SEMANADA: ÚLTIMOS 7 ARTIGOS

21 agosto 2014

Benfica é Arte. A Feliz Escolha das Cores do Clube

21 agosto 2014 3 Comentários
ESTAVA A REVER - PARA FAZER A ESTATÍSTICA - O JOGO DO "GLORIOSO" FRENTE AO FC PAÇOS DE FERREIRA E AO VER UMA IMAGEM DO ENCONTRO LEMBREI-ME DE TRÊS HISTÓRIAS: A ORIGEM DO VERMELHO À BENFICA, UM PINTOR HOLANDÊS E UMA MÉDICA DO HOSPITAL DE SANTA MARIA


Nos anos 80 lembro-me de visitar em Haia, o Museu Municipal, e ter encalhado num quadro de Van Gogh que ao longe parecia-me o Benfica a jogar estando eu no topo do Terceiro Anel da Saudosa Catedral. Pois agora aconteceu o contrário, ou quase, porque já não há «topo do Terceiro Anel da Saudosa Catedral». Estava a ver a televisão e lembrei-me do quadro "Campo de Papoilas".


Os pintores e os tons de vermelho
A cor vermelha significa paixão, energia e excitação. É uma cor quente. Está associada ao poder, à guerra, ao perigo e à violência. O vermelho é a cor do elemento fogo, do sangue e do coração humano. Simboliza a chama que mantém vivo o desejo, a excitação sexual e representa os sentimentos de amor e paixão. No contexto religioso, o vermelho é a cor da carne, do pecado, do diabo, da tentação; é a cor que provoca a paixão carnal e o desejo. Na política, a cor vermelha está associada ao espírito revolucionário. É a cor do comunismo e da ideologia política de esquerda. A cor vermelha estimula o sistema nervoso, a circulação sanguínea, dá energia ao corpo e eleva a auto-estima. Um ambiente pintado ou decorado de vermelho torna-se vibrante, com glamour, requinte e estimula a sexualidade. Em locais apropriados, o vermelho estimula o apetite e deixa o ambiente mais convidativo (retirado/ adaptado de um portal da simbologia das cores)


O Benfica é lindo
Há uma diferença abissal (ou colossal que está a sair de moda) entre as equipas que jogam de vermelho e as outras. Nota-se no campo, na televisão e nas fotografias a cores. Vermelho é tudo. As cores, a sua disposição e combinação, no futebol tem - teve - muita importância. Principalmente no meio envolvente, mas também na simbologia. Deixemos a simbologia (que dava um tratado) e vamos ao meio envolvente. Em países onde os campos de jogo sempre foram relvados, ervados ou gramados há poucas equipas a jogar de verde. Percebe-se. Em países onde os campos de futebol eram pelados há poucas equipas a equipar de amarelo. Percebe-se. E não há equipas a equipar de castanho. Em lado algum! Percebe-se. O vermelho é fantástico. Ver uma equipa a jogar de vermelho sobre um relvado ainda é mais elegante que sobre um pelado. E quando é o "vermelho à Benfica" com calções brancos e meias vermelhas é espectacular. Dos espectáculos mais bonitos do Mundo. Extasiante. Isto para quem está de fora, a ver. E entre os jogadores mantém-se a beleza. É muito mais interessante, delicioso e fácil (de encontrar) endossar a bola a quem está de vermelho. Por isso os clubes de vermelho têm tanto sucesso no Mundo do Futebol. Sucesso desportivo e popularidade.

O vermelho para a camisola do equipamento e o escudo do emblema
A escolha do vermelho é uma história fantástica dentro da Gloriosa História. Nunca me canso de contá-la. Espero que quem a conhece não se canse também de a ouvir ou ler. Vou dividi-la em três fases: imagem, ideia e ideal.

A escolha dos símbolos foi criteriosa. Há notícias do processo de escolha das cores. Está bem documentado. Não podemos dizer o mesmo dos outros dois símbolos: sigla/ nome e emblema. Há menos descrições. O que se sabe é que os fundadores tiveram cuidado em pedir àqueles, que entre eles, estavam em melhores condições para se encarregarem de tal desígnio. E fizeram-no com excelência para bem do Clube e das gerações seguintes. Eternamente agradecidos. Escolher os melhores, porque com mais conhecimentos e visão, é uma das características do Benfica.  Felizmente, em termos históricos, a maior parte das vezes têm sido escolhidos os mais aptos, os melhores para servirem o Clube. O Benfica só tem - teve - a ganhar. Pena é que nem sempre tenha sido assim. Até na actualidade. O Benfica só tem a perder quando deixa benfiQuistos, benfiquenses, benfiqueiros ou mesmo Benfiquistas com menos aptidão para determinado assunto, por ser específico e para peritos, deixar autênticas aventesmas tratar de assuntos que merecem os mais aptos.

