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02 julho 2012

O Que Verdadeiramente Interessa…

02 julho 2012 6 Comentários

OPINIÃO
O Mestre Cândido de Oliveira, aos 20 anos, com o Manto Sagrado. Com uma vida dedicada ao futebol - jogador, treinador e jornalista - distinguia povos de futebóis. Que o texto de hoje, também seja uma homenagem à sua enorme categoria e universalismo.
        

       
Entrevista a Fernando Santos (treinador de futebol da selecção da Grécia) Correio da Manhã; 30 de Junho de 2012; página 2 do suplemento desportivo Correio Sport
               


A pergunta de Matilde Rocha Dias a Fernando Santos sintetiza muito da propaganda mediática que acicata os ânimos das pessoas afastando-as do essencial. Fernando Santos respondeu como seria de esperar de alguém que sabe distinguir o futebol da sociedade, o acessório do fundamental.

O Desporto é desporto ou é uma “Guerra Limpa”
O futebol é o mais belo dos desportos (em simplicidade nas regras e objectivos do jogo, concepção das jogadas e funcionalidade das competições, a eliminar ou a pontuar) e também o que mais perto está da evolução ancestral do ser humano (pequenas tribos coloridas que enfrentam outras com cores diferenciadas num espaço amplo ao ar livre), daí a sua popularidade. Até aqui nada de novo. O futebol só difere, em grandeza, de outros desportos colectivos (na maior parte dos países) porque é antigo e popular. Ou seja tudo o que se relaciona com o futebol é mais mediático, porque tem maior visibilidade.

Exacerbar nacionalismos políticos
O que se vai observando – muito instigado pelos media (televisões, jornais e rádios) devido às “lutas” de audiências e tiragens – é transformar as competições desportivas em lutas políticas e combates nacionalistas. Isto à medida que os exércitos nos países democráticos ocidentais foram deixando os campos de batalha e fazendo vida nos quartéis. Nas competições mais mediáticas – Campeonatos do Mundo e da Europa de Futebol e Jogos Olímpicos – os media querem fazer acreditar – até porque “beneficiam” da exibição, ao vento, nesses eventos dos símbolos nacionais, hinos e bandeiras - que o que está em confronto não é o desporto, a capacidade física e táctica individual, quando muito a capacidade dos vários países em proporcionarem condições para a pratica desportiva e consequente sucesso, por boas e consistentes práticas, mas o que fica exposto é um confronto político entre dois ou mais países. Daí os termos utilizados: A Espanha ganhou à Itália; a Espanha é melhor que a Itália; a Espanha é superior à Itália; a Espanha humilhou a Itália; etc e tal. Mentira. Porque a Espanha não é a melhor da Europa. Nem a Espanha, nem qualquer outro país, no passado ou no futuro, que conquiste o Campeonato da Europa. É a melhor no futebol. Os jogadores de futebol espanhóis são os melhores da Europa. Isto que, afinal, é tão óbvio parece ser esquecido com tanta facilidade. 

Os dois capitães das selecções de futebolistas de Espanha (Mariano Arrate) e Portugal (Cândido de Oliveira) na estreia da selecção portuguesa, em Madrid, a 18 de Dezembro de 1921
O treinador Cândido de Oliveira na selecção nacional n.º 45, no 16.º Espanha-Portugal, em 16 de Março de 1941, em Bilbau. Quatro futebolistas do Benfica: Francisco Ferreira (2.º a contar da esquerda, em cima), guarda-redes Martins (4.º a contar da esquerda, em cima) e a seu lado, Gaspar Pinto e Cândido de Oliveira. Guilherme Espírito Santo (em baixo, 1.º a contar da direita), então com 21 anos, actualmente a caminho dos 93 anos, continua, felizmente, entre nós 


