Nunca vi jogar Victor Batista. Aliás deve tê-lo visto jogar
mas não fixei. É como se não tivesse visto. Conhecia-o dos cromos e das
notícias de jornais. E também de relatos que os rapazes da minha idade faziam às
segundas-feiras depois de o verem jogar na “Saudosa Catedral”. Era um Mito! Em
Janeiro de 1979 quando me tornei associado do “Glorioso” tive oportunidade de
presenciá-lo por duas vezes.
1.
A primeira
foi desagradável. Em 1979/80, com Mário Wilson a treinar o Benfica, Victor
Batista dizimou os nossos onze futebolistas de «alto-a-baixo» em plena “Catedral”. 25
de Novembro de 1979. 11.ª jornada. Estádio do SLB. Benfica, 1 – Boavista, 2. Resultado. Uma vaia monumental para Mário Wilson, ao substituir Carlos Manuel por Cavungi que acabaria por reduzir a "tareia" de 0-2 para 1-2. Jogava por dois. Perguntei se quando jogava no Benfica era assim. Assim? Jogava
o “triplo”! Passaram-se alguns anos até à segunda vez!
Ele era dos que sujava os calções meia dúzia de vezes, a camisola e a cara. Se fosse necessário! As vezes que fossem necessárias! |
2.
A segunda vez foi um
acaso. Por volta de final dos anos 80. Tenho até ideia que foi num SLB frente
ao FC Famalicão. Aliás já tenho pensado tanto
nesta história que provavelmente já lhe acrescento um ponto ou mais do que um. A essência
mantém-se. Como era habitual combinava encontros com quem ia ver a bola ao
Estádio junto da Águia. Chega um indivíduo que me diz.
Ele:
Descola aí um pintor (100 escudos) para eu comprar um bilhete;
Eu:
Está mal. Veio ter com um estudante que mal tem dinheiro para pagar as quotas e
comprar bilhetes quando não é Dia do Clube. E que tal pedir a alguém que tenha emprego!;
Ele:
Sabes que estás a falar com o maior futebolista que jogou neste estádio?
Eu:
Deve estar enganado. O senhor é branco (embora as barbas encobrissem o tom da
pele) e o melhor era negro!
Ele:
Eusébio? Nem pensar. Eu cheguei a marcar golos em que fazia pontaria à testa do
Eusébio e depois diziam que era Eusébio que marcava o golo.
Ele:
E sou! Victor Batista. Conheces.
Eu:
Então não! Aquele que metia a cabeça onde os outros não se atreviam a pôr o pé! Como foi aquela cena do brinco.
VB: Perdi tanto dinheiro. Quando marcava um golo afagava o brinco para ele me continuar a dar mais golos. Quando marquei fui afagá-lo para agradecer e tinha-o perdido.
EU: Então quer dizer que não sabe onde perdeu o brinco? Deu foi pela falta dele depois de ter rebentado com o pobre Sporting?
VB:
Fui o maior neste estádio. Olha vai ali o Sheu. Vou ter com ele.
Entretanto soube que o Sheu disse que lhe arranjava um bilhete, mas Victor Batista queria era dinheiro para comprar um! E foi-se embora. Nunca mais o vi! Junto a mim! Só na televisão.
Entretanto soube que o Sheu disse que lhe arranjava um bilhete, mas Victor Batista queria era dinheiro para comprar um! E foi-se embora. Nunca mais o vi! Junto a mim! Só na televisão.
Quem
me havia de dizer que nunca vendo – não tendo consciência dele a jogar – veria ele
dizimar o Benfica no relvado e mais tarde querer dizimar-me 100 escudos?
Victor
Batista, és mesmo o maior. Pelo menos naquele final de década de 70 foste mesmo.
Um rei sem trono mas também sem quem te chegasse, sequer, aos calcanhares!
Obrigado Victor Batista. Pelo que fizeste pelo Benfiquismo
Alberto Miguéns
Rapinanços (de material com qualidade)
Uma excelente entrevista (clicar)
Uma excelente reportagem (clicar)
eu assisti ao jogo, no 3 anel, em que ele perdeu o brinco, era tudo à procura da joia...saudades...
ResponderEliminarnos anos 70, não havia já transmissões regulares dos jogos via TV?
ResponderEliminardado que só nasci em 1989, não o vi jogar e a 1ª vez que tive conhecimento do homem foi exactamente quando ele morreu. desde aí que tenho interesse em tudo o que é relacionado com ele e já li e vi o suficiente para tirar conclusôes: excepcional talento, péssimo em tudo o resto. péssimo profissional, péssima personalidade, alcoólico, drogado, ladrão, etc. pergunto-me se o endeusamento de um pulha que tinha um talento futebolístico excepcional é justo.
