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20 abril 2017

Atrás do Benfica...Benfica Vem

20 abril 2017 4 Comentários

COSTUMA-SE DIZER QUE A CONVERSA É COMO COMER CEREJAS. NUNCA SE SABE COMO PARAR. POIS FALAR/ESCREVER ACERCA DO BENFICA É MUITO PIOR. AQUI PIOR É NO BOM SENTIDO.


Ou em sentido mais "terrestre e prático com menos paleio". É que ao recordar o meu primeiro dérbi (já como sócio do Benfica) a memória traz agarrada desde a história das "luvas pretas" de Alves (tradição herdada do avô Carlos) até descobrir há pouco tempo, já em Abril deste ano, um enigma que subsistia desde final dos Anos 80. Porque é que de uma vintena de desertores, em 1920, para fundar o histórico Casa Pia AC apenas um regressou? Ou melhor, porque deixou o "Glorioso" que ele (António Pinho) regressasse - contra toda a tradição do Clube - depois de ser conhecido como o "cabecilha" dessa deserção, até «mais cabecilha» que o mais famoso Cândido de Oliveira. E ainda como António Pinho e Carlos Alves se cruzaram, num Casa Pia AC com o Carcavelinhos FC envolvendo as luvas pretas. Com o Benfica anda tudo ligado!




Sob o signo dos primeiros
O meu primeiro jogo como associado do Clube (ou seja, visto na bancada dos sócios) foi o encontro da 17.ª jornada (21 de Janeiro de 1979, num empate a um golo). Logo o "Clássico de Portugal". O meu primeiro "Dérbi de Lisboa" tive de o ir ver, na segunda volta, no peão do estádio do adversário, pois não era associado do SLB na primeira volta, aquando do 5-0 (10.ª jornada, em 19 de Novembro de 1978). Uma volta depois, na 25.ª jornada, estreei-me como visitante, em 8 de Abril de 1979 numa vitória por 1-0 com um golo do..."luvas pretas", João Alves. Alguns anos depois descobri o porquê dele jogar com luvas pretas. Tal devia-se a um pedido do seu avô paterno, Carlos Alves, figura importante no futebol português. Mais tarde vasculhando pelas bibliotecas percebi a origem das luvas em Carlos Alves contada pelo próprio e que para fazer o texto de hoje revivi lendo (e publicando) a entrevista:

Entrevista de Carlos Alves concedida a Rebelo de Carvalho; Jornal "A Bola"; 16 de Novembro de 1950: páginas 1 e 4
Os "duelos individuais" para lá do confronto entre equipas de clubes consagrados. Os dois internacionais portugueses num Carcavelinhos FC frente ao SL Benfica. O avançado Vítor Silva frente ao defesa Carlos Alves, em 10 de Fevereiro de 1930, numa Gloriosa vitória, por 1-0. Um «clássico» entre o final dos anos 20 e início de 30. Nem sempre a favor do "Glorioso"!



António Pinho depois de uma adolescência dedicada ao Benfica
Decide "virar costas" ao Glorioso e com cerca de uma vintena de casapianos saídos das quatro categorias do Clube fundaram o Casa Pia AC, em 3 de Julho de 1920, tendo esse gesto efeitos a curto e médio prazo. A curto foi o Benfica ser campeão regional em 1919/20 e o Casa Pia AC (com ex-Benfica's) repetir o título em 1920/21 mostrando que dificilmente o SLB não seria Bicampeão se o CPAC não tem sido fundado. A médio prazo foi o Benfica perder 12 campeonatos consecutivos, entre 1920/21 e 1931/32, pois só voltaria ao título regional em 1932/33. Isto quando entre 1909/10 e 1919/20, em onze temporadas, conquistara oito, com os outros três em 2.º lugar!




António Pinho vencedor da Taça de Honra de Lisboa e campeão regional pelo «Glorioso» em 1919/20, campeão regional pelo Casa Pia AC em 1920/21 - na prática Bicampeão - e no regresso ao Benfica a conquista do campeonato de Portugal, depois de 1938/39 designado como Taça de Portugal

Cândido de Oliveira conta a história da "traição"
Onde não deixa margem para qualquer dúvida que exista. Apenas os casapianos Cosme Damião, António Ribeiro dos Reis e Vítor Gonçalves resistiram. Rotundamente...NÃO!


Revista «Eco dos Sports»; 6 de Novembro de 1927


E não é que António Pinho regressa ao Benfica...oito temporadas depois
Segundo ele por não suportar Cândido de Oliveira então treinador do Casa Pia AC e seu grande mentor.


