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21 fevereiro 2017

Vítor Silva: Um Dia Depois

21 fevereiro 2017 4 Comentários
DE TER NASCIDO HÁ 108 ANOS EM 20 DE FEVEREIRO DE 1909.


É uma das maiores injustiças deste blogue. Praticamente desde o seu início, em 28 de Fevereiro de 2011, que queria escrever acerca de um dos dez melhores futebolistas do Benfica de sempre e dos 25 melhores de Portugal desde que se começou a jogar neste País. O certo é que por um motivo ou outro, mesmo tendo dez datas de efemérides possíveis continuava a não existir Vítor Silva! E este blogue caminha para o 7.º ano de existência. Chega. Mesmo um dia depois da data do seu nascimento vai-se falar de Vítor Silva. Quando for editado terá a sua, mais que justificada, etiqueta. Hoje o resumo. Vítor Silva merece contar a sua história época-a-época.




Quando faleceu 47 anos depois de ter deixado de  jogar...
Ainda era uma referência do futebol português. Uma Glória Eterna do Benfica. Provavelmente o melhor avançado-centro do Benfica. Eusébio além de não ser avançado-centro não era um futebolista, era um milagre.
Jornal "Diário de Lisboa"; 22 de Julho de 1982; Página 17

Foi sempre um "Homem do Benfica" entre 1936 (quando deixou de jogar) até 1982 (aquando do seu falecimento)
Era um grupo de veteranos de quilate inigualável. O Benfica nos anos 60 tinha uma equipa de Glórias a jogar e duas a vê-los jogar!

(clicar em cima da imagem para obter melhor visualização)





A despedida foi muito sentida. A primeira festa que o Benfica fez a um atleta. Talvez a primeira também em Portugal.
Mas Vítor Silva não era um futebolista qualquer. Mais um. Quando deixou de jogar tinha destronado do lugar cimeiro do pódio dos melhores, Artur José Pereira. E para além deste que era médio, Vítor Silva era goleador. O "playboy" do futebol!


Jornal "Diário de Lisboa"; 13 de Setembro de 1936; Primeira tiragem; Página 8

Uma festa gigantesca como nunca se vira
Ainda assim pequena para tão grande futebolista. Teria sido necessário duplicar a lotação do estádio das Amoreiras. A última vez de Vítor Silva! Afinal ser do "Glorioso" permite ter um Adeus Sempre Presente! Hoje fui eu que escrevi acerca dele. Daqui a uns dias outro escreverá. Estará presente eternamente!








Jornal "Diário de Lisboa"; 13 de Setembro de 1936; Segunda tiragem; Página 8

Abandono precoce
Nascido a 20 de Fevereiro de 1909 tinha 27 anos e meio quando foi, prematuramente, obrigado a abandonar o futebol. Após deixar de jogar, continuou a sua actividade profissional de estofador de automóveis, colaborando quando solicitado, na Secção de Futebol do nosso Clube. Um futebolista que se transformou numa lenda, viu reconhecida a sua dedicação e Benfiquismo, ao ser-lhe atribuída em assembleia geral, pelos ASSOCIADOS DO SLB, a "Águia de Prata", em 31 de Julho de 1938. Se o critério de exigência fosse o actual seria "Águia de Ouro", mas essa estava reservada - e bem - para os dirigentes que nada recebiam do Clube, muito menos faziam negócios à conta do Clube.



Recordista de golos entre 1933 e 1943
Fantástico avançado-centro, ídolo dos portugueses, o mais consagrado futebolista da sua geração, a par de Pepe - mas este teve inexistência dramática e breve - foi recordista de golos marcados no "Glorioso" durante quase dez anos, entre 1933 quando marcou o 124.º golo (superando os 123 golos de Jesus Crespo) até 1943, quando a marca de 202 golos que estabelecera no seu jogo de despedida, em 1936, foi ultrapassada pelo seu grande amigo Valadas.


Colecção Cromos "Caramelos A Triunfadora do Montijo"; 1927/28


Ídolo do povo
Poucas vezes um jogador se notabilizou em tão poucos jogos! Vítor Silva era um futebolista que apaixonava o público, sempre à espera de um rasgo genial. À sua intuição para o lugar de avançado-centro, aliava uma habilidade e uma execução técnica primorosas. Num curto espaço de terreno, livrava-se de dois ou três adversários, com fintas desconcertantes. Tocava a bola com os dois pés, ou com a cabeça, mais "em jeito do que em força", de modo subtil e pensado. Era uma excepção entre os jogadores dos principais clubes que jogavam naquela posição.



