Uma honra para o Clube e, certamente, também para ele.
Médico
ilustre
O doutor Januário Barreto era aquando da fundação do Clube,
em 28 de Fevereiro de 1904, um ilustre médico apesar de contar apenas com 26 anos de idade, pois nasceu, em 1 de Abril de 1877, na Aldeia do Souto, no
concelho da Covilhã.
Casapiano
veterano “da bola”
Órfão
aos oito anos, ingressou na Real Casa Pia de Lisboa, menos de um ano depois, em
30 de Junho de 1886. Cedo revelou dotes intelectuais e desportivos que lhe
permitiram uma bolsa para estudar na Escola Médica de Lisboa e fez parte da
célebre equipa de futebol da Casa Pia que derrotou, em 22 de Janeiro de 1898,
os ingleses do Cabo Submarino, do Carcavellos Club. A equipa da Real Casa Pia de Lisboa em 1895. Da esquerda para a direita. Em cima (avançados): Emílio de Carvalho (2.º) meia-ponta-direita, Silvestre Silva (3.º), avançado-centro, António Couto (4.º), meia-ponta-esquerda. Ao centro, sentados em cadeiras, (defesa-direito, guarda-redes e defesa-esquerdo): Pedro Guedes (2.º), guarda-redes, capitão (por isso é o "dono da bola") e Januário Barreto (3.º). Em baixo (médios): Daniel Queirós dos Santos (2.º), médio-centro. Estes casapianos jogaram no "Glorioso". Apenas cinco não jogaram no Clube: João Pedro (ponta-direita), Raul Carapinha (ponta-esquerdo), João Lourenço (defesa-direito), João Cambraia (médio-direito) e Bruno do Carmo (médio-esquerdo) |
Não foi
fundador porque não aconteceu…
Num Clube, sem espaço privado, por isso a treinar em terrenos públicos, quem não
vivia em Belém tinha dificuldade em deslocar-se para tão longe (em 1904), equipar-se e desequipar-se na "rua", a não
ser para jogar. Treinar é uma coisa, jogar é outra! Apesar de acompanhar os
preparativos para a fundação do Clube não esteve presente no dia da fundação,
como mais “uns 24” além dos 24 sócios
fundadores!
Em 1902, com 23 anos, na fotografia com o grupo que se formou nesse ano em Medicina |
Continuou
atento ao Clube
Se já se interessava pelo Clube antes deste existir,
manteve-se atento ao Sport Lisboa como continuador dos feitos futebolísticos dos
casapianos do século XIX, também “só com portugueses”. Por isso, não é de
estranhar, antes pelo contrário, o que se passou há, precisamente, 113 anos, pelas oito da noite!
Jornal matutino diário “O Século”
|
Eleito há
113 anos
Em 22 de Novembro de 1906, aos 29 anos, foi eleito na assembleia
geral do Clube presidente da Direcção no sentido de dar prestígio a uma
colectividade que brilhava no campo desportivo. Em 10 de Fevereiro de
1907, o Clube conseguiu derrotar, por 2-1, o Carcavellos Club, que estava
invencível desde essa memorável tarde de 22 de Janeiro de 1898, fazendo ele
parte desse célebre onze casapiano.
Em 10 de Fevereiro de 1907 a equipa do nosso querido Benfica alinhou com (em baixo, a
vermelho-Benfica, os casapianos que estiveram, também na vitória, da Real Casa
Pia em 1898):
Guarda-redes: Manuel Móra;
Defesas, à direita e esquerda:
Henrique Costa e Emílio de Carvalho;
Médios, à direita, centro e à
esquerda: Fortunato Levy (cap.), António Couto e Albano
dos Santos;
Avançados, da direita para a esquerda:
Marcial Costa, António Rosa Rodrigues, Daniel Queirós dos Santos, Cândido Rosa
Rodrigues e David da Fonseca.
