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02 dezembro 2012

Em Luto

02 dezembro 2012 0 Comentários
HOMENAGEM



Continuamos a evocar, o Benfiquista e Glória do Clube, Guilherme Espírito Santo falecido no domingo, 25 de Novembro. Que notícia triste.


Três temporadas de excelência
Nas primeiras três épocas - 1936/37, 1937/38 e 1938/39 – de Guilherme Espírito Santo no “Glorioso” a equipa de futebol do Benfica realizou 116 encontros, com Espírito Santo a jogar 97 marcando 100 golos, uma média superior a um golo por jogo. “Falhou” apenas 19 jogos em 116: 12 em 1936/37, 2 em 1937/38 e 5 em 1938/39. Pela selecção nacional jogou o encontro de 1937 (um) e os dois iniciais de 1938. Depois foi preterido por Peyroteo nos jogos  39.º, 40.º e 41.º da selecção nacional, todos realizados em 1938, com o avançado-centro Peyroteo a não conseguir – como era habitual, pois marcava muito pouco por Portugal – brilhar na selecção portuguesa de futebol. Guilherme Espírito Santo regressou à selecção nacional em 12 de Fevereiro de 1939, ao 42.º encontro de Portugal.



Tricampeão nacional
Em 1937/38 o “Glorioso” sagrou-se campeão nacional, ou melhor, Tricampeão, com 23 pontos, tantos quantos os do 2.º classificado FC Porto e mais um que o 3.º classificado (Sporting CP). A primeira alínea de desempate era o do confronto entre os clubes empatados em pontos. Ambos com 23, o Benfica conquistou o título por ter vencido (3-1, em casa, no Estádio das Amoreiras, com um golo de Espírito Santo, a fazer 2-1, aos 70’) na 1.ª volta e empatado (2-2, fora, no Estádio do Lima). O FC Porto protestou o título atribuído ao Benfica por não concordar com o desempate através do confronto directo. Preferia a diferença de golos… Manias! Depois de terminado o campeonato nacional, seguia-se o Campeonato de Portugal (actual Taça de Portugal).

Dias de glória frente ao FC Porto: no Campeonato de Portugal
Em 1937/38 os 15 clubes que jogavam o Campeonato de Portugal repartiam-se por: 8 da I Liga, 6 da II Liga e o representante insular (CS Marítimo da Madeira). Nos oitavos-de-final (7 jogos, pois o CS Marítimo estava isento) o Benfica afastou (V 3-0 e E 1-1) o União Futebol Lisboa (2.º classificado na II Liga). O FC Porto afastou (V 6-1 e V 8-1) o Leixões SC (campeão na II Liga).  Nos quartos-de-final o sorteio determinou um FC Porto vs SL Benfica. A 1.ª mão realizou-se no Estádio do Lima (D 2-4, com Espírito Santo a marcar um golo, o 2-2, aos 30’). Na 2.ª mão, em 5 de Junho de 1938, a tarde foi gloriosa com o Benfica a arrumar o FC Porto, com 7-0, com Espírito Santo a marcar três golos: 4-0, aos 25’; 6-0, aos 50’; e 7-0, aos 55 minutos.

 
  
Faleceu o último sobrevivente do Dia da Mentira (23 de Abril de 1939)  
Em 1938/39, o Congresso da Federação Portuguesa de Futebol decidiu alterar a designação das competições, se bem que mantivesse os regulamentos dos apuramentos: os campeonatos regionais apuravam para o Nacional (antes I e II Liga) e estas para a Taça de Portugal (antes Campeonato de Portugal). No  campeonato nacional o Benfica chegou à 14.ª (e última) jornada a dois pontos do FC Porto. Só a vitória na derradeira jornada interessava. E nesta, em 23 de Abril de 1939, o Benfica deslocava-se à cidade do Porto para defrontar o FC Porto. Com vitória, por 4-1, na 1.ª volta o “Glorioso” tinha de vencer. Após um jogo muito disputado (0-1, aos 2’// 1-1, aos 7’, por Rogério Sousa// 1-1, aos 44’// 2-2, aos 48’, por Alexandre Brito// 2-3, aos 61’// 3-3, aos 61’, por Alexandre Brito) o Benfica consegue um pontapé de canto no último minuto. O nosso extremo-esquerdo Valadas marca o pontapé de canto que depois será concretizado em golo “ao segundo poste” pelo nosso extremo-direito Feliciano Barbosa. O árbitro Henrique Rosa, de Setúbal, perante a exaltação dos portistas que acabavam de perder o campeonato, que seria o 4.º consecutivo para o Benfica, invalida o golo. Espírito Santo nunca mais se esqueceu deste triste episódio, afirmando que nunca vira, nem antes, nem depois nada igual”. E que em campo tinha conquistado para o Benfica, mais um título de campeão nacional. E foi verdade. Só Henrique Rosa nos tirou o que onze gloriosos futebolistas tanto labutaram.



