SEMANADA: ÚLTIMOS 7 ARTIGOS

05 dezembro 2020

Luciano 54

05 dezembro 2020 5 Comentários

ASSINALAM-SE 54 ANOS DA MORTE DO FUTEBOLISTA LUCIANO NAS INSTALAÇÕES DO CLUBE.



NOTA INICIAL: Agradecimento ao dedicado leitor Victor João Carocha que permitiu ilustrar com qualidade o texto. Para Luciano uma imagem até vale muito mais que um milhar de palavras.

Numa manhã de recuperação física num tanque de hidromassagens adaptado há uma semana para aquecer a água através de energia eléctrica.


Recuperação de futebolistas

Uma segunda-feira fatídica depois de mais uma gloriosa vitória, pois o Benfica tinha jogado no domingo. Luciano estava na fase final da recuperação de uma lesão contraída em 16 de Outubro de 1966, há praticamente dois meses, no estádio da Tapadinha, na 5.ª jornada do campeonato nacional, num encontro que saiu aos 19 minutos deixando o «Glorioso» reduzido a dez futebolistas num tempo em que não havia substituições. O Benfica venceu, por 2-1, e liderava a edição da competição.


Nessa segunda-feira de Dezembro (dia 5) juntaram-se a Luciano, alguns futebolistas que tinham jogado no dia anterior em São João da Madeira, na 9.ª jornada, numa vitória por 3-1 frente ao clube que pode ser adversário do Benfica na próxima eliminatória da Taça de Portugal (AD Sanjoanense): Jaime Graça, Eusébio, Simões e Cavém; além de outros três que actuaram pela Reserva: Malta da Silva, Carmo Pais e Santana. Num tanque de hidromassagem, instalado para se estrear nessa segunda-feira, com tecnologia do mais avançado que existia consta que os técnicos esqueceram-se de fazer "ligação à terra". 



A tragédia podia ser gigantesca

Luciano que se encontrava mais perto da instalação eléctrica de aquecimento da água foi electrocutado mortalmente e Malta da Silva sofreu queimaduras graves. Jaime Graça que tinha experiência como electricista desde jovem, em Setúbal, onde aprendera o ofício correu de imediato e desligou a instalação eléctrica salvando todos os outros seis de uma tragédia. 

 


Luciano Jorge Fernandes

Nasceu em Olhão, a  6 de Agosto de 1940, iniciando-se no futebol como jogador do SC Olhanense, aos 16 anos. Actuou duas temporadas nos Juniores (1956/57 e 1957/58), seguindo-se cinco épocas - 1958/59 a 1962/63 - nos seniores, as duas últimas na I Divisão, pois foi com ele que o SC Olhanense foi promovido ao primeiro escalão, no final da temporada de 1960/61, com o «Glorioso» a conquistar a primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus.


Luciano num onze dos juniores do Sporting Clube Olhanense

Nas duas temporadas na I Divisão revelou-se um dos mais promissores defesas-centrais do futebol português. Excelente a jogar de cabeça, com bom posicionamento, a jogar simples sem necessidade de causar calafrios aos seus colegas da defesa era destro mas também podia jogar com o pé esquerdo. A margem de progressão era enorme para um jovem.


Luciano pelo SC Olhanense, frente ao «Glorioso» desarma Cavém com Eusébio na expectativa, em 15 de Outubro de 1961 num empate a um golo para a 3.ª jornada do campeonato nacional, encontro disputado no estádio Padinha, em Olhão, jogando a defesa-esquerdo 

Aos 23 anos, no Verão de 1963, foi contratado pelo «Glorioso» sabendo que teria tarefa árdua pois o Benfica estava "recheado" de grandes futebolistas e defesas-centrais eram do melhor: Germano (31 anos), Raul (26), Humberto Fernandes (24 anos) e Jacinto Santos (22 anos). No "tempo" em que não havia substituições.



