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10 setembro 2013

Benfica Internacional (1907 - 1962)

10 setembro 2013 6 Comentários
OPINIÃO

Tal como ontem se escreveu aqui no EDB, os jogos internacionais do Benfica são um dos capítulos mais brilhantes da sua Gloriosa História. E dentro desse capítulo os encontros frente a equipas de clubes vindos de países da Europa Central merecem um destaque especial. Por serem os "mais apetecidos" por adeptos e futebolistas.

Até aos anos 50, com o aparecimento da Taça Latina e posterior desenvolvimento desta (em fusão com a Taça Mitropa) para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, adeptos e jornais dividiam os jogos internacionais considerando a seguinte apreciação:

Adversários britânicos (ingleses e escoceses): futebol arrasador, potente, mas pouco agradável, por se basear no "pontapé para a frente e capacidade física".

Adversários espanhóis: futebol semelhante ao português. Considerava-se que só era melhor que o português porque os jogadores espanhóis tinham mais apoio dos clubes e das entidades oficiais, dispondo de mais tempo para treinar.

Adversários franceses: futebol pouco consistente. A mesma equipa ou muito semelhante podia variar muito de um ano para outro. Tanto podia golear como ser goleada. Considerado um futebol de improviso.

Adversários da Europa Central: o futebol que todos queriam ver (os adeptos) e saber jogar (os futebolistas). Era um futebol técnico, mas jogado com vigor. Os adeptos imaginavam que os clubes portugueses podiam "um dia" jogar assim e os futebolistas ansiavam por ter condições para o imitar. De um ano para outro admiravam-lhes as cambiantes tácticas que o tornavam imprevisível. Daí ser muito difícil "empatar-lhes o jogo" quanto mais vencê-los.

Além disto o futebol da Europa Central estava muito mais desenvolvido em termos de competições internacionais. Enquanto a Taça Latina teve a primeira edição em 1949 e reservava quatro jogos por edição, dois para cada um dos quatro clubes, a Taça Mitropa iniciou-se em 1927 e teve, por exemplo, na  10.ª edição em 1936 um total de 38 encontros envolvendo a participação de 20 clubes.

O início do conflito armado da II Guerra Mundial interrompeu os contactos internacionais do futebol do Benfica durante uma década. Entre 1937 (recepção ao Hungária FC) e 1946 (recepção ao clube inglês Charlton AFC) apenas um jogo em Barcelona, frente ao FC Barcelona, no anterior campo deste clube (Les Corts), em 1940.

Jogos internacionais do Benfica pela proveniência das equipas dos clubes adversários (entre 1911 e 1 de Setembro de 1939)
Adversário
J
V
E
D
GM
GS
Espanha
59
20
9
30
113
136
Inglaterra
11
4
-
7
23
26
Hungria
9
3
2
4
14
25
Checoslováquia
8
1
-
7
11
30
França
7
2
2
3
19
20
Áustria
5
2
2
1
9
6
Suíça
2
1
1
-
4
2
Argentina
2
-
-
2
1
4
Suécia
2
1
-
1
4
5
Escócia
1
1
-
-
1
4
País de Gales
1
-
1
-
1
1
Brasil
1
-
-
1
0
5
TOTAIS
108
34
17
57
200
264

NOTA: Os resultados com equipas de clubes ingleses estão"mascarados" com três vitórias (7-0, 1-0 e 11-1) frente a equipas de improviso, mas que devido ao prestígio do futebol inglês o Benfica aceitou o repto e apresentou a habitual equipa titular 

