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20 dezembro 2013

Faleceu Um Benfiquista

20 dezembro 2013 5 Comentários
OPINIÃO

Funeral em 21 de Dezembro de 2013, às 7 da manhã, no Cemitério dos Olivais.
 
Foi com pesar, ainda que Francisco Campas há alguns anos estivesse doente, que recebi a notícia do falecimento de um dos melhores jogadores de ténis de mesa português e um dos melhores dirigentes do "Glorioso" em quase 110 anos de existência do Clube.



Entrar para associado e jogar ténis de mesa
Francisco José Barreiros Campas nasceu em 11 de Junho de 1920, na cidade de Lisboa, em Alfama, na Rua de São João da Praça n.º 18 – 3.º andar. Após concluir a Instrução Primária no Colégio Francês, em frente ao Limoeiro ingressou no Liceu Gil Vicente. Em 1933, aos 12 anos foi viver para a rua Nova do Almada. Aos 13 anos, em 5 de Fevereiro de 1934, inscreveu-se como associado do “Glorioso”, passando a frequentar a Secretaria na rua Jardim do Regedor n.º 5 – 3.º andar, recentemente inaugurada em 14 de Janeiro de 1934. Foi nestas instalações que aprendeu a jogar ténis de mesa, tornando-se pouco tempo depois um dos melhores praticantes portugueses!

Um "miúdo" a trabalhar, treinar e jogar
Em 1935 deixou de estudar, por razões de necessidade familiar, para trabalhar durante dois anos num escritório na rua dos Correeiros, perto da sua morada. Em 1936 inscreveu-se como jogador de ténis de mesa. A rotina da sua vida passou a ter no ténis de mesa um papel importante. Todas as noites jogava pingue-pongue, ora em treinos, ora a competir, pois os treinos alternavam com os jogos: a 1.ª e 3.ª categoria jogavam às terças e quintas-feiras, enquanto a 2.ª e 4.ª categoria competiam nas quartas e sextas-feiras, nas nossas instalações da Secretaria, já no 2.º andar entretanto alugado pelo Clube. Em 1937 empregou-se num escritório da calçada do Carmo, de um fabricante de tecidos de seda para gravatas. E entre 1939 e 1941 trabalhou em Vila Franca de Xira, no “Grémio das Frutas”. 

Dois títulos regionais
A estreia pelo “Glorioso” ocorreu na temporada de 1936/37, quando no Regional de Lisboa de 4.ª categoria vencemos, por 5-1, a equipa do CF “Os Belenenses”. Sagrou-se, logo no primeiro ano como jogador, campeão regional na 4.ª categoria, fazendo também jogos pela 3.ª categoria. Na temporada seguinte – 1937/38 – jogou pela 2.ª e pela 1.ª categoria. Foi em 1938/39 na 2.ª categoria que conquistou mais um título de campeão regional. Em 1939/40, para poder concluir os estudos, foi jogador do Ateneu Comercial de Lisboa, estabelecimento de ensino onde frequentou o Curso Comercial. Após uma temporada afastado, regressou ao Benfica para jogar até abandonar a modalidade em 1960, após duas décadas consecutivas a jogar pelo “Glorioso”.

Sempre ao ataque...
Francisco Campas foi um jogador essencialmente atacante. Não “cortava”, nem defendia, mas conseguia, no entanto, suprir essas “deficiências” mercê de um magnífico poder de ataque constante e eficiente, bastante rápido que impedia, quase sempre, o adversário de se apossar do comando das operações. A bater a bola, quando não “cortada”, foi um dos melhores jogadores portugueses de sempre. E também, a “repuxar” se notabilizou. Além disso, revelou-se um dos jogadores mais fortes em termos mentais, nunca se atemorizando perante qualquer adversário, daí ser o melhor jogador nacional em confronto directo com os grandes ases estrangeiros da modalidade. Nunca vacilava por questões morais, apenas por motivos técnicos e físicos. Jogador “moderno”, também a evolução técnica e de materiais da modalidade o favoreceu, pela perfeita adaptação à sua forma de jogar: encostado à mesa, batendo rápido em revés dos dois lados da raquete. Sensacional!

Primeiro campeão nacional
Após cinco épocas, entre 1936/37 e 1941/42, a jogar oficialmente, conseguiu na temporada de 1941/42 sagrar-se campeão regional por equipas em três categorias, participando em onze jogos: um na 1.ª, nove na 2.ª e um na 3.ª categoria. Em 1944/45 integrou o trio que obteve um extraordinário triunfo no I campeonato de Portugal. Iniciou-se um período de grandes conquistas com Francisco Campas a afirmar-se como um dos melhores jogadores da sua geração. Entre 1941 e 1946 cumpriu o Serviço Militar. Entretanto em 1 de Maio de 1946 empregou-se no “Grémio dos Automóveis” com Sede na rua Braamcamp n.º 84 – 1.º esquerdo. Ficaria 43 anos, até 1989! Sempre a "jogar" ao mais alto nível!


