Além da competição que foi objecto de recordação na primeira
parte (ontem) – o campeonato nacional – o Benfica esteve excelente nas outras
duas competições, ambas a eliminar: Taça UEFA (a duas mãos incluindo a final) e
Taça de Portugal (disputada, na íntegra, a uma mão).
Taça UEFA e Taça
de Portugal (considerações gerais)
O «Glorioso» regressou a uma final europeia, embora da Taça
UEFA (então denominada pela confederação europeia como C3) o que já não ocorria
desde 1967/68, embora na C1: Taça dos Clubes Campeões Europeus. E só não
disputou a final da Taça de Portugal porque esta foi adiada para o início da
temporada seguinte, mas para os “devidos” efeitos é contabilizada em 1982/83.
Em termos históricos é que terá de ficar para 1983/84 pois o plantel disponível
para a final não foi o mesmo. Oliveira que foi eliminado enquanto futebolista
do CS Marítimo, logo nos 32-avos-de-final, no estádio dos Barreiros (Funchal) pelo
GD Riopele, 11.º classificado da zona Norte da II Divisão, ao perder por 1-2, averba
no seu currículo a conquista do troféu. Por outro lado, Alves, Frederico e
César, que “contribuíram” para apurar o Clube para a final já não a puderam
jogar, pois faziam parte, em 1983/84, de outros plantéis, respectivamente, Boavista
FC (Alves e Frederico) e Grêmio TB Porto Alegrense.
Toni (adjunto), Eriksson (treinador) e Delgado (suplente) |
Ainda Eriksson
Não fez qualquer distinção entre competições. Eram todas para
conquistar, por isso praticamente jogaram sempre os mesmos, nas três competições,
com a titularidade a depender da capacidade física, desgaste e cumprir
suspensões, com as substituições a serem feitas por questões tácticas, de
fadiga ou compatibilidade. Esta boa percepção da grandeza do Benfica – jogar para
conquistar – resultou quase (ficou a Taça UEFA por conquistar) e a presença
assegurada na final da Taça de Portugal. Além disso geriu muito bem (pelo menos…)
três situações: Stromberg, Alves e Diamantino, embora Alves tenha mais que se
lhe diga… Stromberg foi contratado pois Eriksson percebeu que o Benfica
necessitava de um futebolista com cultura táctica e personalidade de excelência,
visto ser ex-futebolista treinado por ele no IFK Gotemburgo. Mas “geriu com
pinças” a sua integração. Percebia que faltava “força” para libertar a
criatividade de Carlos Manuel, Chalana e Diamantino, mas principalmente de
Alves. Como a equipa ia superando os obstáculos preferiu- principalmente pela notável
capacidade táctica de Sheu – manter Stromberg como elemento suplente – 18 sem
ser utilizado, oito a titular e um a entrar ao intervalo. Diamantino foi o
único totalista (30 jogos) no campeonato nacional, na Taça UEFA (12 jogos) e na
Taça de Portugal (seis jogos), mas nos 48 jogos, em 16 como suplente utilizado,
jogando nas quatro posições no meio campo e fazendo par com Néné ou com
Filipovic, na linha avançada. Diamantino foi titular em 20 jornadas do
campeonato e dez como suplente utilizado. Na Taça UEFA, em doze jogos, sete a
titular e cinco como suplente utilizado. Na Taça de Portugal, em seis jogos, cinco
a titular e um como suplente utilizado, entrando ao intervalo para sair César.
Alves foi mais complicado de gerir. Primeiro teve que ir alterando o seu modo
de jogar, sendo substituído com frequência, depois há a estória da segunda mão
da final em que muitos críticos de Eriksson afirmam que deveria ser titular.
TITULARES NOS 18 JOGOS DAS DUAS COMPETIÇÕES A ELIMINAR: TAÇA UEFA (12 jogos) E TAÇA DE PORTUGAL (seis jogos)
Mais Chalana
Tal como no campeonato nacional as suas exibições nas duas
competições a eliminar foram de excelência, beneficiando da qualidade táctica
de Sheu ou da presença de Stromberg. Nos 18 jogos da Taça UEFA/Taça de Portugal
fez onze deles completos, sendo substituído em seis, aos oito minutos, 88, 69,
67, 85 e 51 minutos. Só seis futebolistas fizeram mais jogos completos e apenas
dois (Bento Humberto Coelho) fizeram mais um jogo que Chalana. Em minutos, foi
o sexto futebolista mais utilizado e apenas Carlos Manuel, entre os
centrocampistas, jogou mais minutos, mais 137!