Jogos internacionais do Benfica frente a clubes de Espanha (o único país visitado pelo Benfica entre 1912 e 1 de Setembro de 1939)
Local
J
V
E
D
GM
GS
PORTUGAL
26
9
6
11
55
47
ESPANHA
33
11
3
19
58
89
Madrid
10
6
-
4
23
19
Galiza
9
4
1
4
20
17
Catalunha
5
-
2
3
9
21
País Basco
4
-
-
4
1
14
Andaluzia
4
-
-
4
3
17
Extremadura
(Badajóz)
1
1
-
-
2
1
TOTAIS
59
20
9
30
113
136
NOTA: As digressões a Espanha são, também um dos capítulos com mais significado na Gloriosa História do Benfica, pois mostram a vontade de saber mais, para fazer mais, vencer mais e conquistar mais

Benfica e futebol da Europa Central (Áustria, Checoslováquia e Hungria). A história mundial deu-lhe outra dimensão.

Não Podemos Esquecer

Alberto Miguéns
 
NOTA: Os grandes jogos internacionais, entre 1907 e 1962 que afirmaram a popularidade do Benfica entre os portugueses, por ser o clube que independentemente das classificações internas em competições oficiais melhores resultados conseguia frente a equipas de clubes estrangeiros (considerados, sucessivamente, os melhores resultados de sempre do futebol português):


Em 10 de Fevereiro de 1907, o Sport Lisboa quebra a invencibilidade de nove anos (desde 22 de Janeiro de 1898) dos "mestres ingleses do Cabo Submarino", o Carcavellos Cricket and Football Club. O Clube passou a ser conhecido por "gloriosíssimo" (fotografia da História do SLB 1904-1954; volume I; Mário Oliveira e Rebelo Silva; página 72)


Em 19 de Abril de 1914, o "Glorioso" vence pela primeira vez uma equipa de um clube inglês, o Ealing FC de Londres, ao 5.º encontro. O Ealing FC na sua digressão por Portugal vencera os quatros jogos iniciais: 2-1 (Internacional ou CIF), 3-0 (SL Benfica), 2-1 (Internacional ou CIF) e 2-1 (Inglesinhos de Lisboa). O acumulado português frente a clubes ingleses, até ao início deste 5.º jogo era arrasador: nove jogos, nove derrotas e 4/43 em golos. Só à conta do New Cruzaders FC (em 1913) o saldo era de cinco derrotas e 1/34 em golos, com o Sporting CP a sofrer, em 25 de Março de 1913, a maior derrota de sempre (ainda hoje é recorde negativo), perdendo por 0-12! A vitória do Benfica, ao 10.º jogo de um clube inglês em Portugal, foi a primeira do futebol português. Até 1922 foi considerado o melhor resultado de sempre do futebol português (fotografia da História do SLB 1904-1954; volume I; Mário Oliveira e Rebelo Silva; página 272)


Em 2 de Janeiro de 1922, no segundo jogo com os checos do Union Zizkov, clube do bairro histórico de Praga, uma vitória empolgante. O grande clube de Praga vencera todos os jogos na sua primeira digressão a Portugal, respectivamente, por 4-1 (Casa Pia AC), 2-1 (Sporting CP), 4-3 (SL Benfica) e 5-0 (Sporting CP). Ao 5.º jogo (a que se refere a fotografia, D 1-2). Até 1929 foi considerado o melhor resultado de sempre do futebol português (fotografia da História do SLB 1904-1954; volume I; Mário Oliveira e Rebelo Silva; página 448)


Em 6 de Janeiro de 1929, um resultado histórico, considerado o melhor de sempre do futebol português, melhorando a vitória ao União Zizkov (em 1922), e que seria suplantado "apenas" em 1950, 21 anos depois, aquando da conquista da Taça Latina. O clube de Budapeste, Ferencvarós TC, vencedor da 2.ª Taça Mitropa, em 1928 (competição entre os campeões nacionais da Europa Central) dizima, sucessivamente, os emblemas portugueses: 6-0 (Sporting CP), 6-0 (CF "Os Belenenses") e 4-1 (Vitória FC, de Setúbal). Com o Benfica perde por 0-1. Um feito histórico. O campeão húngaro conquistou a Taça Mitropa, depois de uma final a duas mãos frente ao campeão austríaco SK Rapid (V 7-1, em Budapeste e D 3-5, em Viena) (fotografia do Livro de Ouro; 2000; Diário de Notícias; página 26)


