com 4 completos), Carlos Pereira (4), Delgado (3), Stromberg (3), Frederico (3) e José Luís (2). Padinha e César nunca foram titulares, mas jogaram como suplentes utilizados.  


E a temporada ainda proporcionou muito mais, tal como…
A realização da final da Taça UEFA a duas mãos e o apuramento para a final da Taça de Portugal que só se iria realizar na temporada seguinte. Com situações caricatas, no modo como o processo foi gerido e na utilização de futebolistas. Por exemplo Oliveira jogou toda a temporada de 1982/83 no CS Marítimo mas tem averbado no seu currículo a conquista da Taça de Portugal de 1982/83! Porque jogou na final, em 1983/84, quando já fazia parte do plantel do Benfica. Chalana foi fundamental nas duas competições, embora como a final da Taça de Portugal se realizou em Agosto de 1983 não a conseguiu jogar pois lesionou-se nos treinos de início de temporada (1983/84).

GOLO DO BENFICA (CHALANA) AO SPORTING CP NA 29.ª JORNADA (FESTA DO TÍTULO). UM-A-ZERO QUE FOI RESULTADO FINAL 


  

Começar com Eriksson terminar com Eriksson
Foi um treinador brilhante mas mais do que isso tinha uma personalidade «À Borges Coutinho». Por isso soube lidar muito bem, com as alarvidades da parelha Pinto da Costa/José Maria Pedroto. Para Eriksson o que se passava no treino e nos jogos é que contava. O jogo da Imprensa era secundário. Ele apreciava o Futebol e o Benfica como Borges Coutinho. Durante a semana os futebolistas tinham de treinar com profissionalismo para quando chegasse o jogo fazerem deste um tempo de vitória. Era chegar ao jogo, respeitar o adversário cumprimentando o antagonista (futebolistas, dirigentes e simpatizantes presentes no campo), jogar bem para vencer melhor, derrotá-los, voltar a saudar o adversário e regressar de consciência tranquila com a satisfação de dever cumprido. À Benfica! Sem falatórios, nem a criar polémica. Eriksson era o oposto de Pedroto e uma espécie de Anti-Mourinho! Por isso é um «Senhor do Futebol» e não um oportunista! Não no sentido mais pejorativo, mas na necessidade de criar oportunidades através de polémicas. Mas há oportunistas que também são bons treinadores. «Feitios...», como se diz à portuguesa!



Amanhã… com a segunda parte... mais glória.



Alberto Miguéns
5 comentários
  1. Eriksson é sueco e Mourinho é português, não gostando de muita da postura do Mourinho, mas o tipo é um grande treinador, apesar de achar que já foi melhor que é actualmente

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  2. Foi um campeonato empolgante. Grande futebol, grandes jogadores, grande equipa e um treinador que marcou a diferença no futebol Português. Nem os adversários negaram isso.

    Esta geração do final dos anos 70 e principio dos anos 80 era constituída por jogadores tecnicamente virtuosos mas que também tinham todos personalidade muito fortes. Deixaram uma marca tremenda na memória colectiva Benfiquista. Ainda hoje é um encanto ouvir os que se predispõem a falar e é um acto da mais elementar justiça lembrar aqueles que já partiram, particularmente Manuel Bento, o melhor guarda-redes que vi jogar.

    Fernando Chalana era um caso aparte. Era maravilhoso ver a sua qualidade de condução de bola e de drible.

    Este foi o campeonato que segui com mais intensidade e encanto. Amor de criança, amor para toda a vida.

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  3. Que saudades desses grandes jogadores.Quanto custariam hoje?
    Ainda era o tempo de ter magnificos jogadores a preços acessíveis, como o grande Filipovic.
    Ao Erikson e ao SLB, faltou, o troféu da taça uefa.Bem mereciam os dois.

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  4. Tudo isto é ouro, nestes tempos que correm.
    Quando temos mais tempo para ler (por um lado infelizmente, devido à situação), é um enorme prazer ir absorvendo estes pedaços da história do nosso clube.
    O vídeo da festa do título, até fez arrepiar...
    Quando sair o último artigo sobre Chalana (haverá mais, certamente) acrescentarei mais qualquer coisa nesta caixa de comentários.
    Até lá, é ir desfrutando.
    Obrigado.

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  5. Recordo desta grande época, entre outras (era um dos desconfiados porque vinha para treinador um jovem com a idade dos líderes de um balneário esfrangalhado na época anterior - foi exemplo.a acusão de Álvaro que havia jogadores com pretensas lesões o que mereceu uma admoestação também pública do Humberto):
    1- Aos 5 min. do jogo de apresentação com o Ferencvaros, sócios ao meu lado dixiam "já se veem as diferenças";
    2- O golo do Alcobaça no final que impediu a 12a vitória em 12 jogos do campeonato;
    3- as gloriosas 3 jornadas fora na Taça Uefa (o grande contributo, senão o maior, de Erikson: nova mentalidade): 1- remontada no Benito Villamarin (Bétis) - ainda conservo a cassete com a gravação dos golos relatados na Cadena Ser; a grande exibição em Roma, depois de uma frouxa exibição com o Estoril na Luz, que levou os italianos a dizerem que seriam favas contados. Não esquecer que se defrontou um dos melhores meios campos de sempre, senão o melhor: Ancelloti; Falcão; Prohaska e Bruno Conti (2 da seleção campeã do mundo, 1 brasileiro que brilhou no mesmo mundial e um austríaco super craque). Falharam-se alguns golos fáceis...; 3- a boa exibição na final em Bruxelas (impedidos de ver na tv) com uma imerecidíssima derrota.

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