Mestre Cândido de Oliveira: inteligente, esclarecido e cosmopolita
Não se pense que este “fenómeno” de querer fazer corresponder o desporto de cada país ao País na sua globalidade, ou seja à sua sociedade, é de agora. Não é! Se bem que, quanto a mim, tem vindo a crescer e a recrudescer, muito porque as guerras na Europa, entre as principais potências, há muito que acabaram, fazendo parte nem da memória, mas apenas de livros de História e cenas de filmes. Mas fomenta-se uma espécie de “guerra limpa” (matar é marcar golo; ganhar a batalha é vencer o jogo; ganhar a guerra é conquistar o troféu). Que provoca em cada pessoa uma espécie de orgulho nacionalista, de ser superior a outro. Uma vontade muda.
Quem melhor separou política de futebol foi Cândido de Oliveira. Que nos anos 50 se insurgiu contra um título de jornal, antes de um jogo entre a selecção de Espanha e de Portugal, que dizia mais ou menos (cito de memória) o seguinte: QUAL É O MELHOR PAÍS: PORTUGAL OU ESPANHA?”
Pois Mestre Cândido de Oliveira, com a sabedoria, inteligência e prestígio que granjeara, criticou essa frase afirmando (volto a citar de memória): Portugal não vai enfrentar Espanha. O que vai haver é um jogo de futebol, em que uma equipa de futebolistas portugueses escolhidos por Tavares da Silva vai medir forças com uma equipa de futebolistas espanhóis escolhidos por Pedro Escartín”! Nem mais, mestre Cândido. É assim o desporto. O que está em causa é mostrar que em determinada modalidade, o desporto desse país é superior ao que se pratica noutro país. Mas… acaba aí!

Felizmente o clubismo está acima do nacionalismo
Mas o que é que, até aqui, esta lenga-lenga, meio sermão, meio doutrinal se relaciona com o “Em Defesa do Benfica”. É que com os clubes (na sua generalidade, porque também podem ser feitos aproveitamentos espúrios) o aspecto nacionalista não existe. O futebol enquanto actividade desportiva organizada, com forte ligação às origens dos primeiros grupos de civilização humana encaixa muito mais (quase que me atreveria a dizer em exclusivo) no confronto entre equipas dos clubes que entre Nações. O futebol dos clubes é uma forma de colocar em confronto, em termos colectivos, a vontade individual que se associa num grupo, em torno dos símbolos – nome abreviado e popular, sigla, emblema e cores - de cada clube. As rivalidades são geridas dentro de cada cidade, região, país ou continente. O futebol dos clubes não é, por base, nacionalista. É universalista. O Benfica tem adeptos em todos (ao quase todos…) os países do Mundo. É um factor de união entre etnias, povos, línguas e culturas díspares. Não provoca xenofobia. Os futebolistas são de qualquer nacionalidade. O importante é honrarem o “Manto Sagrado”! Gosto mais “deste” futebol. Desta forma de sentir e ver o futebol. Se o futebol das selecções (em particular se os media não experienciassem) fosse menos chauvinista, há aqui um adepto para isso! Um adepto que gostava de ver os jogos entre selecções nacionais como Mestre Cândido!

As Nações “defrontam-se” nas condições que criam para melhorar a vida dos Povos
O que devia ser importante no confronto entre países era na capacidade que estes têm em gerar condições económicas para que estas proporcionem qualidade de vida aos seus habitantes. É aqui que os povos (e em particular a comunicação social) deviam “investir”! Os países são melhores que outros se os seus habitantes tiverem condições de vida superior aos outros. Os países deviam ter brio em gerar – através do sistema de educação e valores - cidadãos com qualidade e disponibilidade para se organizarem em partidos políticos (7 500 assinaturas de eleitores) ou reorganizarem os partidos existentes e proporem-se a ser eleitos pelos outros. Depois de eleitos terem capacidade para melhorar as condições sociais e económicas de todos. Ganhar uma competição desportiva é importante, mas não é fundamental, nem resolve – no concreto – a vida das pessoas. Pode anestesiar, mas não “cura”!

Alguns valores onde se vê a "qualidade" dos países, ou seja, a valorização do dia-a-dia (melhor saúde,educação, desafogo financeiro, ...) dos seus habitantes.

O flagelo do desemprego, para quem precisa de trabalhar e não consegue emprego

A Dívida Pública que torna os países dependentes dos credores

O rendimento anual por pessoa que permite ter ou não ter qualidade de vida.

A desigual distribuição do rendimento. Portugal tem um rendimento baixo (quadro acima) e ainda o distribui muito mal. Os 20 por cento mais ricos têm sete vezes maior rendimento anual que os 20 por cento mais pobres...

Para a POLÍTICA o que é da POLÍTICA. Para o DESPORTO o que é do DESPORTO.
 
Alberto Miguéns

NOTA1: É já uma certeza. O FC Barcelona e a selecção espanhola criaram uma nova táctica, uma outra forma de jogar futebol – e este inventado há quase 150 anos, em 26 de Outubro de 1863, já teve muitas tácticas. Como se “combateram” tácticas, que o tempo foi mostrando serem “quase invencíveis”? O que ocorreu foi os adversários adoptarem a mesma táctica e conseguirem treinadores e futebolistas que a interpretassem melhor!