Em 3 de Maio de 1949, o Benfica vence, por 4-3, o Torino AC na "Festa de Homenagem" a Francisco Ferreira, capitão do Benfica e da selecção nacional. O "Grande Torino" era tetracampeão italiano e um dos clubes mais fortes do futebol europeu nos anos 40. A extraordinária vitória ficou "esquecida, encoberta (e bem)" pelo facto do tenebroso acidente aéreo que no dia seguinte vitimou toda a comitiva do campeão transalpino próximo da chegada a Turim (fotografia da História do SLB 1904-1954; volume II; Mário Oliveira e Rebelo Silva; página 499)


Em 18 de Junho de 1950, o Benfica conquista a Taça Latina, na 2.ª edição desta competição oficial organizada pelas quatro federações, sob a égide da FIFA (ver EDB em 16 de Abril de 2012). Com o clube francês FC Girondinos Bordéus, depois de uma final, com 120 minutos, empatada a três golos, o Benfica consegue o 2-1 aos 146 minutos e fica na posse do troféu. Um resultado histórico, considerado o melhor de sempre do futebol português, melhorando a vitória frente ao Ferencvarós TC (em 1929), e que seria suplantado "apenas" em 1961, onze anos depois, aquando da conquista da "Primeira".  (fotografia da História do SLB 1904-1954; volume II; Mário Oliveira e Rebelo Silva; página 511)


Em 31 de Maio de 1961, o Benfica sagra-se Campeão Europeu, ao conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus, na 6.ª edição desta competição oficial, que teve uma primeira edição, em 1955/56 que não foi organizada pela UEFA, mas pelo jornal francês "L´Equipe". Numa final empolgante, no estádio Wankdorf, em Berna, o "Glorioso" derrota, por 3-2, o poderoso FC Barcelona. O melhor resultado, de sempre do frágil futebol português, mas com ratificação um ano depois... nem tanto! (fotografia de O Sport Lisboa e Benfica Na Taça Dos Clubes Campeões Europeus; 1963; Rebelo Silva e Carlos Carvalho; página 150)


Em 2 de Maio de 1962, o Benfica sagra-se Bicampeão Europeu, ao conquistar, consecutivamente, a "Segunda" Taça dos Clubes Campeões Europeus, na 7.ª edição da competição. Numa final de "arreganho" - o Benfica esteve a perder por 0-2, no estádio Olímpico, em Amesterdão, o "Glorioso" (Campeão Europeu) derrota, por 5-3, o Pentacampeão Europeu, Real Madrid CF. O melhor resultado, até... hoje do futebol português. O único Bicampeão Europeu (dois títulos consecutivos) em Portugal! (fotografia de O Sport Lisboa e Benfica Na Taça Dos Clubes Campeões Europeus; 1963; Rebelo Silva e Carlos Carvalho; página 200)

6 comentários
  1. PARABÉNS PELO TRABALHO NOTÁVEL QUE TEM FEITO SOBRE A HISTÓRIA DO BENFICA.
    QUERIA FAZER UM PEQUENO REPARO. MO PRIMEIRO QUADRO SÃO 35 VITÓRIAS E 56 DE DERROTAS.

    SAUDAÇÕES BENFIQUISTAS

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    1. Obrigado

      O erro foi meu ao passar do rascunho (feito a partir da Base de Dados) para o quadro digitado e depois publicado. De facto o somatório estava "errado" porque eu transformei o 1-4 frente ao clube escocês Third Lanark AC em vitória, quando como é óbvio é uma derrota. Os golos estavam certos mas o resultado errado. Estava colocado na coluna das vitórias quando devia estar (agora está!) na coluna das derrotas.

