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12 outubro 2020

Ângelo 1952 - 1978

12 outubro 2020 1 Comentários

NÃO FOI FÁCIL ÂNGELO VESTIR O «MANTO SAGRADO».



Não tanto por questões financeiras mas por motivos burocráticos. A chegada dele ao Benfica dá um romance. 



Da cidade do Porto para o «Glorioso»: um romance digno de um filme

Foi uma trapalhada típica do tempo do futebol pré-profissional que ia destruindo a carreira de um dos melhores futebolistas de sempre do futebol português e um dos esteios dos Anos 50 e 60 com uma carreira bem longa e recheada de sucesso. A viver perto do estádio do Lima, propriedade do Académico FC passava os dias e entrava pela noite a pontapear a bola mudando ao longo do dia adversários e colegas de equipa. Só "via bola" para desespero dos progenitores! A vontade de jogar era tanta que nem conseguiu esperar pela idade legal. Com identidade de um amigo inscreveu-se no plantel mais jovem do Académico FC para disputar jogos entre equipas da mesma idade, ainda sem que existissem campeonatos oficiais da AFP (Associação de Futebol do Porto) defrontando mesmo equipas do FC Porto. Estávamos em 1945/46. Na temporada seguinte, já teria idade para ser inscrito oficialmente, como um jogador cobiçado devido à sua capacidade física, técnica e interpretação do jogo, tendo em conta ser muito jovem. Um tio portista fez com que assinasse pelo FC Porto, onde ficaram logo a saber que aquele valoroso adversário que jogara pelo Académico FC não era o que dizia chamar-se mas sim Ângelo Gaspar Martins. Só que o Académico FC também não esteve pelos ajustes e um dirigente forjou uma ficha. Imbróglio nos serviços da AFP seguindo-se inquérito a todos os envolvidos. Tudo se descobriu, desde ter jogado com nome falso - mesmo jogos fora do âmbito da AFP - até à ficha forjada pelo dirigente do Académico FC. Resultado: Ângelo irradiado, aos 16 anos, do futebol "para sempre" tal como o dirigente do Académico FC. Ângelo antes se ser futebolista "a sério" já não o podia ser. Despreocupado aceitou até porque o que ele queria era jogar futebol. Não jogando "federado" jogaria nos campeonatos corporativos organizados pela FNAT (Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho) pela popular «Fábrica Ranito» da cidade portuense. Famosa por formar boas equipas só batidas a nível nacional pela famosa fábrica lisbonense "H. Vaultier". Ângelo toda a vida falaria destes lisboetas que durante três épocas lhe roubaram o sonho de criança em ser campeão nacional corporativo, mesmo sendo o benjamim da «Fábrica Ranito».


De irradiado a "craque"

E assim se passou a juventude de alguém que sonhando ser futebolista dos clubes que "enchiam estádios" se ia contentando, assumindo o erro quando jovem, de jogar no campeonato corporativo. Com o serviço militar é colocado em Santarém para o cumprir. Um daqueles benfiquistas anónimos, mas que tanto Francisco Ferreira, como Julinho e, claro, Ângelo sempre disseram ser fundamental para colocar portuenses no Benfica foi o Neca, popularmente conhecido por "Necas Maneta". Este consegue que o "olheiro" do Benfica senhor Abílio Santos se interesse por Ângelo, vá a Santarém, fale com ele, Ângelo assume ser Benfiquista mas também assume que terá de pagar para sempre pelo erro cometido. Mesmo assim aceita, aproveitando uma folga, vir a Lisboa, ao estádio do Benfica, no Campo Grande, fazer testes. E agrada. O Benfica estuda o caso dele e consegue provar que sendo menor tinha sido vítima de rivalidades entre clubes, pois o acto dele, apesar de grave, foi ter disputado jogos não oficiais sob outro nome. Em relação à inscrição não assinara dois contratos. Assinara um e outro foi forjado. Em Junho de 1951 chega a decisão. Não fazia sentido irradiar para sempre alguém que apenas tivera a insensatez de utilizar o nome de um amigo mais velho para poder jogar à margem das competições organizadas pela AFP. E assim ficou decidido que cumprido o serviço militar seria futebolista do Benfica.


