QUANDO
SE COMEÇA A QUESTIONAR FALTA DE INFORMAÇÃO OFICIAL E TERMINA A PERCEBER COMO A
GRANDEZA DO "GLORIOSO" É ANTIGA E PRECOCE EM PORTUGAL
O texto de hoje tem duas
temáticas. Uma (Tema I) mais técnica e interessante para quem gosta da
estatística aplicada ao futebol. Outra (Tema II) relacionada com o desporto do
Portugal dos anos 20 a 40 e de como o Benfica já era gigante. O roteiro para
hoje é este. Quem não se interessar por números, métodos e justificações "arranque
de imediato" para a parte II.
TEMA I
- A METODOLOGIA DO EM DEFESA DO BENFICA PARA FAZER A CRONOLOGIA DOS GOLOS
DO CAMPEONATO NACIONAL
Em tempos, há quase um mês, Em Defesa do Benfica recebeu um comentário
que pela sua importância merecia um texto acerca dele, o que é certo é que o
tempo foi passando e nem "resposta directa" nem o "tal"
texto. Andei pelas "catacumbas" do blogue e encontrei o tal
comentário que merece um texto até porque se enquadra num tema recente a
propósito das comemorações dos cem anos da FPF e também permite explicar a
metodologia da ordenação dos actuais 50 004 golos marcados nas 80 edições do
campeonato nacional. O comentário foi/ é este:
já agora a propósito deste
tema mas que não tem muito a ver com o caso existe outro jogo que gera algumas
duvidas, em 86/87 o ultimo jogo do campeonato do nosso clube foi interrompido
aos 84 minutos por invasão de campo quando o resultado era 1-1, sei que depois
os dois clubes foram penalizados com a derrota, tenho ideia que seria uma
derrota por 3-0 para os dois mas não a certeza, será que pode confirmar esta
ideia e qual foi o resultado considerado para o goal average se o 3-0 ou outro.
Como contabilizar golos
Para qualquer estudo/ trabalho/ investigação/ curiosidade (o
que lhe quiser chamar) acerca do futebol português só é possível contabilizar
os golos marcados em campo e recolhidos na Imprensa da época. Como já escrevi
aqui no EDB para as estatísticas do Benfica - e que apliquei aos "golos
redondos" que não foram marcados por futebolistas com o "Manto
Sagrado" - recolhi a informação de
várias publicações matutinas a seguir aos jogos de futebol e tinham que ter
unanimidade em três delas. Em relação aos golos, se não houvesse unanimidade -
marcador, minuto e tipo de golo - em três delas recorria a mais até ter uma
vantagem de duas: 3-1, 4-2, 5-3, etc. Um pouco como nos parciais de voleibol
sem ter obrigação de finalizar em cinco!
Leva tempo, muito tempo
Tudo isto por querer estar o mais próximo da verdade e da
realidade. Mas qualquer trabalho que seja feito é sempre oficioso, pois só a
FPF pode fornecer os dados oficiais, desde as datas dos jogos à constituição
das equipas e marcadores de golos. Mas com base nos boletins dos jogos que tem
- também era a vergonha nacional que não tivesse! - arquivados, bem como nas
resoluções dos Conselhos de Disciplina e Justiça, principalmente na homologação
de resultados. Espero que um haja sensibilidade da FPF para que isto seja uma
realidade. Mas é com base em documentos da FPF. Não vale contratar uma equipa
de uns quantos assalariados, provavelmente precariamente, para fazer essa
recolha na Imprensa da época. Vai dar "AlmanaCáda" e
"Zerozeroada"! Para isso, prefiro os meus dados que levaram milhares
de horas a obter - sem pressas, nem correrias, nem bocejos e numa "luta
constante" para ficar o mais próximo da verdade.
Quanto à metodologia para ordenar os
golos do campeonato nacional desde o 1.º ao 50 004.º optei pelo seguinte:
Princípio da universalidade
Em 80 edições da competição há resultados de "secretaria"
ou seja, anular os obtidos em campo e criar um resultado com base no
Regulamento da Competição para punir infracções várias. Mas quais e quantos são
esses resultados? Enquanto a FPF não oficializar a informação não se sabe.