1963/64

Estreia-se com o «Manto Sagrado», em 5 de Setembro de 1963, na "Festa de Despedida" de José Águas, numa vitória por 3-2, frente ao FC Porto. Não foi fácil conseguir a titularidade com a dupla Germano/Raul  mas ao oitavo jogo da temporada jogou a defesa-direito e depois faria dupla com Raúl. Uma temporada de glória com 32 jogos (em 54 do Clube) com um total de 2771 minutos a honrar o Benfica. Numa temporada de grande classe com o Benfica a sagrar-se campeão nacional - 21 vitórias em 26 jogos e 103/26 em golos (19 de Abril). Seguiu-se a conquista da Taça de Portugal, em 5 de Julho de 1964, após derrotar o FC Porto (segundo no campeonato nacional) por 6-2. Luciano que se lesionou gravemente em 8 de Março, no estádio da Amorosa, em Guimarães, frente ao Vitória SC, na 21.ª jornada só recuperaria no final da temporada na equipa de Reserva, sendo fundamental para conquistar a Taça Ribeiro dos Reis, em 12 de Julho de 1964 (clicar para a final do troféu). Do "onze" que jogou esta final apenas Serafim (a extremo-esquerdo na Taça de Portugal a a interior-esquerdo na Taça Ribeiro dos Reis) tinha jogado frente ao FC Porto, no estádio Nacional. 



A Taça Ribeiro dos Reis disputava-se, em simultâneo com a Taça de Portugal, no final da temporada depois de terminados os campeonatos nacionais, e podia ser disputada pelas categorias de Honra e pela de Reserva. Era uma competição que permitia manter em actividade os melhores futebolistas dos clubes que iam sendo eliminados na Taça de Portugal. O Benfica manteve sempre a categoria de Reserva em todas as edições, mesmo que fosse eliminado precocemente na Taça de Portugal. 


Na primeira temporada sem lesões graves e prolongadas, Luciano jogou 2771 minutos em 32 jogos. Campeonato Nacional: 1781 minutos em 20 das 26 jornadas - campeão nacional. Taça de Portugal: 360 minutos em 4 dos 11 jogos, vencedor da Taça de Portugal mas não jogou na final. Taça dos Clubes Campeões Europeus: 270 minutos em três dos 4 jogos. cinco jogos - três particulares nacionais e dois jogos em Inglaterra, no terreno do Stoke City FC e do Sunderland FC


Em 1963/64 fez ainda parte da equipa do Benfica que é, entre todas, a que melhor define a máxima do futebolês: O que fica para a história é o resultado, não são os acontecimentos e como se jogou. É o onze que foi goleado em Dortmund, depois de uma vitória, por 2-1, na primeira mão e muitos golos desperdiçados (cinco...entre a barra e os postes), em 6 de Novembro de 1963 (clicar). Depois uma série de lesões obrigaram a um onze de recurso em Dortmund, com sete ausências: Costa Pereira, Ângelo, Germano, Raul, Neto, Eusébio e José Torres.



Internacional por duas vezes

Foi chamado duas vezes a selecções nacionais. Pelas "Esperanças", na vitória por 2-1 com a Grécia (a defesa-esquerdo) ainda no SC Olhanense; e pela "B" em Córdova, frente a Espanha, numa derrota por 0-3, como defesa-central, já futebolista do «Glorioso».


Da esquerda para a direita. De cima para baixo: José Carlos, LUCIANO (ainda no SC Olhanense), Jacinto Santos, Jaime Graça (Vitória FC Setúbal), Ribeiro e Maló; Jaime, Carlos Gomes, Lourenço, Custódio Pinto e Serafim (FC Porto)

1964/65

Muito afectado por lesões passou a temporada entre a categoria de Reserva e o posto médico! Mas jogou oito jornadas (720 minutos) das 26 do campeonato nacional sagrando-se campeão de Portugal num tricampeonato do «Glorioso». Um total de 720 minutos em oito jogos. 

 


1965/66

Na terceira época no Clube apenas jogou na categoria Reserva com a segunda conquista da Taça Ribeiro dos Reis, após vitória por 9-2 frente ao FC Penafiel.


1966/67

A quarta temporada no Clube parecia estar a decorrer melhor, com as lesões debeladas. Fez parte da conquista da Taça de Honra de Lisboa, em 14 de Setembro de 1966 (clicar) com uma vitória, por 2-0, frente ao Sporting CP, no estádio do CF "Os Belenenses" (Restelo). No campeonato nacional participou em cinco jornadas, com 379 minutos incluindo os últimos 19 da 5.ª jornada. Era totalista. Foi o seu derradeiro jogo. Na última temporada foram seis jogos (469 minutos) acrescentando a final da Taça de Honra aos cinco encontros para o campeonato nacional. O Benfica conquistou o título de campeão nacional, o 15.º em 33 edições da competição. Para Luciano a título póstumo.




