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13 agosto 2018

John Mortimore 42

13 agosto 2018 5 Comentários
FOI EM 13 DE AGOSTO DE 1976 QUE JOHN MORTIMORE ESTREOU-SE A ORIENTAR O BENFICA.

O inolvidável campeonato de 1976/77 com o Benfica, à 12.ª jornada (em 2 de Janeiro de 1977) a seis pontos do Sporting CP, treinado por Jimmy Hagan, terminando com nove pontos de vantagem num campeonato com 30 jornadas!

No Brasil. No Rio de Janeiro. No estádio de São Januário do CR Vasco da Gama frente a outro clube "português", a AAP (Associação Atlética Portuguesa) com sede no Rio de Janeiro. Há 42 anos. Numa sexta-feira...13!

1985/86. O treinador (John Mortimore), o capitão (Bento) e o que-foi-tudo-isso: Toni

Foi o jogo das três expulsões
O Benfica iniciava a temporada com as habituais digressões. Dois jogos na América do Sul (Brasil), dois em Espanha (Troféu Cidade de Vigo), dois em África (Camarões) e ainda jogaria até final da temporada em Manchester, Paris, Luxemburgo e Badajoz. Tudo começou - na ligação Mortimore/Glorioso - no Rio de Janeiro. Em 13 de Agosto de 1976, o Benfica disputou um dos piores jogos da sua Gloriosa História, com três futebolistas expulsos aos 84 minutos: Malta da Silva, Eurico e o capitão Toni! No final uma derrota, por 1-3, frente a uma equipa de um clube que jogava no escalão secundário do Campeonato Carioca, a Associação Atlética Portuguesa. Em disputa o troféu "Taça Otávio Pinto Guimarães" então presidente da Federação Carioca de Futebol. O Benfica esteve em vantagem (Moinhos de cabeça, aos cinco minutos, após centro de Néné) mas depois foi assistir aos golos do adversário: Carlinhos (20 minutos), Dinho (74 minutos) e Alberdã (87 minutos). Havia muito trabalho pela frente para Mortimore!



John Mortimore merece que se destaque
Pelo que fez, em cinco épocas (3 + 2) permitindo ao Benfica conquistar dois campeonatos nacionais (1976/77 e 1986/87), duas Taças de Portugal consecutivas (1985/86 e 1986/87), ou seja com "dobradinha". Mais quatro Taças de Honra de Lisboa (1977/78, 1978/79, 1985/86 e 1986/87) além de torneios: Braga (1976/77) e Lisboa (1985/86 e 1986/87).

Da esquerda para a direita, em 1978/79: Eurico, Humberto Coelho, Alberto, Pereirinha, Chalana, (?), Spencer, António Bastos Lopes, Mortimore e Sheu  

No tempo do chumbo
Mortimore fez um trabalho em condições muito difíceis. Em ambas as passagens - meados dos anos 70 e meados da década seguinte de 80 - ante o poderio do FC Porto. O que fica para a Gloriosa História são os números mas para quem Benficava diariamente esses tempos nunca pode deixar de escrever acerca disso. Na primeira passagem "teve de levar" com a parelha José Maria Pedroto/Pinto da Costa, respectivamente treinador e chefe do Departamento de Futebol sob a presidência de Américo de Sá. Pinto da Costa com...39/41 anos! Não tinha 80 de idade como na actualidade. Na segunda passagem Pinto da Costa era presidente do FC Porto, com 47/49 anos com uma constelação de «malfeitores a trabalharem na sombra e às claras»: Lourenço Pinto e Valentim Loureiro, mais novos trinta e tal anos, mais os falecidos: Adriano Pinto, Luís César, Laureano Gonçalves, António Garrido, Hernâni Gonçalves e Pôncio Monteiro, entre muitos outros. Se o Benfica agora tem dificuldades perante estes velhotes ou desaparecidos imagine-se há 30 ou 40 anos. Mesmo assim o FC Porto conquistou nos últimos 16 anos, dez títulos de campeão nacional  (2 + 4 + 3 + 1) e o SLB os outros seis triunfos (1 + 1 + 4). Com velhotes e desaparecidos! Com eles em forma, e nós com a metodologia, esbanjamento e comportamento actual? Nem cheirávamos...embora nunca se consiga (felizmente...) provar. E os Benfiquistas já criticavam, nos anos 70, 80 e 90 a inacção ou falta de soluções dos seus dirigentes perante o portismo pintecostista. Mesmo assim era taco-a-taco até 1993/94. Nunca o FC Porto conseguiu, ser, sequer TRIcampeão!   