Ninguém sabe. Sabem-se alguns, mas de certeza que não se sabem todos.
Principalmente os resultados que eram "alterados" depois das
competições terminarem e que não alteravam as classificações primordiais
(título de campeão e clubes despromovidos).
Optei pela universalidade. Ou se sabem todos os
"resultados de secretaria" através da FPF ou não há garantias que
haja resultados alterados por haver informação e outros que também foram
alterados, mas que por não haver informação, são tidos como não alterados. Não
faz sentido tratar assuntos iguais de modo diferente. Quando a FPF divulgar
todas as alterações logo se estabelecerá uma metodologia, que também terá que
estar relacionada com os dois princípios seguintes NOTA: O primeiro resultado
alterado que se conhece data do 27.º campeonato nacional! Alguém acredita que
nos 26 campeonatos anteriores realizaram-se 3 508 jogos nas 564 jornadas
disputadas e não houve UM, pelo menos um, resultado que não tivesse sido
alterado pelo Conselho de Justiça? Quando se sabe que até no primeiro
campeonato, ainda como I Liga, houve um FC Porto - CF "Os Belenenses"
que terminou 5-4 (8.ª jornada em 10 de Março de 1935) e foi protestado pelo CF
"Os Belenenses" por erros grosseiros da equipa de arbitragem!?
Princípio de possibilidade
Depois há resultados de secretaria impossíveis de
contabilizar, pelo menos na matemática "terráquia" actual! A duas dimensões! Uma das situações é aquela
que o comentário do leitor aborda. Um resultado em campo de empate a um-a-um
transforma-se numa derrota por 0-3 para os dois clubes! Quantos golos
"valeu este jogo" para o total de golos dos campeonatos nacionais:
nenhum, três ou seis! De dois sabemos os marcadores mas depois num SC Braga -
SL Benfica há derrota, por 0-3, do Benfica pelo SC Braga e também do SC Braga,
por iguais 0-3, frente ao Benfica! Como traduzir este habilidade por
conselheiros justiceiros que do Benfica (e do SC Braga, por serem "ambos
vermelhos" segundo consta na justificação) gostavam pouco, tal como do
futebol. E das estatísticas deste ainda menos! Punir dois antagonistas num jogo
em que o resultado possível é uma vitória de um deles ou um empate, com duas derrotas
no mesmo jogo, uma para cada um deles, é uma impossibilidade. E eu não sei
lidar com impossibilidades!
Princípio da sensatez
Depois numa série de golos marcados nem se sabe o que escrever em golos
de secretaria, mesmo que de resultados "possíveis" como num jogo em
que foi atribuída vitória a um dos clubes. Quem marcou, quando marcou, como
integrá-los cronologicamente: no primeiro minuto, espaçados simetricamente ou
ao minuto 90! Se nós adeptos, ligássemos a esta gente que tão maltrata o
futebol, deixávamos de gostar ou ocupar tempo com estes assuntos. E fazíamos
como eles que apenas estão intere$$ado$ com intere$$e$. A lógica era punir quem
não cumpre, e infringe, com os regulamentos retirando-lhes pontos e não
alterando o que não pode ser alterado, os golos que se marcam em campo ou não. Os
golos no futebol são reais. Ao contrário dos pontos que são "apenas"
um valor do Regulamento das Competições. Os pontos são exteriores à essência do
jogo. Os golos são do jogo. Os pontos são das competições.
A elaboração da cronologia de todos os 50
004 golos marcados até hoje - na realidade 10 de Maio de 2014 - obedece a estes
três princípios. E só os alterarei se a FPF publicar em relação aos jogos, as
datas, resultados, marcadores e minutos. Enquanto isso não acontecer ou não se
faz nada ou faz-se alguma coisa. Eu fiz isto (dos 50 mil golos) como um pretexto
para falar da História. Tal como são as efemérides. Pretextos para falar de
alguém ou de algo no passado.
