HOMENAGEM
Continuamos a evocar, o
Benfiquista e Glória do Clube, Guilherme Espírito Santo falecido no domingo, 25
de Novembro. Que notícia triste.
Quando tudo corria bem
Nas primeiras três épocas - 1936/37,
1937/38 e 1938/39 – e a primeira metade da quarta temporada (1939/40) Guilherme
Espírito Santo mostrava-se um futebolista brilhante, um atleta notável e uma
personalidade popular, simples e resistente. Jogador colectivo dignificava o “Manto
Sagrado”. Pelo Benfica, até 31 de Dezembro de 1939, conseguira dois títulos de
campeão nacional (1936/37 e 1937/38) e um título de campeão regional (1939/40).
Era internacional português, com 4 jogos e um golo à selecção da Hungria.
Detinha três recordes nacionais no atletismo: salto em altura (1,825 metros,
desde 3 de Julho de 1938), salto em comprimento (6,89 metros, desde 10 de Julho
de 1938) e triplo salto (14,015 metros, desde 17 de Julho de 1938).
Aziago jogo da selecção em Paris
Pela selecção nacional jogou o encontro
de 1937 (um) e os dois iniciais de 1938. Depois foi preterido por Peyroteo nos
jogos 39.º, 40.º e 41.º da selecção
nacional, todos realizados em 1938, com o avançado-centro Peyroteo a não
conseguir – como era habitual, pois marcava muito pouco por Portugal – brilhar
na selecção portuguesa de futebol. Guilherme Espírito Santo regressou à
selecção nacional em 12 de Fevereiro de 1939, ao 42.º encontro de Portugal. Desde
que Espírito Santo se estreara no “Glorioso”, em 20 de Setembro de 1936 e o
43.º jogo da selecção portuguesa, em 28 de Janeiro de 1940, a equipa de futebol
do Benfica realizou 134 encontros, com Espírito Santo a jogar 114 marcando 113
golos, uma média de um golo por jogo. “Falhou” apenas 20 jogos em 134: 12 em
1936/37, 2 em 1937/38, 5 em 1938/39 e um em 1939/40. Em Janeiro de 1940, foi
seleccionado para o VI França-Portugal. Em Paris, sob condições muito adversas,
em frio, humidade e neve, Espírito Santo não jogou, adoecendo.
Da convalescença para mais um título
Num tempo em que os futebolistas se
deslocavam, entre países, de comboio a viagem foi penosa. Cada vez mais
adoentado, em Lisboa, foi-lhe diagnosticada pneumonia. Ficou inactivo durante…
22 jogos. Ele que apenas havia “falhado” 20 em três épocas e meia. Regressou
para jogar as duas mãos das meias-finais (com o FC Barreirense, marcando dois
golos) e vencer a Taça de Portugal, em 7 de Julho de 1940, na vitória por 3-1
com o CF “Os Belenenses” no campo do Sporting CP, no Lumiar. Espírito Santo
marcou o último golo do Benfica, com 3-0, aos 43 minutos.
Guarda-redes lesionado no dérbi de Lisboa. Quem foi para a baliza!?
Na época de 1940/41 “retomou-se a
normalidade” com a sua titularidade a extremo-direito. Em 19 de Janeiro de
1941, na 4.ª jornada do campeonato nacional, o Benfica deslocou-se ao campo do
Sporting CP para o dérbi de Lisboa. Depois do extremo-esquerdo Valadas ter
colocado o Benfica em vantagem (1-0, aos 27 minutos), Martins guarda-redes do “Glorioso”,
lesiona-se aos 32 minutos. Num tempo em que não havia substituições o Benfica
ficou reduzido a dez jogadores, com o extremo-direito Guilherme Espírito Santo
a passar de avançado para guarda-redes. Valadas voltou a marcar (2-0, aos 37
minutos). Espírito Santo fez várias defesas, apenas sofrendo um golo (1-2, aos
40 minutos, por Peyroteo). E ainda houve tempo para o Sporting CP falhar… uma
grande penalidade. Saímos de casa do adversário com uma preciosa vitória, a
jogar com dez e com um guarda-redes improvisado durante uma hora (58 minutos). Guilherme
Espírito Santo.
Chegou o fatídico dia desse ano de 1941
Entre o início da temporada (15 de Setembro
de 1940) e 9 de Março de 1941, na interrupção do campeonato nacional para o
45.º encontro da selecção portuguesa, a equipa de “Manto Sagrado” realizou 24
jogos, com Espírito Santo a actuar em 22, apenas “falhando” dois. Foi
seleccionado para o XVI Portugal-Espanha, jogando a extremo-direito. Em 16 de
Março de 1941 no Estádio San Mamés, em Bilbau, Portugal foi arrasado, com 1-5, com o seleccionador nacional a tentar atenuar o descalabro colocando-o, na parte final do encontro, a avançado-centro.
Vítima do estado do tempo no norte de Espanha, Espírito Santo adoeceu, agravando a doença que se pensava debelada.
Seguir-se-iam três penosos anos. Foi necessário curar o paludismo – contraído ainda
em criança, em Angola - e que afinal se revelara com as baixas temperaturas do
norte europeu. Uma doença que o obrigou a “faltar” a 121 jogos consecutivos na
equipa (o que restava de 1940/41, 1941/42, 1942/43 e 1943/44, apenas
regressando em 6 de Fevereiro de 1944. Ou seja, esteve inactivo nas passagens
dos seus 22.º, 23.º e 24.º aniversários. Provavelmente, em termos etários, no
seu tempo (anos 40) aquele que seria o tempo ideal para brilhar como futebolista. E mesmo assim conseguiria
os valores que atingiu. Mas, quantos golos, triunfos e conquistas não poderia
ter acrescentado ao palmarés do Benfica? Num tempo em que, o Benfica conquistou
um bicampeonato nacional (1941/42 e 1942/43) e uma Taça de Portugal (1942/43, a fazer a primeira "dobradinha" do Clube).
Três títulos que não tem no seu palmarés. Mas… além destes quantos teria, a
mais, o “Glorioso” se Guilherme Espírito Santo não tem estado afastado!?
Lá no 4.º anel continuará orgulhoso pelo “seu/ nosso” Benfica
Alberto Miguéns
NOTA: Estes apontamentos são possíveis por que resultam de muitas horas de
conversa franca e amiga, durante mais de década e meia, entre um adepto do
Benfica e esta Glória do Clube. Um enorme futebolista e personalidade
fantástica, que era o paradigma do Jogador e do Benfiquista: simples, virtuoso,
trabalhador, dedicado e generoso. Só posso estar agradecido, por ter aprendido
tanto com Espírito Santo.
Obrigado amigo Alberto Migueis por mais estas preciosidades,como ja antes o disse voce pra mim,é uma verdadeira enciclopedia andante,vi com muitos bons olhos o meu amigo ser convidado por LFV para se associar á "edificaçao" do nosso Museu,obg mais uma vez pela sua intrangecencia em defesa do nosso BENFICA.
ResponderEliminarCom toda a admiração.
Abraço