NO DIA DA TRASLADAÇÃO DE EUSÉBIO PARA O
PANTEÃO NACIONAL.
Mesmo
na vida apressada que levamos perante esta fotografia conseguimos parar. Temos de parar. É-nos
superior. Ela faz-nos parar, por isso podemos reparar. E se repararmos
conseguimos olhar e se pensarmos enquanto a olhamos, conseguimos ver.
Quem
olha para esta fotografia vê um futebolista que não tem comparação. Não é
retórica ou endeusamento. É verdade, realidade e honestidade. Eusébio é único
por isso não é comparável. Fazer com ele classificações ou querer estabelecer
hierarquias é pactuar com falsidade e mentiras. É viciar o jogo. É entrar no
reino dos contrastes. Eusébio é só Eusébio. Nada mais do que Eusébio. E por
isso está acima de tudo e todos. Menos do Benfica e de Portugal.
Eusébio não era avançado (mas
jogava como os avançados)
Quem
viu Eusébio jogar, conhece a sua história como futebolista e coloca Eusébio no
grupo dos avançados está a iludir, a simplificar ou a enganar. Se não viu e
contaram-lhe tem perdão. Enganaram-no. Caso contrário, não! No Benfica os
avançados eram José Águas, José Torres, Vítor Baptista, Jordão ou Artur Jorge,
por exemplo. Mas houve muitos mais que jogaram com Eusébio. Até José Augusto,
Simões, Nené, Cavém, Iaúca ou Serafim, por exemplo, eram mais avançados que
Eusébio. Jogavam com o número 9, até com
o 7, 10 ou 11. Eusébio jogava com o 8. Béla Guttmann colocou-o na posição 8.
Seria interior-direito, portanto um centrocampista, na velhinha mas eficaz
táctica do WM. Eusébio seria o "topo da primeira parte do M". Coluna
o topo da segunda parte e nas três bases do M, os três avançados: José Augusto,
José Águas e Cavém (depois Simões). Eusébio jogava na linha média?!
Eusébio não era centrocampista
(mas jogava como os médios)
Ter
Eusébio na equipa era como jogar com doze. Melhor! Era como jogar com onze
tendo um jogador que permitia desdobrar o onze. Eusébio jogava atrás dos três
avançados (extremos direito e esquerdo mais o avançado-centro) dando-lhes jogo,
fazendo-os estar por dentro do jogo, tabelando no meio-campo com os outros três
médios e baralhar os adversários. Eusébio nunca foi avançado-centro ou só foi o
jogador mais avançado da equipa (ponta-de-lança) quando a idade, mas em
particular, as operações aos joelhos obrigaram o fabuloso futebolista a ter menos
fulgor físico e menor mobilidade. Passou "três quartos" da sua vida
de futebolista atrás dos avançados.
Eusébio não era avançado-centro
(mas marcava golos à avançado-centro)
Capacidade
de fintar em progressão, superioridade física perante os defesas contrários,
improviso e remate fácil colocavam-no frente às balizas contrárias. Com muita
frequência e em posição privilegiada para marcar. Ele construía as suas jogadas
de golo e tinha o poder supremo da decisão final: passar ou rematar. Em
qualquer delas era exímio. Um goleador de "Outro Mundo" e dimensão
planetária.
Eusébio era goleador sem ter essa
posição no campo
Fazia
arrancadas fulminantes pelo meio-campo no tempo em que o Benfica jogava com
três defesas e quatro médios. Depois com quatro defesas e três médios. Era
Eusébio que vinha ao meio-campo do Glorioso buscar jogo, endossado pelos
defesas, e progredir pelo meio-campo contrário a driblar, fintar e
esgueirar-se, ultrapassando adversário após adversário para na zona das
decisões ser eficaz. Um notável jogador de equipa podendo ser individualista.
Mas não era. Era da equipa e para a equipa jogava e fazia jogar.
Eusébio fazia golos de toda a
maneira e feitio
Em
década e meia a jogar no Glorioso marcou golos atrás de golos, em todas as
competições, adversários e continentes. O Mundo maravilhou-se com os seus golos
numa paleta de sons, cores, ritmos e tons impressionante: a fintar, a rematar,
a fintar e depois rematar, a driblar até entrar pela baliza, a rematar a meio
do meio-campo, de pontapé canto directo ou mesmo, passando a bola por cima dos
defesas contrários, como se jogasse voleibol com os pés.
Eusébio fez mais assistências
para golo do que os golos que marcou
O
futebolista sem paralelo era um portento de técnica e força, uma máquina
perfeita no acto de rematar (como a fotografia ilustra). Mas deu muitos mais
golos a marcar do que aqueles que concretizou. Não deve haver na História do
Futebol Mundial um goleador que seja ou tenha sido tão pouco egoísta como
Eusébio. Todos os avançados queriam vir para o Benfica para jogar com Eusébio.
Pudera. Arriscavam-se a ser os melhores marcadores das competições, nacionais
ou internacionais, como José Águas, José Torres, Vítor Baptista, Artur Jorge ou
Jordão.
Eusébio não estacionava frente à
baliza. Marcava todos os pontapés livres
Como
não era interesseiro e individualista, nem procurava protagonismo de vã glória,
Eusébio não vivia junto da baliza adversária. Uma heresia para os goleadores
egoístas da actualidade. Jogava onde era mais útil à equipa. Onde melhor o
Benfica podia aproveitar as suas enormes capacidades e versatilidade. Por isso
a bola era dele quando havia um livre, mesmo a 40 metros da baliza. Estava
instalado o terror nas barreiras defensivas e guarda-redes contrário. Que iria
Eusébio decidir? Como bateria ele a bola? Como executaria o pontapé? Seria
directo ou colocaria a bola, com precisão, velocidade e potência num outro
colega postado na grande-área contrária?