      Mais uma vez obrigado pelo reparo pois permitiu corrigir o erro.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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  2. O desenvolvimento da Taça Latina (e fusão com a Taça Mitropa) para a Taça dos Clubes Campeões Europeus é uma interpretação muito livre da história. Isso simplesmente, não aconteceu.

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    1. Caro Paulo Jorge

      Pode não haver deliberação nesse sentido, mas na prática a TCCE resultou em pleno porque juntaram numa mesma competição - a partir da 2.ª edição, em 1956/57 - os campeões nacionais dos quatro países latinos mais os campeões nacionais dos países da Europa Central. A Taça Latina e a Taça Mitropa tiveram a última edição em 1957. Na prática...

      Alberto Miguéns

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    2. Caro Alberto,

      Não concordo, é verdade que a Taça Latina teve a sua última edição em 1957 e a Taça Mitropa perdeu importância após 1957, passando a ser disputada por equipas menores.

      Isso aconteceu pela criação da TCCE, foi uma consequência, não propriamente uma causa. A TCCE foi mais que a junção da TL com a TM, era disputada por clubes de toda a Europa. A TL era disputada em 4 jogos, no mesmo local, no final dos campeonatos nacionais, pouco tinha de semelhante com a fórmula da TCCE. A TM era também disputada no final da época e tinha sido recuperada pouco tempo antes da primeira edição da TCCE.

      Paulo Jorge

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    3. Caro Paulo Jorge

      A TCCE quando foi criada em 1955/56 tinha mais semelhança com a Taça Mitropa do que com a actual forma de disputa da TCCE como Liga dos Campeões. O Mundo é composto de mudança.

      Em 1936 na Taça Mitropa disputaram-se 38 jogos envolvendo clubes de sete países. Havia jogos a duas mãos no campo dos clubes envolvidos, aproveitando as boas ligações ferroviárias existentes na Europa Central.

      A II Guerra Mundial destruiu vias e meios de comunicação, bem como a economia desses países, por isso o futebol em termos de organização regrediu.

      Em 15 de Junho de 1954 a UEFA foi fundada por 25 federações nacionais.

      Em 1955/56 na 1.ª edição da TCCE disputaram-se 29 jogos envolvendo clubes de 19 federações (das 25) da UEFA.

      Em 1956/57 já houve clubes de 21 federações. Actualmente são 53 ou 54 (se juntarmos Gibraltar).

      Não se pode comparar os anos 30 com os anos 50 do século XX e estes com 2013/14.

      Nas páginas do L'Equipe discutiu-se muito a viabilidade económica de uma competição que obrigava a deslocações e estadias dispendiosas, que podiam envolver viagens de avião, pois as de comboio só eram viáveis entre clubes de países vizinhos. A Taça Mitropa e a Taça Latina eram apontadas, pelos defensores da TCCE como exemplos de jogos pagos que envolviam bilhetes mais caros e, mesmo assim, maior afluência de espectadores, pois as pessoas sentiam que os jogos internacionais, mesmo entre clubes, envolviam conceitos patrióticos que atraíam a população.

      A sociologia e política da TCCE ainda está por fazer. Ao contrário daquilo que acontece na actualidade, raramente havia jogos em simultâneo, porque as comitivas dos clubes viajavam em aviões de carreira (não se alugavam aviões). Por exemplo na 1.ª edição da TCCE já havia um finalista e ainda nem se tinha começado a jogar a outra meia-final.

      Exemplo:
      04.04.1956; Stade Reims vs FC Hibernian; V 2-0
      18.04.1956; FC Hibernian vs Stade Reims; D 0-1
      Com o Stade Reims apurado, ainda nem se tinha jogado a 1.ª mão da outra meia-final!
      19.04.1956; Real Madrid CF vs AC Milan; V 4-2
      01.05.1956; AC Milan vs Real Madrid CF; V 2-1

      Alberto Miguéns

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