Um funeral que emocionou um País

Com a viúva e uma filha menor que emocionou o País e o estrangeiro num tempo sem a circulação de notícias como na actualidade (clicar)




Uma vida que se perdeu, um sentimento de ausência que jamais será esquecido.

 

Alberto Miguéns


NOTA FINAL (para responsabilizar quem deve ser responsável): um "assunto" já abordado neste blogue acerca da falta de respeito pelos símbolos do Benfica. Seria impensável e estava definido pelos associados em assembleia geral - e está...pois o Regulamento Geral continua em vigor - utilizar o símbolo do Benfica numa mortalha a cobrir a urna sem dignidade colocando a águia de cabeça para baixo como na actualidade. O Benfica continua a ter esta mortalha utilizada para cobrir urnas de Glórias do Clube. Dá é muito trabalho a João Salgado ir à sua procura, desdobrá-la, colocá-la e guardá-la. O melhor é utilizar uma bandeira que esteja logo ali à mão mesmo desrespeitando o símbolo e o féretro. Eis um exemplo, no funeral de Eusébio, em dezenas desde que ele chegou, infelizmente, ao Clube, decorria o ano de 1997. Para nossa infelicidade. É que não respeita nada, nem ninguém. Com ele assisti a algo que nunca tinha presenciado. No funeral da Glória do Benfica, Homero Reis (basquetebolista e treinador do glorioso Basquetebol, além de dirigente), em Albarraque, "por estas e por outras" a família dessa Glória Eterna do Benfica expulsou-o do funeral:






  

5 comentários
  1. Figura trágica da nossa História, era um futebolista muito ainda tinha para dar ao Clube e que merecia ser lembrado na nossa História por outros motivos. Pertence a uma galeria que começou muito cedo com Álvaro Gaspar no longínquo ano de 1915.

    A tragédia que, como disse o Alberto, poderia ter sido bem maior roubando-nos vários outros jogadores entre eles Eusébio. Jaime Graça foi o anjo que os salvou. Hoje, com o mediatismo sensacionalista, o que teria sido um caso destes?

    Paz à alma de Luciano.

    nota: sem excepções, a lembrança da memória destes bravos é algo que deve merecer todo o carinho e cuidado por parte dos representantes (transitórios) do Clube. O respeito escrupuloso da dignidade e valor dos símbolos do Clube é algo que nunca deveria ter sido descuidado. O Sport Lisboa e Benfica tem de ser grande dentro e fora de campo, respeitados por atletas, sócios e dirigentes. Sem excepções nem concessões.

    O Clube só continuará a ser grande se continuarmos a cuidar dos seus símbolos e valores.

    ResponderEliminar
  2. Dizia-se que o Sr.Luciano era o substituto natural do magnifico Germano de Figueiredo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Alexandre

      E foi. Infelizmente durante pouco tempo. Quando o Benfica passou de um central para dois - chamado de "quarto-defesa" o Benfica contrato Raúl ao Leixões SC. E Luciano foi contratado em Olhão para substituir o veterano Germano pois era o que mais se assemelhava em poder de antecipação, leitura do jogo e capacidade de passe. Imaginava-se que com a experiência fosse como Germano. Depois com as repetidas lesões de Luciano o Benfica teve de recorrer a situações de improviso, com Jacinto, Humberto Fernandes e até Coluna chegou a ser central. Só com Humberto Coelho o Benfica voltou a ter um sucessor ao nível de Germano.

      Saudações Gloriosas

      Alberto Miguéns

      Eliminar
  3. Segui atentamente e com pesar, este nefasto acontecimento.
    Não fora os conhecimentos que Jaime Graça tinha de electricidade, a tragédia seria maior.

    Quanto à mortalha, há por lá Salgados a mais...

    ResponderEliminar
  4. Não é do meu tempo, mas é uma história muito triste. Fosse ele jogador de qualquer outro clube, ou mesmo se tivesse outra profissão.

    Que esteja a disputar muitas partidas algures lá em cima.

    ResponderEliminar

Artigos Aleatórios

Apoio de: