No Brasil. No Rio de Janeiro. No estádio de São Januário do
CR Vasco da Gama frente a outro clube "português", a AAP (Associação
Atlética Portuguesa) com sede no Rio de Janeiro. Há 42 anos. Numa
sexta-feira...13!
1985/86. O treinador (John Mortimore), o capitão (Bento) e o que-foi-tudo-isso: Toni |
Foi o jogo
das três expulsões
O Benfica iniciava a temporada com as habituais digressões.
Dois jogos na América do Sul (Brasil), dois em Espanha (Troféu Cidade de Vigo),
dois em África (Camarões) e ainda jogaria até final da temporada em Manchester,
Paris, Luxemburgo e Badajoz. Tudo começou - na ligação Mortimore/Glorioso - no
Rio de Janeiro. Em 13 de Agosto de 1976, o Benfica disputou um dos piores jogos
da sua Gloriosa História, com três futebolistas expulsos aos 84 minutos: Malta
da Silva, Eurico e o capitão Toni! No final uma derrota, por 1-3, frente a uma
equipa de um clube que jogava no escalão secundário do Campeonato Carioca, a
Associação Atlética Portuguesa. Em disputa o troféu "Taça Otávio Pinto
Guimarães" então presidente da Federação Carioca de Futebol. O Benfica
esteve em vantagem (Moinhos de cabeça, aos cinco minutos, após centro de Néné)
mas depois foi assistir aos golos do adversário: Carlinhos (20 minutos), Dinho
(74 minutos) e Alberdã (87 minutos). Havia muito trabalho pela frente para
Mortimore!
John
Mortimore merece que se destaque
Pelo que fez, em cinco épocas (3 + 2) permitindo ao Benfica
conquistar dois campeonatos nacionais (1976/77 e 1986/87), duas Taças de
Portugal consecutivas (1985/86 e 1986/87), ou seja com "dobradinha".
Mais quatro Taças de Honra de Lisboa (1977/78, 1978/79, 1985/86 e 1986/87) além
de torneios: Braga (1976/77) e Lisboa (1985/86 e 1986/87).
Da esquerda para a direita, em 1978/79: Eurico, Humberto Coelho, Alberto, Pereirinha, Chalana, (?), Spencer, António Bastos Lopes, Mortimore e Sheu |
No tempo do
chumbo
Mortimore fez um trabalho em condições muito difíceis. Em
ambas as passagens - meados dos anos 70 e meados da década seguinte de 80 -
ante o poderio do FC Porto. O que fica para a Gloriosa História são os números
mas para quem Benficava diariamente esses tempos nunca pode deixar de
escrever acerca disso. Na primeira passagem "teve de levar" com a
parelha José Maria Pedroto/Pinto da Costa, respectivamente treinador e chefe do
Departamento de Futebol sob a presidência de Américo de Sá. Pinto da Costa
com...39/41 anos! Não tinha 80 de idade como na actualidade. Na segunda
passagem Pinto da Costa era presidente do FC Porto, com 47/49 anos com uma
constelação de «malfeitores a trabalharem na sombra e às claras»: Lourenço
Pinto e Valentim Loureiro, mais novos trinta e tal anos, mais os falecidos: Adriano
Pinto, Luís César, Laureano Gonçalves, António Garrido, Hernâni Gonçalves e
Pôncio Monteiro, entre muitos outros. Se o Benfica agora tem dificuldades
perante estes velhotes ou desaparecidos imagine-se há 30 ou 40 anos. Mesmo assim o FC Porto
conquistou nos últimos 16 anos, dez títulos de campeão nacional (2 + 4 + 3 + 1) e o SLB os outros seis
triunfos (1 + 1 + 4). Com velhotes e desaparecidos! Com eles em forma, e nós com a metodologia, esbanjamento e comportamento actual? Nem cheirávamos...embora nunca se consiga (felizmente...) provar. E os Benfiquistas já criticavam, nos
anos 70, 80 e 90 a inacção ou falta de soluções dos seus dirigentes perante o
portismo pintecostista. Mesmo assim era taco-a-taco até 1993/94. Nunca o FC
Porto conseguiu, ser, sequer TRIcampeão!
John
Mortimore fez muito face ao que se passava
Nascido em 23 de Setembro de 1934, chegou ao Benfica, para
treinar, a mês-e-meio de completar 42 anos. Havia no Benfica, entre os
responsáveis, a ideia que os futebolistas necessitavam de um treinador rigoroso,
à semelhança de Jimmy Hagan. E assim foi. O presidente Borges Coutinho viu-o
chegar mas, infelizmente, já não o viu regressar. John Mortimore já se tinha
cruzado com o "Glorioso" como futebolista do Chelsea FC, em 7 de
Outubro de 1964, numa Gloriosa Vitória, por 4-2, quando o clube londrino liderava o
campeonato inglês.
Primeira
temporada
Em 1976/77 Benfica estava em transição. O fantástico núcleo
dos Anos 60 terminara em 1974/75 com os abandonos de Eusébio, Simões, Jaime
Graça, Adolfo, Humberto Coelho (para o PSG FC) e Artur Jorge. Em 1975/76 ainda
ficara mais debilitado com a saída de Jordão para o Real Saragoça. O Clube
deixara de ter ponta-de-lança apesar de transferir vários, mas com qualidade
nunca revelada. Victor Batista mantinha-se no plantel mas era uma incógnita.
Tanto podia fazer uma exibição de excelência como «não dar uma para a caixa»! Só
com acesso a futebolistas com nacionalidade portuguesa e nascidos em território
português o treinador teve que improvisar a linha avançada. Os Benfiquistas
queriam um futebol à Jimmy Hagan, ou seja, com três avançados. Néné foi fixado
(definitivamente) a ponta-de-lança (deslocado de extremo-direito) auxiliado por
Nelinho e Chalana. No final da temporada de
1976/77 o Benfica depois de ficar a seis pontos da liderança à 5.ª jornada e ainda à 12.ª jornada estava a seis pontos, consegue chegar ao final (30.ª jornada) com nove pontos de avanço para o
segundo classificado treinado por...Jimmy Hagan.
Entretanto...
Segunda
temporada
Com possibilidade do TETRAcampeonato o responsável (Romão
Martins) pelo Glorioso Futebol encarregou-se de deixar enfraquecer o plantel
permitindo a saída de Artur Correia para o Sporting CP, tal como pouco fez para
que Jordão regressasse do Real Saragoça ao Benfica. Os titulares Moinhos e Nelinho deixam o Benfica.
Regressa Humberto Coelho e o Benfica «foi-se com toda a força» ao mercado interno (como era
habitual devido à limitação de contratar estrangeiros): Celso (avançado), Mário Wilson (filho do treinador Mário Wilson) e João Alves (antigo júnior). Também
se aposta no promissor júnior Rui Lopes (avançado) e no guarda-redes Fidalgo. Muitos outros foram contratados mas
nem interessa escrever acerca deles. Com a dupla Pedroto/Pinto da Costa cada
vez mais activa e influente o Benfica tem de fazer um «campeonato cauteloso»
jogando a tentar não sofrer golos. No final termina com os mesmos pontos do FC
Porto (51) invicto cedendo nove empates para sete do FC Porto com uma derrota.
Igualdade no confronto directo - dois empates - mas o FCP teve uma diferença de
60 golos (81/21) para 45 do Benfica (56/11). Onze golos sofridos em 30 jogos,
mas o ataque...com Jordão outro galo cantaria!
Terceira
temporada
Depois de duas boas temporadas o treinador continuou a ter a
confiança do presidente Ferreira Queimado que sucedeu a Borges Coutinho (que o
contratou). Mas o futebol português não era para brincadeiras. A principal
aquisição foi o avançado Reinaldo além do júnior do Vitória FC (Setúbal)
Diamantino Miranda que apenas foi utilizado num encontro para a Taça de Portugal,
frente ao Aliados FC Lordelo. No final da época o "Glorioso"
classificou-se em segundo lugar a um ponto do Bicampeão Nacional.
Segunda
passagem
Coroada com duas Taças de Portugal consecutivas e uma
"dobradinha" em 1986/87. Dois plantéis valorosos - 1985/86 e 1986/87
- que contra tudo e quase todos conseguiu proezas que à distância ainda se
tornam mais espantosas.
Primeira temporada
Após um hiato de seis temporadas - 1979/80 a 1984/85 - e com
um outro presidente (Fernando Martins) John Mortimore regressou ao
"Glorioso" encontrando apenas seis futebolistas "conhecidos":
Néné, Bento, Sheu, António Bastos Lopes, Pietra e José Luís. Também Diamantino
Miranda era já um futebolista internacional e Carlos Manuel que John Mortimore tinha indicado, no
final de 1978/79, para ser adquirido ao FC Barreirense mas que nunca treinara.
O Benfica voltou a conquistar a Taça de Portugal (tal como em 1984/85 com Pal Csernai) e classificou-se em segundo
lugar a dois pontos do FC Porto. E conquistou o troféu referente à Supertaça, o
único frente ao FC Porto. Os restantes seis foram frente ao Sporting CP (1980/81), CF "Os Belenenses" (1989/90), Vitória FC Setúbal (2005/06), Rio Ave FC (2014/15), SC Braga (2016/17) e Vitória SC Guimarães (2017/18).
