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11 setembro 2019

Ficou o Amor Por Ti

11 setembro 2019 4 Comentários
HÁ PRECISAMENTE 105 ANOS ALGUMA IMPRENSA NOTICIAVA A EDIÇÃO DE UM LIVRO ESCRITO POR DOIS FUTEBOLISTAS DO BENFICA.

A capa do livro utiliza uma fotografia do jogo entre o Benfica e o Internacional/CIF realizado em 7 de Dezembro de 1913, num empate a dois golos, no Campo do SLB (Sete Rios). Picão Caldeira (guarda-redes do CIF) e Francisco Pereira (SLB) disputam a bola

O primeiro livro de «Foot-Ball» a ser publicado em Portugal. Por dois futebolistas do Benfica. Há 105 anos! Até nisto fomos pioneiros! No início da temporada de 1914/15 o futebol em Portugal tinha finalmente um livro que divulgava e comentava as Leis do Jogo, bem como aspectos tácticos do jogo e características técnicas para os jogar. Estava escrito, preto-no-branco as teorias de Cosme Damião (que prefacia o livro) que mostravam quanto avançado ele estava em relação ao que se fazia em Portugal! Perigo de ser copiado por haver divulgação? Impossível. Só se houvesse um Cosme Damião II. E tal não existia. 



Dois futebolistas do Benfica escrevem um livro, entre 1913 e 1914 (provavelmente)
Que é publicado antes do início da temporada de 1914/15 com prefácio de Cosme Damião que indica Maio de 1914 como mês em que o escreveu. O livro ficou pronto em Junho e foi colocado à venda no início de Setembro de 1914 com a época a iniciar-se. O Benfica estreou-se, em campo, a 18 de Outubro de 1914, no Stadium de Lisboa (depois Lumiar), numa vitória, por 3-1, frente a uma equipa constituída por um Misto de Ingleses de clubes de Lisboa e de Carcavelos.



Francisco Nunes e Monteiro
Francisco Nunes jogava habitualmente a defesa à direita e Monteiro penso ser médio ou como se dizia na época, meia-defesa, pela leitura do livro. Cosme Damião onze anos depois, em 1925, publicaria um livro «Apontamentos e Recortes sobre Football Association» que é um tratado acerca de Futebol, mostrando com muito mais conhecimento como devia ser jogado e entendido o Futebol. Mas este livro pioneiro é uma referência, por ser o primeiro, e escrito por dois futebolistas relativamente jovens, com pouco mais de 20 anos, tudo leva a crer.



O livro é muito simples (como nota Cosme Damião)
Mas dá para perceber como funcionava o futebol nesse tempo além de ter sempre as páginas mais “pitorescas” nos livros de futebol da primeira metade do século XX que é o glossário dos termos de futebol. O livro com dez por seis centímetros tem 120 páginas não tem índice mas pode ser feito:
Introdução: Duas palavras;
I – Página 11. A origem e a história do jogo;
II – Página 17. O foot-ball é um jogo útil;
III – Página 23. O team d’associação;
IV – Página 29. O guarda da rede (goal keeper);
V – Página 36. Os defesas (backs);
VI – Página 51. Os meias-defesas (halfs-backs);
VII – Página 63. Os avançados (forwards);
VIII – Página 73. Noções do jogo de Associação;
IX – Página 83. A bola; os treinos;
X – Página 93. Conselhos aos jogadores;
XI – Página 97. Regras do jogo;
XII – Página 109. Notas ao regulamento;
XIII – Página 115. Explicação dos termos mais geralmente usados no jogo de “Associação”

Não era como se diz muitas vezes, acerca do futebol em 2.3.5, cinco avançados “contra” dois defesas
Tal como é explicado, no livro publicado em Setembro de 1914, com simplicidade. Utilizando um esquema semelhante ao que os autores idealizaram para a página 25. 



Enquanto os defesas marcavam os meias-pontas adversários os meias-defesas marcavam os pontas contrários. E o meia-defesa-central marcava o avançado-centro. Cinco para cinco como deve ser um Futebol tacticamente equilibrado. A diferença fazia-se na capacidade física e destreza individual dos futebolistas.



O cunho de Cosme Damião
O «Nosso Pai Benfiquista» conhecia como poucos não só o Futebol, como o equilíbrio táctico dos adversários e as características individuais dos principais futebolistas contrários. Por isso a defender, por vezes, alterava a norma estabelecendo as marcações em função das características dos «Gloriosos Futebolistas» e dos futebolistas adversários para os anular, em função da rapidez ou da capacidade física. Não se ganhava mais que os outros por acaso. E com Cosme Damião como capitão-geral, até Agosto de 1926, o Benfica conseguiu isto:


