FALECEU HÁ 56 ANOS, EM 5 DE JANEIRO DE 1960, UMA DAS FIGURAS CIMEIRAS DO BENFICA E DO BENFIQUISMO. ATÉ DE PORTUGAL. INJUSTAMENTE ESQUECIDO.
Aliou à dedicação para com o Clube a persistência,
versatilidade e capacidade visionária de perceber em cada momento o que nos
poderia trazer o futuro. Uma vida preenchida a todos os níveis: Benfiquismo,
profissão (dramaturgo), cidadania (teosofismo e direitos autorais) e familiar
(três filhos com destaque na sociedade portuguesa).
Apesar de passar hoje esta efeméride
Félix Bermudes merece muito mais que um pequeno texto a dizer
mais do mesmo o que não quer dizer que o que hei-de escrever em breve acerca dele acrescente mais do que
se sabe. O que me interessa é ficar com a consciência que lhe farei a justiça
que penso que merece ter. Que honrei um ás que nos honrou o passado. E para isso o texto de hoje seria longo de mais. Tal como ele fez quase
uma centena de vezes nas peças de teatro que criou dividirei esta homenagem em três actos
a publicar na semana em que se jogarão os quartos-de-final da Taça de Portugal, entre 12 e 14 de Janeiro. Entretanto deixo uma resenha de cada um desses três actos.
Acto 1: Entre 1904 a 1916
Treze anos de pioneirismo. Não foi um dos 24 fundadores mas foi dos
aderentes da primeira hora. Esteve na definição do emblema, com destaque para o lema «E Pluribus Unum», iniciou-se na 2.ª categoria, foi nomeado (em assembleia
geral do Clube) capitão – numa equipa que contava com Cosme Damião – resistiu
(e pagou do seu bolso) para que o clube não sucumbisse aquando da deserção de
oito futebolistas (e mais de vinte associados) para o Sporting CP. Soube (com
Cosme Damião) aperceber-se que o “Gloriosíssimo" só teria sucesso se
conseguisse um campo de jogos e um bom conjunto de dirigentes (superestrutura)
que potencializassem futebolistas foras-de-série mas a debaterem-se com o
problema das infraestruturas. Com os parcos dinheiros ganhos no teatro onde
debutava foi precioso nos primeiros tempos do Clube. Quando foi perdendo a
forma (por veterania e falta de treino) quis jogar nas categorias inferiores
para ensinar Benfiquismo aos debutantes. Adepto fervoroso nunca perdeu de
vista os interesses do Clube disponibilizando-se para ser um presidente de
Direcção a prazo para dotar, em 1916, o Clube de instalações condignas face ao
crescimento do Benfica.
Acto 2. Entre 1917 e 1945
Para além de 28 anos de “Glorioso”. Dedicado ao teatro que abraçou como modo de
vida, fazendo parte do grupo dramaturgo melhor sucedido, nos anos 10 e 20, em Portugal “A
Parceria” (com Ernesto Rodrigues e João Bastos) fez do teatro uma actividade
popular conseguindo ter várias peças em exibição em simultâneo. Foi percursor
do Parque Mayer devido à necessidade de ter mais salas de teatro em Lisboa para responder à procura do público e dos novos dramaturgos.
Nunca deixou o Benfica de fora. Ao aproximarem-se as “Bodas de Prata” (1929)
aproveitou os seus conhecimentos no meio intelectual e artístico para estimular
alguns dos seus colaboradores nas peças teatrais, de músicos a cenógrafos, para
criar o Hino do Clube (com o maestro Alves Coelho) e Reformular/Modernizar o Emblema do Clube (com o artista gráfico Stuart Carvalhais). Em 1945 foi eleito presidente da
Direcção mas não conseguiu cativar os associados para ser reconduzido, em 1946,
por ter sido seduzido por uma localização do futuro estádio que substituiria o Campo Grande que agradaria às entidades camarárias
mas não aos Benfiquistas. Desportista ecléctico fez um pouco de tudo
(atletismo, ciclismo, esgrima, hipismo, ténis, ténis de mesa, tiro com arco e
com arma de fogo), especialidade em que foi atleta olímpico, nos Jogos de Paris em 1924. Também incutiu às suas filhas – Clara e Cesina – o gosto pelo
desporto e pelo Benfica.
As filhas de Félix Bermudes, Clara (1912) e Cesina (1908) na partida da Volta Ciclista a Lisboa em 12 de Outubro de 1924 |
Acto 3. Entre 1946 e 1960
Última década e meia. Passou os últimos anos a escrever – poesia,
contos, ensaios filosóficos e novelas de viagens – sempre com o espírito de um
desportista íntegro batendo-se pelos direitos de autor para o trabalho
intelectual. Por isso foi um dos principais, talvez mesmo o principal, impulsionador da actual Sociedade Portuguesa de Autores. Aproveitando os anos dourados do cinema português colaborou com os
realizadores para adaptar, pelo menos, duas das suas peças, uma delas ainda
hoje um marco do cinema feito em Portugal “O Leão da Estrela” – peça de teatro
numa comédia em três actos estreada em 1925 (em 11 de Julho) no teatro Politeama, para ser adaptado ao cinema, em
1947, por Arthur Duarte.
Homem do Benfica, desporto, cidadania e criatividade. Um ser de eleição como demonstrou na tradução de "If..." como se pode "ouver aqui". Criativo sensível e com sentido, eis um exemplo. "O Leão da Estrela" de 1925 para 1947, do teatro para o cinema. Félix Bermudes quando faleceu aos 85 anos, em 5 de Janeiro de 1960, há precisamente 56 anos, pouco tempo antes de comemorar os 85 anos, dizia ir fazer 58! Afirmava ser o octogenário mais jovem que existia à face da Terra! |
Até para a semana dos 3 actos!
Alberto Miguéns
Obrigado Alberto.
ResponderEliminarUm glorioso 2016 para si.
Grande texto e bela história de Benfiquismo de um dos nossos "Ases" mais importantes, nos bastidores da criação e vivência do Benfica. Obrigado Alberto Miguéns!
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