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06 março 2019

Mendes no Quarto Anel

06 março 2019 1 Comentários
FALECEU HÁ UMA SEMANA, EM 27 DE FEVEREIRO DE 2019. ANTÓNIO MENDES, FUTEBOLISTA DO «GLORIOSO».


Nunca é tempo para se morrer. Mas há dias em que nem para ser noticiado. Com o aniversário do Clube (o 115.º desde 1904) e a seguir o importante «Clássico de Portugal» neste blogue decidiu-se transferir uma semana a sua evocação. A notícia teria passado despercebida, como passou, em rodapés e frisos-de-tectos. Todos os «Gloriosos Futebolistas» são deveras importantes neste blogue para serem apenas rodapés. Mais semana, menos semana optou-se por esta solução, o que não quer dizer que a devida homenagem seja conseguida, mas este blogue vai tentar. E quem dá o que tem...


A avançado-centro numa final do Campeonato Nacional de Juniores

18 de Outubro de 1939
António da Silva Mendes nasceu em Lisboa (Campo Grande) e foi no Benfica que se iniciou como futebolista federado em 1953/54 (aos 14 anos, nesse tempo a idade mínima que a AFL aceitava e que ele comemorou, em 18 de Outubro de 1953). Há uma história recambolesca que envolve o Sporting CP e o SL Benfica, então com os dois estádios "colados" um no outro, em que ele falsificou a assinatura do sr. Leonel (pai dele) para jogar no Sporting CP (recebendo dez escudos/mês) e depois - como o pai era Benfiquista - em simultâneo no SLB (recebendo 25 escudos/mês). Quando os dois clubes o inscreveram na AFL percebeu-se a "marosca" e como era menor valeu a assinatura verdadeira do sr. Leonel.



Júnior/Aspirante/Reserva
Passou então pelos Juniores B (bicampeão regional), depois pelos Juniores A (campeão regional e nacional), dois anos em cada escalão,  treinado/orientado por duas Glórias do Benfica (Francisco Ferreira e Alfredo Valadas), pela categoria de Aspirantes (1957/58) e pela Reserva onde fez, essencialmente, a sua carreira no Benfica. Chegar a titular da equipa de Honra era dificílimo num tempo com poucas competições, mais curtas e sem substituições durante os jogos para competições oficiais. Só ocupando a vaga de um colega que se lesionasse ou fosse castigado.



1957/58
Ainda jogador da categoria Aspirantes treinado/orientado por José Valdivielso (treinador-adjunto) e "inventada" por Otto Glória (para fazer a transição de júnior para sénior, para a Reserva ou Honra) estreou-se, em 16 de Março de 1958, no campeonato nacional, pela 25.ª jornada (em 26) como avançado-centro, com José Águas lesionado, marcando o golo da vitória, por 1-0, num jogo na «Saudosa Catedral». Tinha 18 anos. Na 26.ª jornada, Águas regressou mas Mendes manteve-se substituindo Fernando Caiado como interior-esquerdo. Jogou ainda três encontros para a Taça de Portugal, marcando um golo em cada. Num a avançado-centro e em dois a interior-esquerdo, sempre substituindo, respectivamente, José Águas e Caiado. Esteve, ainda, em dois jogos internacionais, frente à selecção nacional do México (90 minutos, marcando um golo) e na inauguração da iluminação artificial da «Saudosa Catedral» entrando, aos 68 minutos, para o lugar de Francisco Palmeiro, frente ao CR Flamengo.  



1958/59
A época da afirmação. Titular em 37 dos 38 jogos em que participou, marcando 20 golos, dos 51 disputados pelo «Glorioso». Mas registou duas expulsões. Fez parte de um "quinteto de luxo": Francisco Palmeiro (ou Chino), Coluna, José Águas, MENDES e Cavém. O Benfica perdeu o campeonato nacional (ele participou em 19 jogos marcando 14 golos numa edição com 26 jogos) para o FC Porto mas conquistou a Taça de Portugal frente ao FC Porto, com o golo decisivo mais rápido em Taças de Portugal, marcado por Cavém. É contar os segundos no vídeo. 