Melhor português no estrangeiro
Efectuou sete deslocações ao estrangeiro, defrontando atletas de nove países. Fez parte da primeira equipa portuguesa a jogar “para lá dos Pirenéus” quando em 1947 jogou em Londres. O facto de não se intimidar perante adversários consagrados permitiu-lhe registos de valor excelso – vitórias sobre os campeões de França (René Roothooft) e de Espanha (Alberto Dueso), este considerado, durante muitos anos, como o melhor jogador ibérico. Em 1952, no Mundial de Bombaim (Índia) ganhou um encontro (D 1-4) ao grande mestre húngaro Koczian, finalista nesse mundial. Ainda na actualidade, um dos melhores resultados internacionais de um jogador português de ténis de mesa.

Ganhar... ganhar
Nos 23 anos em que esteve no “Glorioso” conquistou 44 títulos oficiais, com 29 regionais (24 na equipa principal) e 15 nacionais. Contribuiu para a conquista de 25 campeonatos por equipas – 16 regionais e nove nacionais, para além de quatro triunfos em equipas-pares e cinco em pares-homens. Participou ainda nas equipas que conquistaram cinco Taças de Portugal e 13 Taças “Diário Popular” (torneio de abertura organizado pela ATML). Conquistou ainda, 41 torneios oficiosos e particulares, obtendo quatro troféus individuais e 110 medalhas. 




Do ténis de mesa ao dirigismo
Em 1960 deixou de jogar a nível oficial, sendo organizada uma “Festa de Homenagem” no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa. No “Glorioso” encerrava-se um capítulo, mas iniciava-se outro, como dirigente. Durante uma década exerceu cinco cargos directivos: em 29 de Abril de 1961 é eleito como suplente da Direcção presidida por Maurício Vieira de Brito, passando a efectivo em 23 de Agosto como Vogal da Actividade Desportiva; em 31 de Março de 1962 foi eleito Director dos Assuntos Administrativos na Direcção presidida por Fezas Vital; em 26 de Março de 1964 foi eleito Tesoureiro na Direcção presidida por Adolfo Vieira de Brito; em 12 de Abril de 1969 foi eleito suplente da Direcção presidida por Borges Coutinho; e na gerência seguinte – 3 de Julho de 1971 – eleito Secretário para os Assuntos Administrativos (Tesoureiro). A sua acção como tesoureiro – em duas gerências – foi notável, conseguindo êxitos inolvidáveis! Exerceu vários outros cargos, com destaque para o biénio 1973/75 em que foi Administrador do Jornal “O Benfica”.


Um exemplo de Benfiquismo
Em 1947 foi nomeado “Sócio de Mérito”, dez anos depois, em 1957 foi elevado a “Águia de Cobre” e em 1973 a “Águia de Prata”.
Em Junho de 1989, aos 69 anos, reformou-se da sua profissão de responsável e director de Contabilidade do Grémio dos Automóveis, na actualidade ACAP, para onde entrara em 1946, aos 26 anos!
Quando faleceu em 19 de Dezembro de 2013, tinha 93 anos de idade e 79 anos de dedicação ininterrupta ao Clube.


Sempre preocupado com o rumo por onde seguia o “Glorioso” - com destaque para as "questões financeiras" -  foi uma referência benfiquista de grande valia!

Alberto Miguéns
5 comentários
  1. Obrigado por dar a conhecer mais um pedaço de história benfiquista.

    P.S.: uma emenda rápida (apague depois o comentário): Pirenéus e não Pirinéus.

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    1. Obrigado

      Erro é erro. Não sabia. Já fui informar-me (apesar de ter confiança 100 % em si) para saber o motivo.

      Estamos sempre a aprender.

      Alberto Miguéns


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  2. Que dê inspiração às gerações futuras para sermos cada vez mais vencedores e competentes.

    Como setubalense e apologista da erradicação de certo tipo de rivalidade idiota, foi com estranheza que li agora um artigo d'A Bola que tem este título: "Porque é que os adeptos do V. Setúbal embirram com o Benfica?"

    http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=448315

    Se fosse possível gostava que o meu caro amigo fizesse algum tipo de contraditório acerca do que lá é referido. Certamente com a sua documentação tão valiosa poderá desconstruir aquela idiotice.
    Para mim a situação é muito simples, o clube da minha cidade não passa de mais um clube despeitado, cujos melhores resultados coincidiram com a presença do treinador ideólogo da cultura anti-Benfica, a qual conseguiu implementar no clube, levando-o a uma aproximação ao clube criminoso, claramente observável nos dias de hoje, e que mesmo nessas melhores temporadas foram subjugados à superioridade de uma das melhores equipas europeias de sempre. Tiveram azar de apanhar um grande Benfica, assim como o melhor Sp.Braga teve, a melhor Académica, o melhor Boavista (antes de ganhar o título).
    Quando alguns adeptos de clubes de meio da tabela para baixo (e mesmo que possam lutar esporadicamente por lugares europeus) se afirmam fervorosamente rivais do Glorioso e com ideais de ostracizar os benfiquistas da sua cidade ou região (como se tivessem de ter exclusividade), eu só vejo nisso inveja e despeito.