Estreou-se em 1952/53, já a temporada ia adiantada

Em 9 de Novembro de 1952, a médio-esquerdo, no Campo Grande frente ao FC Barreirense, na 7.ª jornada do 29.º campeonato nacional da I Divisão (os quatro iniciais como Campeonato da I Liga). Uma estreia ao décimo jogo da temporada do Benfica. Primeiro no lugar geralmente ocupado por Moreira e depois discutindo a titularidade, entre a categoria de Honra e de Reserva, com António Manuel. Ângelo não daria hipóteses à medida que se entrosava com o restante plantel da categoria de Honra. Entre a estreia com o «Manto Sagrado» e o final da temporada participou em 24 dos 36 jogos do Benfica. Num campeonato com 26 jornadas esteve em treze, mas nas seis iniciais ainda não se estreara, por isso, só "falhou" sete. E como a Taça de Portugal ainda se disputava no modelo «Campeonato de Portugal», ou seja, depois de terminado o campeonato a pontuar, jogou seis dos sete encontros, incluindo a final em que o Benfica (orientado por António Ribeiro dos Reis) derrotou, por 5-0, o FC  Porto, orientado por Cândido de Oliveira. Sempre a médio-esquerdo. E foi um dos futebolistas que esteve, em 30 de Junho de 1953, num jogo que parecia apenas mais um jogo internacional de final de temporada, com o Benfica a jogar no estádio do CF "Os Belenenses", no estádio das Salésias, perdendo por 1-3. Bogalho viu o jogo, como sempre, e um dia quando lhe perguntaram o porquê de ter escolhido Otto Glória para treinador do Clube, em  1954/55, respondeu: «Gostei do modo como ele orientou a sua equipa no jogo com o Benfica». Pois...o treinador do América FC(Rio de Janeiro), nesse encontro de final de temporada, era Otto Glória.

 


Épocas

Ângelo passaria ser um dos pilares do Benfica nos Anos 50 e depois na década de 60 em que se consagrou como o melhor clube europeu desta década e mostrou em todos os continentes do planeta Terra o poder do futebol mágico, envolvente e gracioso. A sua última temporada seria em 1964/65 tendo depois a festa de despedida em 19 de Outubro de 1966, frente ao poderoso FC Barcelona, numa vitória por 1-0, na «Saudosa Catedral».

 


Treinador de Juniores, Juvenis e Iniciados

Com o perfil de jogador «À Benfica» integrou depois do abandono de Fernando Caiado, no final de 1965/66, a equipa técnica treinando os plantéis da Formação até 1978/79, quando foi substituído por Jesualdo Ferreira. Foram treze anos a formar campeões. O Benfica chegou a jogar nos Anos 70 com nove futebolistas na equipa principal, em jornada do campeonato nacional da I Divisão, formados e campeões nacionais nos escalões de formação por Ângelo Martins.

 


Treinador do "Futebol de Formação"

Regressaria em 1981/82 até 1990/91 para integrar já uma estrutura mais complexa em que havia um coordenador de todo o sector, como Fernando Caiado e mais tarde Néné, mas sempre a mesma dedicação e empenho.



Vida sempre a viver o Clube

Depois de deixar o futebol continuou a ser presença assídua na «Saudosa Catedral» e no estádio actual. Sempre o mesmo. Irritado com a falta de respeito para com o Clube, orgulhoso para quem o serve bem e honrado em de ter feito ainda maior um Clube já muito grande. 

 

Continua...

 

Alberto Miguéns

1 comentários
  1. Uma vida cheia. Ele e os seus companheiros da defesa Benfiquista exibindo a raça Benfiquista fundamental para que os artistas lá na frente pudessem encantar com a sua arte.

    Uma vida cheia. Quantos de nós não sonharam em ter apenas uma fracção daquilo que Ângelo Martins viveu e conquistou?

    Obrigado Ângelo Martins. Descansa em Paz.

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