De cima para baixo. Da esquerda para a direita. Ângelo, Saraiva, Cruz, Neto, Artur (cap.) e Costa Pereira; José Augusto, Santana, José Águas, Coluna e Cavém |
Em 6 de Novembro de 1960 o Benfica goleou o campeão húngaro por... 6-2. Se uma vitória já seria um bom resultado que dizer de quatro golos de diferença e seis marcados?! Soberbo! Há muitos jogos do "Glorioso" que merecem destaque a vermelho garrido. Este é daqueles que só a dourado pode ser descrito.
Foi este jogo que chamou a atenção dos media europeus que em Portugal havia um clube que já não era um dos "coitadinhos do futebol europeu" como até aí era considerado o futebol português. Pobrezinho. Inofensivo.
Até aos anos 60 nem há necessidade de comparar os resultados das duas selecções tamanha é a diferença. Futebolistas famosos? Idem, aspas, aspas! E a nível de clubes? Os percursos europeus dos clubes campeões nacionais nos respectivos países ilustram a diferença!
COMPARATIVO CAMPEÕES PORTUGUESES E HÚNGAROS NA
TAÇA DOS CLUBES CAMPEÕES EUROPEUS
Época
|
PORTUGAL
|
HUNGRIA
|
||||
Clube
|
Adversário
|
Res
|
Clube
|
Adversário
|
Res
|
|
55/56
|
Sporting CP
|
KF Partizan (JUG)
|
(C) E 3-3
|
MTK FC
(Voros Lobogó SE)
|
RSC Anderlecht
(BÉL)
|
(C) V 6-3
|
(F) D 2-5
|
(F) V 4-1
|
|||||
Eliminado
|
Stade de Reims
(FRA)
|
(F) D 2-4
|
||||
(C) E 4-4
|
||||||
56/57
|
FC Porto
|
Athletic Club
(Bilbau) (ESP)
|
(C) D 1-2
|
Honved FC *
|
Isento
|
|
(F) D 2-3
|
||||||
Eliminado
|
Athletic Club
(Bilbau) (ESP)
|
(F) D 2-3
|
||||
(C) E 3-3
|
||||||
57/58
|
SL BENFICA
|
Sevilha FC (ESP)
|
(F) D 1-3
|
Vasas SC
|
CSKA Sófia
(BUL)
|
(F) D 1-2
|
(C) E 0-0
|
(C) V 6-1
|
|||||
Eliminado (OF)
|
BSC Young Boys
(SUÍ)
|
(F) E 1-1
|
||||
(C) V 2-1
|
||||||
Eliminado (QF)
|
AFC Ajax
(HOL)
|
(F) E 2-2
|
||||
(C) V 4-0
|
||||||
Eliminado (MF)
|
Real Madrid CF
(ESP
|
(F) D 0-4
|
||||
(C) V 2-0
|
||||||
58/59
|
Sporting CP
|
VV DOS (Utrecht)
(HOL)
|
(F) V 4-3
|
MTK FC
|
KS Polonia Byton
(POL)
|
(F) V 3-0
|
(C) V 2-1
|
(C) V 3-0
|
|||||
Standard Liége
(BÉL)
|
(C) D 2-3
|
BSC Young Boys
(SUÍ)
|
(C) D 1-2
|
|||
(F) D 0-3
|
(F) D 1-4
|
|||||
59/60
|
FC Porto
|
FK Inter Bratislava
(CHE) **
|
(C) D 1-2
|
Csepel SC
|
Fenerbahçe SK
(TUR)
|
(F) E 1-1
|
(F) D 0-2
|
(C) D 2-3
|
|||||
5
|
12 J - 2
V - 2 E - 8 D - 18/30
|
20 J -
8 V - 5 E - 7 D - 50/39
|
NOTA: * O
jogo da segunda mão foi disputado na Bélgica (Bruxelas); ** Em 1959/90 designado TJ Červená Hviezda (Estrela Vermelha) Bratislava
Quando o Benfica eliminou o campeão escocês
Na generalidade da Imprensa Europeia foi comentado como uma
daquelas vicissitudes em que o Futebol é pródigo. O Heart of Midlothian
FC era favorito pois o futebol escocês nos anos 50 e início de 60 era superior ao português,
ainda que houvesse semelhança. Por isso nada de mais! A não ser duas vitórias,
com destaque, para os 2-1 em Edimburgo frente ao clube dos protestantes da
capital escocesa.