    Abraços gloriosos e já agora boas festas!

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    1. Caro Amigo Leitor

      Apenas posso dar a minha opinião que tem fundamentos históricos, mas não quer dizer que seja por eles que o clube, entre SLB, SCP e FCP, menos popular para os adeptos do VFC seja o Benfica.

      "Afastamento do SLB"
      1. O clube de Setúbal com o qual o SLB se indentificava era o União de Futebol Comércio e Indústria. O SLB foi inaugurar o seu campo da Bela Vista em 1 de Novembro de 1925;

      2. A grande rivalidade desportiva/futebolística do distrito de Setúbal (criado em 1926) e da respectiva associação (fundada em 5 de Maio de 1927) era entre o FC Barreirense e o Vitória FC. O SLB (sensibilidade dos adeptos) tinha mais afinidade (cores e características sociológicas) com o FC Barreirense;

      "Aproximação ao SCP"
      3. As cores - verde e branco - dão alguma afinidade entre clubes (na actualidade) mas no passado tinham mais importância;

      "Aproximação ao FC Porto"
      4. O que se passou no alargamento da I Divisão em 1939/40 juntou os dois clubes. A I Divisão era composta por oito clubes apurados todas as épocas pelos campeonatos regionais, com base na força desportiva apurada nas 13 edições (1922 - 1934) do Campeonato de Portugal (prova a eliminar que depois de 1938 passou a designar-se Taça de Portugal): 4 da AF Lisboa, 2 da AF Porto, 1 da AF Coimbra e 1 da AF Setúbal. No Regional do Porto foram apurados Leixões SC (campeão) e Académico FC (2.º lugar) e no Regional de Setúbal o FC Barreirense (campeão). O FC Porto (3.º lugar) foi relegado para a II Divisão. Mas como dominava a AF Porto, esta contactou a AF Coimbra que não se opôs a um alargamento. A AF Lisboa não aceitou incluir um 5.º clube (seria o Carcavelinhos FC), mas o FC Porto contactou a AF Setúbal que aceitou (os votos passavam a ser 3 contra 1) se o alargamento (com paridade de 8 para 10) fosse integrar o VFC (2.º classificado no Regional) que estava relegado para a II Divisão. E assim foi! Eterna Gratidão dos vitorianos setubalenses;

      5. Quando Pedroto foi transformado num "pária" pelo FCP, após o seu presidente Pinto de Magalhães ter sido humilhado pelo treinador em Março de 1969 encontra "refúgio" em Setúbal. Quando Pedroto com Pinto da Costa tomam o poder no FCP, o VFC passa a ser o emblema da confiança dessa parelha no Sul, uma espécie de Lança em África.

      Ainda estou para saber como é que uma espécie de remate (uma bola em câmara lenta) de Futre em 13 de Abril de 1986 passou entre as pernas de um futebolista do VFC permitindo a conquista do título, por Artur Jorge, em 1986/87! Enttre muitas outras...

      Retribuição de abraços gloriosos, um excelente Natal e um ainda melhor Ano Novo de 2014 que seja ano do 33.º!

      Alberto Miguéns

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  3. Adenda
    1.
    Entretanto tive tempo e fui ler as declarações do ex-futebolista Tomé. Este antigo jogador sempre teve um problema de afirmação no VFC depois de algumas afirmações que fez no SCP - 1970/71 a 1975/76 - ficando "marcado" como uma espécie de melão verde - sem reconhecimento, pelo menos como ele pensava merecer, como Sportinguista (apesar de enquanto jogador considerar o SCP o maior de todos) nem bem visto por parte dos setubalenses. Os anos foram passando e muito se esqueceu. Era bom é que aquando de um SCP - VFC ou vice-versa "A Bola" o entrevistasse para ele falar dos 13 ou 14 jogos, em várias competições, que fez como futebolista do SCP frente ao VFC. E até recuperassem nos arquivos algumas frases.

    Agora um episódio num jogo em 1967 dava para tamanha inimizade quando se sabe que já vinha de antes de meados dos anos 60.

    2.
    A estorieta das transferências de jogadores - Jaime Graça e Vítor Baptista - nem sequer pega. Na época considerava-se que o VFC beneficiava - "trocava um por dois ou três quase tão bons". O que numa equipa mais fraca, por ter menos qualidade no onze - fazia mais diferença.

    3.
    Pedroto pela simpatia entre jornalistas e dirigentes é muito sobrevalorizado, quer no FCP quer no VFC. Neste o treinador Fernando Vaz tem melhores resultados (duas Taças de Portugal nos anos 60). Pedroto fez o VFC brilhar no campeonato e na Taça das Cidades com Feiras (que actualmente é como se não existisse) muito à custa do contingente Benfiquista, principalmente na troca de Vítor Baptista: Guerreiro, José Torres, Matine, Praia, entre outros ex-juniores do SLB)

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