Imagem - Foi José da Cruz Viegas que ficou encarregado de conduzir o processo. Militar tinha acesso aos catálogos britânicos de tecidos e cores para equipar o exército. O preocupação dele foi escolher uma cor, tom e tecido que se fixassem melhor na retina dos futebolistas durante o jogo. José da Cruz Viegas não é um dos 24 fundadores mas é um dos pioneiros. Jogava no Belem Football Club (grupinho de bairro) e depois foi um dos que estreou, em 1 de Janeiro de 1905, a equipa do Sport Lisboa. Sempre como defesa à direita. Depois de fazer a escolha, esta foi apresentada aos restantes pioneiros do Clube e devidamente aprovada. À Benfica!;

Belém Football Club ou Grupo dos Catataus, em 1903. Da esquerda para a direita. De cima para baixo. Defesas (à direita e esquerda) e guarda-redes: Cruz Viegas, José Rosa Rodrigues ou Galeano (guarda-redes) e Manuel Gourlade; Médios (direito, centro e esquerdo): Jorge Afra, Carlos França e Daniel dos Santos Brito; Avançados (da ponta-direita à ponta-esquerda): Duarte José Duarte, António Rosa Rodrigues/ Neco, Cândido Rosa Rodrigues/ Candinho, Raul Empis e Armando Macedo
Ideia - Um dos fundadores Cândido Rosa Rodrigues, o "segundo dos Catataus" afirma que houve a preocupação de escolher uma combinação de cores que chamasse à atenção dos transeuntes transformando-os em espectadores, pois o Sport Lisboa jogava em terrenos públicos junto a ruas e num bairro com muitos habitantes e muitos frequentadores, como era o bairro de Belém;

Factura - 18 de Fevereiro de 1905 - da compra de 12 camisolas de flanela vermelha confeccionadas pelo alfaiate Nunes, na calçada da Ajuda. Duas notas: 1. O vermelho num tecido como a flanela é algo verdadeiramente inacreditável em beleza. Melhor só em veludo. Eu tenho uma replica perfeita, em flanela vermelha, e é qualquer coisa de inatingível por qualquer tecido. Talvez a seda. Linho e algodão ficam sempre a perder; 2. No início do século XX o guarda-redes equipava como todos os outros. No início do jogo o capitão da equipa indicava ao árbitro quem era o guarda-redes, ou seja, qual era o futebolista que podia jogar a bola com as mãos dentro da grande-área da equipa  

Ideal - Tradicionalmente o vermelho - no equipamento e escudo do emblema - foi definido como escolha por transmitir: «Alegria, colorido e vivacidade, como base de entusiasmo na luta em Desporto». Depois de escolhida a cor vermelha para a camisola de flanela optou-se por calções brancos, tal como os calções do Belem Football Club. Até é provável que alguns tenham utilizado os mesmos. As camisolas eram compradas, feitas por um alfaiate, em conjunto - para serem uniformes - ao contrário de muitas equipas de outros clubes que pelas fotografias percebe-se serem camisolas até com tons e cortes diferentes. As do Sport Lisboa eram iguais, ou seja, do mesmo lote de tecido e com o mesmo corte. Foram compradas 12 e pagas pelos futebolistas. Consta que por 24, pois havia duas equipas - 1.ª e 2.ª categoria - e apenas foram adquiridas 12. Sabe-se que nos dias em que havia dois jogos, tradicionalmente, a 2.ª categoria jogava primeiro passando as camisolas aos da 1.ª categoria. Os calções tinham de ser brancos mas cada um tinha os seus e por eles era responsável. As meias eram pretas. Já eram assim no Belem Football Club. Eram as "meias de futebolistas". Pretas acinzentadas por "encobrirem" melhor a sujidade própria do pó dos pelados. O Benfica só começou a usar meias vermelhas quando foi obrigado a adquirir um equipamento alternativo branco - com atilhos e vivos vermelhos na gola e mangas - optando por usar meias vermelhas em vez das tradicionais "pretas acinzentadas" que vinham de 1904. Estávamos em 1943/44 a primeira temporada na I Divisão do SC Salgueiros. Vermelhos como o Benfica!

O "Glorioso" ainda com o nome reduzido a Sport Lisboa, em 1904. Da esquerda para a direita. De cima para baixo. Cruz Viegas (defesa à direita), Manuel Mora (guarda-redes), Fortunato Levy (médio-direito), Albano dos Santos (médio-centro), António Couto (médio-esquerdo) e Emílio de Carvalho (defesa à esquerda); Avançados (da ponta-direita à ponta-esquerda): António Rosa Rodrigues, Silvestre da Silva, Cândido Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues e Carlos França. 
Um dia destes fui a uma consulta de rotina, para os cinquentenários, no Hospital de Santa Maria
E a médica reconheceu-me da Benfica TV e deste blogue. Antes de eu o saber... disse-me o seguinte. «Nem preciso de examiná-lo. Está doente. Tem a doença do meu marido. É do Benfica. E isso é uma doença.» Percebi que me reconhecera e respondi-lhe:

Devia haver uma especialidade médica chamada...
Benficologia. Para podermos falar do Benfica (agora chamo-lhe Benficar) com médicos habilitados.

