CORREU A MARATONA OLÍMPICA EM 14 DE JULHO. MORREU A 15. CHEGOU A LISBOA EM 23 DE SETEMBRO. FOI SEPULTADO A 24. HÁ 104 ANOS.
Foi difícil regressar de Estocolmo. Mais de dois meses. "Não havia dinheiro". Nunca há dinheiro para aquilo que devia de haver sempre dinheiro. Respeito!
Foi difícil regressar de Estocolmo. Mais de dois meses. "Não havia dinheiro". Nunca há dinheiro para aquilo que devia de haver sempre dinheiro. Respeito!
Dois meses depois "já nem foi bem um funeral", foi mais uma manifestação de pesar e homenagem a um atleta que partira de Portugal para ganhar o "ouro olímpico" e chegou dentro de um caixão!
Em 1908, com 17 anos, triunfou na II Maratona portuguesa (embora na distância de 24 quilómetros). Primeira participação, primeira vitória. Individual e colectiva. A aura de campeão imbatível começou em 3 de Maio desse ano!
Em 1911 correu, venceu e brilhou com o "Manto Sagrado" por montes, vales e estradas. Invencível!
Em baixo, a maratona portuguesa da ilusão em ano olímpico. «Fez melhor tempo que o campeão olímpico de há quatro anos e...a subir na parte final a Calçada de Carriche!» Em 1912, aos 21 anos, já com a camisola do Lisboa Sporting Clube, emblema criado para lhe dar condições de chegar a Estocolmo e vencer.
Em baixo, a maratona portuguesa da ilusão em ano olímpico. «Fez melhor tempo que o campeão olímpico de há quatro anos e...a subir na parte final a Calçada de Carriche!» Em 1912, aos 21 anos, já com a camisola do Lisboa Sporting Clube, emblema criado para lhe dar condições de chegar a Estocolmo e vencer.
A pouco mais de um mês da Maratona olímpica realizou-se a Maratona portuguesa. Duas maratonas em mês e meio. Em 1912. Estava-se mesmo a ver (em 1912 sabia-se lá...) que começava a "tempestade".
À partida para Estocolmo. De barco. No Terreiro do Paço junto ao Arsenal da Marinha. Seria de barco que chegaria ao mesmo local. Quase três meses depois da partida. Como os portugueses não tinham dinheiro para o ir buscar, foi a Casa Real da Suécia a fazer deslocar para Lisboa o corpo de Lázaro.
O segundo, em baixo, a contar da esquerda |
Foi ele que empunhou a nova bandeira republicana de Portugal escolhida em 1911 - pela primeira vez exibida num cerimonial - no desfile de abertura dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Era ele a maior esperança de Portugal conseguir ter um Campeão Olímpico. Logo nos quintos Jogos da Era Moderna.
Uma imagem feliz, "descoberta" (uma agulha num palheiro) por Victor João Carocha, com Francisco Lázaro como porta-bandeira no início dos V Jogos Olímpicos em Estocolmo |
Na Suécia com respeito colocaram o corpo numa igreja católica em Estocolmo (e não devia haver muitas na capital sueca). Mas o tempo foi passando e os portugueses sem darem sinal. Esqueceram-se!? Os suecos embarcaram a urna no "Vendysset" e rumaram a Lisboa.
À saída do estádio Olímpico onde já não regressaria para concluir a Maratona.
A camisola do Lisboa Sporting Clube com que correu duas Maratonas. Na primeira em Portugal foi o n.º 4 chegando em primeiro. Em Estocolmo não chegou ao final, mas teve o seu fim.
Até agora inédito (pelo menos nunca vi referência a este momento em lado algum) eis as últimas imagens de Francisco Lázaro com vida. São cinco segundos. E dá a sensação que já foi no percurso de regresso (a Maratona em Estocolmo foram duas meias-maratonas em sentido inverso). Este blogue abordou o assunto aquando do centenário da sua morte (clicar). Ele faleceu a oito do final, ou seja, a cerca de uma dúzia de quilómetros depois da "viragem".
Entre 01:01 e 01:06, as derradeiras imagens do malogrado Francisco Lázaro. A poucos minutos de falecer. A muitos dias - mais de dois meses - de chegar a Portugal.
Até agora inédito (pelo menos nunca vi referência a este momento em lado algum) eis as últimas imagens de Francisco Lázaro com vida. São cinco segundos. E dá a sensação que já foi no percurso de regresso (a Maratona em Estocolmo foram duas meias-maratonas em sentido inverso). Este blogue abordou o assunto aquando do centenário da sua morte (clicar). Ele faleceu a oito do final, ou seja, a cerca de uma dúzia de quilómetros depois da "viragem".
Entre 01:01 e 01:06, as derradeiras imagens do malogrado Francisco Lázaro. A poucos minutos de falecer. A muitos dias - mais de dois meses - de chegar a Portugal.
Aquela que se pensava ser a ultima imagem de Francisco Lázaro (em baixo, ao centro na frente) deixou de ser, pois deve tratar-se ainda da fase inicial visto os maratonistas estarem ainda muito agrupados. O filme mostra o atleta em corrida já depois de realizado metade do percurso.
Eis um filme "produzido" pelo Clube! Francisco Lázaro não era "atleta benfiquista" quando desfaleceu na Maratona e perdeu a vida. Não é necessário querer ser o que não se é! O clube do malogrado maratonista.
Isto não é verdade! (ver NOTA FINAL)
Francisco Lázaro foi atleta do Velo Club Lisboa até 1910. Em 1911 foi atleta do Sport Lisboa e Benfica. Em 1912 passou para um clube da Cruz da Pedra (localidade junto ao actual Jardim Zoológico em Sete Rios), o Lisboa Sporting Clube. Quando faleceu era atleta desse clube.
Com os Jogos Olímpicos à porta, D. José de Mascarenhas, e excêntrico Marquês de Fronteira, que com Lázaro correra no Velo Clube de Lisboa, prometeu-lhe: «Vou dar-te condições de preparação, de higiene de vida e de alimentação que possam fazer de ti campeão olímpico...»Exigiu-lhe, apenas que deixasse o Benfica, passasse a correr pelo clube que criara para si: Lisboa Sporting Clube - e ele disse-lhe que sim. Foi já com a nova camisola Lisboa Sporting Clube que, a 1 de Abril de 1912, se lançou ao ataque do recorde mundial da meia-hora de Jean Bouin. Não o bateu, mas deixou Lisboa em euforia. E ainda mais quando, a um mês do início dos Jogos de Estocolmo, correu a Maratona Nacional em 2.52.08 horas, o segundo classificado só chegou 15 minutos depois. Em Londres, nos Jogos Olímpicos de 1908, o vencedor Johnny Hayes, estabeleceu um novo recorde olímpico com 2.55.18,4 horas. Mais três minutos que Francisco Lázaro.
O Benfica foi dos clubes que mais se preocuparam com a longa estadia do féretro em Estocolmo e depois, através da persistência de Cosme Damião, com a angariação de fundos para a construção do mausoléu para a «última morada» ao seu antigo atleta. Francisco Lázaro que honrou, em 1911, para sempre o "Manto Sagrado". O "Glorioso" soube estar ao seu nível mesmo para com um atleta que já não defendia o nosso emblema. À Benfica!
Relembrar estas grandes figuras do "Glorioso", é «Honrar os Ases Que nos Honraram o Passado»
Alberto Miguéns
NOTA FINAL: É mentira! Embora...tenha alterado para "não é verdade" para não ferir susceptibilidades de alguns leitores deste blogue!
NOTA FINAL: É mentira! Embora...tenha alterado para "não é verdade" para não ferir susceptibilidades de alguns leitores deste blogue!
Lázaro é um nome cheio de mística. Infelizmente ao contrário da figura bíblica, Francisco não se levantou mais do túmulo.
ResponderEliminarLázaro é um nome cheio de mística pois foi campeão pelos Clubes por onde passou. No SL Benfica foi um grande campeão, vencedor se não estou em erro do primeiro campeonato de corta mato. Não admira que o SL Benfica tenha manifestado preocupação na transladação do corpo.
E uma eterna possibilidade: um dos atletas inicialmente seleccionados e que acabou por não ir por falta de dinheiro foi César de Melo. César de Melo era atleta de luta Greco-Romana. No dia 1 e Janeiro de 1905 César foi também titular no meio campo da nossa equipa. Titular no primeiro jogo da sua longa História. Quem sabe se César de Melo tivesse ido... Se calhar se a comitiva fosse um pouco maior talvez Lázaro se tivesse salvo. Às vezes um homem faz a diferença. Nunca o saberemos.
Bela e justa evocação! O filme é fantástico. Todas as evocações de Lázaro são muito tocantes.
Obrigado.