TEMA II
- O DESPORTO DO ANTIGAMENTE
Quando nos últimos dias andei à volta com o Campeonato de Portugal
constatei, mais uma vez, como é injusto desvalorizar esses tempos só porque a
"bola era quadrada" ou o desporto era desorganizado. As dificuldades
eram tantas e eles foram tão grandes que as superaram e o foram fazendo evoluir
até hoje. A este propósito vou contar três episódios, por ordem cronológica.
A equipa de ciclistas com o "Manto Sagrado" com uma águia bem grande no peito para a velocidade dos pés e pernas nos pedais não a esconder... |
A Primeira Volta a Portugal em "Bicicleta"
No final dos anos 20, o jornal "Os Sports" propriedade do matutino
"Diário de Notícias" decidiu organizar uma volta a Portugal em
bicicleta à semelhança de França e Itália. Até que nem devia ser complicado, o
País é mais pequeno!, pensaram eles. Escolheram 1927 o ano do evento. Muniram-se
de um mapa rodoviário editado em 1918 pela Vacuum Oil (Carta Itinerária de
Portugal) e, certamente, sentados nos escritórios do "Diário de Notícias"/
"Os Sports" no Bairro Alto foram fazendo o percurso. Junto a
determinadas simbologias, tais como "estrada a construir",
"passagem a construir" e "ponte a construir" devem ter
pensado - Se em 1918 estava previsto, quase uma década depois já está feita! E
lá foram, com partida de Lisboa (Cacilhas), em 26 de Abril de 1927 rumou a sul,
depois Algarve, regresso pelo interior até Trás-os-Montes e daqui para o Porto
com regresso a Lisboa pelo litoral. Logo depois de Setúbal começou a
instalar-se o caos. As estradas não eram alcatroadas, antes em macadame e terra
batida, não havia pontes, mesmo para atravessar pequenos cursos de água
(agravado a norte com ribeiras com caudais ainda elevados no início de Maio) e faltavam
postos de abastecimento para fornecer combustível aos carros de apoio e
comitiva dos clubes e juízes. Um caos indescritível. Os ciclistas tinham, por
vezes, muitas vezes de carregar as bicicletas para passar a vau linhas de água,
esperar por barcas para atravessar ribeiros mais caudalosos e não arriscar
furar sistematicamente as rodas. Uma odisseia de suor, pó às toneladas, lama, carros
só com depósitos de combustível com perigo iminente de explosão e canseiras,
muitas canseiras. Estradas de confiança? Para lá da Nacional n.º 1, apenas entre
Lisboa e Setúbal ou Porto e Braga! Para lá de Braga e de Setúbal era aventura,
num tempo em que deviam existir em Portugal cerca de dez mil veículos, entre
carros e camiões! Volta a Portugal em bicicleta? Se a primeira foi em 1927, a
segunda foi em 1931. Quatro anos depois! E por caminhos "revistos"!
Para espanto dos cronistas de Lisboa, o
Benfica já era popular em todo o País
O SL Benfica participou com uma equipa de três ciclistas (Francisco
Santos Almeida, Eduardo Santos e Alfredo Luís Piedade) que não conseguiram bons
resultados... desportivos. Apenas Santos Almeida ganhou etapas {quatro: Portalegre
- Castelo Branco (9.ª), Guarda - Moncorvo (11.ª), Coimbra - Caldas da Rainha
(17.ª) e Caldas da Rainha - Lisboa (18.ª)} e chegou ao final (4.º lugar). Mas o
extraordinário é que quem acompanhava a competição - e que vivia em Lisboa,
acompanhando o desporto na cidade, ou nas principais cidades do litoral, entre
Setúbal e Braga, apercebeu-se que afinal o Benfica não era só muito popular nas
principais cidades de Portugal. A sul, a norte, no interior, em Trás-os-Montes,
no Minho havia Benfiquistas! No final das etapas eles corriam para o
"Manto Sagrado" e menos para quem ganhava as etapas!
