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08 maio 2018

Até Sempre Saraiva

08 maio 2018 2 Comentários
SARAIVA CONTOU QUE GOSTAVA DE FADO E EM PARTICULAR DE UM, DO FADO DAS ÁGUIAS.



Em Portimão, quando lhe perguntei - lendo três ou quatro gostos de uma página da pequena revista "Colecção Ídolos do Desporto" n.º 14 (2.ª série) - se só gostava de música em peças de Teatro de Revista, ele disse que também gostava de Fado. 



O preferido era «o da águia». Eu não conhecia. Quando cheguei a Lisboa fui ao «Museu do Fado» e fiquei surpreendido pois o «Fado das Águias" foi a primeira música gravada por José Afonso, ainda em discos vinil de 78 rpm, em 1953!



Como se sabe José Afonso passou musicalmente por três fases que até correspondem a três designações porque ficou conhecido:

José Afonso enquanto cantou apenas "Fado de Coimbra" (1949-1962), Dr. José Afonso quando inova transformando fados existentes e criando outras canções como "Balada de Coimbra" substituindo a guitarra portuguesa por uma viola (1963 -1968) e depois Zeca Afonso quando passa a acamaradar com militantes do PCP. É desta fase o melhor disco de sempre da música portuguesa: «Cantigas do Maio» editado em 1971. Um disco À Benfica. Embora haja sempre estúpidos que impeçam o Benfica de se cumprir.



Mas é bom saber que José Afonso nunca se reviu no estalinismo que faz (ou fez) do PêCê português um partido social-fascista. Ele sempre considerou que era essencialmente um «cantautor» e exigia respeito, ou seja, participava em manifestações de carácter político do PCP pela aproximação a outros músicos militantes do "Partido" mas tinham de existir condições mínimas para que um artista/cantor pudesse respeitar quem o ouvia. É famosa a sua resposta quando lhe disseram que as condições eram as que o Comité Central do "Partido" tinha. Zeca Afonso respondeu: «Sou o meu próprio Comité Central»! 



Depois, rapidamente, afastou-se totalmente do PCP decidindo-se por apoiar movimentos políticos e cívicos das lutas que considerava justas, leais e necessárias para uma sociedade mais igualitária e coerente. Esteve anos e anos impedido de participar na «Festa do Avante». Só uma presença, na sexta edição, em 1980. 



Ó águia que vais tão alta
Por essas terras além

Leva-me aos céus onde eu tenho
A alma da minha mãe



As lágrimas que eu chorei
Leva-mas porque são puras
São as preces que eu rezei
Com saudades e ternura




Obrigado, Saraiva!

Alberto Miguéns

NOTA: Até ao funeral de Saraiva (ao final da manhã de quarta-feira) neste blogue não haverá qualquer outro texto embora apeteça e exige-se a um Benfiquista que por ser do Clube que é «Está Condenado a Ser Livre» que se diga muito e a gritar. Apetece-me sair à rua e gritar. Neste caso ao blogue!
2 comentários
  1. Bonita homenagem. Saraiva poucas vezes terá tido a visibilidade e agradecimento que merecia.
    Fica uma sentida evocação de um dos muitos aspectos de um homem pouco conhecido dos Benfiquistas. O jogador, esse estará condenado a não ser esquecido por via da História Gloriosa que ajudou a construir.

    Espero que no próximo jogo se faça um minuto de silêncio em sua evocação e homenagem.

    Que descanse em Paz. Obrigado Saraiva.

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