  

1959/60
Com a chegada de Béla Guttmann deixa de ser titular. Uma temporada na categoria Reserva com duas vezes suplente utilizado em dois jogos internacionais no início da temporada, um jogo para a Taça de Portugal marcando um golo no último encontro do ano de 1959, em Beja. E depois o jogo que «arrumou com ele no Benfica» pois Béla Guttmann nunca lhe perdoaria a ousadia de ter decidido fazer "figura de corpo presente" colocando a equipa em dificuldades, na deslocação a Évora. Titular como interior-direito (por ausência de Santana) Mendes além de contrariado por "jogar fora do lugar" (interior-esquerdo ou avançado-centro) ainda levou uma "pantufada" de um jogador adversário. O Benfica vencia, por 3-0, ao intervalo e acabou a sofrer vencendo, por 3-2. Mendes alegava que não conseguia pôr o pé no chão quanto mais chutar, mas não conseguiu convencer o treinador. Campo Estrela; Évora; Lusitano GC; 16.ª jornada em 26; 24 de Janeiro de 1960. O destino ficou traçado enquanto Béla Guttmann fosse treinador do «Glorioso». Ainda foi suplente utilizado frente ao AS Mónaco FC e titular (avançado-centro) na eliminação frente ao Sporting CP, na meia-final, da Taça de Portugal. Valeu um jogo, "90 minutos" em campo (Évora) para se sagrar Campeão Nacional.  




1960/61
O futebolista que maravilhara os Benfiquistas, em 1958/59, com aquela genica à Benfica, num corpo forte e dotado de um pé esquerdo com potência de remate fulminante, o «Pé-Canhão» continuou a não se afirmar. A jogar na categoria de Reserva (apadrinhou a estreia de Eusébio, em 23 de Maio de 1961) passou ao lado na época mais "Gloriosa" do «Glorioso». Sete jogos, quatro golos. Seis jogos a titular e um internacional, na final do Torneio de Paris, entrando ao intervalo para o lugar do extremo-esquerdo Cavém, na derrota, por 3-6. A temporada dos seis jogos: um para um torneio (frente ao Sporting CP), três para o campeonato nacional (com três golos) e dois para a Taça de Portugal (com um golo). Com três jogos sagrou-se Bicampeão Nacional. Na Taça dos Clubes Campeões Europeus nunca fez parte dos 15 convocados para as quatro deslocações (Edimburgo, Budapeste, Aarhus e Viena) pois mesmo sem substituições havia, como é óbvio, suplentes. Mas a "sorte" tocou-lhe para a final, em Berna. Com José Torres (que nunca se estreando, e em Aarhus, esteve quase, quase em vez de Cavém, foi sempre o escolhido) o certo é que estando lesionado "abriu vaga" para Mendes que esteve na Suíça. Acabaria por não jogar frente ao FC Barcelona, em 31 de Maio de 1961. E nem para a Taça de Portugal, marcada para Setúbal, em... 1 de Junho de 1961. Ainda nem os "Quinze de Berna" estavam a chegar ao aeroporto de Lisboa, via carreira aérea "normal" Swissair (só lá para o início da noite) já o Benfica estava afastado (a meio da tarde) da Taça de Portugal, pelo Vitória FC, a competir na zona Sul da II Divisão! Olha, olha, o «Clube do Regime» a ser tramado pelo Regime!  




