APARENTEMENTE (E NA VERDADE) NÃO HÁ QUALQUER LIGAÇÃO. MAS CÁ PARA MIM NÃO É BEM ASSIM.
Nasceu a 16 de Março de 1825, há precisamente 200 anos, suicidando-se em 1 de Junho de 1890.
O «Glorioso» seria fundado quase 14 anos depois
Mas há uma curiosidade. O escritor nasceu, em Lisboa (ao contrário do que muitos pensam por ter vivido a maior parte da vida no Norte) na rua da Rosa, n.º 9. Ora o Benfica teve a sua primeira Secretaria, em 1922, precisamente na rua da Rosa, então sem número, mas actualmente é o n.º 3... ou seja, a cerca de dez metros onde nascera o escritor, quase cem anos antes.
Quando se tem pouco para fazer pode-se divagar
E gosto de pensar em algumas figuras históricas, desde políticos a artistas, de que clube seriam eles se fossem contemporâneos do desenvolvimento do «Glorioso». Há muitos anos que faço isso. Pois para mim Camilo Castelo Branco só podia ser do Benfica.
Viveu a maior parte da sua vida no Minho, perto de Famalicão
O MInho não é a região do País com maior percentagem de adeptos do Benfica, mas só deve ser superado pelo Alentejo (quase só Benfiquistas), Açores e Região de Lisboa. A seguir deve ser o Minho. Claro que o Benfica é maioritário em todos os Municípios, excepto em oito ou nove - o INE nunca mais faz um Censo com essa pergunta - nos subúrbios da cidade do Porto, pois até neste o Benfica e FC Porto devem "andar taco-a-taco".
Mas não é por aí que penso que Camilo Castelo Branco a ter um clube seria o Benfica
É por causa da sua vasta obra e personalidade que encaixam na perfeição no modo de ser dos Benfiquistas. Na imensa obra literária com quase 300 títulos, entre simples panfletos a romances extensos como "Mistérios de Lisboa" (quase 1 000 páginas) publicado em 1854 ou mesmo o primeiro (Anátema) publicado em 1851, com 451 páginas é um escritor ecléctico como o Benfica e foi popular (como é o Benfica). Na sua época foi tão popular que vivia só da escrita - o primeiro português a conseguir - embora a obrigatoriedade de "escrever para comer" tenha produzido efeitos nefastos: alterna obras-primas da Literatura Portuguesa feitas com o cérebro, com obras menos conseguidas feitas com o estômago. E foi esta necessidade de escrever, para ele, a esposa Ana Plácido e os dois filhos "tontinhos" e ter ficado cego que levou ao suicídio. Consta que ainda escreveu os últimos textos ditando-os a Ana Plácido, mas viu que a magia de fazer letras com a caneta deixava de ser inspiração. Fim.
Um escritor ecléctico que descreveu o Povo Português como ninguém o conseguira antes, nem quem se seguiu
Ao contrário de Eça de Queirós que vivia de ordenado pago pelo Estado Português e que escrevia, essencialmente, acerca da vida em cidades, com destaque para Lisboa, a burguesia e políticos aristocratas, bem como amigos destes, com destaque para jornalistas. Livro campestre só "A Cidade e as Serras" que estando pronto (e no prelo) só foi publicado depois da sua morte, em 1900. Eça e Camilo são dois gigantes e nenhum é maior que o outro, pois são diferentes. Camilo é um romântico inveterado entre o oito e o oitenta (como o Benfica) enquanto Eça é um realista (disposto a ridicularizar as personagens - gente poderosa socialmente, mas incapaz eticamente - que criou exactamente para isso, ridicularizar a sociedade onde vivem os poderosos). Ora era aqui que o Benfica devia ser Queiroziano - já o foi e deixou de o ser a partir dos Anos 80 do século XX. Camilo Castelo Branco é genial a descrever os portugueses, sejam citaditos, vilões (é o que há mais) ou aldeões, aldeães ou aldeãos (uma das poucas palavras portuguesas com as três formas de plural). Há de tudo, como há de tudo no Benfica!
Há uma imensidão de "tiradas camilianas" que se aplicariam ao Benfica, mas destaco:
«O Amor é uma luz que não deixa escurecer a vida». Para mais frases - algumas em mil - camilianas (clicar).
Obrigado, Benfiquista Camilo!
Alberto
Miguéns