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08 setembro 2018

Rivalidade em Lisboa/Portugal: Ciclismo

08 setembro 2018 1 Comentários
O SPORTING CP PODE "AGRADECER" AO CICLISMO TER-SE TORNADO UM CLUBE POPULAR.


Fundado entre elites monárquicas e para as elites, o Sporting CP viveu durante anos fechado no seu preconceito de classe. No Futebol foi fazendo formação mas principalmente atraindo bons futebolistas de outros clubes. Em relação ao "Glorioso" deu golpadas em 1907 (oito), 1914 (três, incluindo o melhor futebolista português Artur José Pereira para conseguir sagrar-se Campeão Regional pela primeira vez em 1914/15) e 1919 (Alberto Rio).

Tudo iria mudar
Com a realização da I Volta a Portugal em Bicicleta (1927) os jornais e jornalistas acompanham pela primeira vez uma grande organização desportiva longe do litoral, principalmente fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal. Para "espanto de alguns" apercebem-se da popularidade do Benfica pois mesmo no interior de Sul para Norte (a Volta começou em Lisboa rumou ao Algarve, subiu pelo interior ao Norte e desceu pelo litoral até Lisboa) o Povo acorria a felicitar os que vestiam de vermelho mesmo chegando depois dos melhores ciclistas! O Benfica era popular em todo o País! Não só no litoral entre Setúbal e Braga!


União Clube Rio de Janeiro
Os dirigentes do Sporting CP apercebem-se das potencialidades da modalidade como complementar do Futebol. Tinha a época essencialmente quando o Futebol parava, no então denominado "defeso" e o mais importante: levava os clubes a todo o Portugal onde as notícias do desporto (Futebol) não chegavam ou se chegavam era de uma forma rudimentar sem impacte na sensibilidade dos portugueses. Conscientes do valor que José Maria Nicolau representava para o Benfica e com um plantel incipiente no Ciclismo os dirigentes do SCP fazem um contrato fabuloso com o ciclista que vencera o invencível Nicolau na "Volta de 1932", Alfredo Trindade de um popular emblema do Bairro Alto, em Lisboa, o União Clube Rio de Janeiro.

Nicolau/Trindade
Vai ser a luta titânica entre dois homens, gigantes do pedal, pelas estradas (ou o que se considera serem estradas) de Portugal, por todo o País, de Norte a Sul e do Interior para o Litoral, que vão fazer do Sporting CP um clube popular. Até porque se José Maria Nicolau era grande e possante/resistente, Alfredo Trindade era magro e explosivo. impressionava como um David podia derrotar um Golias. Se o Ciclismo foi importante para fazer do Benfica um clube conhecido e reconhecido nos "quatro cantos" de Portugal, a modalidade foi fundamental para o elitista Sporting CP se tornar num clube com dimensão popular. A dimensão que não tinha em Lisboa. Ou que tinha em escasso!


Quando chegava o Verão
E a bola repousava prolongava-se o "Dérbi de Lisboa" nas bicicletas com lutas intensas, depois de Nicolau/Trindade que duraram até aos anos 70: Aguiar Martins/José Albuquerque, José Martins/João Rebelo, Peixoto Alves/João Roque e Fernando Mendes/Joaquim Agostinho.

NOTA: Para o objectivo que se pretende - mostrar a importância do Ciclismo na popularidade dos clubes - é desnecessário completar um quadro com as 80 Voltas a Portugal realizadas até 2018. Aliás até os anos 70 já são supérfluos, pois apenas acrescentam palmarés e prestigio aos clubes. A importância do ciclismo na popularidade e divulgação nacional dos clubes termina nos anos 60 quando se iniciam as transmissões televisivas dos jogos de futebol nas competições europeias da UEFA.

VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA
Edição
Melhor
Pior
N.º
Ano
Cl
Ciclista
Cl
Ciclista
1.ª
1927
4.º
Santos Almeida
9.º
Manuel Rijo
2.ª
1931
1
José Maria Nicolau
Desistência
3.ª
1932
2.º
José Maria Nicolau
7.º
João de Sousa
4.ª
1933
1
Alfredo Trindade
3.º
Luís César
5.ª
1934
2
José Maria Nicolau
2.º
Ezequiel Lino
6.ª
1935
4.º
Ildefonso Rodrigues
6.º
Manuel de Sousa
7.ª
1938
2.º
Filipe Melo
4.º
Aguiar Martins
8.ª
1939
3.º
Aguiar Martins
4.º
Tulio Pereira
9.ª
1940
2
José Albuquerque
2.º
Aguiar Martins
10.ª
1941
3
Francisco Inácio
2.º
José Martins
11.ª
1946
3.º
João Rebelo
Amadores
12.ª
1947
3
José Martins
5.º
Custódio dos Reis
13.ª
1948
3.º
João Rebelo
16.º
Manuel Rocha
14.ª
1949
6.º
Mario Fazzio
7.º
José Martins
15.ª
1950
2.º
Mario Fazzio
4.º
José Martins
16.ª
1951
9.º
Santos Gonçalves
NP
17.ª
1952
10.º
Américo Raposo
NP
18.ª
1955
6.º
João Marcelino
8.º
Pedro Polainas
19.ª
1956
3.º
João Marcelino
7.º
Manuel Pulido
20.ª
1957
5.º
Pedro Júnior
Abandono
21.ª
1958
4.º
Manuel Graça
7.º
Henrique Castro
22.ª
1959
4.º
Henrique Castro
5.º
Pedro Júnior
23.ª
1960
7.º
Pedro Júnior
21.º
José Anastácio
24.ª
1961
5.º
João Roque
26.º
Peixoto Alves
25.ª
1962
2.º
Peixoto Alves
6.º
José Pedro Carvalho
26.ª
1963
4
João Roque
3.º
Peixoto Alves
27.ª
1964
3.º
João Roque
16.º
Francisco Valada
28.ª
1965
4
Peixoto Alves
2.º
João Roque
29.ª
1966
5
Francisco Valada
7.º
João Roque
30.ª
1967
2.º
João Roque
4.º
Fernando Mendes
31.ª
1968
6
Américo Silva
2.º
Joaquim Agostinho
32.ª
1969
2.º
Fernando Mendes
4.º
Firmino Bernardino
33.ª
1970
5
Joaquim Agostinho
Abandono
34.ª
1971
6
Joaquim Agostinho
4.º
Fernando Mendes
35.ª
1972
7
Joaquim Agostinho
11.º
Venceslau Fernandes
36.ª
1973
2.º
Fernando Mendes
8.º
Vítor Rocha
37.ª
1974
7
Fernando Mendes
4.º
Firmino Bernardino
38.ª
1976
8
Firmino Bernardino
NP
39.ª
1977
6.º
Firmino Bernardino
NP
40.ª
1978
8.º
Manuel de Oliveira
NP
41.ª
1979
NP
NP
42.ª
1980
NP
NP
40
21/19


NOTAS: 1931 - Com uma equipa fraca o SCP ficou sem ciclistas (por desistência) na 10.ª etapa em 21 etapas; 1946 - Depois da paragem da Volta a Portugal devido aos efeitos da Segunda Guerra Mundial o Benfica desinvestira em ter profissionais; 1957 - Abandono da competição na 13.ª etapa em 19 etapas; 1970 - Abandono da competição na 7.ª etapa em 24 etapas; NP - Não participou

Foram despiques
Taco-a-taco em que não se pode dizer que houvesse supremacia a não ser depois com Joaquim Agostinho que era praticamente invencível mas depressa abandonou o Sporting CP para integrar equipas estrangeiras para disputar a "Volta a França". Mas foram fundamentais para dar um cunho nacional aos dois clubes e popularizar o Sporting CP em regiões onde não se sabia que o SCP era elitista. Em Lisboa sabia-se, no resto do País ignorava-se. Só muito mais tarde - Anos 60 e 70 - se percebeu que o Sporting CP era um clube de gente ilustre da sociedade portuguesa.

É a vida...

Alberto Miguéns

NOTA: O FC Porto não percebe a importância da competição velocipédica para se tornar um clube com implantação nacional. Chega tardiamente à Volta a Portugal e tarde de mais para o seu Futuro. Participa pela primeira vez em 1934 (5.ª edição) de forma incipiente (nem percebia no que se estava a "meter") e "a sério" pela segunda vez (para ficar) em 1941 (10.ª edição) e conquista a primeira vitória individual em 1948 (13.ª edição)

1 comentários
  1. Excelente.

    É a primeira vez que vejo quantificadas essas jornadas épicas dos ciclistas do SLB e do SCP.
    Com isso o Alberto inicia aquilo que acredito será uma muito boa sustentação para as diversas ideias-base que apresenta.

    O SLB e o SCP tinham ciclismo desde pelo menos a década anterior mas de facto 1927 marca um ponto de viragem da popularidade dos dois Clubes em Portugal.

    Tenho ideia que essa popularidade precoce do SLB na província também se explica pela fundamental acção que alguns sócios - entre eles antigos jogadores - desenvolveram, difundindo as cores e o Ideal do Clube. Terá sido essa a origem das casas, filiais e delegações que tanto fizeram e tanto fazem pelo nosso Clube em Portugal continental, nas ilhas e nas colónias ultramarinas. Esse seria também um ponto muito interessante para se fazer a comparação com o SCP...

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