John Mortimore fez muito face ao que se passava
Nascido em 23 de Setembro de 1934, chegou ao Benfica, para treinar, a mês-e-meio de completar 42 anos. Havia no Benfica, entre os responsáveis, a ideia que os futebolistas necessitavam de um treinador rigoroso, à semelhança de Jimmy Hagan. E assim foi. O presidente Borges Coutinho viu-o chegar mas, infelizmente, já não o viu regressar. John Mortimore já se tinha cruzado com o "Glorioso" como futebolista do Chelsea FC, em 7 de Outubro de 1964, numa Gloriosa Vitória, por 4-2, quando o clube londrino liderava o campeonato inglês.


Primeira temporada
Em 1976/77 Benfica estava em transição. O fantástico núcleo dos Anos 60 terminara em 1974/75 com os abandonos de Eusébio, Simões, Jaime Graça, Adolfo, Humberto Coelho (para o PSG FC) e Artur Jorge. Em 1975/76 ainda ficara mais debilitado com a saída de Jordão para o Real Saragoça. O Clube deixara de ter ponta-de-lança apesar de transferir vários, mas com qualidade nunca revelada. Victor Batista mantinha-se no plantel mas era uma incógnita. Tanto podia fazer uma exibição de excelência como «não dar uma para a caixa»! Só com acesso a futebolistas com nacionalidade portuguesa e nascidos em território português o treinador teve que improvisar a linha avançada. Os Benfiquistas queriam um futebol à Jimmy Hagan, ou seja, com três avançados. Néné foi fixado (definitivamente) a ponta-de-lança (deslocado de extremo-direito) auxiliado por Nelinho e Chalana. No final da temporada de 1976/77 o Benfica depois de ficar a seis pontos da liderança à 5.ª jornada e ainda à 12.ª jornada estava a seis pontos,  consegue chegar ao final (30.ª jornada) com nove pontos de avanço para o segundo classificado treinado por...Jimmy Hagan.
 
O onze titular, em 8 de Maio de 1977, quando na «Saudosa Catedral» o Benfica sagra-se Campeão Nacional na 27.ª jornada (a três do final) após vitória por 4-0, frente ao SC Beira-Mar (onde jogava Eusébio) com golos de Néné (três primeiros) e Alhinho. O Benfica que pela 12.ª jornada estava a seis pontos do primeiro lugar conquistava o título a três jornadas do final da competição. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: Bento, Eurico, António Bastos Lopes, Toni (cap.), Sheu e Pietra; Nelinho, Néné, Chalana, José Luís e Alhinho 

Entretanto...
Nas competições europeias o Benfica continuava a revelar as fragilidades já denunciadas por Jimmy Hagan: o meio-campo só com portugueses era muito macio frente ao que se passava depois de finais dos anos 60, com os plantéis dos melhores clubes europeus a terem capacidade atlética aliada a técnica individual e colectiva que desbaratavam o Benfica. Entretanto, em 29 de Outubro de 1976, os associados negaram os "estrangeiros" - apesar de não constar de nenhum artigo dos Estatutos, apenas tradição que vinha de 13 de Dezembro de 1903, quando surgiu a ideia de fundar o Clube "só com portugueses" - o Benfica continuava a manter-se fiel uma tradição com quase 73 anos.  


Segunda temporada
Com possibilidade do TETRAcampeonato o responsável (Romão Martins) pelo Glorioso Futebol encarregou-se de deixar enfraquecer o plantel permitindo a saída de Artur Correia para o Sporting CP, tal como pouco fez para que Jordão regressasse do Real Saragoça ao Benfica. Os titulares Moinhos e Nelinho deixam o Benfica. Regressa Humberto Coelho e o Benfica «foi-se com toda a força» ao mercado interno (como era habitual devido à limitação de contratar estrangeiros): Celso (avançado), Mário Wilson (filho do treinador Mário Wilson) e João Alves (antigo júnior). Também se aposta no promissor júnior Rui Lopes (avançado) e no guarda-redes Fidalgo. Muitos outros foram contratados mas nem interessa escrever acerca deles. Com a dupla Pedroto/Pinto da Costa cada vez mais activa e influente o Benfica tem de fazer um «campeonato cauteloso» jogando a tentar não sofrer golos. No final termina com os mesmos pontos do FC Porto (51) invicto cedendo nove empates para sete do FC Porto com uma derrota. Igualdade no confronto directo - dois empates - mas o FCP teve uma diferença de 60 golos (81/21) para 45 do Benfica (56/11). Onze golos sofridos em 30 jogos, mas o ataque...com Jordão outro galo cantaria!      

