HOJE A MUDANÇA DE SEDE QUE NÃO É BEM ASSIM…
Durante os primeiros tempos o Clube não teve Sede. Mas como
não pode haver clube sem Sede…teve! Ainda que provisória na Farmácia Franco. Era
lá que trabalhavam dois dirigentes do Clube, Daniel Santos Brito (secretário) e
Manuel Gourlade (tesoureiro). O presidente (José Rosa Rodrigues) não trabalhava
na farmácia mas andava perto. Morava no piso superior. A “tralha” para os
treinos e jogos estava num armazém, numa rua paralela, chamada do Cais (actual
Vieira Portuense).
A afirmação progressiva do Clube
Obrigou a mudanças. Era melhor conseguir instalações mais
próximas do terreno onde se treinava e jogava. E onde houvesse água para umas
lavagens depois dos jogos e dos treinos. Alugou-se um quarto (não havia
dinheiro para mais) e devido à exiguidade dele pediu-se a um “amigo” um local
que servisse de armazém para a “tralha”. No quarto a papelada, não muito longe
os apetrechos para marcar o campo e poder fazer treinos e jogos.
Primeiro quarto alugado
Ficava mesmo em frente às Terras do Desembargador. Tinha duas
serventias: pela calçada da Ajuda (n.º 86) ou pelo quintal directamente para o terreno
de jogo. E no quintal ainda havia um poço. Finalmente água para combater o
suor. Desta vez (12 de Maio de 2016) não foi possível visitar o quarto, mas eu nos anos
90 cheguei a entrar dentro dele. Era mesmo exíguo. Pouco mais daria que para
ter os ficheiros de associados, papeladas para inscrever os futebolistas,
arquivo contabilístico e acondicionar os equipamentos. E mesmo assim tinham
todos de andar sempre com as unhas bem aparadas, pois corriam o risco de algum
já não conseguir entrar!
No Pátio das Vacas uma "vaquinha" de um amigo permitia desafogar a Sede que não passava de um quarto exíguo
Em 1950, Daniel Santos Brito ainda escrevia acerca do assunto! |
Segundo quarto alugado
Como era maior que o primeiro, já permitia guardar tudo num
mesmo espaço. O Clube continuava a crescer. Desportivamente, associativamente e
eclecticamente com Fortunato Levy (no ciclismo) e Félix Bermudes (no atletismo),
curiosamente os capitães – primeira e segunda - das duas categorias em Futebol!
Este quarto nunca o conheci, pois consta que o prédio foi demolido nos anos 70
depois da serração de madeira, que lhe sucedeu, ter cessado a actividade.
Era junto a este largo embora denominado Travessa das Zebras que ficava o quarto correspondente à segunda Sede (terceira se a Farmácia Franco contar...)
O Clube tem de resistir e resiste...
Mas é preciso esperar pelo final da temporada de 1906/07 para saber se o Clube tinha ou não tinha condições para sobreviver. Com a deserção de oito dos melhores jogadores para o Sporting CP e mais outros tantos associados que já não jogavam em 1907. Claro que teve.
Os meses passavam e aproximava-se o tempo da grande decisão
Em 1907/08, os futebolistas da 2.ª categoria de 1906/07, inscreveram-se como 1.ª categoria. Por isso estamos aqui em pleno século XXI a falar de… nós. Ai se Marcolino Bragança não se tem lembrado.
Marcolino, Marcolino. O que a tua
dedicação ao Clube provoca. O que tu nos fazes “sofrer”!
(continua)
Alberto Miguéns
NOTA FINAL: O "célebre poço" que servia para "tomar banho"... se atirar com baldes de água pode ser considerado isso. Há vinte anos (anos 90 do século XX), quando visitei o quarto e o quintal, já não existia o poço. Mas quando Rebelo da Silva o fotografou, no final dos anos 40 ou início de 50, ainda estava decorado como alpendre, acompanhado por quem lhe dera uso - Daniel Santos Brito - e pelo jornalista Mário de Oliveira. Imagens digitalizadas, respectivamente, das páginas 5 e 13 da História do SL Benfica (1904-1954); volume I; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; edição dos autores; Lisboa; 1954 - 1956
NOTA FINAL: O "célebre poço" que servia para "tomar banho"... se atirar com baldes de água pode ser considerado isso. Há vinte anos (anos 90 do século XX), quando visitei o quarto e o quintal, já não existia o poço. Mas quando Rebelo da Silva o fotografou, no final dos anos 40 ou início de 50, ainda estava decorado como alpendre, acompanhado por quem lhe dera uso - Daniel Santos Brito - e pelo jornalista Mário de Oliveira. Imagens digitalizadas, respectivamente, das páginas 5 e 13 da História do SL Benfica (1904-1954); volume I; Mário de Oliveira e Rebelo da Silva; edição dos autores; Lisboa; 1954 - 1956
Mais um belíssimo artigo a lembrar-nos que a história do Benfica foi feita de sacrifícios e por grandes Homens.
ResponderEliminarPeço desculpa por só agora comentar. Estou de retiro sabático e mal pego no computador mas o pior é que do telemóvel não consigo comentar...