CAMPEÕES REGIONAIS DE LISBOA (1906/07 - 1925/26)
Época
1.ª
2.ª
3.ª
4.ª
1906/07
Carcavellos
-----------
-----------
-----------
1907/08
Carcavellos
-----------
-----------
-----------
1908/09
Carcavellos
Internacional
CS Império
-----------
1909/10
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
-----------
1910/11
Internacional
SL Benfica
SL Benfica
-----------
1911/12
SL Benfica
GS Cruz Quebrada
SL Benfica
Sporting CP
1912/13
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
Sporting CP
1913/14
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1914/15
Sporting CP
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1915/16
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1916/17
SL Benfica
Vitória FC Setúbal
SL Benfica
SL Benfica
1917/18
SL Benfica
SL Benfica
GD Fábrica Seixas
GF Benfica
1918/19
Sporting CP
SL Benfica
SL Benfica
SL Benfica
1919/20
SL Benfica
SL Benfica
União F Lisboa
GF Benfica
1920/21
Casa Pia AC
SL Benfica
SL Benfica
GF Benfica
1921/22
Sporting CP
Vitória FC Setúbal
SL Benfica
Carcavelinhos FC
1922/23
Sporting CP
CF "Os Belenenses"
União F Lisboa
SL Benfica
1923/24
Vitória FC Setúbal
Carcavelinhos FC
Sporting CP
CF "Os Belenenses"
1924/25
Sporting CP
Carcavelinhos FC
Império LC
SL Benfica
1925/26
CF "Os Belenenses"
Vitória FC Setúbal
SL Benfica
Carcavelinhos FC
TOTAIS
8 em 20
40 %
10 em 18
56 %
12 em 18
67 %
7 em 15
47 %

Três épocas inéditas: 1909/10, 1913/14 e 1915/16
O SL Benfica foi o único clube, entre 1908/09 e 1947/48, ou seja durante 40 temporadas (23 com quatro categorias - 1911/12 a 1933/34 - e as restantes 17 com três categorias) que conquistou a totalidade dos títulos: 1909/10 (três títulos de campeão regional) e 1913/14 e 1915/16 (ambas com quatro títulos de campeão regional). O Sporting CP viria a obter uma proeza idêntica, mas já com a competição reduzida a três categorias, em 1934/35. Inolvidável e inigualável "Glorioso". Três vezes a fazer o pleno!

Não fazer "Formação" e aproveitar futebolistas
Será sempre a "excepção à regra". É só olhar para a "Gloriosa História". Até Cosme Damião deixar o cargo de capitão-geral (Agosto de 1926) o Clube apenas utilizava futebolistas formados no «Glorioso». E Cosme Damião “obrigava” os futebolistas a “tarimbarem” desde a 4.ª categoria até à 3.ª e desta à 2.ª e depois à 1.ª. Raros chegavam à 1.ª categoria e já com “dose Q.B.» de Benfiquismo e entendimento do jogo para “Honrarem os Ases Que Nos Honraram o Passado». Houve excepções, mas eram futebolistas que se inscreviam para representar o Benfica. Os casos mais conhecidos foram Jaime Cadete (vindo do Sporting CP, em 1913/14), Carlos Sobral e Artur Augusto (vindos do Internacional/CIF, em 1915/16) e Joaquim Belford (vindo do Império LC, em 1919/20). Para Cosme Damião o Benfica era um clube glorioso que não andava atrás de futebolistas, estes é que tinham de pedir para jogar no Benfica. Com entrada na 1.ª categoria, sem passar por outras, foi Cândido de Oliveira que passou da equipa escolar da Casa Pia de Lisboa, em 1913/14, para a primeira do «Glorioso». 



É fácil comprovar que o Benfica sempre utilizou muitos futebolistas formados no Clube
Sem procurar “casos especiais” é fazer, por exemplo, uma análise (talvez amanhã, se houver tempo) aos onze plantéis em anos terminados em 3 pois o Benfica apenas em três anos (em onze) não conquistou qualquer título: 1922/23, 2002/03 e 2012/13. Por razões distintas!

Época
Título
1912/13
3.º Campeonato Regional de Lisboa
1922/23
--------------------
1932/33
9.º Campeonato Regional de Lisboa
1942/43
5.º Campeonato Nacional da I Divisão
5.ª Taça de Portugal
1952/53
10.ª Taça de Portugal
1962/63
12.º Campeonato Nacional da I Divisão
1972/73
20.º Campeonato Nacional da I Divisão
1982/83
26.º Campeonato Nacional da I Divisão
21.ª Taça de Portugal
1992/93
25.ª Taça de Portugal
2002/03
--------------------
2012/13
--------------------


É o Benfica!


Alberto Miguéns


NOTA: Uma melodia interpretada por um Benfiquista, Fernando Tordo que este blogue dedica à memória dos três Benfiquistas citados: Nunes, Monteiro e Cosme Damião. Deles ficou para o «Glorioso» isso mesmo.

4 comentários
  1. O Sport Lisboa e Benfica pioneiro, à frente na formação e na competição.

    Com certeza que Cosme Damião foi a inspiração para Francisco Nunes e para AR Monteiro.

    Não esquecer também que uns anos antes Manuel Gourlade encomendou a tradução das regras originais do football de Inglês para o Português.

    Assim ficou demonstrado que, desde os primórdios da sua existência, o Clube teve dirigentes preocupados em estar informados e em formar os seus atletas. Formar quer do ponto de vista técnico e táctico quer do ponto de vista moral e ético. A Mística veio breve com a fusão desses ensinamentos com o talento, a galhardia e acima de tudo o Amor ao Clube. Todos por um!

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  2. Só uma nota: o livro terá 105 anos, e não 115, como referido por duas vezes no topo do texto. Chamou-me a atenção como seria possível dois futebolistas do Benfica publicarem um livro precisamente no ano da fundação do clube. Cumprimentos.

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    Respostas
    1. Caro Ricardo

      Agradeço a atenção. Sem dúvida. 2019 - 1914 = 105 anos.

      Obrigado

      Saudações

      Alberto Miguéns

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  3. Bonita a musica para este tema.

    Fosse eu cineasta, e já haveria uma trilogia sobre a história do nosso glorioso clube.

    Viva o Benfica.

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