NOTA2: A selecção portuguesa esteve muito bem na fase final. Entrou apurada “à justa” pelo bota-fora depois de um 2.º lugar no grupo de apuramento e chegou às meias-finais da fase final do Europeu eliminada, após zero a zero em 120 minutos, no desempate por pontapés da marca de grande penalidade pela futura campeã europeia. Mas… fiquei com a sensação que Portugal beneficiou de ter um onze titular cujos jogadores não foram muito desgastados, física e psicologicamente na época de 2011/12 pelos seus clubes. E no jogo com Espanha beneficiou pelo facto de ter mais 48 horas de descanso, sabendo-se que a táctica de Espanha exige muito do físico dos seus futebolistas. Não me vou dar ao trabalho (não é assunto Benfica!) de fazer tantas contas, desde Julho de 2011, aos onzes base das oito selecções presentes nos quartos-de-final. Alguém fará por mim. Já me chega ter de fazer as do Benfica (com gosto!) e dos nossos adversários (por obrigação!) por não confiar nos media portugueses! Vou ficar à espera do Anuário do Futebol Europeu (The European Football Yearbook que está assinado, no Reino Unido, desde 1988/89) devendo chegar, via correio, lá para finais de Setembro de 2012.

Assunto selecção encerrado até… 2014 (se ainda por cá andarmos)! O EDB e a selecção apurada!

Em dia de início da época 2012/13, a 109.º temporada do futebol "Glorioso". Que, deseja-se, termine em Glória. À Benfica! Terminar como comecei. Em homenagem. Cândido de Oliveira, em 1915, a tentar surpreender o guarda-redes Morice do Sporting CP. A fazer o que tão bem soube fazer, entre 1914 e 1920. Honrar o Manto Sagrado
 






6 comentários
  1. Pela primeira vez aqui comento, nao podia ficar em silenco perante tal acerto. Aguardo pelo post completo. Parabens pelo que vem fazendo aqui.

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  2. Ainda bem que o meu caro Alberto faz uma alusão en passant pela situação social e económica mundial. Percebo perfeitamente a que se refere quando fala em reorganização dos partidos e disponibilidade das pessoas para alterar das coisas. O problema é que as pessoas não querem ou não conseguem ver que este sistema, e estou a falar à escala planetária, está caduco, obsoleto, já não funciona e por mais pensos e compressas que ponham a ferida nunca irá sarar e vai alastrar cada vez mais. Pode ter sido um bom sistema e ter trazido prosperidade e desenvolvimento tecnológico há 100 ou 200 anos atrás mas com o nível de capacidade intelectual e tecnológico dos nossos dias a humanidade precisa de repensar que tipo de vida merece e que planeta quer deixar para as gerações futuras.
    Quando me refiro a sistema estou a falar dos ismos: absolutismo, fascismo, nazismo, comunismo, socialismo, capitalismo e aquele que é comum em todos o monetarismo. Quando é que algum destes sistemas ou uma cruz no boletim melhorou a vida das populações? O dilema que as pessoas se deparam é que se este sistema já atingiu o ponto de ruptura qual é a alternativa sustentável? Talvez possamos encontrar respostas neste video que eu deixo aqui como sugestão. Coloquem as legendas em português carregando no botão CC. Espero que vos faça pensar.

    http://www.youtube.com/watch?v=KphWsnhZ4Ag

    Benfica SEMPRE!

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  3. angolanovermelho02 julho, 2012 21:09

    Caro Alberto Miguéns:
    Voltando à questão do post do dia 1 de Julho sobre os campeonatos ganhos pelas modalidades, aproveito para lhe solicitar, sendo possivel, o favor de aqui esclareçer o número de campeonatos de hóquei patins conquistados pelo Benfica.
    Já li um post seu sobre a modalidade e refere 22, na Benficatv já ouvi por mais do que uma vez, 21.
    O meu muito obrigado.
    Saudações Benfiquistas

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    Respostas
    1. Caro Angolanovermelho

      Vou tentar responder no texto a publicar às 00.00 de 3 para 4 de Julho. Mas haverá um texto mais elaborado num dia destes.

      Gloriosas Saudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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    2. angolanovermelho03 julho, 2012 12:21

      Caro Alberto Miguéns:
      Obrigado pela atenção. Vou estar atento.
      Saudações Benfiquistas.

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