A ideia "arrepiante" de incluir um clube algarvio na I Liga
Quando se pensou, em 1934, organizar o primeiro campeonato da I Liga para
o início de 1935, uma das decisões era saber quais seriam os oito emblemas que
competiriam durante as 14 jornadas. Sabendo-se que as Associações Regionais não
abdicariam dos seus campeonatos regionais o apuramento seria feito através das
classificações obtidas nestes. Mas quantos e de quais? Foram ao histórico dos Campeonatos
de Portugal entre 1922 e 1934 e contabilizaram os resultados. Nos 13 vencedores
(mas foram também perceber o "peso" de todos os participantes por
Associação Regional) estavam: Lisboa (8, CF "Os Belenenses" com 3, SL
Benfica com 2, Sporting CP com 2, e Carcavelinhos FC com 1), Porto (3, FC Porto),
Madeira (1, CS Marítimo) e Algarve (1, SC Olhanense). Sabendo que seria
impossível ter um represente insular por implicar deslocações marítimas
semanais, ainda se pensou em vez de Lisboa (4), Porto (2), Coimbra (1) e
Setúbal (1), incluir apenas 3 de Lisboa e um do Algarve. Mas depressa se
desistiu da ideia, pois estariam a arranjar problemas, mesmo que algum clube algarvio
quisesse participar e os habituais campeões regionais ou melhores clubes (SC Olhanense
e Lusitano FC de Vila Real de Santo António) não mostram muito interesse!
Pudera! As viagens eram feitas de comboio. Uma deslocação do Porto para o
Algarve ou deste para o Porto implicavam dois dias de viagem: início na
sexta-feira para pernoitar em Lisboa e saída no sábado para dormir na véspera
do jogo de domingo, no Porto ou no Algarve! Era assim o Portugal e o futebol
dos anos 30 e não só...
As deslocações "programadas"
das delegações dos clubes
Mesmo as deslocações, na principal linha férrea, a do Norte, entre o
Porto e Lisboa e desta para o Porto eram complicadas e imprevisíveis, com a
agravante das competições se jogarem de Inverno. Por exemplo, na 8.ª jornada do
campeonato em 1944/45, na véspera de Natal de 1944, o FC Porto saiu da estação
de São Bento, sábado a horas de chegar ao final da tarde a Lisboa mas só chegou
de madrugada. Na madrugada de domingo - cinco e tal da manhã - do dia do jogo,
repito domingo, às 15 horas! Resultado (a viagem atribulada também deve ter
contribuindo para isso): 8-1, com 2-0 ao intervalo a favor do... GD Estoril
Praia!
Algumas deslocações do Benfica podem não
ter tido um caso tão extremado mas também as houve complicadas... e bem!
Alberto Miguéns
Plano para Junho
(Previsão sempre à meia-noite)
(Previsão sempre à meia-noite)
De 06 para 07: Depois
das excitações: a entrevista de Jorge Jesus;
De 07 para 08: Hóquei em Patins: SLB vs FC Porto;
De 07 para 08: Hóquei em Patins: SLB vs FC Porto;
De 08 para 09:
Centenário da Gloriosa Natação;
De 09 para 10: Álvaro Gaspar (1913/14 - A Glória Final);
De 10 para 11: Atenção ao "Futeluso - versão 2015";
De 11 para 12: Eu Benfiquista no Museu do FCP by BMG (parte II);
De 12 para 13: Gostava
Tanto Que..
De 09 para 10: Álvaro Gaspar (1913/14 - A Glória Final);
De 10 para 11: Atenção ao "Futeluso - versão 2015";
De 11 para 12: Eu Benfiquista no Museu do FCP by BMG (parte II);
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ResponderEliminarhowever you sound like you know what you’re talking about!
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desde já agradeço a amabilidade de ter respondido ao meu comentário para mais com honra de post.
ResponderEliminarconfesso que na altura dos acontecimentos ou nem sequer tomei conhecimento dele ou a ele não dei grande importância, ate porque nada contou para o resultado final que foi vencermos o campeonato, só mais tarde tomei nota do caso por altura do golo 4000 do nosso clube no campeonato nacional em que existiam divergências conforme se contava com o golo do carlos manuel em braga ou não.
mas só recentemente é que tomei conhecimento desta singular decisão de punir os dois clubes com a derrota por 3-0, a solução lógica para estas situações seria a de validar o que se passou em campo e punir tem tivesse de ser punido com a perda de pontos, mas o futebol português é fértil em situações em que a lógica não impera.