Com o campeão húngaro tudo foi diferente
Além da vitória, a expressão da vitória, bem como a sua facilidade.
Aos 16 minutos já tinham encaixado a goleada: 4-0! Isto num onze magiar que
tinha nove internacionais húngaros e que no jogo da segunda mão utilizou Kuharszki
e ainda tinha lesionado Solymosi, além de Sóvári e Gorocs - ambos jogaram nas duas mãos - ou seja, quatro enormes futebolistas que iriam brilhar na fase final do Campeonato
do Mundo, no Chile, em 1962. O Ujpest
Dozsa SC na eliminatória anterior havia afastado o todo-poderoso campeão jugoslavo
FK Crvena Zvezda (Estrela Vermelha) com uma espantosa vitória (2-1) em Belgrado
e depois outra vitória (3-0) em Budapeste.
A dupla campanha europeia do Benfica
Está muito mal tratada na actualidade. O que foi uma Odisseia
inacreditável de um clube que ninguém dava um tostão por ele a não ser os
Benfiquistas, arrasou clubes campeões nacionais de países com futebol muito
superior ao português. Os campeões da Escócia e da Dinamarca (Aarhus GF) eram
de valor semelhante. Mas o campeão inglês (Tottenham HFC) e o alemão (1.FK
Nuremberga) eram tremendamente superiores. A selecção portuguesa, em Portugal, levou 10-0 da
Inglaterra, em 1947 e somava cinco derrotas em sete jogos quando os dois
campeões nacionais de Portugal e Inglaterra se encontraram nas meias-finais da temporada de 1961/62. Frente à Alemanha/RFA
eram três derrotas e um empate em quatro encontros. Foi a primeira vez que um
clube português derrotou campeões nacionais, em título, destes dois países. E logo para uma
competição oficial como a Taça dos Clubes Campeões Europeus. E que dizer dos
dois campeões nacionais austríacos - SK Rapid (1960/61) e FK Austria (1961/62)?
Tinham ainda futebolistas que integraram a selecção austríaca que esmagou Portugal uns anos antes, quando
golearam, por 9-1, em 27 de Setembro de 1953, na fase de apuramento
para o Mundial de 1954!
Quando se compara o que o Benfica fez em 1961 e 1962 olha-se com "óculos"
de 2017
Era tão difícil o Benfica conquistar o título europeu em 1960/61 e
1961/62 como agora. É só comparar Portugal com a Áustria. O Benfica foi, também,
o primeiro clube português a vencer um campeão austríaco. A selecção teve um
historial ridículo até 1978. Nunca tinha vencido a Áustria! Apenas dois
empates. E compare-se a Áustria que deu nove-a-um a Portugal com os plantéis
dos dois campeões austríacos que o "Glorioso" eliminou:
E o SK Rapid e FK Áustria perderam os dois jogos na "Saudosa Luz": 3-0 e 5-1
E empataram em Viena, ambos a um golo.
1. No SK Rapid ainda jogavam Gerhard Hanappi e Robert Dienst, daqueles que deram 9-1 a Portugal;
2. No FK Áustria ainda jogavam Ernst Ocwirk (até fez o 1-0 da Áustria) e Karl Stotz, entre os onze que golearam Portugal;
3. E ainda tinham futebolistas que brilharam pela selecção da Áustria no Mundial de Suécia (1958): Paul Halla, Robert Dienst e Gerhard Hanappi, capitão da selecção, todos do SK Rapid. E Walter Schleger e Karl Stotz, ambos do FK Áustria. O arquitecto de profissão, Hanappi terminou a carreira na selecção, em 1962, com 93 jogos e doze golos. Na selecção portuguesa o futebolista com mais internacionalizações era Virgílio (FC Porto)...com 39 e zero golos! Portugal no Mundial da Suécia (1958) e do Chile (1962) só na "playstation"!
