Fundado entre elites monárquicas e para as elites, o Sporting
CP viveu durante anos fechado no seu preconceito de classe. No Futebol foi
fazendo formação mas principalmente atraindo bons futebolistas de outros
clubes. Em relação ao "Glorioso" deu golpadas em 1907 (oito), 1914
(três, incluindo o melhor futebolista português Artur José Pereira para
conseguir sagrar-se Campeão Regional pela primeira vez em 1914/15) e 1919
(Alberto Rio).
Tudo iria
mudar
Com a realização da I Volta a Portugal em Bicicleta (1927) os
jornais e jornalistas acompanham pela primeira vez uma grande organização
desportiva longe do litoral, principalmente fora de Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal.
Para "espanto de alguns" apercebem-se da popularidade do Benfica pois
mesmo no interior de Sul para Norte (a Volta começou em Lisboa rumou ao Algarve,
subiu pelo interior ao Norte e desceu pelo litoral até Lisboa) o Povo acorria a
felicitar os que vestiam de vermelho mesmo chegando depois dos melhores
ciclistas! O Benfica era popular em todo o País! Não só no litoral entre Setúbal
e Braga!
União Clube
Rio de Janeiro
Os dirigentes do Sporting CP apercebem-se das potencialidades
da modalidade como complementar do Futebol. Tinha a época essencialmente quando
o Futebol parava, no então denominado "defeso" e o mais importante:
levava os clubes a todo o Portugal onde as notícias do desporto (Futebol) não
chegavam ou se chegavam era de uma forma rudimentar sem impacte na sensibilidade dos portugueses. Conscientes do
valor que José Maria Nicolau representava para o Benfica e com um plantel
incipiente no Ciclismo os dirigentes do SCP fazem um contrato fabuloso com o
ciclista que vencera o invencível Nicolau na "Volta de 1932", Alfredo
Trindade de um popular emblema do Bairro Alto, em Lisboa, o União Clube Rio de
Janeiro.
Nicolau/Trindade
Vai ser a luta titânica entre dois homens, gigantes do pedal,
pelas estradas (ou o que se considera serem estradas) de Portugal, por todo o
País, de Norte a Sul e do Interior para o Litoral, que vão fazer do Sporting CP
um clube popular. Até porque se José Maria Nicolau era grande e possante/resistente,
Alfredo Trindade era magro e explosivo. impressionava como um David podia
derrotar um Golias. Se o Ciclismo foi importante para fazer do Benfica um clube
conhecido e reconhecido nos "quatro cantos" de Portugal, a modalidade
foi fundamental para o elitista Sporting CP se tornar num clube com dimensão
popular. A dimensão que não tinha em Lisboa. Ou que tinha em escasso!
Quando
chegava o Verão
E a bola repousava prolongava-se o "Dérbi de
Lisboa" nas bicicletas com lutas intensas, depois de Nicolau/Trindade que
duraram até aos anos 70: Aguiar Martins/José Albuquerque, José Martins/João
Rebelo, Peixoto Alves/João Roque e Fernando Mendes/Joaquim Agostinho.
NOTA: Para o objectivo que se pretende - mostrar a
importância do Ciclismo na popularidade dos clubes - é desnecessário completar
um quadro com as 80 Voltas a Portugal realizadas até 2018. Aliás até os anos 70
já são supérfluos, pois apenas acrescentam palmarés e prestigio aos clubes. A importância
do ciclismo na popularidade e divulgação nacional dos clubes termina nos anos
60 quando se iniciam as transmissões televisivas dos jogos de futebol nas
competições europeias da UEFA.
VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA
Edição
|
Melhor
|
Pior
|
|||
N.º
|
Ano
|
Cl
|
Ciclista
|
Cl
|
Ciclista
|
1.ª
|
1927
|
4.º
|
Santos Almeida
|
9.º
|
Manuel Rijo
|
2.ª
|
1931
|
1
|
José Maria Nicolau
|
Desistência
|
|
3.ª
|
1932
|
2.º
|
José Maria Nicolau
|
7.º
|
João de Sousa
|
4.ª
|
1933
|
1
|
Alfredo Trindade
|
3.º
|
Luís César
|
5.ª
|
1934
|
2
|
José Maria Nicolau
|
2.º
|
Ezequiel Lino
|
6.ª
|
1935
|
4.º
|
Ildefonso Rodrigues
|
6.º
|
Manuel de Sousa
|
7.ª
|
1938
|
2.º
|
Filipe Melo
|
4.º
|
Aguiar Martins
|
8.ª
|
1939
|
3.º
|
Aguiar Martins
|
4.º
|
Tulio Pereira
|
9.ª
|
1940
|
2
|
José Albuquerque
|
2.º
|
Aguiar Martins
|
10.ª
|
1941
|
3
|
Francisco Inácio
|
2.º
|
José Martins
|
11.ª
|
1946
|
3.º
|
João Rebelo
|
Amadores
|
|
12.ª
|
1947
|
3
|
José Martins
|
5.º
|
Custódio dos Reis
|
13.ª
|
1948
|
3.º
|
João Rebelo
|
16.º
|
Manuel Rocha
|
14.ª
|
1949
|
6.º
|
Mario Fazzio
|
7.º
|
José Martins
|
15.ª
|
1950
|
2.º
|
Mario Fazzio
|
4.º
|
José Martins
|
16.ª
|
1951
|
9.º
|
Santos Gonçalves
|
NP
|
|
17.ª
|
1952
|
10.º
|
Américo Raposo
|
NP
|
|
18.ª
|
1955
|
6.º
|
João Marcelino
|
8.º
|
Pedro Polainas
|
19.ª
|
1956
|
3.º
|
João Marcelino
|
7.º
|
Manuel Pulido
|
20.ª
|
1957
|
5.º
|
Pedro Júnior
|
Abandono
|
|
21.ª
|
1958
|
4.º
|
Manuel Graça
|
7.º
|
Henrique Castro
|
22.ª
|
1959
|
4.º
|
Henrique Castro
|
5.º
|
Pedro Júnior
|
23.ª
|
1960
|
7.º
|
Pedro Júnior
|
21.º
|
José Anastácio
|
24.ª
|
1961
|
5.º
|
João Roque
|
26.º
|
Peixoto Alves
|
25.ª
|
1962
|
2.º
|
Peixoto Alves
|
6.º
|
José Pedro Carvalho
|
26.ª
|
1963
|
4
|
João Roque
|
3.º
|
Peixoto Alves
|
27.ª
|
1964
|
3.º
|
João Roque
|
16.º
|
Francisco Valada
|
28.ª
|
1965
|
4
|
Peixoto Alves
|
2.º
|
João Roque
|
29.ª
|
1966
|
5
|
Francisco Valada
|
7.º
|
João Roque
|
30.ª
|
1967
|
2.º
|
João Roque
|
4.º
|
Fernando Mendes
|
31.ª
|
1968
|
6
|
Américo Silva
|
2.º
|
Joaquim Agostinho
|
32.ª
|
1969
|
2.º
|
Fernando Mendes
|
4.º
|
Firmino Bernardino
|
33.ª
|
1970
|
5
|
Joaquim Agostinho
|
Abandono
|
|
34.ª
|
1971
|
6
|
Joaquim Agostinho
|
4.º
|
Fernando Mendes
|
35.ª
|
1972
|
7
|
Joaquim Agostinho
|
11.º
|
Venceslau Fernandes
|
36.ª
|
1973
|
2.º
|
Fernando Mendes
|
8.º
|
Vítor Rocha
|
37.ª
|
1974
|
7
|
Fernando Mendes
|
4.º
|
Firmino Bernardino
|
38.ª
|
1976
|
8
|
Firmino Bernardino
|
NP
|
|
39.ª
|
1977
|
6.º
|
Firmino Bernardino
|
NP
|
|
40.ª
|
1978
|
8.º
|
Manuel de Oliveira
|
NP
|
|
41.ª
|
1979
|
NP
|
NP
|
||
42.ª
|
1980
|
NP
|
NP
|
||
40
21/19
|
Foram
despiques
Taco-a-taco em que não se pode dizer que houvesse supremacia
a não ser depois com Joaquim Agostinho que era praticamente invencível mas
depressa abandonou o Sporting CP para integrar equipas estrangeiras para
disputar a "Volta a França". Mas foram fundamentais para dar um cunho
nacional aos dois clubes e popularizar o Sporting CP em regiões onde não se
sabia que o SCP era elitista. Em Lisboa sabia-se, no resto do País ignorava-se.
Só muito mais tarde - Anos 60 e 70 - se percebeu que o Sporting CP era um clube
de gente ilustre da sociedade portuguesa.
É a vida...
Alberto Miguéns
NOTA: O FC Porto não percebe a importância da competição
velocipédica para se tornar um clube com implantação nacional. Chega
tardiamente à Volta a Portugal e tarde de mais para o seu Futuro. Participa
pela primeira vez em 1934 (5.ª edição) de forma incipiente (nem percebia no que
se estava a "meter") e "a sério" pela segunda vez (para
ficar) em 1941 (10.ª edição) e conquista a primeira vitória individual em 1948
(13.ª edição)
Excelente.
ResponderEliminarÉ a primeira vez que vejo quantificadas essas jornadas épicas dos ciclistas do SLB e do SCP.
Com isso o Alberto inicia aquilo que acredito será uma muito boa sustentação para as diversas ideias-base que apresenta.
O SLB e o SCP tinham ciclismo desde pelo menos a década anterior mas de facto 1927 marca um ponto de viragem da popularidade dos dois Clubes em Portugal.
Tenho ideia que essa popularidade precoce do SLB na província também se explica pela fundamental acção que alguns sócios - entre eles antigos jogadores - desenvolveram, difundindo as cores e o Ideal do Clube. Terá sido essa a origem das casas, filiais e delegações que tanto fizeram e tanto fazem pelo nosso Clube em Portugal continental, nas ilhas e nas colónias ultramarinas. Esse seria também um ponto muito interessante para se fazer a comparação com o SCP...