A equipa do "Glorioso" no encontro que mudou para sempre o futebol português. Em 28 de Maio de 1978, com o empate a um golo, o FC Porto, no estádio das Antas, na 28.ª jornada (em 30) quebra o jejum de 18 épocas consecutivas - 1959/60 a 1976/77 - sem conquistar o título de campeão nacional. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: Eurico, Néné, António Bastos Lopes, Toni (cap.), José Luís e Fidalgo; Chalana, Pietra, Humberto Coelho, Alberto e Sheu. Fidalgo fez uma boa exibição mas Bento deixou-se ir na conversa do árbitro, na 26.ª jornada, em Setúbal, frente ao Vitória FC e foi expulso aos 82 minutos, com 1-0. Valeu a ida de António Bastos Lopes (que estava a jogar como defesa-direito) para a baliza - as duas substituições estavam efectuadas - para garantir os dois pontos. Estava "previsto" o FC Porto nem necessitar do jogo frente ao Benfica para se sagrar campeão nacional. Bento foi suspenso durante três jornadas - 27.ª, 28.ª (FC Porto) e 29.ª!

Terceira temporada
Depois de duas boas temporadas o treinador continuou a ter a confiança do presidente Ferreira Queimado que sucedeu a Borges Coutinho (que o contratou). Mas o futebol português não era para brincadeiras. A principal aquisição foi o avançado Reinaldo além do júnior do Vitória FC (Setúbal) Diamantino Miranda que apenas foi utilizado num encontro para a Taça de Portugal, frente ao Aliados FC Lordelo. No final da época o "Glorioso" classificou-se em segundo lugar a um ponto do Bicampeão Nacional.   

Da esquerda para a direita, em 1985/86, no início da temporada. De pé: Palhinha (massagista), Leonor Pinhão (jornalista de "A Bola"), (?), (?), (?), Hamilton Pena (massagista)  e Mortimore. Sentados. Atrás: Carlos Manuel, Pietra, (?) e Delgado; À frente: Álvaro, (?) e Sheu. De costas: (?), Bento (?), Vítor Duarte e Jorge Silva.

Segunda passagem
Coroada com duas Taças de Portugal consecutivas e uma "dobradinha" em 1986/87. Dois plantéis valorosos - 1985/86 e 1986/87 - que contra tudo e quase todos conseguiu proezas que à distância ainda se tornam mais espantosas.


Primeira temporada
Após um hiato de seis temporadas - 1979/80 a 1984/85 - e com um outro presidente (Fernando Martins) John Mortimore regressou ao "Glorioso" encontrando apenas seis futebolistas "conhecidos": Néné, Bento, Sheu, António Bastos Lopes, Pietra e José Luís. Também Diamantino Miranda era já um futebolista internacional e Carlos Manuel que John Mortimore tinha indicado, no final de 1978/79, para ser adquirido ao FC Barreirense mas que nunca treinara. O Benfica voltou a conquistar a Taça de Portugal (tal como em 1984/85 com Pal Csernai) e classificou-se em segundo lugar a dois pontos do FC Porto. E conquistou o troféu referente à Supertaça, o único frente ao FC Porto. Os restantes seis foram frente ao Sporting CP (1980/81), CF "Os Belenenses" (1989/90), Vitória FC Setúbal (2005/06), Rio Ave FC (2014/15), SC Braga (2016/17) e Vitória SC Guimarães (2017/18).


1985/86. O onze titular, em 25 de Agosto de 1985, na estreia do campeonato nacional, primeira jornada, no estádio das Antas, frente ao FC Porto. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: Bento (cap.), Sheu, Samuel, Nunes, Álvaro e Manniche; José Luís, Pietra, Oliveira, Diamantino (Miranda) e Carlos Manuel 






Segunda temporada
Desgastado com a época anterior - o FC Porto desgastava o Benfica com facilidade - apesar de uma temporada notável com a terceira Taça de Portugal consecutiva (segunda por John Mortimore) juntando-lhe o Campeonato Nacional, impedindo aquilo que parecia uma impossibilidade...o primeiro TRIcampeonato do FC Porto. Mas conseguiu. Depois foi o adeus justificando que preferia sair pois «nunca ficava onde não era bem-vindo». Para os adeptos (e dirigentes) o futebol deixara de cativar. Pudera. Com o FC Porto - Pinto da Costa tinha 49 anos - a manobrar por tudo quanto era sítio!