Carlos Pinhão entrevista António Pinho; Jornal "A Bola"; 19 de Janeiro de 1984; página 11
Sem condições para jogar, o capitão do Casa Pia AC ficou fora das competições em 1927/28, o que permitia, ficar livre do anterior clube. No início de 1928/29 ingressou no SLB. A vida deu "realmente muitas voltas". Empregado como responsável pela Secretaria da Casa Pia não dependia do Futebol para sobreviver. O Benfica não lhe fechou a "porta". Foi certamente Ribeiro dos Reis (capitão-geral) a anuir o seu regresso. De um dissidente! A grandeza do Benfica é ilimitada! O bom senso sobrepôs-se à tradição (e, certamente, à vontade em dizer: NÃO!)


António Pinho Chefe da Secretaria na Casa Pia de Lisboa


António Pinho e Carlos Alves na Selecção Nacional
António Pinho nascido em 25 de Fevereiro de 1899, numa pequena aldeia (Santiago de Riba-Ul) do concelho de Oliveira de Azeméis concedeu a entrevista quase aos 85 anos mantendo a serenidade e assertividade que sempre o caracterizou...descrevendo as principais características dos seus dois parceiros na selecção nacional: Jorge Vieira (do Sporting CP) e Carlos Alves (do Carcavelinhos FC e depois do Académico FC Porto).


Carlos Pinhão entrevista António Pinho; Jornal "A Bola"; 19 de Janeiro de 1984; página 11


Três Lendas da Selecção Nacional
António Pinho e Jorge Vieira foram os primeiros a conseguir dez internacionalizações no 11.º jogo (1927) da selecção portuguesa (apenas falharam um desde que esta se formou). Jorge Vieira atingiu depois as famosas 17 internacionalizações ao 18.º jogo de Portugal, no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Amesterdão. Seria Carlos Alves a superar esta marca, ao fazer 18 jogos, em 1933. Três nomes que acabam por estar ligados na crónica de hoje. 
Carlos Alves por ser o avô de João Alves, o primeiro futebolista que vi - enquanto sócio do SLB - a marcar um golo ao SCP no estádio deste.
António Pinho por ter conseguido "descobrir" na sequência do interesse em ter alguém a descrever como jogava Carlos Alves o porquê do Benfica ter aceite o "cabecilha" da deserção de 1920 para o Casa Pia AC que levou o "Glorioso" para um dos seus períodos de maior "seca" a nível de grandes conquistas no Futebol e que, indirectamente, seria responsável pelo afastamento de Cosme Damião, em 1926.
Jorge Vieira por ser uma das Glórias do Sporting CP, o próximo adversário do Benfica, na 30.ª jornada do 83.º campeonato nacional, naquele que tudo se encaminha para ser o TETRA e seis.

DUPLAS DE DEFESAS NOS PRIMEIROS 30 JOGOS DA SELECÇÃO NACIONAL
N.º
COM
DATA
ADVERSÁRIO
CAMPO
S
Res
DIREITO
ESQUERDO
01
Part
18.12.21
Espanha
Aviacion/MAD
F
D 1-3
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
02
Part
17.12.22
Espanha
Lumiar/LISB
C
D 1-2
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
03
Part
16.12.23
Espanha
Helmant/SEV
F
D 0-3
A.Pinho (CPAC)
J. Ferreira (SCP)
04
Part
15.05.25
Espanha
Lumiar/LISB
C
D 0-2
JFerreira (SCP)
Jorge Vieira (SCP)
05
Part
18.06.25
Itália
Lumiar/LISB
C
V 1-0
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
06
Part
24.01.26
Checoslováquia
Ameal/PORTO
C
E 1-1
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
07
Part
18.04.26
França
 Toulouse
F
D 2-4
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
08
Part
26.12.26
Hungria
Ameal/PORTO
C
E 3-3
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
09
Part
16.03.27
França
Lumiar/LISB
C
V 4-0
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
10
Part
17.04.27
Itália
Turim
F
D 1-3
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
11
Part
29.05.27
Espanha
Metropo/MAD
F
D 0-2
A.Pinho (CPAC)
Jorge Vieira (SCP)
12
Part
08.01.28
Espanha
Lumiar/LISB
C
E 2-2
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
13
Part
01.04.28
Argentina
Lumiar/LISB
C
E 0-0
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
14
Part
15.04.28
Itália
Ameal/PORTO
C
V 4-1
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
15
Part
29.04.28
França
Paris
F
E 1-1
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
16
JOA
27.05.28
Chile
Olímpico/AMS
N
V 4-2
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
17
JOA
29.05.28
Jugoslávia
Olímpico/AMS
N
V 2-1
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
18
JOA
04.06.28
Egipto
Olímpico/AMS
N
D 1-2
C. Alves (CFC)
Jorge Vieira (SCP)
19
Part
17.03.29
Espanha
Helmant/SEV
F
D 0-5
C. Alves (CFC)
M. Oliveira (SCP)
20
Part
24.03.29
França
Colombe/PARIS
F
D 0-2
C. Alves (CFC)
A. Pinho (SLB)
21
Part
01.12.29
Itália
Milão
F
D 1-6
A. Pinho (SLB)
P. Temudo (FCP)
22
Part
12.01.30
Checoslováquia
Lumiar/LISB
C
V 1-0
C. Alves (CFC)
F. Silva (VFC.S)
23
Part
23.02.30
França
Ameal/PORTO
C
V 2-0
C. Alves (CFC)
M. Oliveira (SCP)
24
Part
08.06.30
Bélgica
Antuérpia
F
D 1-2
C. Alves (CFC)
Avelino (FCP)
25
Part
30.11.30
Espanha
Ameal/PORTO
C
D 0-1
C. Alves (CFC)
Avelino (FCP)
26
Part
12.04.31
Itália
Lima/PORTO
C
D 0-2
C. Alves (AFC)
Avelino (FCP)
27
Part
31.05.31
Bélgica
Lumiar/LISB
C
V 3-2
Avelino (FCP)
C. Alves (AFC.P)
28
Part
03.05.32
Jugoslávia
Lumiar/LISB
C
V 3-2
C. Alves (AFC)
Avelino (FCP)
29
Part
29.01.33
Hungria
Lumiar/LISB
C
V 1-0
C. Alves (AFC)
Avelino (FCP)
30
Part
02.04.33
Espanha
Balaídos/VIGO
F
D 0-3
C. Alves (AFC)
João Belo (CFB)