Homenagem a Carlos Carvalho
Este Benfiquista de excelência, com crónicas de grande qualidade em "O Benfica" e dirigente do Clube, editou com Rebelo da Silva um livro fabuloso, quer nos textos, quer nas centenas de fotografias. Só para dar um "cheirinho" veja-se o que eles disseram deste jogo e como o documentaram em imagens. Agora multipliquem por 16 jogos e tem muito mais, quer nos textos - resumo dos jogos internacionais do "Glorioso" - bem como fotografias a acompanhar as deslocações e os dois estágios que antecederam as finais, em Berna e Amesterdão. Nunca compreendi como é que esta Obra Intemporal não é reeditada sucessivamente! Eu não tenho o original, apenas fotocópias. Por isso agradeço ao sempre prestável Manuel Arons de Carvalho a cedência de digitalizações das fotografias para terem a qualidade necessária para honrar os que jogaram nesse histórico jogo. Duas notas. Se Artur (Santos) tem jogado a final era ele que receberia o troféu pois José Águas era sub-capitão. Outro Benfiquista inexcedível que ajudou a construir este texto foi Mário Pais. Não só indicou a grafia correcta dos nomes dos futebolistas húngaros, tal como a sua importância, como "explicou" o porquê da fotografia (à civil) de Béla Guttmann com o capitão do campeão húngaro e que sempre me "intrigou". Em 1945/46 quando Guttmann treinou o Ujpest Dozsa SC...Szusza já jogava no notável clube húngaro. Foi jogador treinado pelo nosso Guttmann. Quem sabe, sabe. E Mário Pais sabe muito!
Eterno Orgulho no Glorioso
Alberto Miguéns
NOTA: Este texto estava previsto desde a publicação do encontro/entrevista, em Portimão, com a nossa Eterna Glória Saraiva, como pode ser constatado aqui, na parte IV de Saraiva 85: O Eterno Ignorado, em 3 de Maio de 2017 (clicar). E prometo que hei-de voltar brevemente a este assunto - Desvalorização do Bicampeonato Europeu do Benfica como se tivesse sido conquistado contra clubes amadores e fraquinhos. Mentira. Equivaliam aos Chelseas, Manchesters, PSGs, Bayerns, Juventus e companhia. Eram o equivalente ao poderio destes clubes da actualidade, em 1961 e 1962!
Páginas de ouro do Sport Lisboa e Benfica.
ResponderEliminarParte da ignorância e do espaço que existe para que os adversários desvalorizem estes feitos da década de 60 devem-se à escassez de material disponível. Ou seja deve-se a culpas próprias.
Cada vez que visito a loja oficial abro a boca de espanto em como não existe um produto em video ou em livro disponível sobre estas grandes vitórias, sobre estas décadas. esperaria no mínimo um livro - produto bem encadernado e profusamente ilustrado. Esperaria alguns dos episódios do Vitórias e Património alusivos às páginas mais bonitas. Esperaria fac-similes dos jornais. E não me digam que não é possível haver acordos com as empresas que eventualmente possam também ter algo a ganhar. Ganharia todos.
Esperaria mas não encontro. Abro a boca de espanto. Como é possível que em alguns aspectos sejamos tão descuidados, tão amadores. Só de cabeça conseguia encontrar mais de uma dúzia de produtos que poderiam e deveriam estar à venda. E eu nem sou dessa área nem quero ser.
Abrir a pestana e ter um pouco mais de visão e amor pelo Clube. Recomenda-se.
Grande texto! Espectaculares fotografias. Naquele tempo o aspecto visual do futebol era ainda mais atraente. Jogava-se com paixão. Os Húngaros nem perceberam o que lhes tinha caído em cima. Grandes, grandes tempos, jogadores, treinador e público.
Obrigado.
Caro Carocha; Para muitos adeptos do Glorioso, o Benfica só existe depois que foram despenhoradas as pedras da calçada...
EliminarGrande artigo Alberto. Vou partilhar como sempre.
ResponderEliminarGloriosas... TetraGloriosas Saudações, assim é que é.