1986/87. Um onze titular que disputou três jornadas para o campeonato nacional, a primeira em 1 de Novembro de 1986, na "Saudosa Catedral", frente ao Rio Ave FC (9.ª jornada) com vitória por 3-1, golos de Dito, Chiquinho e Rui Águas. Da esquerda para a direita. De cima para baixo: Sheu (cap.), Chiquinho, Dito, Rui Águas, Álvaro e Silvino; Veloso, Oliveira, Wando, Diamantino (Miranda) e Carlos Manuel




Da esquerda para a direita: Veloso, Mortimore, Silvino, Rui Águas, Dito, Carlos Manuel e Sheu (capitão). Mortimore levado em ombros pelos "seus" futebolistas depois da "dobradinha" em 1986/87 

O treinador inglês ficou aquém daquilo que merecia e valia
E não foi por "culpa" dele. Entre todos os treinadores estrangeiros que passaram pelo "Glorioso" só falei com três, muitos anos depois de terem sido técnicos do Benfica. Jimmy Hagan (Em Cascais, a meu pedido, com o fotógrafo Benfiquista Roland Oliveira como contacto), Fernando Riera (a dois anos de falecer) e John Mortimore há uma dúzia de anos. E foi um prazer dizer-lhes o quanto como Benfiquista lhes estava agradecido. Percebendo que nas suas duas passagens se aplicava na perfeição a ideia de Ortega y Gasset: «Um Homem é o homem e as suas circunstâncias».   

Como penso que continua entre nós, uma Gloriosa Saudação, a John Mortimore a caminho de fazer 84 anos! John Mortimore é uma Glória do Benfica e quem consegue atingir esta Glória é como os diamantes. Passa a ser Imortal pois será eternamente glorificado.

Obrigado, Mortimore!

Alberto Miguéns


NOTA: Agradecimento ao Benfiquista Mário Pais que deu a indicação dos marcadores e tempo dos três golos do clube carioca, Associação Atlética Portuguesa.
5 comentários
  1. Mortimore...

    Gostava do equilíbrio dele. Um verdadeiro gentleman... Estive a ver a reacção dele após a final da Taça em 1987, manteve a sua postura em alta até ao fim.

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  2. Parece incrível como os nossos dirigentes ainda não aprenderam a lidar com o FCPorto, um clube que pelo que se viu na época passada convive muito bem com a falta de verdade.

    E o inicio deste campeonato não augura nada de bom- será que estamos convencidos que no final de uma vida de falta de ética o tal velhote irá mudar?
    Nunca! Apenas refinou maquiavélicamente todo o seu arsenal de batota.

    Tantos anjinhos no nosso clube.... ou não....

    Viva o Benfica!

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  3. Excelente exibição do Fidalgo e o Humberto Coelho tem uma perdida incrível sozinho debaixo dos postes que seria o 2-0 para nós e o tetra já aí estaria garantido! Incrível como perdemos esse campeonato e sem derrotas!

    Saudações benfiquistas, Alberto Miguens, muito obrigado como sempre pelo seu serviço público e pelo benfiquismo que transmite. Esta página é uma enciclopédia graças ao Alberto Miguéns!

    Saudações Benfiquistas.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Incrível o roubo do compadre do Pedroto, o árbitro Manuel Vicente que tinha a coisa bem estudada para esse jogo de 1977/78 nas Antas.
    O Benfica não se podia mexer senão eram foras de jogos inexistentes, faltas e golos anulados como o do Celso,o lance que dá origem ao golo do porto não existe falta nenhuma de Alberto, uma falta sobre o Nené no lance anterior que é marcada contra o Benfica...

    Onde estará esse jogo das antas de 1977/78 frente ao Benfica para ser visionado na integra? Foi um roubo incrível que tivemos,tem de ser divulgado e visionado. Foi com esse roubo que eles quebraram o tetra ao Benfica e o jejum de 19 anos sem campeonatos. No ano anterior, em 1976/77, compraram a final da Taça de Portugal ao Braga por 500 contos para ser jogada nas Antas. Durante o jogo, o Rodolfo dá um murro ao Manaca que fica a ser assistido, o Braga estava em inferioridade numérica e é aí que o Porto marca o único golo do jogo. Claro está que o Rodolfo continuou em campo depois da agressão e eles marcam em superioridade numérica.

    Mas ficam aqui os vídeos do roubo de Manuel Vicente, o compadre do Pedroto que tudo fez para agradar ao amigo. Começa aí (já ano anterior em 1976/77) a fase mais tenebrosa do futebol português com roubos que duram até hoje.

    https://www.youtube.com/watch?v=M7Or3JShz84

    https://www.youtube.com/watch?v=hCfQAxFSyGk

    https://www.youtube.com/watch?v=BO6FNo1hYS0

    Saudações benfiquistas, Alberto Miguens!

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