Terceiro, em baixo, a contar da direita para a esquerda
1961/62
A última temporada foi penosa. Mais uma vez. Escassos 585 minutos com quatro golos em sete jogos. Até começou por fazer parte da equipa que em Montevideu, defrontou na segunda mão da Taça Intercontinental, o CA Penharol, depois num jogo particular (frente ao FC Porto), num jogo com um golo no campeonato nacional e quatro jogos (três golos) na Taça de Portugal, os dois últimos com o Benfica a jogar com a categoria Reserva enquanto a categoria de Honra estava em digressão pelo Mediterrâneo Oriental depois do «Glorioso» se sagrar Bicampeão Europeu. Fez o último jogo com o «Manto Sagrado», em 10 de Junho de 1962, na Tapadinha, considerado "campo fora" para jogar a segunda mão dos quartos-de-final da Taça de Portugal, frente ao CD Ferroviário (Beira/Moçambique). Estava a categoria de Honra, na Turquia, onde defrontou o Fenerbahçe SK. Depois a final da Taça de Portugal já foi disputada pela categoria de Honra, por isso Mendes, não jogou mas contribuiu para a sua conquista.






Envolvido na transferência de Pedras e Augusto Silva, em 1962/63
Avançado quer ao centro, quer como interior-esquerdo, a sua principal característica era o forte remate daí a alcunha de "Pé-canhão" mas depois ficava a perder no variado leque de qualidades que deve ter um futebolista (avançado) de topo para representar o Benfica: resistência, versatilidade, destreza, habilidade e codícia pelo golo. Saber estar no "sítio certo no momento adequado" e necessitar de poucas oportunidades para marcar. O Benfica percebeu que o futebolista Pedras (do Vitória SC) era o futebolista que podia fazer a diferença no Clube e fez a troca envolvendo ainda uma boa maquia de "contos-de-réis".




Vitória SC
Foi neste clube de Guimarães que conseguiu jogar com regularidade. Obteve uma internacionalização, em 13 de Novembro de 1966, consta que o primeiro futebolista do Vitória SC a conseguir jogar pela selecção nacional, tendo carreira longa no clube vimaranense. Foi assim que o conheci. Como um "cromo" entre vários, até 1970/71 com 31 anos. Em criança/adolescente sabendo pelas legendas dos cromos ou cadernetas quem tinha, ou não, passado pelo "meu" Benfica! 


Dois erros: o ano do nascimento é 1939 e só teve uma internacionalização "A" 


27 de Fevereiro de 2019
Com 79 anos (em 18 de Outubro de 2019, completaria oito décadas) faleceu, em Guimarães, onde foi sepultado na sexta-feira, 1 de Março. Pelo Benfica jogou 5 281 minutos, em 65 jogos, marcando 34 golos. Com nove temporadas como futebolista do Benfica, entre 1953/54 e 1961/62, jogou cinco na categoria de Honra, titular em 1958/59, última época do treinador Otto Glória no «Glorioso» aquando da sua primeira passagem. Contribuiu para a conquista de dois campeonatos nacionais, em 1959/60 e 1960/61 (no total destes, com quatro jogos , 1 + 3, com três golos) e duas Taças de Portugal: 1958/59 (cinco jogos sem golos) e 1961/62 (quatro jogos com três golos).




Obrigado, Mendes



Alberto Miguéns

NOTA1: As fotografias (bem como algumas informações biográficas e excertos da entrevista concedida ao editor) são retiradas da revista «Ídolos do Desporto»; 4.ª série; n.º 18; 7 de Maio de 1966.


NOTA2: A informação que consta do Almanaque Oficial do SL Benfica e do portal zerozero.pt (clicar) é uma trapalhada, pois conseguem aglutinar no jogador "Mendes" três jogadores diferentes com apelido Mendes (mas isso agora também não interessa para nada) só que depois dá origem a erros graves como por exemplo no Benfica (clicar) não saberem a idade, nem balizar correctamente, as épocas de António Mendes no Clube!
1 comentários
  1. António Mendes, pé canhão. Viveu momentos vibrantes ao serviço do nosso Clube.
    Merece a lembrança e o agradecimento de todos os Benfiquistas.
    Que descanse em Paz.

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