A capacidade era tal que antes de correr para a bola ainda nada tinha
decidido. Começava a correr, olhava para a frente, decidia rapidamente, metade
instinto, metade observação e depois rematava na nesga que antevira ou colocava
num jogador que percebia poder estar em posição de marcar. Difícil? Fácil. Era
Eusébio.
Eusébio nunca estacava junto da
baliza. Marcava pontapés de canto
Poucos
sabem, porque infelizmente pouco se fez por Eusébio em termos daquilo que
realmente fazia, do modo como jogava e fazia jogar. Fez-se muito em manter o
Mito (não deixando que fosse esquecido) e venerar a Lenda (mantendo-o figura
pública) mas pouco, muito pouco, em mostrar o Futebolista genial, único,
generoso e por tudo isso, incomparável. Eusébio era o marcador de pontapés de
canto. Um goleador vai para junto da baliza. Um dos maiores goleadores do
Futebol Mundial, Eusébio afastava-se dela cerca de 30 metros para colocar a
bola num jogador do Glorioso. Porquê? Por que sim. Por que assim o Benfica
ficava mais perto de marcar golos. Uma bola batida por Eusébio a 30 ou 40
metros era meio-golo. E era isso que interessava. Eusébio marcou mais de uma
centena de cantos. Duas dúzias deram origem a golos. A este propósito há um
jogo histórico, na 8.ª jornada do campeonato nacional da I Divisão, na
temporada de 1966/67, frente ao FC Porto. Eusébio marca de canto directo com o
pé esquerdo, na primeira parte. No segundo tempo marca um canto com o pé
direito para assistir a cabeçada de José Augusto e depois faz o seu segundo
golo, no 3-0 do Glorioso, após driblar portistas sem receita para o travar.
Difícil? Fácil. Era Eusébio.
Eusébio foi um inovador
Chegou
ao Benfica rotulado de promissor. Guttmann percebeu que com ele o Benfica tinha
um centrocampista que jogava como avançado e um avançado que sabia ser médio.
Jogava, fazia jogar, marcava e dava golos a marcar. Um goleador que jogou uma
década a servir os avançados e cinco épocas finais como ponta-de-lança. Um
futebolista que marcava porque sim e jogava porque a equipa tinha dinâmica de
vitória e o Benfica ambição de conquistar. Uma glória eterna do Planeta
Futebol, do Mundo, da Europa, de África, de Portugal, de Moçambique e do
Benfica. Só há um futebolista superior a Eusébio! Eusébio da Silva Ferreira.
Eusébio é Eusébio. Chega!
Apenas
a pequenez, atraso, isolamento e debilidade das gentes que dão visibilidade ao
futebol português não permitiu o real conhecimento do muito que fez. Em
Portugal e no estrangeiro. Só que sendo assim, tudo o que Eusébio conseguiu,
toda a fama e reconhecimento público, foi à sua custa. Dele e do Benfica que o
levou - a jogar, fazer jogar, assistir meios-golos e marcar muitos mais - a
todos os quatro cantos do Mundo. Nunca precisou de fazer-se passar por aquilo
que não era. Nem construir surpresas públicas mascaradas, programadas e
filmadas. Nunca precisou. Nunca teve propaganda. E se a desejou ter não a teve.
E mesmo assim há um ano, quase 40 anos depois de deixar de jogar foi o que se
viu!
E querem comparar Eusébio a quê ou quem? Não se pode comparar o que
não tem comparação!
Em 26 de Fevereiro deste ano estive no local onde repousará para a eternidade (clicar)
Obrigado Eusébio, obrigado Alberto.
ResponderEliminarSaudações Benfiquistas
Caro Alberto,
ResponderEliminarMuito obrigado por este artigo tão bonito sobre o King. As pessoas conhecem muito mal o Eusébio porque no tempo em que ele jogava os jogos não davam na televisão. Ou seja, o homem fez centenas de jogadas geniais (eu tive o privilégio de assistir a muitas delas) que se perderam para sempre...
Já agora, talvez me possa esclarecer esta dúvida: quantos penalties o Eusébio apontou na sua carreira, e quantos desses foram falhados. Sei que falhou muito poucos, por isso deve ter uma percentagem de acertos bem acima dos 90 por cento, algo com que os craques de hoje em dia nem sonham...
Um abraço,
AV
Caro António Viegas,
EliminarPelo Benfica marcou 74 grandes penalidades e falhou sete!
Saudações
Alberto Miguéns
Sublime!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminar.....SR DR ALBERTO.....MUITO OBRIGADO.....uma vez mais o SR DR É A VOZ DO SENTIMENTO DOS MILHÕES DE BENFIQUISTAS.....MUITO OBRIGADO POR TRANSPOR AQUI NA SUA PÁGINA A HOMENAGEM QUE (como eu)OS MILHÕES DE BENFIQUISTAS HUMILDES QUEREM DEDICAR AO REI EUSEBIO......nesta altura NÃO VOU COMPARAR.....O DR MIGUÉNS DEIXA AQUI O VERDADEIRO LEGADO DO REI EUSEBIO.....COMO JOGADOR COMO HOMEM....MAS PORQUE FOI TAMBEM A IMAGEM DA ESPERANÇA DE UM POVO( Á ÉPOCA) SOFRIDO...REI EUSEBIO E RAINHA AMALIA VÃO AGORA TAMBEM NO OUTRO LADO DA VIDA FICAR JUNTOS REZANDO PELO SEU POVO...QUE AMARAM E QUE FORAM AMADOS POR ESSE MESMO POVO......já perdoei aos mendes e federações (,CANALHAS) desta vida.....PORQUE O REI JÁ LHES PERDOOU.....BEM HAJA SR DR ALBERTO MIGUÉNS......abraço
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