Segunda
temporada
Desgastado com a época anterior - o FC Porto desgastava o
Benfica com facilidade - apesar de uma temporada notável com a terceira Taça de
Portugal consecutiva (segunda por John Mortimore) juntando-lhe o Campeonato
Nacional, impedindo aquilo que parecia uma impossibilidade...o primeiro
TRIcampeonato do FC Porto. Mas conseguiu. Depois foi o adeus justificando que preferia
sair pois «nunca ficava onde não era bem-vindo». Para os adeptos (e dirigentes)
o futebol deixara de cativar. Pudera. Com o FC Porto - Pinto da Costa tinha 49
anos - a manobrar por tudo quanto era sítio!Da esquerda para a direita: Veloso, Mortimore, Silvino, Rui Águas, Dito, Carlos Manuel e Sheu (capitão). Mortimore levado em ombros pelos "seus" futebolistas depois da "dobradinha" em 1986/87 |
O treinador
inglês ficou aquém daquilo que merecia e valia
E não foi por "culpa" dele. Entre todos os
treinadores estrangeiros que passaram pelo "Glorioso" só falei com três, muitos anos depois de terem sido técnicos do Benfica. Jimmy Hagan (Em Cascais, a meu pedido, com o fotógrafo Benfiquista Roland Oliveira como contacto), Fernando Riera (a
dois anos de falecer) e John Mortimore há uma dúzia de anos. E foi um prazer
dizer-lhes o quanto como Benfiquista lhes estava agradecido. Percebendo que nas
suas duas passagens se aplicava na perfeição a ideia de Ortega y Gasset: «Um
Homem é o homem e as suas circunstâncias».
Como penso que continua entre nós, uma Gloriosa Saudação, a John Mortimore a caminho de fazer 84 anos! John Mortimore é uma Glória do Benfica e quem consegue atingir esta Glória é como os diamantes. Passa a ser Imortal pois será eternamente glorificado.
Obrigado,
Mortimore!
Alberto
Miguéns
NOTA: Agradecimento ao Benfiquista Mário Pais que deu a indicação dos marcadores e tempo dos três golos do clube carioca, Associação Atlética Portuguesa.
Mortimore...
ResponderEliminarGostava do equilíbrio dele. Um verdadeiro gentleman... Estive a ver a reacção dele após a final da Taça em 1987, manteve a sua postura em alta até ao fim.
Parece incrível como os nossos dirigentes ainda não aprenderam a lidar com o FCPorto, um clube que pelo que se viu na época passada convive muito bem com a falta de verdade.
ResponderEliminarE o inicio deste campeonato não augura nada de bom- será que estamos convencidos que no final de uma vida de falta de ética o tal velhote irá mudar?
Nunca! Apenas refinou maquiavélicamente todo o seu arsenal de batota.
Tantos anjinhos no nosso clube.... ou não....
Viva o Benfica!
Excelente exibição do Fidalgo e o Humberto Coelho tem uma perdida incrível sozinho debaixo dos postes que seria o 2-0 para nós e o tetra já aí estaria garantido! Incrível como perdemos esse campeonato e sem derrotas!
ResponderEliminarSaudações benfiquistas, Alberto Miguens, muito obrigado como sempre pelo seu serviço público e pelo benfiquismo que transmite. Esta página é uma enciclopédia graças ao Alberto Miguéns!
Saudações Benfiquistas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarIncrível o roubo do compadre do Pedroto, o árbitro Manuel Vicente que tinha a coisa bem estudada para esse jogo de 1977/78 nas Antas.
ResponderEliminarO Benfica não se podia mexer senão eram foras de jogos inexistentes, faltas e golos anulados como o do Celso,o lance que dá origem ao golo do porto não existe falta nenhuma de Alberto, uma falta sobre o Nené no lance anterior que é marcada contra o Benfica...
Onde estará esse jogo das antas de 1977/78 frente ao Benfica para ser visionado na integra? Foi um roubo incrível que tivemos,tem de ser divulgado e visionado. Foi com esse roubo que eles quebraram o tetra ao Benfica e o jejum de 19 anos sem campeonatos. No ano anterior, em 1976/77, compraram a final da Taça de Portugal ao Braga por 500 contos para ser jogada nas Antas. Durante o jogo, o Rodolfo dá um murro ao Manaca que fica a ser assistido, o Braga estava em inferioridade numérica e é aí que o Porto marca o único golo do jogo. Claro está que o Rodolfo continuou em campo depois da agressão e eles marcam em superioridade numérica.
Mas ficam aqui os vídeos do roubo de Manuel Vicente, o compadre do Pedroto que tudo fez para agradar ao amigo. Começa aí (já ano anterior em 1976/77) a fase mais tenebrosa do futebol português com roubos que duram até hoje.
https://www.youtube.com/watch?v=M7Or3JShz84
https://www.youtube.com/watch?v=hCfQAxFSyGk
https://www.youtube.com/watch?v=BO6FNo1hYS0
Saudações benfiquistas, Alberto Miguens!