Nove temporadas
Entre 1927/28 e 1935/36 a jogar pela principal equipa do Benfica participou em 236 encontros, num total de 20 379 minutos, marcando 202 golos, ou seja, um golo a cada 101 minutos: em 110 jogos não marcou, mas obteve golos em 125 encontros: um golo em 72 jogos, dois golos em 35 encontros, três golos em catorze jogos, quatro golos em três jogos e seis golos num jogo. Enquanto futebolista do "Glorioso" efectuou 236 jogos, com 234 encontros a titular, sete em que foi substituído e expulso em dois (FC Porto e Carcavelinhos FC). Em dois encontros foi suplente utilizado. Jogou sempre como avançado, essencialmente - 230 jogos (97 por cento) - a avançado-centro!



O célebre golo «À Vítor Silva"
Criou o golo «À Vítor Silva». Ainda me lembro de na bancada os velhos Benfiquistas me contarem ou quando havia um golo semelhante gritarem: «Foi à Vítor Silva». Era a vantagem de não haver lugares marcados e tudo ir duas e três horas antes para o estádio. Cultura Benfiquista aprendia-se assim. Agora fica-se nas rullotes a praticar álcool e colesterol. Outros tempos. Depois chegam a dirigentes e não sabem que o aro do emblema representa uma bicicleta, nem quem foi Vítor Silva, nem Cavém! Vítor Silva especializou-se, de cabeça ou com a nuca, em "salto de peixe", aplicar o "golpe final" quando os guarda-redes se preparavam para segurar a bola. A sua importância no futebol do Benfica era tão grande que a equipa (outros nove) jogava um futebol de passe curto e trocas consecutivas de bola, de modo a aproveitar as capacidades do futebolista. Excepcional e inigualável em determinadas jogadas de pormenor, salvava por vezes o resultado do jogo com um desses momentos de inspiração.




Intratável
Pelo Benfica marcou 202 golos a 42 adversários diferentes, destacando-se dezanove golos ao Sporting CP; dezoito golos ao União Futebol de Lisboa; quinze tentos ao Carcavelinhos FC (estes dois clubes mais tarde - 18 e Setembro de 1942 - ao estabelecerem uma fusão deram origem ao actual Atlético CP); catorze golos ao Vitória FC Setúbal; treze golos ao CF "Os Belenenses"; onze golos ao FC Porto; e entre outros, seis tentos à equipa da Associação Académica de Coimbra e quatro golos ao Boavista FC. Dos 202 golos, 60 foram marcados no campeonato de Lisboa (AFL), a competição mais importante no seu tempo, sete no Torneio de Outono (AFL), catorze no campeonato da I Liga (depois campeonato nacional da I Divisão), 39 no Campeonato de Portugal (depois Taça de Portugal), nove em Torneios nacionais e 73 em jogos para competições não oficiais, incluindo quatro tentos em jogos internacionais frente a quatro adversários.


Colecção Cromos "Azes do Foot-Ball"; 1930

Contemporâneo de uma excelente revista que nem na actualidade se consegue sequer imitar
Vítor Silva tem centenas de fotografias não só na "Stadium" mas no "Az" e no "Eco dos Sports".


A observar, de branco, o pai do nosso José Augusto, conhecido por Alexandre de Almeida (depois também jogou no FC Barreirense)