ResponderEliminarMas cá estou para tentar agradecer a este esforço estóico de Alberto Miguéns de contar a História do Sport Lisboa e Benfica. Aqui confesso que me dá arrepios ao ler estes artigos sobre Marcolino Bragança Meireles (?)...
É verdade! As fotos da filha e da neta são de valor humano incalculável. Faz-me lembrar a primeira visita ao Estádio da Luz que fiz com o meu filho! Fui falando das fotos dos jogadores afixadas nas fachadas do Estádio; expliquei um pouco o significado do emblema e demorei cerca de cinco minutos na estátua do King. Tentei resumir a vida desportiva de uma lenda a uma criança. Quando vejo estas imagens, sinto honra em quase visualizar uma hipotética visita do meu filho com o filho/s dele daqui a alguns anos àquele mesmo local... E quem sabe recordar as palavras do pai/avô que serão felizmente redutoras face ao que o clube e quem por ele lutou são a realidade...
Marcolino Bragança - Bella Guttman - Miki Feher... Não discuto o valor simbólico do tributo que o Benfica lhes prestou (e presta) com a edificação daquelas duas homenagens que estão no "nosso" Estádio - Isso nem tem cabimento! Mas, é demasiado evidente que Marcolino foi essencial a que LFV fosse hoje presidente democraticamente eleito do Sport Lisboa e Benfica. Talvez, num futuro mais além, quem dirigir o clube deixe que os seus bisnetos (de LFV) visitem o Estádio da Luz e o centro do seixal para saberem onde LFV esteve... Quem sabe até os deixem sentar nesta mesma cadeira (http://1.bp.blogspot.com/-QIzdG6nshzg/VeVe-qcrdEI/AAAAAAAADuI/8DfDzF2L4pU/s1600/Calma.%2BO%2Bmercado%2Bcorre%2Ba%2Bnosso%2Bfavor-1.gif)...
Incutir os grandes valores num formato mais moderno, de modo a que sejam assimiláveis aos jovens de hoje, não é fácil! Veja-se que neste momento, e pelo que vejo, só aqui está um comentário... Fosse um artigo de história contra outra entidade, o artigo estaria cheio de comentários!
Uma grande honra em ser seu leitor Alberto e cresce de modo proporcional, o meu orgulho em ser Benfiquista... O que se aprende aqui...
Saudações TRIGloriosas.
AMC
PS: Estive a reler o comentário extenso (as minhas desculpas) e surgiram duas questões:
1 - Será que toda a máquina de marketing sabe quem foi Marcolino Bragança? Do valor em ter história verdadeira e documentada cujo valor é mais forte que os arrotos que ouvimos dos vizinhos?
2 - Hoje em dia, será que o presidente do Benfica tem tempo para tudo... Sempre se delegou mas vendo a foto do Presidente Borges Coutinho, COM TODA A COMITIVA DO CLUBE, em casa de Marcolino... Já nem falo de Ferrereira Bogalho a dar a primeira enxadada na velha catedral e a chorar - quase desmaiou - na sua inauguração!
Caro AMC
EliminarAgradeço as palavras. é sempre bom ser elogiado por um dos nossos. Um Benfiquista igual a nós!
1. Não sabem mas também não se interessam por saber. Nem por ouvir ou ler. O Benfica pode ser gerido como uma empresa mas não pode ser uma empresa. Terá de ser sempre um clube. O Clube;
2. Mas esses presidentes percebiam que eram a continuidade uns dos outros desde 1904!
Gloriosíssimas TRIsaudações
Alberto Miguéns
A segunda parte de uma sério que se percebe vai ser excelente. Mais um artigo excelente e que se reporta a uma zona que me é querida. A Farmácia Franco, as famílias Franco e Rosa Rodrugues foram decisivas para a fundação do nosso Clube.
ResponderEliminarAproveitar uma viagem de homenagem e evocação de um pioneiro decisivo como Marcolino para nos dar informação factual, séria e atractiva deste local tão querido para todos os Benfiquistas é algo de justo e muito bonito.
Para aqueles que publicam livros a misturar estas famílias ao ponto de dizer que os manos Rosa Rodrigues eram filhos do dono da Farmácia exige-se leitura atenta e outra humildade e competência profissional para o futuro. Melhor seria que se abstivessem de escrever sobre o Glorioso.
Um grande obrigado Benfiquista ao autor deste blogue!
o alberto pensa o GLORIOSO exactamente como eu,um clube,o nosso ENORME BENFICA,tenha saude para nos deliciar com a sua prosa.
ResponderEliminarNovamente vergo-me perante os Factos que o Sr. Alberto Miguéns, dá-nos a honra de poder aferir da da Gloriosa existência do Clube nascido na Farmácia Franco, obra de dedicados Homens.
ResponderEliminarGrato pelo seu voluntarismo e testemunho da Gloriosa História do Sport Lisboa e Benfica.
Saibam a Direcção e o Corpo administrativo do Nosso Clube, dar Eco ao seu conhecimento para bem da fidelidade das fontes sobre a Vida do SLB
The_Saint