NOTAS: Seleccionadores nacionais: 1 a 3, Comité da Selecção *; 4 a 7, Ribeiro dos Reis; 8 a 20, Cândido de Oliveira; 21, Comissão Técnica**; 22 a 25, Laurindo Grijó; 26 e 27, Tavares da Silva; 28 a 30, Salvador do Carmo; * O Comité da Selecção mudou em cada uma das três selecções; ** A Comissão Técnica era composta por Maia Loureiro, Laurindo Grijó e Ricardo Ornelas. Este abandonou por considerar que Pedro Temudo não tinha categoria para jogar a defesa esquerdo, sendo imposto por Laurindo Grijó apenas por ser portista como Grijó!


Benditas luvas
Foi de luvas pretas que João Alves marcou o golo com o "Manto Sagrado" que derrotou o Sporting CP, em 1979, no estádio José Alvalade (1956/2000).



Com luvas pretas ou sem elas venha de lá a vitória. Em 2017 como em 1979!

Alberto Miguéns

NOTA: Especial agradecimento ao casapiano Helder Tavares (por ter fornecido muita informação referente a António Pinho - muito e bom ainda ficou por revelar), a Mário Pais (por ter disponibilizado a entrevista de Carlos Alves) e a Victor Carocha pela fotografia de António Pinho na Secretaria da Casa Pia de Lisboa
4 comentários
  1. Curiosamente o filho do João Alves, foi nomeado Carlos Alves como o avô... mas não deu jogador.

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    Respostas
    1. Caro

      Devem ser genes alternados. Ao que sei o pai de João Alves também não deu jogador.

      Quem sabe se o neto não terá a genialidade futebolista do avô e do trisavô?

      TRIgloriosas Saudações

      Alberto Miguéns

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  2. O Casa Pia Atlético Clube é um clube digno e que teve todos esses grandes nomes na sua fundação. Até Cosme Damião que não acreditou no sucesso (presumo a médio-longo prazo) acabou por ser mais tarde presidente do CPAC. Logo ele que nunca foi presidente do SLB. Mas dito isto, que ironias a história nos traz. Que encruzilhadas em que a vontade de um homem pode fazer mudar o curso da história. Como teria sido se António Pinho não fosse o catalisador para animar Cândido de Oliveira a fundar o CPAC? Esse detalhe eu não conhecia. E logo ele que depois foi o único a voltar. Que ironia.
    Pinho teve uma vida longa e com certeza terá tido até ao fim o orgulho de ter vestido a camisola de dois grandes Clubes. Cada um à sua maneira mas dois grandes Clubes. Ou não estivessem homens de tanto valor por trás da sua fundação e crescimento.
    De Carlos Alves e de seu neto muito também há a saber. Ainda recentemente andei a ler coisas. E tive o prazer de quando era menino ter visto o grande João Alves a espalhar classe com a camisola vermelha. Aquela que ele sempre amou. E que sim, que o neto dele venha a recuperar esses genes futebolistas que existem na família.
    Um artigo excelente como excelente é a bitola deste blogue. Obrigado.

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  3. É com grande Alegria que vejo o nome de meu avô Carlos Alves memória e meu, primo João Alves.Daqui seu neto e primo. Edgar Pedro Alves

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