Ida para o
Sporting CP
Em 27 de Setembro de 1909, presidiu aos segundos corpos
gerentes da Liga Portugueza de Football (sucessora da Liga de Foot-Ball Association
e antecessora da Associação de Futebol de Lisboa) e depois, em 4 de Janeiro de
1910, passou a presidir ao Conselho Fiscal do Sporting CP. Clube para onde
entrara para associado no início de 1909 seguindo o percurso de muitos dos
casapianos – António do Couto, Francisco dos Santos, Emílio de Carvalho e Daniel Queirós dos Santos, por
exemplo - que deixaram o “Glorioso” no Verão de 1907 para possibilitarem ao SCP
inscrever uma equipa no campeonato da primeira categoria, em 1907/08, pois
falhara o campeonato de 1906/07.
Morte
precoce
A poucos meses da implantação da República (5 de Outubro de 1910)
Lisboa foi sobressaltada com o falecimento do ilustre médico (e republicano) dr. Januário Gonçalves
Barreto Duarte, em 23 de Junho de 1910, aos 33 anos, vítima da generosidade com
que tratava os seus doentes sem medo das terríveis doenças contagiosas que lhe
seriam fatais. Deixou viúva Carolina Beatriz Ângelo, com 32 anos, e órfã a sua filha com
sete ternos anos.
Obrigado
por tudo, doutor Januário!
Alberto
Miguéns
NOTA: Entrevista a Januário Barreto como presidente da Liga Portugueza de Foot-Ball (clicar) com erro na legendagem das fotografias! Deve ser o jogo realizado, em 24 de Outubro, entre o Gilman SC (Braço de Prata) e o Internacional/CIF.
NOTA: Entrevista a Januário Barreto como presidente da Liga Portugueza de Foot-Ball (clicar) com erro na legendagem das fotografias! Deve ser o jogo realizado, em 24 de Outubro, entre o Gilman SC (Braço de Prata) e o Internacional/CIF.
O Dr. Januário Barreto teve uma vida curta mas intensa.
ResponderEliminarComo foi caprichoso o destino quando trouxe um jovem nascido numa aldeia da Covilhã para Lisboa, para a Casa Pia.
O jovem Januário Barreto foi um dos pioneiros que introduziu o futebol na Casa Pia.
Foi um dos entusiastas que venceu pela primeira vez os Ingleses do Carcavelos.
Esteve seguramente entre os homens que se treinaram nas Salésias mas já tinha responsabilidades profissionais que o terão impedido de jogar pelo Sport Lisboa. Foi fundamental para a organização dos primeiros campeonatos de Lisboa e para dar credibilidade ao primeiro orgão associativo do futebol Lisboeta. Teve um trajecto desportivo impressionante.
Médico de formação era reconhecido não apenas pela sua capacidade intelectual mas também pela sua generosidade. Como o Alberto referiu, Januário Barreto morreu muito novo vítima dessa generosidade
novo e essa perda foi nefasta para o futebol Português.
Como presidente do SLB teve a infelicidade de assumir o cargo numa altura em que não podia fazer mais do que o que fez. Não havia condições financeiras ou sociais para fazer melhor.
Se não tivesse morrido teria certamente sido um dirigente de excepção no futebol português.
Paz à sua alma. Honra à sua memória.
E como por detrás de um grande homem está uma grande mulher...(desconhecia que Beatriz Ângelo, nome do hospital de Loures, era viúva de Januário Barreto). Obrigado por mais um (excelente) bocado de história.
ResponderEliminarBom dia, mais um belo trabalho do senhor Alberto, espetacular.
ResponderEliminarVida e obra de um GRANDE, revistada por quem sabe da história do Benfica.
ResponderEliminarNota;
A Viúva, Beatriz Ângelo, foi a primeira mulher a votar nas eleições. Estávamos em 1911 e as mulheres não tinham direito a voto. Só que ela soube contornar a lei...lei essa que se esqueceu de proibir também as mulheres que fossem chefes de família. E como ela, na qualidade de viúva, era chefe de família...votou!!!