FUTEBOLISTAS
UTILIZADOS NA TAÇA UEFA (12 JOGOS) E TAÇA DE PORTUGAL (6 JOGOS) NUM TOTAL DE 18
JOGOS (1620 MINUTOS)
Futebolistas
|
JOGOS NA TAÇA U.E.F.A. E TAÇA DE PORTUGAL
|
|||
Completos
|
Titular
|
Totais
|
Minutos
|
|
Bento
|
17
|
18
|
18
|
1 575 (1.º)
|
Humberto Coelho
|
17
|
18
|
18
|
1 575 (1.º)
|
Pietra
|
17
|
17
|
17
|
1 530 (3.º)
|
António Bastos Lopes
|
16
|
17
|
17
|
1 509 (4.º)
|
Carlos Manuel
|
15
|
17
|
17
|
1 495 (5.º)
|
Néné
|
12
|
14
|
17
|
1 316 (7.º)
|
CHALANA
|
11
|
17
|
17
|
1 358 (6.º)
|
Sheu
|
10
|
13
|
16
|
1 128 (10.º)
|
Diamantino
|
9
|
12
|
18
|
1 178 (9.º)
|
Filipovic
|
9
|
15
|
16
|
1 284 (8.º)
|
Veloso
|
9
|
10
|
10
|
872 (12.º)
|
Alves
|
8
|
12
|
14
|
1 082 (11.º)
|
Álvaro
|
7
|
7
|
8
|
640 (13.º)
|
Alberto Bastos Lopes
|
2
|
3
|
6
|
299 (14.º)
|
Stromberg
|
2
|
3
|
3
|
249 (16.º)
|
José Luís
|
1
|
2
|
7
|
273 (15.º)
|
Carlos Pereira
|
1
|
1
|
2
|
135 (17.º)
|
César
|
-
|
1
|
7
|
129 (18.º)
|
Frederico
|
-
|
1
|
3
|
105 (19.º)
|
Delgado
|
-
|
-
|
1
|
45 (20.º)
|
Padinha
|
-
|
-
|
1
|
28 (21.º)
|
Taça UEFA e Taça
de Portugal (considerações particulares)
1. Na Taça UEFA, o Benfica fez um percurso de grande nível,
eliminando aquele que era, talvez, o melhor plantel da competição, o do clube
transalpino, AS Roma. Foram dois dos melhores jogos europeus do Benfica nos
Anos 80. Na final, houve imprudência. Na primeira mão, José Luís foi imprudente
pois tendo sido já admoestado com cartão amarelo devia ter sido mais prudente
para não ser expulso, enfraquecendo a equipa que procurava o empate no jogo e o
plantel para o encontro da segunda mão. Nesta, depois de Sheu ter igualado a
eliminatória a um golo, o Benfica nunca deveria ter permitido ao adversário
fazer um contra-ataque mortífero, resultando no segundo golo. Havia que fazer
contenção até ao intervalo, para depois Eriksson fazer as alterações que
possibilitassem marcar o segundo golo na segunda parte. Mas agora é fácil ter
esta opinião de treinador de bancada.
2. Na Taça de Portugal, o Benfica conseguiu responder bem à
golpada e conluio entre o FC Porto e a FPF. Nesta destacou-se o Benfiquista
Romão Martins (há quem não perceba que não há ninguém eterno, por isso ficará
para sempre ligado a esta vergonha contra o Clube de que era adepto, ou seja,
serviu-se mais do Benfica do que o serviu, pelo menos, bem. Já desapareceu
deste Mundo!) – que foi candidato a presidente derrotado, em 1969, quando foi
eleito Borges Coutinho e depois criou as condições para, como Chefe do
Departamento de Futebol, permitir a saída de Artur para o Sporting CP e o não
regresso de Jordão que queria voltar do Real Saragoça ao Benfica e depois
acabou no Sporting CP. Pois Romão Martins, como presidente da FPF, aceitou
disputar a final da Taça de Portugal fora do Estádio Nacional. Primeiro “inventando”
ser jogada em Coimbra que mais não era um expediente para o FC Porto a poder
jogar no seu estádio como ocorreria. Os dirigentes do «Glorioso» estiveram
muito bem e Eriksson deu uma ajuda. O Benfica tinha mais oito jogos na Taça
UEFA que o FC Porto que foi eliminado, por 0-4 (20 de Outubro de 1982), frente
ao adversário da final, o RSC Anderlecht, logo na segunda eliminatória. No
final da temporada esses 720 minutos de jogos intensos “pesavam”. Era
preferível disputar a final na temporada seguinte, mesmo que fosse no terreno
do adversário. De decisão em decisão e de recurso em recurso foi isso que
acabou por ocorrer.
Se 1982/83
foi bom?! O melhor estava para vir…
Alberto
Miguéns