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03 dezembro 2012

Em Luto

03 dezembro 2012 1 Comentários


HOMENAGEM

Continuamos a evocar, o Benfiquista e Glória do Clube, Guilherme Espírito Santo falecido no domingo, 25 de Novembro. Que notícia triste.

Quando tudo corria bem
Nas primeiras três épocas - 1936/37, 1937/38 e 1938/39 – e a primeira metade da quarta temporada (1939/40) Guilherme Espírito Santo mostrava-se um futebolista brilhante, um atleta notável e uma personalidade popular, simples e resistente. Jogador colectivo dignificava o “Manto Sagrado”. Pelo Benfica, até 31 de Dezembro de 1939, conseguira dois títulos de campeão nacional (1936/37 e 1937/38) e um título de campeão regional (1939/40). Era internacional português, com 4 jogos e um golo à selecção da Hungria. Detinha três recordes nacionais no atletismo: salto em altura (1,825 metros, desde 3 de Julho de 1938), salto em comprimento (6,89 metros, desde 10 de Julho de 1938) e triplo salto (14,015 metros, desde 17 de Julho de 1938).

Aziago jogo da selecção  em Paris
Pela selecção nacional jogou o encontro de 1937 (um) e os dois iniciais de 1938. Depois foi preterido por Peyroteo nos jogos  39.º, 40.º e 41.º da selecção nacional, todos realizados em 1938, com o avançado-centro Peyroteo a não conseguir – como era habitual, pois marcava muito pouco por Portugal – brilhar na selecção portuguesa de futebol. Guilherme Espírito Santo regressou à selecção nacional em 12 de Fevereiro de 1939, ao 42.º encontro de Portugal. Desde que Espírito Santo se estreara no “Glorioso”, em 20 de Setembro de 1936 e o 43.º jogo da selecção portuguesa, em 28 de Janeiro de 1940, a equipa de futebol do Benfica realizou 134 encontros, com Espírito Santo a jogar 114 marcando 113 golos, uma média de um golo por jogo. “Falhou” apenas 20 jogos em 134: 12 em 1936/37, 2 em 1937/38, 5 em 1938/39 e um em 1939/40. Em Janeiro de 1940, foi seleccionado para o VI França-Portugal. Em Paris, sob condições muito adversas, em frio, humidade e neve, Espírito Santo não jogou, adoecendo.


Da convalescença para mais um título
Num tempo em que os futebolistas se deslocavam, entre países, de comboio a viagem foi penosa. Cada vez mais adoentado, em Lisboa, foi-lhe diagnosticada pneumonia. Ficou inactivo durante… 22 jogos. Ele que apenas havia “falhado” 20 em três épocas e meia. Regressou para jogar as duas mãos das meias-finais (com o FC Barreirense, marcando dois golos) e vencer a Taça de Portugal, em 7 de Julho de 1940, na vitória por 3-1 com o CF “Os Belenenses” no campo do Sporting CP, no Lumiar. Espírito Santo marcou o último golo do Benfica, com 3-0, aos 43 minutos. 


Guarda-redes lesionado no dérbi de Lisboa. Quem foi para a baliza!?
Na época de 1940/41 “retomou-se a normalidade” com a sua titularidade a extremo-direito. Em 19 de Janeiro de 1941, na 4.ª jornada do campeonato nacional, o Benfica deslocou-se ao campo do Sporting CP para o dérbi de Lisboa. Depois do extremo-esquerdo Valadas ter colocado o Benfica em vantagem (1-0, aos 27 minutos), Martins guarda-redes do “Glorioso”, lesiona-se aos 32 minutos. Num tempo em que não havia substituições o Benfica ficou reduzido a dez jogadores, com o extremo-direito Guilherme Espírito Santo a passar de avançado para guarda-redes. Valadas voltou a marcar (2-0, aos 37 minutos). Espírito Santo fez várias defesas, apenas sofrendo um golo (1-2, aos 40 minutos, por Peyroteo). E ainda houve tempo para o Sporting CP falhar… uma grande penalidade. Saímos de casa do adversário com uma preciosa vitória, a jogar com dez e com um guarda-redes improvisado durante uma hora (58 minutos). Guilherme Espírito Santo. 


Chegou o fatídico dia desse ano de 1941
Entre o início da temporada (15 de Setembro de 1940) e 9 de Março de 1941, na interrupção do campeonato nacional para o 45.º encontro da selecção portuguesa, a equipa de “Manto Sagrado” realizou 24 jogos, com Espírito Santo a actuar em 22, apenas “falhando” dois. Foi seleccionado para o XVI Portugal-Espanha, jogando a extremo-direito. Em 16 de Março de 1941 no Estádio San Mamés, em Bilbau, Portugal foi arrasado, com 1-5, com o seleccionador nacional a tentar atenuar o descalabro colocando-o, na parte final do encontro, a avançado-centro. Vítima do estado do tempo no norte de Espanha, Espírito Santo adoeceu, agravando a doença que se pensava debelada. Seguir-se-iam três penosos anos. Foi necessário curar o paludismo – contraído ainda em criança, em Angola - e que afinal se revelara com as baixas temperaturas do norte europeu. Uma doença que o obrigou a “faltar” a 121 jogos consecutivos na equipa (o que restava de 1940/41, 1941/42, 1942/43 e 1943/44, apenas regressando em 6 de Fevereiro de 1944. Ou seja, esteve inactivo nas passagens dos seus 22.º, 23.º e 24.º aniversários. Provavelmente, em termos etários, no seu tempo (anos 40) aquele que seria o tempo ideal para brilhar como futebolista. E mesmo assim conseguiria os valores que atingiu. Mas, quantos golos, triunfos e conquistas não poderia ter acrescentado ao palmarés do Benfica? Num tempo em que, o Benfica conquistou um bicampeonato nacional (1941/42 e 1942/43) e uma Taça de Portugal (1942/43, a fazer a primeira "dobradinha" do Clube). Três títulos que não tem no seu palmarés. Mas… além destes quantos teria, a mais, o “Glorioso” se Guilherme Espírito Santo não tem estado afastado!?

Lá no 4.º anel continuará orgulhoso pelo “seu/ nosso” Benfica

Alberto Miguéns

NOTA: Estes apontamentos são possíveis por que resultam de muitas horas de conversa franca e amiga, durante mais de década e meia, entre um adepto do Benfica e esta Glória do Clube. Um enorme futebolista e personalidade fantástica, que era o paradigma do Jogador e do Benfiquista: simples, virtuoso, trabalhador, dedicado e generoso. Só posso estar agradecido, por ter aprendido tanto com Espírito Santo.
1 comentários
  1. Obrigado amigo Alberto Migueis por mais estas preciosidades,como ja antes o disse voce pra mim,é uma verdadeira enciclopedia andante,vi com muitos bons olhos o meu amigo ser convidado por LFV para se associar á "edificaçao" do nosso Museu,obg mais uma vez pela sua intrangecencia em defesa do nosso BENFICA.

    Com toda a admiração.

    Abraço

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