Não será doentio gostar-se cada vez mais do Benfica!?

Alberto Miguéns

NOTA: Um "dia destes" hei-de falar dos outros dois símbolos: emblema e nome. No caso do emblema a sua definição e estrutura também foi entregue a um "especialista": Félix Bermudes. E depois, tal como foi feito com as cores - e era norma no "Glorioso" - aprovado pelos restantes.

Plano para Agosto
(Previsão sempre à meia-noite)
De 21 para 22: Todos os sonhos são possíveis;
De 22 para 23: Tanta e Tanta Glória Glorioso (o 47 mil);
De 23 para 24: O Glorioso na Segunda Jornada;
De 24 para 25: Era uma vez um jogo com o Boavista FC;
De 25 para 26: Tanta e Tanta Glória Glorioso (o 50 mil);
De 26 para 27: Centenário da Gloriosa Natação (parte III);
De 27 para 28: Sorteios, Sorteamentos e Sortelhas;
De 28 para 29: Era uma vez um grupo da Liga dos Campeões;
De 29 para 30: Mil e Cem de Cem em Cem (parte II);
De 30 para 31: Que dérbi de Lisboa;
De 31 para 01: Era uma vez um jogo com o Sporting CP;
De 01 para 02: Eu Benfiquista no Museu do FCP by BMG (parte II);
De 02 para 03: Mil e Cem de Cem em Cem (parte III)

3 comentários
  1. Muito bom. Eu também sou doentinho e com muito prazer nisso.

    Penso também nas pessoas que sofrem de daltonismo. A wikipedia até tem um bom artigo sobre isso: http://pt.wikipedia.org/wiki/Daltonismo

    Existem diversos tipos de daltonismo: monocromatas, dicromatas, tricomatas. Existem também casos de visão acromática que têm apenas uma visão a preto e branco. Em casos raríssimos, monocromata atípicos podem ver em diferentes tons do expectro da luz verde... Bem, dizem que são casos raríssimos mas ali para o Campo Grande devemos ter a maior incidência mundial desses casos. E apesar de não estarem descritos lá pra as antas os tons vão para o azul. Por esses lados e por muita fauna arbitral.


    Um simulador muito interessante para diversos tipos de daltonismo:

    http://www.color-blindness.com/coblis-color-blindness-simulator/


    As diferenças para a visão dita "normal" são impressionantes.

    O que é certo é que a biologia pode realmente impedir que a beleza do vermelho possa ser percebida em alguns seres humanos. Noutros casos não é a biologia mas antes a deformação de personalidade. Distinguem o vermelho mas odeia-no tanto que se calhar gostariam de não o ver. Temos pena.

    Saudações Benfiquista
    VJC


    ps: tenho uma dúvida no Belém Football Club: parece José Rosa Rodrigues mas tenho visto também a identificação Galeano. JRR era o Catatau mais velho. Galeano? Era alcunha ou uma pessoa distinta?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Victor João Carocha

      Obrigado pelas informações, de quem sabe mesmo do assunto, acerca do daltonismo. Mas eu utilizei o termo - penso que percebeu a minha ideia - de uma forma leviana para ridicularizar quem trocou um golo obtido por um afroamericano (à americana) atribuindo-o a um sueco. Não encontrei termo melhor para descrever quem troca tons de pele bem diferentes...

      Quanto ao Galeano. Penso tratar-se do "Catatau mais velho"! Só há uma referência a Galeano numa legenda. Nenhum dos pioneiros indica qualquer nome relacionado com Galeano. Nas descrições que fazem dos primeiros tempos do Clube há referências a todos os outros dez. Menos a um tal Galeano. Dos restantes dez, nove jogaram no "Glorioso". Apenas Duarte José Duarte não jogou. Pelo menos é o único do qual eu não tenho registos. Na 1.ª ou na 2.ª categoria. Nada. Mas Daniel dos Santos Brito refere que ele é um dos que andava por Belém e pelo Clube em 1904. Provavelmente apenas treinou. Refere-o como Duarte telegrafista. É que Duarte José Duarte estava empregado no Cabo Submarino, em Carcavelos, na Companhia Inglesa que instalou os telefones em Portugal e ligou - telefonicamente falando - a Europa à América do Norte através do Faial. E onde jogavam os mestres do Carcavellos Club.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

      Eliminar
  2. Excelente artigo.
    Anseio pelo artigo sobre o emblema!

    ResponderEliminar

Artigos Aleatórios

Apoio de: