Só um Benfiquista (com Bê grande) aceitava ajudar o
«Glorioso» a resolver o primeiro problema técnico - despedimento do treinador
antes da temporada terminar - no futebol do Clube, em 1947. É que Manuel
Alexandre estava fora do Clube, a treinar uma equipa de futebol de um outro
clube, que abandonou para ajudar o "seu" Benfica a resolver um
problema delicado.
No Benfica
aos 16 anos (para uma vida)
Manuel Alexandre nascido em 6 de Julho de 1905, entrou para
associado, em 8 de Março de 1922. Seguiu-se um percurso a guarda-redes, desde o
«Grupo Infantil», em 1924, até à titularidade na 1.ª categoria, em 1930/31. Na
época de 1928/29 foi capitão da 3.ª categoria. No seu desempenho desportivo
sagrou-se campeão regional em 2.ª categoria (1928/29) e Reserva (1930/31).
Realizou pelo Benfica, 65 jogos, com 19 encontros (1 557 minutos) na 1.ª
categoria (doze vitórias, quatro empates e três derrotas), quatro temporadas, entre
6 de Junho de 1929 e 28 de Dezembro de 1931. Deixou a prática do Futebol em
1931/32, aos 26 anos. Após o abandono da prática desportiva foi nomeado em 10
de Janeiro de 1933 para a «Secção de Futebol» onde se manteve mais três
temporadas, até 1935/36, integrando um grupo de excelsos Benfiquistas: António
Ribeiro dos eis (capitão-geral - nome do treinador no Clube quando correspondia
a um ex-futebolista), Vítor Gonçalves e José Francisco Simões. Com a profissão
de tipógrafo, manteve como era frequente nesses tempos, o emprego em simultâneo
com a actividade de desportista. Durante muitos anos foi empregado na tipografia
da Câmara Municipal de Lisboa. Pelos seus serviços ao Clube foi votado em
assembleia geral como «Sócio de Mérito», em 27 de Agosto de 1942.
De árbitro a
treinador
Entretanto, em 1933, fez exame para árbitro de futebol, sendo
um dos mais competentes árbitros portugueses nos anos 30, "apitando"
mesmo um encontro internacional entre as selecções de Lisboa e Sevilha, a contento
de todos! Foi durante doze anos secretário-geral da Comissão Distrital de
Árbitros e presidiu durante três épocas ao júri dos exames para árbitros de futebol.
Exerceu depois o cargo de treinador, primeiro na Escola Marquês de Pombal,
seguindo-se o Amora FC, Almada AC, Ginásio Clube do Sul (Cacilhas) e o Clube
Futebol Benfica.
Eis a «oportunidade de uma vida»
Em 1947, depois do desaguisado entre Joaquim Bogalho e o treinador Janos (depois da «naturalização como português... João, mas nunca "pegou"), em 23 de Março, e com a suspensão deste técnico, ao nosso clube deparou-se uma situação inédita na história do seu futebol: A mudança de um treinador contratado por outro provisório. Para resolver o problema, pois ainda faltava jogar toda a segunda volta do campeonato nacional da I Divisão, para terminar a época de 1946/47, a Direcção do Clube (aconselhada por Joaquim Bogalho) decidiu convidar Manuel Alexandre para dirigir uma «Comissão Técnica» com a Glória de Portugal, do Benfica, o ex-avançado centro goleador Vítor Silva, com Maximiano Varges na componente administrativa e Francisco Ferreira, capitão da categoria de Honra, como elo de ligação com os futebolistas. Há a curiosidade, que mostra a urgência na resolução do problema colocado com a saída de Biri, de Manuel Alexandre ser procurado na sua residência pelos directores do Benfica quando já passava da meia-noite! Nos dias seguintes, o Benfica oficiou o Clube Futebol Benfica que era treinado por Manuel Alexandre, obtendo a necessária autorização, que permitiu a Manuel Alexandre regressar ao seu "velho-sempre-novo" Benfica (como ele gostava de dizer)!
Em 1947, depois do desaguisado entre Joaquim Bogalho e o treinador Janos (depois da «naturalização como português... João, mas nunca "pegou"), em 23 de Março, e com a suspensão deste técnico, ao nosso clube deparou-se uma situação inédita na história do seu futebol: A mudança de um treinador contratado por outro provisório. Para resolver o problema, pois ainda faltava jogar toda a segunda volta do campeonato nacional da I Divisão, para terminar a época de 1946/47, a Direcção do Clube (aconselhada por Joaquim Bogalho) decidiu convidar Manuel Alexandre para dirigir uma «Comissão Técnica» com a Glória de Portugal, do Benfica, o ex-avançado centro goleador Vítor Silva, com Maximiano Varges na componente administrativa e Francisco Ferreira, capitão da categoria de Honra, como elo de ligação com os futebolistas. Há a curiosidade, que mostra a urgência na resolução do problema colocado com a saída de Biri, de Manuel Alexandre ser procurado na sua residência pelos directores do Benfica quando já passava da meia-noite! Nos dias seguintes, o Benfica oficiou o Clube Futebol Benfica que era treinado por Manuel Alexandre, obtendo a necessária autorização, que permitiu a Manuel Alexandre regressar ao seu "velho-sempre-novo" Benfica (como ele gostava de dizer)!
Poucas
alterações
Como treinador fez poucas alterações na equipa-base formada
no início da época por Biri. Talvez a mais significativa fosse a troca de
guarda-redes, fazendo regressar à titularidade, Martins (para o lugar do
titular, Pinto Machado). "Coisas" entre guarda-redes pois até Biri
foi guarda-redes no Boavista FC antes de ser treinador.
O mal já
estava feito
Em 30 de Março de 1947 estreou-se como técnico (ver NOTA
FINAL acerca de Vítor Silva) à 14.ª jornada, no primeiro jogo da segunda volta
do Nacional da I Divisão, com uma vitória, por 4-0, sobre o FC Porto, terceiro
classificado. À frente da categoria de Honra do nosso glorioso clube, Manuel
Alexandre dirigiu o plantel em 13 jogos para o campeonato nacional, obtendo onze
vitórias, um empate e uma derrota, com 55 golos marcados e 15 sofridos. O
Benfica terminou a competição em segundo lugar, a seis pontos do campeão
(Sporting CP) uma situação idêntica àquela que Manuel Alexandre encontrou no
final da primeira volta. Mas há a salientar que Manuel Alexandre teve que
"gerir duas situações complicadas" (como ele dizia): saída para o Botafogo
FR (Brasil) de Rogério Lantres de Carvalho, talvez o melhor futebolista
português daqueles tempos; e a suspensão de toda a actividade desportiva dos
"internacionais" (do Benfica: Francisco Ferreira, Moreira e Rogério) após
a derrota, por 0-10, com a Inglaterra, no Estádio Nacional, em 25 de Maio de
1947.
É dele o
recorde o campeonato
Manuel Alexandre "conseguiu" sete vitórias
consecutivas, entre 30 de Março e 18 de Maio de 1947. Durante este período o
Benfica obteve aquele que ainda é o nosso recorde em jogos do campeonato
nacional, a vitória por 13-1, frente ao AD Sanjoanense, no Campo Grande, em 27
de Abril de 1947. Também há a salientar uma vitória, por 13-0, num jogo
amigável, em Arcos de Valdevez, com o clube local, em 12 de Maio de 1947,
naquele que foi o único jogo que o «Glorioso» realizou na "era"
Manuel Alexandre, sem ser na I Divisão. No início da época seguinte, 1947/48, o
Benfica contratou Lipo Herczka fazendo regressar este treinador de novo ao
Clube. Manuel Alexandre após esta experiência no "seu" Benfica, na
segunda metade da temporada de 1946/47, continuou a treinar outros clubes na
área de Lisboa, a competir em divisões secundárias.
Um dia
Benfica, sempre Benfica
Durante os anos 80 e 90, já idoso continuou a acompanhar o
Benfica com paixão. Sabendo-o doente pedi a Joaquim Macarrão irmos à sua casa
no Bairro do Alvito (talvez no início de 1994) para passar uma tarde com ele a
ouvir e registar histórias gloriosas. Faleceu, aos 91 anos, em 7 de Novembro de
1996.
Obrigado, Manuel Alexandre. Jamais serás "apagado"!
Alberto Miguéns
NOTA FINAL: A escolha de Vítor Silva para integrar a «Comissão Técnica» foi um pedido de Manuel Alexandre aos dirigentes do Benfica pois o goleador era uma Glória do Benfica com muito prestígio entre os adeptos e respeitada entre os Benfiquistas. Manuel Alexandre queria reduzir o impacte do Benfica passar de um treinador consagrado (campeão nacional em 1941/42, 1942/43 e 1944/45) para um "desconhecido" para os simpatizantes mais jovens há muito retirado como guarda-redes e treinador de pequenos clubes em divisões secundárias. Bogalho percebeu e fez-lhe a vontade. Vítor Silva não fez carreira como treinador justificando uma velha máxima do futebol: «Futebolista famoso não dá treinador de sucesso». Cruijff é a excepção que confirma a regra. Vítor Silva desligou-se do futebol e concentrou-se no que sabia: gerir a sua oficina de montagem de estofos em automóveis e outros veículos motorizados.
Especial agradecimento aos Benfiquistas Victor Carocha (fotografias e legendagem) e Mário Pais (notícia em "A Bola", página 3, em 31 de Março de 1947)
Especial agradecimento aos Benfiquistas Victor Carocha (fotografias e legendagem) e Mário Pais (notícia em "A Bola", página 3, em 31 de Março de 1947)
Pouco sabia da passagem de Manuel Alexandre pelo SLB por isso gostei tanto do seu texto do Alberto.
ResponderEliminarFoi com estes Benfiquistas dedicados, competentes e sempre disponíveis para o Clube, que o SLB se fez maior do que todos os outros. Muito curioso o trajecto de Manuel Alexandre no SLB.
Bogalho e Biri, dois temperamentos fortes. Assim se percebe que nomes gigantes da História do SLB tiveram no seu tempo conflitos que trouxeram roturas significativas.
Obrigado por mais um belo texto.
Os actuais dirigentes querem lá saber das glórias do passado distante. O problema actual é saber, quanto valem os Félix, Ruben Dias e mais uns quantos...
ResponderEliminarMuito bem esmiuçada (especialidade do Miguéns) a história desse Glorioso Manuel Alexandre...que no céu esteja !!!
Bom dia, mais uma vez o nome deste Blog fala mais alto " Em Defesa do Benfica"
ResponderEliminar