Como se fabricou uma mentira e tirou o quarto título de campeão ao Benfica e o terceiro a Guilherme Espírito Santo Com empate a três golos, aos 90 minutos do lado esquerdo do ataque do "Glorioso" o extremo-esquerdo Valadas (não se vê na foto) marca o pontapé de canto. O árbitro de Setúbal Henrique Rosa está bem colocado. Vê Alexandre Brito (interior-esquerdo) isolado e o guada-redes do FCP Soares dos Reis a saltar sem ninguém a perturbar a sua acção. Vai falhar a intercepção da bola, que ao passar-lhe por cima vai na direcção do avançado-centro Espírito Santo (a saltar à frente de um portista). Guilherme Espírito Santo salta, cabeceia a bola que passa por cima dos portistas (sete aglomerados em cima da baliza), o interior-direito Rogério Sousa também não vai chegar aparecendo - desmarcado, pelo facto dos portistas estarem a marcar a... baliza - o extremo-direito Feliciano Barbosa (não se vê na foto) ao "segundo poste" a fazer o 4 a zero!  Pois... o árbitro setubalense vai anular o golo da vitória no jogo e no campeonato, para marcar falta (sem que ninguém perceba porquê, qual o motivo). Será no local onde está Alexandre Brito que será marcada a falta. Mais tarde Henrique Rosa alegará que foi ele, o nosso Brito, o "homem que agarrou um jogador portista". Só se agarrou a sua sombra. Ou o medo! Ou a mentira!

Dias de glória frente ao FC Porto: na Taça de Portugal
No final da temporada de 1938/39, ainda estava bem presente os “acontecimentos da Constituição em 23 de Abril, quando o sorteio da Taça de Portugal reservou, em 11 de Junho, nas meias-finais um FC Porto vs SL Benfica. Na 1.ª mão, perdemos por 1-6 no Estádio do Lima. Uma semana depois, no Estádio das Amoreiras, em 18 de Junho de 1939 a tarde foi de glória, com Espírito Santo a brilhar com dois dos seis golos com que afastámos o FC Porto da Taça de Portugal. Guilherme Espírito Santo marcou aos 27 minutos (1-0) e aos 67 minutos (4-0). Depois do 6-0, aos 71 minutos por Valadas, o FC Porto - por indicação do seu presidente Ângelo César - abandonou, cobardemente, o campo aos 73 minutos!

E mais um dia de glória frente ao Sporting CP
Entre 1934/35 e 1946/47 o apuramento para os campeonatos nacionais (I Liga ou I Divisão) faziam-se através dos campeonatos regionais que se realizavem, previamente, decorrendo até 31 de Dezembro de cada ano, pois o campeonato nacional iniciava-se no início de cada Janeiro. Em 1939/40 com a mudança de treinador (Janos Biri no lugar de Lipo Hertzka) houve alterações na linha avançada do Benfica. Biri queria um avançado-centro possante com os dirigentes do Clube a contratarem Francisco Rodrigues, ao Vitória FC, de Setúbal. Guilherme Espírito Santo passou a jogar (e muito) na ponta direita. A jogar e a marcar! Em 1939/40 o campeonato regional de Lisboa decorreu com brilhantismo registando-se na 9.ª jornada, em 10 jornadas que completavam o 34.º Regional de Lisboa um dos melhores encontros da nossa história. Atrás do Sporting CP – que vencera os últimos seis Regionais, ou seja desde que o “Glorioso” vencera o último em 1932/33, só a vitória permitia recuperar um título que fugia há seis épocas. Em 3 de Dezembro de 1939 o Benfica, com 5-0, dizimou o Sporting CP.  O “Glorioso” ao intervalo já vencia por 2-0, com golos de Francisco Rodrigues, aos 10’, e Valadas, aos 19 minutos. Depois do intervalo surgiu Espírito Santo a fazer um “hat-trick” perfeito com três golos consecutivos: 3-0, aos 51’, 4-0, aos 72’ e 5-0, aos 87’. Três golos, ao Sporting CP, em 36 minutos. 

Espírito Santo: Orgulho do Benfica e de Portugal
Guilherme Espírito Santo completara 20 anos, em 30 de Outubro de 1939. Pelo Benfica, até 31 de Dezembro de 1939, conseguira dois títulos de campeão nacional (1936/37 e 1937/38) e um título de campeão regional (1939/40). Era internacional português, com 4 jogos e um golo à selecção da Hungria. Detinha três recordes nacionais no atletismo: salto em altura (1,825 metros, desde 3 de Julho de 1938), salto em comprimento (6,89 metros, desde 10 de Julho de 1938) e triplo salto (14,015 metros, desde 17 de Julho de 1938).



Lá no 4.º anel continuará orgulhoso pelo “seu/ nosso” Benfica

Alberto Miguéns

NOTA: Estes apontamentos são possíveis por que resultam de muitas horas de conversa franca e amiga, durante mais de década e meia, entre um adepto do Benfica e esta Glória do Clube. Um enorme futebolista e personalidade fantástica, que era o paradigma do Jogador e do Benfiquista: simples, virtuoso, trabalhador, dedicado e generoso. Só posso estar agradecido, por ter aprendido tanto com Espírito Santo.


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