O capitão dos títulos recuperados
Na época de 1930/31, a quarta como futebolista do "Glorioso", assumiu o cargo de capitão, sucedendo a João de Oliveira, estreando-se em 3 de Abril de 1931, no empate a um golo com o FC Porto, no nosso estádio das Amoreiras, num jogo particular. Vítor Silva foi nomeado capitão beneficiando do respeito que tinha entre colegas, adversários e dirigentes, bem pelo prestígio que conseguira entre os adeptos Benfiquistas e os portugueses, em quatro anos a actuar no Benfica e na selecção nacional. Se não jogou a final do Campeonato de Portugal, em 1929/30, foi depois o capitão no regresso sustentado aos títulos. No final desta temporada (1930/31) capitaneou a equipa que, em 24 de Junho de 1931, no campo do Arnado, em Coimbra, derrotou por 3-0, marcando dois golos, o FC Porto na final do Campeonato de Portugal, com o Benfica a sagrar-se Bicampeão de Portugal, numa competição que, em 1938/39, passaria a designar-se Taça de Portugal. Manteve-se como capitão nas temporadas de 1931/32, 1932/33 e 1933/34. Na de 1932/33 capitaneou a equipa que conquistou o ambicionado título de Campeão Regional de Lisboa, após um inacreditável, mas óbvio, hiato desde 1919/20. Doze temporadas em seco, depois do "Glorioso" conquistar oito títulos regionais, em onze épocas, entre 1909/10 e 1919/20. Apenas tinha perdido o título em 1910/11 (Internacional/CIF), 1914/15 e 1918/19 (estes para o Sporting CP). No início da época de 1934/35 não alinhou, por lesão prolongada, nos jogos iniciais, com Gustavo Teixeira a ser nomeado capitão. Vítor Silva regressou mas Gustavo com aptidão excepcional para a função manteve-se como capitão. Em 1934/35 contribuiu para a conquista do terceiro Campeonato de Portugal e na temporada seguinte (1935/36) que seria a última pelo Benfica, sagra-se campeão na I Liga, tendo como treinador Vítor Gonçalves, competição que alteraria a designação, em 1938/39, para campeonato nacional da I Divisão.  Como Glorioso Capitão jogou 103 encontros, com 62 vitórias e 13 empates.





Popularidade
Enquanto jogador, na segunda metade dos anos 20 e até meados dos anos 30, a par do ciclista José Maria Nicolau e do fundista Manuel Dias, atraíram muitos adeptos para o nosso clube, principalmente jovens que ficavam maravilhados com as suas capacidades de vencer, no caso do futebolista, pelas suas jogadas e golos, pois o Sporting CP colectivamente era mais dominador.


Colecção Cromos "Caramelos da Bola"; 1928

Uma das maiores glórias de SEMPRE do Benfica!

Obrigado Vítor Silva

Alberto Miguéns



NOTA1: Que fotografia. Os melhores entre os melhores, registada pelo melhor e todos: Roland Oliveira. Desprezado e vilipendiado nos seus últimos dias por gente vulgar dentro do Clube. Depois organizam uma exposição fotográfica. Onde chega a hipocrisia!





NOTA2: As imagens foram digitalizadas nos dois volumes da História do SL Benfica 1904 - 1954 (edição dos autores: Mário de Oliveira e Rebelo da Silva) e em "O Benfica Ilustrado" revista mensal suplemento fotográfico do jornal "O Benfica" com quase todas as fotografias relacionadas com o Benfica da autoria do enorme Roland Oliveira
4 comentários
  1. Como é que se pode ter Saudade de alguém que nunca vimos jogar?
    Simples! É ler estes textos de Alberto Miguéns que podem ser muito longos mas estão cheios de Benfiquismo. Ricos em detalhes e ricos em ilustração. E quase todas que nunca vi. Excelente!
    Agora ler com cuidado e saborear!

    Vítor silva é um gigante da nossa História. Sem qualquer dúvida. Primeiro futebolista pelo qual o SL Benfica pagou pela transferência para o nosso Clube. Valeu cada cêntimo pelo que marcou e pelo que fez pelo Benfiquismo. O que este texto faz é com justiça lembrar toda essa importância. O que este texto deixa claro é que qualquer Benfiquista devia saber quem foi Vítor Silva.

    E uma nota pessoal, fico sempre feliz em pensar na galeria de ilustres Vítores na História do SLB: Gonçalves, Silva, Hugo, Batista, Martins, Paneira, entre outros.

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  2. Sr Alberto Miguéns, muito bom...já viu no youtube umas imagens de um França vs Portugal de 1929 ? ele está com a famosa boina...com ar muito sério.
    Saudações Gloriosas

    António

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  3. Padecia de uma lesão a que chamam "joelho de água" e por isso abandonou prematuramente a carreira. Hoje em dia, uma banal artoscopia trataria esse mal e os seus saltos de peixe teriam maravilhado os Benfiquistas por mais uns belos anos.

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