Só a final da TP e alguns jogo europeus eram transmitidos.
EliminarMas estes registos mostram que é mentira que ele estivesse muitas vezes incapaz. Falhou alguns jogos por lesões contraídas em jogos pela maneira de jogar dele. Disputava cada lance como se fosse o último. É falso que fosse tudo isso quando jogava no SLB. Iniciou-se na "má vida" enquanto jogador do SLB mas a degradação surgiu depois quando deixou de ter um objectivo. Foi no regresso a Setúbal e principalmente no Boavista FC (com as costas quentes pelo Valentim Loureiro) e sem o circulo de amigos de Lisboa que entrou numa espiral sem retorno.
Ele era dos futebolistas com maior rendimento no Clube. Que até acatava as alterações do seu papel na equipa. Que integrava os novos como me disse Romeu e Vítor Martins.
Foi um grande jogador e não era o mau profissional (no SLB) que se tornou Lenda. Era dos futebolistas mais utilizados todas as temporadas - excepto a inicial com Mortimore (os dois odiavam-se) - e só não era mais porque VB sujava os calções, as meias e a camisola. Esta de suor e lama dos pelados.
É injusto dizer-se que foi um mau profissional Tornou-se um mau profissional, principalmente após deixar o Benfica. Mesmo no SLB havia outros iguais ou pior que ele só que tinham mulher e filhos. E sabiam esconder. E tinham menos talento e capacidade de lutar pelo "Manto Sagrad".
VB não foi nenhum santinho, mas está longe de ser o diabo que fazem dele até 1977/78.
Alberto Miguéns
não digo que não comesse a relva mas parece-me que a dependência das drogas e álcool acentuou-se bastante no Benfica. é certo que não afecta todos da mesma maneira, daí acreditar ter havido nessa altura outros piores que ele, contudo, a diferença de comportamentos entre ele e os restantes companheiros da época é notória. quanto maior (em longevidade e quantidade) o consumo, mais o comportamento tende a ser irracional, logo é normal que o homem tenha vindo a decair progressivamente e não tenha atingido o apogeu do desnorte ainda enquanto jogador do Benfica. para mais, passar de um salário milionário para um de meia dúzia de tostões no espaço de 2 ou 3 anos, aliado ao consumo de álcool e drogas, é bem capaz de ter acelerado o processo em direcção ao abismo.
ResponderEliminarmesmo considerando que quando estava no Benfica ainda não estava no lodo, parece-me inexequível não considerar o homem como mau profissional enquanto jogador do Benfica quando existem episódios como o passado na Rússia, pela Selecção no Chipre (ainda jogador do Benfica), o episódio 'Liverpool', etc.
posto isto, mais importante que o desprezo que tenho pela vida deste homem é o resultado das nossas equipas de futebol, andebol e basquetebol amanhã.
Saudações Gloriosas
1. Ele quando saiu do Benfica deixou de ganhar bem, mas tinha bens que foi vendendo.
Eliminar2. Repito. O grande problema dele foram as mulheres. Não tendo uma e filhos nunca se sentiu responsabilizado.
3. Ele não era parvo, como ficou depois com a droga. ele no Benfica disse uma frase certíssima. «O Nené não suja os calções porque eu tenho de os sujar uma dúzia de vezes nalguns jogos.» e até disse mais, mas fiquemos por aqui.
TRIsaudações Gloriosas
Alberto Miguéns
Grande Vitor Batista! Justa homenagem ao Maior, como ele próprio se tratava.
ResponderEliminarTal como o Alberto, tenho a certeza de o ter visto jogar pelo Benfica mas também não me lembro. Tenho 49 anos e comecei a ir à Luz por volta de 1973/74, mas sinceramente não me recordo dele de Manto Sagrado vestido.
Curiosamente, a primeira recordação que tenho dele é também desse Benfica-Boavista em que ele deu cabo de nós! Se não me engano ele marcou um golo e o Palhares o outro. O do Cavungi ouvi nas escadarias interiores do 3º Anel, visto que eu e os meus amigos tinhamos entrado em desespero e desistido...nunca mais voltei a sair antes do final do jogo.
Continuação do excelente trabalho em prol do nosso Glorioso Benfica.
Abraço
George Best disse: «I spent a lot of money on booze, birds ["gajas"] and fast cars. The rest I just squandered.» (E outras, https://en.wikiquote.org/wiki/George_Best ) será portanto injusto ser considerado um dos maiores? É que esta frase li-a pela primeira vez num pub em que a única camisola que o dono aceita, e as únicas decorações da parede são do Liverpool.
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